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quinta-feira, 24 de agosto de 2017

O sono utópico


Não sei o que te diga,

O sono utópico na displicência da ignorância,

Cansaço, muito, agreste e triste,

Triste e alegre do cansaço absorvido no dia sem fim…

Conto os segundos, conto os minutos… e perco-me nas horas mortas, sem destino, nas palavras, e, e nas searas envergonhadas,

Desconfio que fui atropelado por um poema sem nexo, idade… ou cidade,

Dispo a farda, poisa a arma de papel sobre a secretária, pego novamente na arma e disparo… e sinto a cabeça cravada no espelho do quarto,

Estou parvo, hoje, cansado, hoje, farto das palavras, e farto dos livros,

Não sei o que te diga,

O sono,

O tédio,

Casa assombrada e a arder de febre,

E o sofrimento nas mãos…

(estou parvo, hoje, meu amor).

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 24 de Agosto de 2017

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Jeans

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Sentia que as quatro paredes do silêncio
brincavam nas cinco esferas da insónia
com a mãozinha...
tocava nas quatro sombras da solidão
e dormia
sonhando que sentia
as quatros paredes do silêncio
dentro do meu peito
havia rock na algibeira dos jeans
e a febra abraçava-se a mim
como um poema
não para ti... mas... mas para noite que me ilumina.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 5 de Fevereiro de 2015


domingo, 30 de novembro de 2014

Candeias da saudade


Sinto as tuas mãos
meu marinheiro iletrado
ensanguentadas
poisadas nos meus ombros de xisto
o rio se entranha nas minhas veias
no meu peito socalcos se embriagam
e sentem
o peso da despedida,

a lentidão da esperança
mergulhada no lixo poético do meu cansaço
e há mulheres tão lindas... esperando um abraço,

e há mulheres tão lindas... esperando um beijo
e sinto
as tuas mãos meu marinheiro iletrado
quando as candeias da saudade acordam
e fingem
que hoje é dia dos tentáculos de sal
das palavras enxertadas de insónia
e meu querido...
as minhas palavras são a febre que alimentam as hélices do corpo em cio
e do clitóris da estória...
sinto as tuas mãos...
meu querido!




Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 30 de Novembro de 2014

terça-feira, 3 de julho de 2012

FEBRE COM PINTINHAS DE SARAMPO

Oiço a cidade a desaparecer para lá da noite
onde se perdem as almas sem nome
de todas as algibeiras construídas em cetim doirado
e mesmo assim
e mesmo assim há quem não tenha medo de atravessar a fronteira
não regressando nunca mais ao fim de tarde junto ao rio

as peles flácidas que transportam nos lábios
onde em letreiros gatafunhados se podem ler os desejos da noite
antes das almas sem nome atravessarem a fronteira e sentarem-se sobre as pedras
de nylon com que um esqueleto de óculos escuros constrói as redes para a apanha da solidão
e do chá e das torradas
antes
antes de ele se deitar dentro da sepultura de cordas e pregos de marfim
antes do cerimonial complexo à iniciação dos sem abrigo com cigarros de pluma em oiro

oiço o meu nome transformado em “filho da puta”
é a cidade travesti em direcção ao outro lado do rio para lá da noite
gajas chamam-me e eu recuso-me
curiosamente hoje e ontem “FEBRE COM PINTINHAS DE SARAMPO”
antes
antes de deitar-me dentro da sepultura de cordas de marfim
vi um homem louco com uma cabeça de areia embrulhada em correntes de aço
e do chá e das torradas
as redes com que apanhava debaixo da madrugada
pedacinhos de solidão com restos de esperma
e eis que para lá da noite
a cidade cresce nas peles flácidas dos olhos pedrados no pólen

(curiosamente hoje e ontem “FEBRE COM PINTINHAS DE SARAMPO”
curiosamente hoje e ontem “FEBRE COM PINTINHAS DE SARAMPO e nunca fui feliz”)

eu vi a noite comer os letreiros gatafunhados
e as frases começavam a misturarem-se com os restos esquecidos no passeio dos infelizes...
“vendo todo o recheio da minha biblioteca – motivo Fartei-me dos livros”
“vendo braços e pernas e dentes de madeira – Bom estado”
eu vi
a noite a transformar-se em palavras além da fronteira dos infelizes
com febre e papeira ou sarampo ou gajas a gritarem do outro lado do rio
para mim
eu o gajo mais infeliz do cardápio da infelicidade
eu vi
tu viste
a cidade a desaparecer para lá da noite...