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sábado, 30 de setembro de 2023

Alvorada em teu olhar

 Amo os teus olhos de mar

Teus lábios de mel

Amo o luar

E esta pequena folha de papel

 

Amo o silêncio do teu cabelo estrelar

E as tuas palavras que crescem a cada madrugada

Amo sonhar

Sonhar cada palavra

 

Amo o poema que se solta da poesia

Quando da chuvinha da manhã sem nome

O poeta sem dia

 

Não se cansa de correr

Do dia que não come

No dia que vai nascer

 

 

30/09/2023

domingo, 27 de novembro de 2022

Um pequeno nome

 Dêem-me um nome

Um pequeno nome

Dêem-me um pedaço de terra

Para sepultar o meu nome

Um pequeno nome

 

Nome sem nome

Numa árvore com nome

Um poema sem nome

Um pequeno nome

Este meu pobre nome

 

Um nome

Para este retracto anónimo

O último pendura na última parede

Fria e nua e sem nome

Um nome

Um pequeno nome

 

Dêem-me um nome

Para o meu corpo sem nome

Porque não tenho nome

Nem tenho uma parede para pendurar o meu corpo

 

Sem nome.

 

 

 

 

Alijó, 27/11/2022

Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

O meu nome

 Deram-me um nome

(Francisco)

E podiam ter-me apelidado

De flor

Sol

De Lua

Ou até de lanterna

Deram-me um nome

 

E o meu nome até poderia ser de Luanda

Podia ser cacimbo ou sanzala

Capim

Mutamba

Podia ser apelidado de tudo

Mangueira ou papagaio em papel

Triciclo

Ou menino dos calções

 

Baía de Luanda

Mussulo (adoraria ser apelidado de Mussulo)

Podiam chamar-me de barco

De coqueiro

Deram-me um nome

Um nome

Um simples nome

E os meus pais até me podiam registar de menino dos sonhos

 

Amigo do chapelhudo

Deram-me um nome

(Francisco)

E o (Francisco)

Nascido em Luanda

Num belo Domingo de sol

Às sete e trinta horas da manhã

Num mês de Janeiro

(portanto sou aquariano, gajo complicado, gajo dos sonhos)

E fui baptizado

E tanto azar tive

Que me baptizaram no dia de Natal

 

Deram-me um nome

O meu nome

(Francisco)

Os meus pais podiam ter-me apelidado

De machimbombo

 

Mas não

Tinham de me apelidar de (Francisco)

 

Deram-me um nome

Mais fácil seria se me dessem um número

Como no serviço militar

Ou como o número de polícia das nossas habitações

 

Mas não

Tinha de ser (Francisco)

 

E de (Francisco)

Em (Francisco)

Vou andando

Umas vezes por aqui

Outras

Outras por aí

 

Até me podiam chamar de Baleizão…

Mas de (Francisco)

Não

(Francisco) não.

 

 

 

 

Alijó, 23/11/2022

(Francisco)

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Sou um estranho… no teu peito


Sou um estranho teclado
dentro do teu peito,
sou a manhã na boca da insónia...
e perco-me nas tuas mãos
como um pássaro em sofrimento,
surpreendo-me com o teu olhar entranhado na escuridão,
pareces um cortinado invisível,
uma espingarda de papel...

sou um estranho teclado
dentro do teu peito,
sou os rochedos incinerados
que escondem as tuas palavras,
e nunca tenho tempo para abrir a janela
do teu coração,
sou um emaranhado de estrelas
sem passado nem canseiras,

Sou um estranho...
… no teu peito,
visto-em de negro
e confundem-me com a noite,
sou o silêncio dos teus cabelos
e a cartilha dos teus medos...
sou a clarabóia do teu sorriso
quando lá fora...

gritam o meu nome em vão,
e eu, e eu nunca tive um nome,
uma pátria,
uma bandeira,

nem... nem paixão...

gritam o meu nome em vão,
e o teclado estranho
que habita no teu peito...
chora... chora como a bala de um canhão.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 10 de Dezembro de 2014

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

As pálpebras do poema


Não sabia que o teu nome
era apenas um nome
uma solitária palavra
sem alma
sem coração
sem... sem barcos ao anoitecer,

não sabia que o teu nome
era apenas um nome
sem corpo
sem sombra...

não sabia que o teu nome
era apenas um silêncio
sem imagens
sons
ou... ou fotografias
em constante mutação,

não sabia
não sabia que o teu nome
era apenas uma assombração
uma cidade esquelética voando no pôr-do-sol,

(Não sabia que o teu nome
era apenas um nome
uma solitária palavra)

como as pálpebras do poema antes de ser o poema,

não sabia que o teu nome
era apenas um nome
um soluço mastigado nas sílabas do Diabo...
não sabia
que... que o teu nome
é como a areia húmida
e o mar apaga todos os seus desenhos
como a morte... apaga todos os seus corpos...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 8 de Dezembro de 2014

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Nome lapidado...


Não digas o meu nome,
nunca...
rasga-o e lança-o ao vento,
não digas o meu nome na vã esperança,
porque o cansaço alimenta...
e a noite come os êmbolos do meu silêncio,
sou uma máquina em aço laminado,
o meu esqueleto é composto por rodas dentadas,
roldanas...
e milímetros de fio desengonçado,
não,
não digas o meu nome,
amanhã acordarei?
sem nome,
idade,
altura...
amanhã nunca,
o meu nome lapidado...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 11 de Setembro de 2014

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Um dia dia vou regressar?


Nunca vi o teu nome escrito na fogueira da tarde,
imaginava-te uma serpente de luar enrolada no pescoço da noite,
tinha medo de ouvir a tua voz, tinha medo... da minha própria voz,
sabia que havia um espelho onde habitavas, um espelho mágico onde aparecias depois de cessarem todas as luzes em mim,
sentava-me sobre a ponte metálica da sonolência, inventava silêncios para não ouvir os teus gemidos,
desenhava-os como se eles fossem o acordar da manhã no pulso de um mendigo de aço,
e acreditava nas palavras não ditas, aquelas que tu escondias junto ao teu peito de anémona-do-mar,
sem vontade de amar,
sem vontade de viver...
nunca vi o teu nome nas ardósias madrugadas de suor,
quando uma cama recheada de sombras cobria a tua pele...
uma janela que se suicidava, e tombava no pavimento térreo da saudade,

Uma criança que chorava, e tu, e tu pensavas que eram os mabecos enfurecidos pelo cacimbo,
e afinal, e afinal eram apenas as mãos do desejo a penetrarem em ti,
desgovernada mulher dos sete lençóis de prata...

Tínhamos uma palhota com pernas de solidão,
e nunca vi o teu nome... escrito... na fogueira da tarde,
hoje, hoje sei que a tua voz é de cristal, e com a tempestade... quebrar,
grãos de amêndoa voando na algibeira do Tejo,
os cacilheiros em apitos joalheiros, e cansados de tantas viagens sem regresso...
um dia dia vou regressar?
Nunca soube a resposta aos apelos do Oceano,
num recreio de escola, uma criança vestia-se de estátua, no seu pedestal apenas uma flor amarela, e não palavras, e não... e não sorrisos,
e... e não sonhos,
nunca via o teu nome,
em mim...
como as escoras da insónia nas frestas do gesso envelhecido.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 6 de Agosto de 2014

domingo, 6 de julho de 2014

Noite de geometria


Perdi o teu nome numa noite de geometria,
reinventei palavras para te desenhar na tela do silêncio,
escrevi no teu corpo quando a solidão zarpava janela adentro,
eu, eu sentava-me no cadeirão cinzento... e procurava-te nos livros que lia,
o teu nome..., o teu nome não aparecia,
e eu, eu mentia,
dizia que te chamavas de “amor”...
e...

e... e nunca conheci mulher alguma com esse nome,
e nunca conheci flor alguma que tivesse nas pétalas a cor do teu olhar,
abria a janela,
e gritava...
“amor”... “amor”...
e...
e... e ninguém se apelidava assim,
gritava, gritava... até que o luar me trouxe a insónia,

Cerrava a janela,
sentava-me no cadeirão cinzento,
abria um livro,
fechava-o... e o teu nome continuava desconhecido,
amargo,
tão amargo que dos meus lábios brotavam pedacinhos de cinza,
algumas pérolas de papel... e um ínfimo desejo despertava...
… e tu entravas, e tu entravas e eu não me recordava do teu nome...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 6 de Julho de 2014