Do lápis negro
Carvão da ínfima linha do
horizonte
Manhã que se suicida nas umbreiras
do mar
Pedaço de rio
Quando na saudade
Um pequeno livro
Dentro do teu livro
Às palavras que grito
Quando o sono de inveja
Poisa no teu corpo.
Somo duas
Éramos três flores com
espinhos
Quando a alma diz ao
Diabo
Que do dia nada de bom
Porque só a noite te
envenena
Na noite que te lamenta.
Verga-te
Deita-te dentro do sono
Quando uma laranja
Fica esquecida na tua
mesinha-de-cabeceira.
O despertador acorda-te
Tu ergues-te
Tu vives
Enquanto dentro de ti
Em mim
Que sou eu
Morre.
Um docinho.
Poiso a cabeça
Sobre o teu peito
Teu seio direito
Beijo-o
Beijo-o porque está
pertinho da janela
Da janela com vista para
o Oceano
Abro-a
Beijo-o
Pego no pôr-do-sol
Ato-o a todos os barcos
Beijo-o
Puxo-os e acomodo-os no
meu quarto
Volto ao teu seio direito
Beijo-o
Puxo-os
Eles dormem
Elas dormem
Morrem
Fumam
Deitam-se nas tuas coxas
de incenso
E também eles
E também elas
Morrem.
Com o lápis escrevo
Apagas com a borracha
O que escrevo
Dos meus beijos
Às minhas mãos.
Grito.
Sinto-o dentro deste
silêncio
Quando dentro das
sanzalas
Uma criança
Pede pão
E um não
Pão
Quando o tempo
Se mata aos teus olhos
Dentro dos olhos
O querido Deus da
ausência.
Fecho a janela
Deito a cabeça
Beijo o teu seio esquerdo
Deixo em poiso o teu seio
direito…
E vou adormecer todos
estes barcos.
Alijó, 15/01/2023
Francisco Luís Fontinha