foto de: A&M ART and Photos
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Imagino-me deitado nos teus recortados
sonhos de papel cenário,
acaricio a tesoura da saudade e
sinto-lhe o perfume do amanhecer,
há entre nós uma sombra louca em
betão armado,
amado cacilheiro vagueando ruas e
avenidas sem janelas para o mar,
imagino-me adormecido,
ausente dos teus beijos,
imagino-me deitado nos teus tristes
lábios quando a tua pele se despede da madrugada,
há uma ponte para atravessarmos, há
uma ponte imaginária nas tuas mãos de cidade sem nome...
e dos teus dedos vejo crescerem dentes
de gladíolos como desenhos de paixão ancorados ao meu peito de
celofane,
imagino-me sentado esperando o teu
regresso...
e sei que nunca vais regressar, porque
é impossível regressarem aqueles que nunca existiram...
e fico junto ao cais, imaginando-me
deitado nos teus recortados sonhos de papel cenário,
Imagino-me deitado nos teus olhos com
odor a amoreiras apaixonadas,
imagino-me cinzento,
nuvem sem rumo, nuvem em pequenos
farrapos de nada,
imagino-me sendo as tuas pálpebras e
percebo o significado da dor,
imagino-me deitado... de papel cenário,
cansado... cansado dos versos
embriagados,
imagino-me o cigarro que não consegue
arder porque acredita nos sonhos de papel cenário,
e quando se afunda a noite no meu
corpo...
o circo emerge de mim,
palhaços, trapezistas... e animais
embalsamados... imaginam-me deitado nos teus seios poéticos com
sabor a sílabas abençoadas,
como os pássaros...
como os pássaros poisados em jangadas.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 11 de Março de 2014
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