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sábado, 27 de abril de 2019

Noite


Um fio de luz,

Desce o teu corpo,

Tens na algibeira o livro da nova poesia,

Que um dia, vai aportar na tua mão.

Trazes nos lábios o sabor da cereja bravia,

Cansada de correr,

E um dia,

Junto ao mar,

Vai morrer.

Trazes nos cabelos a luz da madrugada,

Negra,

Sem perceber,

Que a paixão,

Um dia, que a paixão um dia vai adormecer.

Trazes na boca a loucura,

As tâmaras apaixonadas da Primavera,

Toco-te, e acaricio-te…

E da minha mão,

Brotam toneladas de palavras.

São rosas,

São gladíolos…

São jardins em construção…

Como vampiros.

 

Um fio de luz, no teu olhar.

 

Serve-me.

 

Inspira-me.

 

Enquanto desce a noite nos teus seios…

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

27-04-2019

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

pálpebras de cereja

foto de: A&M ART and Photos

apetece-te recortar os sobejantes pedacinhos de tecidos que a vida nos deixou
insistes e desistes
hesitas
recomeças vagueando sobre a sala de jantar com a tesoura da solidão em riste
embrulha-la cuidadosamente nas sombras inquinadas dos desenhos sem tecto
e nas paredes vãs dos teus olhos de avelã...
simples teias de aranha esperando o sopro do teu sorriso
um pequeno movimento transatlântico descai e avança contra as âncoras do desejo
sinto-te mergulhar nas clandestinas veias dos cadáveres cerâmicos da desajeitada cozinha...
apetece-te recortar-me porque imaginas-me como um pedacinho de tecido
negro
com pálpebras de cereja

hesitas
insistes e desistes
recomeças vagueando nas estrelas cansaços dos divãs de xisto
desces socalcos
sobes penedos envenenados com os teus lábios de sabor adocicado...
voltas a descer e hesitas
insistes e desistes
acordas cedo quando ainda dormem todos os medos que a madrugada inventa
às vezes pareces um candeeiro à minha espera
no fundo das escadas
aproveitas o vão da insónia
para recordares os beijos molhados das húmidas noites de navegação interstelar...

vadio sinónimo de mim quando gritas o meu nome
apetece-te recortar-me como o fizeste aos sobejantes pedacinhos de tecidos que a vida nos deixou
hesitas
insistes e desistes
gritas
gritas
gemes como ravinas infestadas de ratazanas coloridas
um pelotão de fuzilamento vem direito a nós
tu... eu...
hesitamos
gritamos
fingimos que somos filhos do mar

… e morremos...


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 25 de Novembro de 2013