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sábado, 27 de abril de 2019

Noite


Um fio de luz,

Desce o teu corpo,

Tens na algibeira o livro da nova poesia,

Que um dia, vai aportar na tua mão.

Trazes nos lábios o sabor da cereja bravia,

Cansada de correr,

E um dia,

Junto ao mar,

Vai morrer.

Trazes nos cabelos a luz da madrugada,

Negra,

Sem perceber,

Que a paixão,

Um dia, que a paixão um dia vai adormecer.

Trazes na boca a loucura,

As tâmaras apaixonadas da Primavera,

Toco-te, e acaricio-te…

E da minha mão,

Brotam toneladas de palavras.

São rosas,

São gladíolos…

São jardins em construção…

Como vampiros.

 

Um fio de luz, no teu olhar.

 

Serve-me.

 

Inspira-me.

 

Enquanto desce a noite nos teus seios…

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

27-04-2019

domingo, 29 de abril de 2018

Alvorada da tristeza


Em redor dos teus cabelos,

A fragrância alvorada da tristeza; como é feio o meu jardim!

As flores de papel que alimentam o teu desejo,

Quando um caquéctico relógio de pulso se suicida na madrugada,

Fico triste, pois claro,

Aborrecido,

Cansado das canções dos teus lábios apaixonados,

Quem me dera que fossem por mim!

Quem me dera…

Quem me dera ser o teu jardim!

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 29 de Abril de 2018

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Sou um estranho… no teu peito


Sou um estranho teclado
dentro do teu peito,
sou a manhã na boca da insónia...
e perco-me nas tuas mãos
como um pássaro em sofrimento,
surpreendo-me com o teu olhar entranhado na escuridão,
pareces um cortinado invisível,
uma espingarda de papel...

sou um estranho teclado
dentro do teu peito,
sou os rochedos incinerados
que escondem as tuas palavras,
e nunca tenho tempo para abrir a janela
do teu coração,
sou um emaranhado de estrelas
sem passado nem canseiras,

Sou um estranho...
… no teu peito,
visto-em de negro
e confundem-me com a noite,
sou o silêncio dos teus cabelos
e a cartilha dos teus medos...
sou a clarabóia do teu sorriso
quando lá fora...

gritam o meu nome em vão,
e eu, e eu nunca tive um nome,
uma pátria,
uma bandeira,

nem... nem paixão...

gritam o meu nome em vão,
e o teclado estranho
que habita no teu peito...
chora... chora como a bala de um canhão.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 10 de Dezembro de 2014

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Sabias dizer-me


Sabias dizer-me a cor dos teus olhos,
nunca esqueceste o cansaço dos meus cabelos,
sabias... e deixaste de saber...
o que escrevo,
o que quero escrever,
sabias como eram as madrugadas de Agosto num jardim clandestino,
tão pequenino,
tão...
e deixaste de perceber os silêncios do amanhecer,
sabias dizer-me a cor dos teus olhos,
sabias,
sabias e tinhas medo da minha voz trémula,

Desfocada no espelho de um quarto escuro...
sabias,
e não me querias dizer...
como eram belas as gaivotas do Tejo,

De como eram belas as ruas desertas de Belém,
sabias a cor dos teus olhos...
… e não sabias... e não querias saber...
de como eram belos os barcos que vociferavam palavras nas noites frias de Inverno,
que inferno,
saberes...
e não me quereres dizer,
que... que havia uma janela pintada de veludo,
que... que havia uma clarabóia sobre o esqueleto do Oceano,
tu sabias,
tu sempre soubeste...
que eu, que eu era construído em ferro fundido dúctil.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 4 de Julho de 2014

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Poemas molhados


Este Oceano que me alimenta,
este cansaço que me habita, e se afugenta,
este corpo que desenha um abraço na janela que levita,
estes lábios secos, trémulos... e desorientados,
estes poemas molhados,
que a tua mão aquece,
e merece,
a minha mão sentida, a minha mão sofrida,
este Oceano que me engole,
e come como se eu fosse uma bandeira,
ai, ai este corpo que não dorme,
este corpo esquecido nos cabelos de uma ribeira...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 2 de Julho de 2014

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

A morte do teu cabelo

foto de: A&M ART and Photos

O meu cabelo absorve a cidade, vive debaixo dele a manhã dilacerante, há um perfume desconhecido que vai subindo até aos meus cabelos, encosto a cabeça ao espelho da manhã, trinco os lábios e sinto as madeixas das árvores engomadas por um velho ferro de engomar, não me sinto bem, estou estonteante, estou... em desequilíbrio, e oiço as finas gotas que o horário suspenso na parede da sala de jantar, essas... em pequenas lágrimas pergaminho, como húmus derretido sobre a terra árida das velhas mãos que serviram para alimentar o calendário nocturno
O meu cabelo morre,
E a tua boca silencia-se como se vivêssemos em permanente ditadura, como se vivêssemos... sem sairmos de casa, à varanda do silêncio, choras-me porque perdeste os cigarros, porque perdeste o emprego, porque perdeste... a vida
O meu cadáver de costas sobre a cidade, de um salto em falso... voo sobre a calçada camuflada com pequenas pedras de chocolate, alguém grita o meu nome,
O meu cabelo morre,
A minha pobre vida, aos poucos... também ela morre, como o meu loiro cabelo, como o sombreado vento, como a grade da varanda que me aprisiona e não me deixa ser livre, livre como as gaivotas de Belém, ir a bares, beber em esplanadas a vodka que sobeja dos veleiros acabados de regressar da Rússia, e
O meu cabelo morre, e a minha vida morre, e tu, e tu morres-me... porque a água salgada do mar começou a subir pelo ascensor, entrou no terceiro esquerdo, entro no terceiro direito,
Nós
E o teu cabelo quase em chamas,
E nós quase, porque habitamos o sexto frente, e daqui a pouco, a tua cabeça, encostas-a à grade enferrujada e lanças-te em
Queda livre,
O meu cabelo morrer,
Nós, nós quase engolidos pelas caravelas que a noite lança pelas ruas para nos aprisionarem, como acontece com o teu cabelo, como acontece com o teu corpo...
Ambos prisioneiros, vagabundos, quase em
Queda livre,
A cidade,
Morre,
O meu cabelo morre,
E o teu cabelo quase em chamas,
E nós quase, porque habitamos o sexto frente, e daqui a pouco, a tua cabeça, encostas-a à grade enferrujada e lanças-te em granito polido, cubos em gelo, pregos de madeira rompem os sargaços dos teus beijos, e nós, porque habitamos o sexto frente
Morre, morre o teu cabelo quando te lanças sobre os veleiros desgovernados das Clarissas abandonadas, ouvi-o, ouvi-lhe os cabelos agarrarem-se à velhíssima grade e voavas, e dançavas, e
E o teu cabelo quase em chamas,
E os meus braços enrolados no teu pescoço, a cidade, a cidade com o teu corpo como húmus, sobre a terra ressequida, feia, dilacerante...
E morre,
E desce... até encontrar a lápide cinzenta onde está escrito o seu nome,
A criança rodopia,
E a vida, a vida também morre, e a vida espera por um digno salto, e ela
Ela morre,
O meu cabelo morre, o meu cabelo... em flor, sobre as árvores dos teus seios, transparentes, como as velas do veleiro estacionado junto à Torre de Belém,
E ela?
Ela... ela morre, morre, até encontrar a lápide cinzenta onde está escrito o seu nome,
A criança rodopia.

(não revisto – Ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
quarta-feira, 21 de Agosto de 2013

sábado, 3 de agosto de 2013

tens de ti o meu pobre corpo desleixado

foto de: A&M ART and Photos

Tens de ti os sorrisos despedidos pela madrugada
dormes solenemente sobre a calçada
tens de ti os vidros das gaiolas onde brincam as gaivotas de aço
dormes e amas e desejas

tens de ti as algas clandestinas do silêncio mar...
dormes
vives
tens de ti o meu pobre corpo desleixado
sonolento
despenteado
e dormes
e amas como amam as árvores dos jardins imaginários
tens de ti em mim as mãos sem os dedos que poisavam nos teus cabelos cinzentos
amar os beijos quando voam sobre os angustiados braços desalentos...
cobrindo-te e escondendo as tuas lágrimas
que tens em ti de ti os meus pedaços lenços

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó