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segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

A vida

 Todas as paredes

As paredes de uma sala

São tristes

São feias

São sós,

 

Juntamente com as paredes de uma sala

Habitam outras paredes

Com cor

Sem cor

Mas todas elas

Tal como as paredes de uma sala

São tristes

São feias

E são sós,

 

Depois suspendem na parede de uma sala

Que é triste

Parede de uma sala que está só

E é extremamente feia

Um quadro

Um quadro sem nome

Um pedaço de tela

Aprisionado entre quatro ripas em madeira

Um caixão?

Não

Um caixilho

O caixão serve para transportar corpos

Ossos

Chagas invisíveis

O caixilho aprisiona um pedaço de tela

Um pedaço de tela sem nome

Feio

Muito feio

E triste

Muito triste,

 

E de que serve dar um nome a um pedaço de tela

Aprisionado dentro de quatro ripas?

Caixilho?

Sim

O caixilho

E qualquer que seja o nome do quadro

Que está suspenso na parede da sala

Parede da sala que é feia

Que é fria

E triste

Será sempre um pedaço de tela

Dentro de quatro ripas

Também tristes

Também sós,

 

A casa que tem paredes frias

E tristes

E sós

Que nas paredes da sala

Frias

E tristes

E sós

Têm no peito um pedaço de tela

Também ela triste

Também ela só

Também ela fria

E uma janela

E triste

E fria,

 

Em frente à janela

Uma árvore

Triste

Uma árvore fria

Durante o dia

Poisam sobre a árvore

Pássaros tristes

Frios

E sós

Durante a noite

Sem que ninguém consiga ver

Poisa a lua

E as estrelas,

 

A casa triste

Feia

E só

Tem lágrimas

Tristes

Feias

E sós

E tal como o pedaço de tela

Aprisionado dentro de quatro ripas

Não tem nome

Nem fome

Mas tem lágrimas

Tem um pedaço de tela

Tela muito fria

Muito triste

E só,

 

E quando a luz se extingue na mão das estrelas

Este pedaço de tela

Aprisionado dentro de quatro ripas

Tristes

E sós

Também se extingue

E este pedaço de tela

Não fala

Não come

Não bebe

Ou fuma

E este pedaço de tela é apenas um pedaço de tela

Sem nome

Triste

Muito triste

E muito só,

 

E este caixão

(perdão, este caixilho)

É o único abraço que este pedaço de tela

Muito só

Muito fria

E triste

Tem,

 

Quem mias de que um triste e só caixilho

Para abraçar um pedaço de tela

Tela muito fria

Tela muito feia

Tela muto triste…

 

E tal como o caixilho que abraça uma tela

Uma tela fria

E triste

Uma tela só

Apenas uma mãe

Abraça o seu filho

Seu filho muito triste

Seu filho só

Muito só

E às vezes

Uma mãe

Pega em todos os pedacinhos do seu filho

Aqueles pedacinhos que jazem no pavimento da loucura

Coloca-os sobre a mesinha-de-cabeceira

E aos poucos

Aos poucos devolve-o à vida,

 

Não sou um pedacinho de tela

Deram-me um nome

Não tenho um caixilho que me abrace

Mas tive uma mãe

Mãe que pegou em todos os meus pedacinhos

Os colocou sobre a mesinha-de-cabeceira

E devolveu-me à vida

Tal como o fez pela primeira vez.

 

 

 

 

 

Alijó, 02/01/2023

Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Um quadro sem nome

 

Sou apenas um quadro

Só e suspenso numa parede

Fria e também ela

Só,

 

Sou apenas um quadro

Só e sem nome,

 

Não tenho nome

Porque o gajo que me pintou

Um tal de “Fontinha”

Nem um nome me deu,

 

Elas olham-me

Eu olho-as

Elas gostam de mim

Eu gosto delas

E sinto-me tão feliz…

Porque o gajo que me pintou

Nem é olhado

Nem gostam dele,

 

Sou apenas um quadro

Com cores

Rabiscos

Sombras

E palavras invisíveis,

 

Sou apenas um quadro

Só e suspenso numa parede

Fria e também ela só,

 

Tal como o gajo que me pintou,

 

Frio e só.

 

 

Alijó, 05/12/2022

Francisco Luís Fontinha

domingo, 27 de novembro de 2022

Um pequeno nome

 Dêem-me um nome

Um pequeno nome

Dêem-me um pedaço de terra

Para sepultar o meu nome

Um pequeno nome

 

Nome sem nome

Numa árvore com nome

Um poema sem nome

Um pequeno nome

Este meu pobre nome

 

Um nome

Para este retracto anónimo

O último pendura na última parede

Fria e nua e sem nome

Um nome

Um pequeno nome

 

Dêem-me um nome

Para o meu corpo sem nome

Porque não tenho nome

Nem tenho uma parede para pendurar o meu corpo

 

Sem nome.

 

 

 

 

Alijó, 27/11/2022

Francisco Luís Fontinha

sábado, 29 de outubro de 2022

Corpo silêncio

 


Escrevíamos no olhar da manhã

As tristes cores do desejo

Porque nas paredes dos teus lábios

Habitavam as lágrimas dos tristes Invernos

E sabíamos que havia um corpo suspenso na montanha (o teu corpo)

 

 

 

Alijó, 29/10/2022

(texto e quadro de Francisco Luís Fontinha)