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foto de: A&M ART and Photos
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Ofereceu a bala inseminada com as impressões
digitais do poema em construção, poisou os cotovelos sobre a
iluminada folha de papel com meia dúzia de palavras, leu e releu e
puxou o gatilho da caneta de tinta permanente sobre a secretária em
pinho, voaram sobre a biblioteca todas as gaivotas de porcelana que
permaneciam entre os livros e outras bugigangas, aos poucos, como
silêncios de um pêndulo cansado, foram cessando as agonias do homem
poeta da caneta de prata, uma bala silenciada adormecia-se como
flores numa jarra, dentro dele apenas se ouviam as esquina de luz do
espelho prateado,
A saudade submergiu do corpo caído sobre a
secretária, ouvias as minhas preces como quem escreve um livro
infinito, uma estória que só termina quando duas rectas tristes e
sós se encontram
No infinito,
Dizem-me, eles,
A saudade é filha da balda da caneta de prata, as
palavras morreram como morreram os teus sorrisos e como morreram as
tuas caricias e como morreram as tuas mãos sobre o meu peito em
feitiço... e como morreram
Quem quem morreu?
Como morreram os fantasmas dos roseirais de Luanda,
e há uma filme escondido nas paredes de um casebre, na parede
traseira uma placa com a inscrição de “FIM” aparece
Desaparece
E morreram os teus lábios nos meus lábios quando
entrelaçados nos meus cabelos as lições de piano, o som melódico
das teclas borbulham nos alicerces da madrugada, ofereceu a bala e
suicidou-se com a caneta de prata
Sentia o cheiro intenso da tinta derramada nas
alvenarias como desenhos abstractos que os teus olhos inventaram nas
prateleiras velhas, nas prateleiras caducas, morreram os teu seios
nos meus lábios, morreram as tuas cintilantes pálpebras nos
cadeados de estanho, e ouvia-te das lágrimas os aplausos nas
cantigas dos rabugentos e enferrujados barcos,
O aço é um corpo só, velho, flácido... o aço
vive cambaleando suaves beijos em desleais palavras em mendigas
sílabas de verdes olhos procurando a noite reconstruída e morreram
os teus dedos que procuravam em mim
Quem quem morreu?
A bala, procuravam em mim a caneta de prata o
suicídio fictício das palavras,
Quem quem morreu?
A bala, procuravam em mim as sombras desnorteadas
das tardes de Segunda-feira, e eu, eu sabia-o, admitia-o... que um
dia, tu, a bala e a caneta de prata... invadiriam o meu silêncio, um
dia, tu, eu, que um dia, tu, a bala e a caneta de prata... invadiriam
o meu sofrimento de lírio apaixonado, deitado sobre a secretária da
Saudade?
Que morreram as tuas peugadas absorvidas pelo meu
pesadíssimo corpo em aço, só, velho, flácido... o aço vive
cambaleando suaves beijos em desleais palavras em mendigas sílabas
de verdes olhos procurando a noite reconstruída e morreram os teus
dedos que procuravam em mim
Quem quem morreu?
A saudade,
(só, velho, flácido... o aço vive cambaleando
suaves beijos em desleais palavras em mendigas sílabas de verdes
olhos procurando a noite reconstruída e morreram os teus dedos que
procuravam em mim)
Quem quem morreu?
Quem quem morreu?
O amor das pedras cinzentas...
FIM.
(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 30 de Novembro de 2013