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Sentia a tua mão nos meus seios, e ias descendo,
descendo, sabia-te dentro do meu púbis de areia, e o mar começava a
alimentar-se de mim, prenunciava grunhidos sons, e ao longe os ossos
invisíveis dos peixes apaixonados, e vinham até nós os sons
melódicos de um saxofone em solidão, era verão, era sábado, e a
tarde começava a evaporar-se nas palavras que escrevíamos sobre os
teus joelhos esqueléticos onde poisávamos um caderno com um capa
dura, grossa, com desenhos de flores
Porquê
Tens de deixar de fumar,
E eu, eu pegava na tua mão débil, finíssima como
os ramos de laranjeira que tínhamos no quintal em trás-os-montes,
tão longe, a lareira, os livros, o sino da igreja quando dormíamos
sossegadamente dentro dos lençóis de insónia, e tu
Eu sentia o sofrimento árduo dos teus lábios
acabados de regressar, trazias nas mãos uma punhado de areia húmida,
e na boca escondias o silêncio amor que a paixão sibilou nas
carcaças apodrecidas dos peixes que viviam nos lençóis nossos que
do jardim cheirava a incenso, alecrim, mirra, oiro falso, alquimia,
líamos Proust, e sabíamos que
E deixei de fumar,
E sabíamos que todos os plátanos um dia, vinte e
cinco anos depois, ruiriam, como ruíram os alicerces de todos os
crucifixos de prata
Sentia a tua mão nos meus seios, e ias descendo,
descendo, sabia-te dentro do meu púbis de areia, e o mar começava a
alimentar-se de mim, prenunciava grunhidos sons, e ao longe os ossos
invisíveis dos peixes apaixonados, dos poemas,
Morreram, como morrem todos os crucifixos de prata
que entram na minha vida nocturna com sabor a mar e desejos de luas
com pedaços de laranja, sonhos, e pipocas quando ligo a máquina das
imagens, e apenas sombras, pretos, brancos, os riscos, os riscos
crucifixos de prata que a melancolia escreve nas ardósias palavras
dos teus seios.
(texto de ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Alijó
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