Mostrar mensagens com a etiqueta regressar. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta regressar. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 21 de abril de 2015

Conversas


Nossas palavras

Voando nas linhas curvilíneas do abismo

Sabes meu amor?

Sinto-me sem esperança

Vontade de acreditar

Não

Meu amor

Deixei de acreditar

Sinto-me um afluente

Em busca do silêncio

Sinto-me a montanha

Acorrentada ao amanhecer

Sou uma árvore caduca

Sem saber o verdadeiro preço da paixão

Não

A paixão não se vende

Transacciona

Ou colecciona

Não é facturada

Com IVA

Sem IVA

A paixão se sente

Quando acorda o dia

Visto as calças do avesso

Troco a camisa pelo pijama

E durmo

Sabendo que nos teus lábios

Habitam narcisos

Orquídeas

E sombras

A paixão é como a tempestade

Liberta-se do corpo

Voa

Voa nos finíssimos fios da saudade

Não penso

Nas tuas palavras indigestas

Traiçoeiras

Circunferências de tristeza

Que apenas o teu corpo conhece

Ama

E sente

Todas as noites

Tinham inventado as cartas de amor

Desenhavas tão mal

Meu amor

Os corações pareciam rochas embriagadas

E as setinhas…

Uma serpente venenosa

Enrolada

Nos Sábados sem nada fazer

Sabes

Meu amor

Não existe amor nenhum

Invento-te para esquecer a solidão

E as noites em frente ao espelho

A… a pedir perdão

Perdão porque errei

Sempre erro

Sempre

É o meu destino

Amar

As folhas de papel pinceladas pelos teus cabelos

Escrever no teu perfume

“Esqueci-te”

Nem os teus ossos

Existem dentro dos nossos livros

Folheio-os em buca da tua sombra

Uma personagem minha

“A Silvina”

Que por acaso era a minha avó…

Meu filho

Um dia

“Esqueci-te”

Nem os teus ossos

Nem os teus carinhos

Nada

Meu amor

Nada voando nas campestres avenidas do sexo

Hoje

Hoje sinto-me “o maior filho da puta do mundo”

Um dia

Sem ti

Meu amor

E repentinamente

Escrevo meu amor

E no computador aparece…

Mar…

Coisa estranha

Meu amor

Já devia estar embrulhado em mim

E não

Eu aqui a escrever parvoíces

O amor

Como se eu fosse Doutorado em “O Amor”

Nada

Doutorado não sou

Licenciado sou quase

Mas tu

Meu amor

És a poesia vibrante das tendas de circo

O sexo na ardósia do sexo

Dois homens beijam-se

Meu amor

Como o Tejo se beija

A cada regresso

Olhei-te

Corrias de livro na mão

E eu

Eu tive a sorte de encontrar uma das personagens

Não

Não era a minha avó

Era a “Deusa das Crenças Perdidas”

Ouvir-te sem sentido

Nenhum

Esta triste noite

Sinto-me triste

Meu amor

Esta semana

Parece um túnel sem fim

Nada

Não aconteceu nada

Mas…

Mas adivinho qualquer coisa

Ou o regresso de um grande amor…

… Ou a partida de um grande amado…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 21 de Abril de 2015

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Partiram, levaram o miúdo dos calões e o caixote em madeira,
Alguns tarecos, pouca coisa e fotocópias de fotografias envenenadas pelo silêncio, na algibeira, o amor, o desejo do mar, dos barcos e das coisas
Simples?
Os livros,
E das coisas sem nome,
Sombras de mangueira?
E beijos, das coisas travestidas de saudade, dos livros lidos nas entranhas do desejo, caminhávamos entre quatro círculos de luz, abraçavas-me como se abraçam os pássaros, as acácias e os pindéricos cabelos de nata,
Amanhã amo-te...
Partiram, fugiram das noites embriagadas com direito a limonada e a sexo, construíram cubatas nos musseques da alegria, saltaram muros e muros, tinha medo das curvas da vida, adivinhava os beijos como sendo abelhas em flor, sobre as casas sem nome, idade, e
Sexo?
Só depois das seis,
E sonhos, de um dia regressar...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 17 de Fevereiro de 2015


sábado, 13 de dezembro de 2014

Sonolência saudade


Sou o carrasco adeus
da sonolência saudade
tenho nas mãos o papiro
e no olhar
uma espada invisível
não percebo porque choram as acácias
e os plátanos da minha terra
não percebo porque gritam os rochedos
que se alicerçaram aos meus braços...
se eu sou frágil
se eu... se eu sou um simples fio de luz
embrulhado numa lápide sombreada,

sou o carrasco adeus
da sonolência saudade,

sou o presente envenenado
que deambula pela cidade
sento-me junto ao rio
e imagino barcos em papel
que não regressam mais...
quem parte
quase sempre não regressa...
como os comboios de areia
esquecidos no mar
sou o carrasco adeus
da sonolência saudade
… sou a madrugada antes de acordar.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 13 de Dezembro de 2014

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Arte


Esta arte,
Este povo no pedestal da saudade,
Dizem-me que há um desejo em tempestade,
Uma mulher que arde,
Uma mulher que arde… arde na lareira da vaidade,


Esta arte,
Estas cores pinceladas de veneno,
O beijo que assombra a árvore no vento ameno,
Uma mulher que arde,
Arde… no meu peito sereno,


Esta arte,
Este povo que teima em não se revoltar,
Dizem-me que há no mar,
Uma mulher que arde,
Arde… arde sem vontade de regressar,


Esta arte,
Que o meu corpo consegue transpirar,
Esta arte que não respira nas noites de luar,
Que arde…
Que arde… que arde sem parar,


Esta arte,
Que os musseques alicerçam ao cais dos afogados,
Meu povo… meus coitados,
Esta arte que arde…
E não vos deixa sossegados.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 31 de Julho de 2014

terça-feira, 11 de março de 2014

Regressar

foto de: A&M ART and Photos

Imagino-me deitado nos teus recortados sonhos de papel cenário,
acaricio a tesoura da saudade e sinto-lhe o perfume do amanhecer,
há entre nós uma sombra louca em betão armado,
amado cacilheiro vagueando ruas e avenidas sem janelas para o mar,
imagino-me adormecido,
ausente dos teus beijos,
imagino-me deitado nos teus tristes lábios quando a tua pele se despede da madrugada,
há uma ponte para atravessarmos, há uma ponte imaginária nas tuas mãos de cidade sem nome...
e dos teus dedos vejo crescerem dentes de gladíolos como desenhos de paixão ancorados ao meu peito de celofane,
imagino-me sentado esperando o teu regresso...
e sei que nunca vais regressar, porque é impossível regressarem aqueles que nunca existiram...
e fico junto ao cais, imaginando-me deitado nos teus recortados sonhos de papel cenário,

Imagino-me deitado nos teus olhos com odor a amoreiras apaixonadas,
imagino-me cinzento,
nuvem sem rumo, nuvem em pequenos farrapos de nada,
imagino-me sendo as tuas pálpebras e percebo o significado da dor,
imagino-me deitado... de papel cenário,
cansado... cansado dos versos embriagados,
imagino-me o cigarro que não consegue arder porque acredita nos sonhos de papel cenário,
e quando se afunda a noite no meu corpo...
o circo emerge de mim,
palhaços, trapezistas... e animais embalsamados... imaginam-me deitado nos teus seios poéticos com sabor a sílabas abençoadas,
como os pássaros...
como os pássaros poisados em jangadas.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 11 de Março de 2014