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foto de: A&M ART and Photos
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apetece-te recortar os sobejantes
pedacinhos de tecidos que a vida nos deixou
insistes e desistes
hesitas
recomeças vagueando sobre a sala de
jantar com a tesoura da solidão em riste
embrulha-la cuidadosamente nas sombras
inquinadas dos desenhos sem tecto
e nas paredes vãs dos teus olhos de
avelã...
simples teias de aranha esperando o
sopro do teu sorriso
um pequeno movimento transatlântico
descai e avança contra as âncoras do desejo
sinto-te mergulhar nas clandestinas
veias dos cadáveres cerâmicos da desajeitada cozinha...
apetece-te recortar-me porque
imaginas-me como um pedacinho de tecido
negro
com pálpebras de cereja
hesitas
insistes e desistes
recomeças vagueando nas estrelas
cansaços dos divãs de xisto
desces socalcos
sobes penedos envenenados com os teus
lábios de sabor adocicado...
voltas a descer e hesitas
insistes e desistes
acordas cedo quando ainda dormem todos
os medos que a madrugada inventa
às vezes pareces um candeeiro à minha
espera
no fundo das escadas
aproveitas o vão da insónia
para recordares os beijos molhados das
húmidas noites de navegação interstelar...
vadio sinónimo de mim quando gritas o
meu nome
apetece-te recortar-me como o fizeste
aos sobejantes pedacinhos de tecidos que a vida nos deixou
hesitas
insistes e desistes
gritas
gritas
gemes como ravinas infestadas de
ratazanas coloridas
um pelotão de fuzilamento vem direito
a nós
tu... eu...
hesitamos
gritamos
fingimos que somos filhos do mar
… e morremos...
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 25 de Novembro de 2013