sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Alienado coração de gelo

foto de: A&M ART and Photos

O absorto corpo teu imaginado pela louca espuma do mar,
há no silêncio pardas palavras e sons melódicos, ou tristes... há no silêncio os poéticos sonhos da ejaculação precoce,
o absorto corpo que mergulha na minha mão, não existe, não chora... e não grita,
o silêncio reparte-se sobre as pedras calçadas do abismo...
e o salário do poeta bebe-se nas almofadas coloridas que as nocturnas noites deixam sobre a pele...,
sei,
o absorver-te enquanto uma varanda balança na tempestade madrugada que da boca saciada acorda quando os electrões da cidade correm em direcção aos rochedos teus abraços,
sei, agora..., sei que as tuas janelas são tão frágeis como as finas folhas em papel onde invento desenhos sem palavras, as descoloridas manhãs, os cortinados doentes que deixam o sorriso do Sol atravessar a negrume sílaba da canção da saudade,
sei que te queixas do alienado coração de gelo,
das nuvens com olhos envernizados,
dos tapumes que não te deixam observar o meu corpo... o absorto corpo teu imaginado pela louca espuma do mar...


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 31 de Janeiro de 2014
Poema de Francisco Luís Fontinha em destaque no Sapo Angola: Blogue Cachimbo de Água.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Gaguez tempestuosa

foto de: A&M ART and Photos

Engasgo-me nas palavras tuas das comestíveis ausentes marés do Inferno,
oiço o telintar da janela em fervor, depois, as pétalas cinzentas desgovernam o leme da tempestade,
a saudade existe?
pergunto-te se me ouves quando adormeço nos teus finos ombros de colmo... e sinto na tua pele o desejo indesejado do sofrimento,
o cansaço da tua voz,
o vento da nuvem de gelatina que sobrevoa a tua triste cama,
oiço...
finjo pertencer aos cadáveres invisíveis como esqueletos fotográficos em fina prata,
o livro de ti como eu, ambos esquecidos no oitavo andar das árvores de copa gaguez...
engasgo-me nas palavras, fumo os cigarros embebidos em alfinetes de pura lã virgem,
e...
e dizem-me que do outro lado da rua, uma criança brinca, passeia... pega na rosa dos teus lábios,
sente-se o beijo,
sente-se a tua mão pasmada sobre o silêncio da alvorada,
e do nu teu corpo,
e do... e do nu teu corpo alguns ossos desistem de sonhar...
e tu,
tu acreditas na saudade, no Inverno, e tu... acreditas nas sandálias de corda... e tu...
… e tu dizes-me...
- Amanhã, num pedaço de papel, deixo-te a minha dor.



@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2014

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Metade em metade... de mim

foto de: A&M ART and Photos

Metade de mim parece uma equação desgovernada,
uma integral sem solução...
metade de mim poderia ser uma matriz composta,
esquecida no centro da cidade,
metade de mim,
um pedaço de saudade,
um beijo com sabor a madrugada,
metade da metade...
de mim,
metade de mim as vãs palavras derretidas no jardim,
procurando a outra metade,
de mim... assim... a outra triste metade suspensa nos teus lábios de alecrim.


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 29 de Janeiro de 2014

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Palavras só minhas

foto de: A&M ART and Photos

Um relógio de pulso abraçado à mágoa dor,
a derradeira espera quando tudo à sua volta parecia voar como lençóis de água-doce,
queixava-se dos cortinados,
da cor aberrantes das paredes do corredor...
queixava-se da ponte em aço quando balançava com os beijos deles,
entre bocas remexidas,
convexas medalhas de prazer nos lábios da solidão,
um...
um relógio em paixão,
voando e dançando e sonhando,
um... um relógio de pulso... pulando os xistos muros do prazer,
hoje... percebi o que são palavras amorfas, doentes, palavras... palavras só minhas,

(palavras apenas escritas no meu corpo... e lidas,
e lidas pela tempestade do medo...)

Um relógio de pulso à janela do cansaço,
ouvíamos o vento entranhar-se nos orifícios das folhas em granito,
às lápides...
… às lápides as eternas fotografias tuas...
e dançávamos debaixo dos coqueiros,
davas-me a mão,
levavas-me até ao mar...
ai... ai o mar,
o relógio que escondeste na mesinha-de-cabeceira,
os óculos mergulhados em finos vidros de infestadas pétalas de ouro amedrontado...
e dos teus livros... tenho o cheiro do silêncio embrulhado em sílabas pinceladas com pedaços de amor,
e... e um relógio de pulso abraçado à mágoa dor.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 28 de Janeiro de 2014
Poema de Francisco Luís Fontinha em destaque – Sapo Angola – Blogue Cachimbo de Água.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Saturno

foto de: A&M ART and Photos

Saturno nas tuas trémulas mãos de sede,
o infinito que habita nos teus olhos despede-se da maldição madrugada,
há um livro em desgraça,
uma fogueira inventada que consome a tua fúria no centro da praça,
há uma calçada com braços e mais nada,
e... e Saturno que teima em viver dentro de ti,
assim,
como vivem as plantas nos charcos das sanzalas de prata...
como tu desenhando cigarros de lata nos vidros da janela azul,
Saturno sempre nos teus lábios,
comendo Primaveras,
aos Sábados... em tristes sábios,

Saturno saturado da cidade,
da chuva,
do vento que teima em desabitar os teus cabelos das nuvens cinzentas...
Saturno é como as árvores que cobrem as tuas pálpebras de solidão,
e sempre que uma gaivota grita o teu nome em vão...
Saturno não se cala,
se revolta,
se revolta como os homens de uma canção,
Saturno nas tuas trémulas mãos de sede,
correndo cinzeiros,
escrevendo palavras no corredor da morte...
Saturno... Saturno sem sorte... sorte que nunca teve porque de feiticeiro nasceu o texto com beijos de avião...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 27 de Janeiro de 2014

domingo, 26 de janeiro de 2014

A dita tranquila paixão...

foto de: A&M ART and Photos

Sentíamos os pinheiros de papel voando nas planícies pinceladas em vermelho inventado,
havia um pulmão de Inverno nos teus olhos de disco voador,
gaivota sonhadora, havia em ti um tímido silêncio de dor,
uma travestida mágoa conversando nas eiras com palheiros de granito,
ouvíamos, às vezes, o ranger das ripas entre os pregos ao aço dorido,
e sentíamos os triângulos isósceles quando ainda existia em nós... a dita tranquila paixão...

Ainda sinto as tuas tristes mãos onde habitavam palavras com medo,
segredos sem sentido,
amores proibidos... beijos que nunca conheceram o diáfano cansaço da noite,
sentíamos os alforges engolindo pedras e outras coisas sem nome,
e ainda sinto,
e ainda tenho... a dita tranquila paixão...

Sabíamos que a saudade era apenas uma palavra perdida no meio da seara envenenada,
sabíamos... sentíamos... sabíamos que os nossos corpos jamais se separariam das janelas com grades em vidro,
e no entanto... deixamos adormecer todas as imagens a preto-e-branco que tínhamos encerrado dentro dos nossos corações de manteiga,
o amor desperdiçado em voláteis vozes em fumo e banho-Maria,
e... e nós... a dita tranquila paixão...
em poderosos parquímetros com paquetes em dóceis apitos do desejo.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 26 de Janeiro de 2014

… e todos os sábados existe uma amoreira por beijar...

foto de: A&M ART and Photos

(Tinha prometido que nas próximas semanas não publicaria nada, poesia, textos... mas as palavras são mais fortes do que a dor...)


Converso com as vozes inaudíveis das montanhas ínfimas em ti
e percebo que o medo absorve-te como se fosses um alimento comestível na boca do Inferno,
oiço as sílabas distorcidas que brincam nos teus lábios de sebe envergonhada como eu,
oiço das montanhas ínfimas em ti os segredos nossos vividos entre o silêncio e a preguiça do desassossego,
habitas as transversais listras negras do temido sono que acordam todas as manhãs na garganta do sofrimento,
vives porque pareces um mendigo travestido de mendigo,
vives porque és o verdadeiro mendigo de mim... que ficou em ti de quando éramos poetas vagabundos sobre as árvores dos jardins sem braços em prata,
postais e revistas,
livros e pornografia barata, simples, submersas as tuas mãos em veludo fino,
cortinados que abanam e cintilam nas vozes nocturnas do amor,
amar-te como se ama uma lareira poética nos seios das finas lâminas da tristeza,
deixamos ficar a alegria nas sarjetas do póstumo amanhecer...

(… e
e fazemos de conta que em todos os sábados existe uma amoreira por beijar...
tu),

E fazemos de conta que as estradas que me levam a ti são em puro chocolate,
e fazemos de conta que dos teus beijos saltitam mãos de espuma,
areais de seda e janelas com olhos de vidro,
e...
… e fazemos de conta que em todos os sábados...
que hoje não existe vida nos teus brancos cabelos,
que hoje a noite parece um mórbido cobertor de Inverno sobre os joelhos teus quando ainda acreditas nos desejos pergaminhos da laranjeiras,
as palavras são propositadamente embriagadas para esquecermos a cinzenta estória sem livros para pintarmos,
temos em nós os vestígios carris do aço disfarçado de recta paralela,
a trigonometria da dor quando do envidraçado muro da desgraça uma rosa se submete aos teus encantos,
és lindo, és tu que albergas as minhas desventuras montanhas ínfimas em ti...
… e todos os sábados existe uma amoreira por beijar... tu... o pai que sempre quis ter.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 25 de Janeiro de 2014

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Caligrafia

foto de: A&M ART and Photos

Desço da tua árvore em desejo como uma serpente sem veneno...
sou a tua caligrafia quando a noite se perde em ti
e tu
tu pareces um pedaço de papel sem palavras
paixões de areia que voam com a tempestade
amores de gelo que acordam entranhados em geada
saudades e saudades e saudades...
saudades de não ter saudade...
de ti...
… de ti quando eu era o teu corpo mergulhado no cacimbo desempregado
triste...
tão triste como os candeeiros da cidade do mendigo embriagado...

Desço da tua árvore
visto-me de caligrafia gaivota sobre os telhados da penumbra madrugada
oiço-te em gemidos vagabundos e das alegres naftalinas que o dia contempla... sofres
e finges que a Primavera inventou a caligrafia das tuas mãos envelhecidas,

Vai e sente a deslumbrante areia branca com janelas de xisto viradas para os socalcos da dor
e que em ti cresçam e se alimentem as ardósias tardes em literatura
não
não te revoltes
não
não tenhas medo das gaivotas em caligrafia desgovernada... quando das flores cardumes de abelhas
invadem os enxames de peixes que a manhã constrói depois dos pingados beijos descerem...
descerem da tua árvore em desejo
em silêncio
o medo
a boca que arde e em jeito de meia-caligrafia...
oiço-te em torradas e chás de menta... eis o desejo como uma serpente sem veneno...


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 24 de Janeiro de 2014

(por razões de ordem pessoal, nas próximas semanas, não publicarei... poesia, texto...)

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Verbos cinzentos


Tudo se perde nas profundas nádegas da saudade,
Se amanhã acordarem lágrimas nos teus olhos,
Não, não hesites em pegar na minha mão,
Se amanhã nos teus braços saltitarem gaivotas,
Não, não tenhas medo,
Sou eu, eu...
Eu... vestido de árvore em pedaços de sombra sobre ti...
Se amanhã na janela dos teus sonhos não entrar o sofrimento diáfano da sinfonia madrugada...
Não, não sou eu...
São as pedras da calçada,
São os verbos cinzentos nos lábios da sonâmbula enciclopédia desgovernada que esconde o teu fino rosto de amêndoa...


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 23 de Janeiro de 2014

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

... que acorde então a madrugada

foto de: A&M ART and Photos

As suas siglas perfumadas subindo as escadas do desejo
abraçando as singelas sílabas abandonadas que espreitam a madrugada entre o cortinado e a alvorada
sinto o bater das pérolas negras que caminham corredor abaixo... e na paragem do eléctrico
junto à porta que dá acesso à biblioteca
os teus seios mergulhados na argila manhã de triste neblina
criança ainda
perfumada
a sigla de ti acompanha as outras siglas deles até que acorde o Pôr-do-Sol
que venha a noite e traga muitos amigos
feiticeiros e feiticeiras
janelas e abrigos
bandeiras... portas e luares sem Janeiro...

As suas siglas perfumadas subindo... coitadas as derreadas canções de Abril
(Ora aí está... que acorde então a madrugada, que se abram todas as janelas, e que o dia finja ser um belo domingo, sol, muito sol... e ao longe... ao longe a praia, os coqueiros...)
os silêncios de mim entranhados nas tuas mãos
sentia-te saltitar sobre as finas areias da Baía...
os barcos nossos lançavam-se nos teus seios... e sabia-te sentada sobre as mangueiras do amanhecer...

O fogo permanece na tua alma inconstante
o fogo alicerça-se nos teus olhos de sincelo... e sem o saberes uma flor quadriculada dança nas pálpebras húmidas da paixão
dormes sem mim porque o infinito acontece todas as noites depois dos dispersos horários se debruçarem no varandim com telhados de prata
a tua pele fervilha e arde
e o fogo em ti é como as palavras em mim
nada de especial
o papel simples e informal...
sem gravata
sem... sem as apaixonadas mulheres nas borboletas de veludo que a luz ilumina
quero gritar não consigo
consigo gatinhar sobre a geada Aurora e não o quero
quero... e não percebo porque morrem todas as siglas perfumadas subindo as escadas do desejo.


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2014

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

às palavras poucas

foto de: A&M ART and Photos

a chuva de mim às palavras poucas
entranhado eu nos cinzentos cobertores da solidão
desenho nos lábios da paixão
o beijo
escrevo nas paredes da insónia o eterno desejado prometido abraço...
… e em vão... permaneço obcecado pelas bolas de naftalina do teu olhar
em vão... adormeço pensando nas ranhuras castanhas dos holofotes de cianeto...
as derradeiras gavetas depois do sexo nuas mãos embrulhadas em toalhas de saudade
a chuva de mim às palavras poucas
deambulando loucamente nos pulmões da velha cidade
sem idade
o corpo submerge de um quarto de pensão,

há carícias
há amor...
há... gemidos confundidos com uma triste/alegre canção...
e Adeus
Adeus a ti de mim às palavras poucas...
das palavras sem coração.


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 21 de Janeiro de 2014
Poema em destaque – Blogue Cachimbo de Água – Sapo Angola.
Francisco Luís Fontinha – Alijó.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Nesta vida de nada

Foto: Ellestudio.net / Fabien Queloz photographi

Nesta vida de nada
que não me pertence porque amanhã sou apenas um grão de areia
vagueando pelas calçadas da cidade
nesta vida sem nada
caminho caminhando... procurando as palpitações das pálpebras embriagadas
e sinto-me pertencer aos mausoléus da saudade
e às janelas quebradas...
nesta vida há o nada e o alguém
que ama
que busca
que cresce... e morre também
nesta vida eu sou o quê? uma pedra um sapato pontiagudo ou uma enxada?

Nada não sou nada
nesta vida de ninguém
nesta triste vida de nada,

Eu sinto-me uma alma penada
um pedaço de papel ardendo nos teus seios
nesta vida de corpos circunflexos... e anexos... e nesta vida de equações lineares
em nada
sou o nada
e sinto-me uma pedra pesada
tão pesada como a penugem de uma gaivota
nesta vida malvada sou um crucifixo disfarçado de madrugada
uma lápide
ou uma dolorosa argila sofrendo nas mãos do pedreiro
que antes de uma vida de anda
foi mestre em culinária e barbeiro... e carpinteiro... poeta sofredor... e nada... nada de doutor.



@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 20 de Janeiro de 2014

domingo, 19 de janeiro de 2014

Janelas de mármore...

foto de: A&M ART and Photos

Os últimos cacos de ti desaparecem nas amoreiras virgens dos telhados de colmo
a dor inseminada que sentiam as tuas dúcteis veias habitam hoje nas janelas de mármore
e durante a noite
a mão solitária da insónia rouba o mar que se ouvia das janelas de mármore...
sinto-te neste momento em finas placas de poeira
inventas o vento para que os teus despojos sejam selvaticamente levados para a montanha
uma ribeira alegremente chora
e no teu rosto de cacos
as pequenas lágrimas de cianeto que invadem o teu doce sofrimento
hei-de ser uma lareira acesa na tua mão de porcelana
um livro em forma de chocolate...
hei-de ser um dos últimos cacos de ti.


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 19 de Janeiro de 2014

Sanzalas do pecado

foto de: A&M ART and Photos

qualquer coisa começada em pedra e terminada em erva
o terreno límpido onde pastam as vozes dos cortinados ensanguentados
húmidos pelo medo
às paredes o silêncio degredo
a morte vestida de flores embalsamadas
e portas encerradas
janelas que olham o mar
o mar que transforma janelas em barcos para brincar
qualquer coisa em ti
comedida
a dor sobre os teus ombros submersos em carris de aço nos lânguidos lábios em tristes abraços...
sabia-te deitado no meu destino,

ancorado
e bem amarrado como cordas que sustentam as pontes invisíveis das tempestades de veneno
converso e oiço-te em mim...

grito.... “Quero o meu caderno das argolas desbotadas quando a tarde ainda era tarde”... grito e quero-o em mim como se eu fosse um simples suporte de madeira deixado numa qualquer rua da cidade...,

a cidade fervilha e transpira
o corpo despe-se e do espelho do sótão uma lâmina de tristeza embrulha-se em ti
sim eu percebo que você é frágil e de frágeis vivem os jardins como vivem as árvores nos seios das pequenas gaivotas em papel...
a cidade és tu
o corpo é o meu
o meu corpo dentro do teu corpo
dois corpos suspensos na fronteira do prazer... vivemos na alegre solidão da dor...
sinto-as como se fossem as minhas mãos de amoreira em cima das nuvens negras do Inverno inferno travestido de Cinderela adormecida... ancorado... e bem amarrado... o teu corpo vive e habita nos rochedos das montanhas encarnadas
o teu corpo masturba-se nas sílabas assassinadas pela madrugada
oiço-as e invento-lhes nomes para que eu não enlouqueça como a insónia vogal do ciume
vive-se vivendo como esqueletos de ossos em migalhas de pão...
voa-se voando... quando de um corpo sem corpo acordam as sanzalas do pecado.


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 19 de Janeiro de 2014

sábado, 18 de janeiro de 2014

Sem nome – o teu nome

foto de: A&M ART and Photos

Não sei o nome dos teus olhos molhados
quando chovem pedaços de saudade nas pedras íngremes do silêncio
convenço-me que sou um corpo putrefacto esquecido nos pingentes húmidos telhados de vidro
sentindo as tuas mãos em aço
e submergindo nas tempestuosas águas que as palavras trazem depois de escritas
ditas e perdidas nas calçadas com flores apaixonadas pelos candeeiros envidraçados do medo
e na areia da paixão sei que vivem vogais vestidas de negro vendendo o corpo por três moedas...
sei que o teu corpo é um fóssil mergulhado nas quatro pedras de gelo do meu invisível uísque
sinto-as como carícias sombras nas páginas do livro de poemas à procura do barco dos sonhos
apitam e choram apitam... e gritam... e apitam... e gritam o apito da melancolia
e em loucas orgias de sílabas licenciadas em nuvens de sémen...
não sei o nome... dos anzóis da solidão.


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 18 de Janeiro de 2014

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Vozes de granito

foto de: A&M ART and Photos

Há uma estrada que nos transporta até à cidade do gelo
dento do desejo medo
um livro teu mergulha na inocência da noite poética
o uísque embainha-se no gelo da cidade perdida
e uma personagem invisível veste-se de madrugada
há uma estrada
uma rua e um nome...
há um calendário que me insemina na doce margarida em pétalas fungiformes
dos torrões de açúcar
e escreve no meu corpo os números tristes das planícies dos cegos
a gaivota da tua mão mórbida aparece nas costas do cortinado cinzento junto à lareira da paixão
e um corpo...
o teu corpo... arde como papel vegetal em pequenos esquissos dos loucos projectos,

Há vozes de granito que iluminam a escuridão das tuas pálpebras
e dor que transforma as plantas vivas em mortas jangadas de veludo
há a dita cidade do gelo
encastrada nos seios da mulher de palha...
oiço-os em gritos andaimes depois da despedida que o cais das lágrimas de aço transborda montanha abaixo
rio acima tudo dorme sem perceber que da noite nascem lençóis de prazer
e as pontes de vidro que eu toco são como a frieza dos teus velhos lábios...
o nome que não sei pronunciar
escrever...
o nome inventado nos rochedos de areia da cidade do gelo
há uma estrada em ti que me acorda em todas as alvoradas
e... e desejei eternamente ser em cartolina como os jardins do nada.


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 17 de Janeiro de 2014

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Incineração

foto de: Martin Bernier

Incinero-me na tua sombra com os espelhos nocturnos do inverso complexo número
e sinto em ti as cinzas equações das tristes integrais
duplas… triplas...
infinitamente sós
soalheiramente sentadas num quadriculado caderno com capa negra
argolas nuas dos simplificados arames maleáveis em chapéus de palha humedecida pelo desejo orvalho da madrugada...
sinto-te desfalecer a cada minuto em desassossego e as janelas não mais acordaram depois da tempestade
o silêncio mergulha-te
insemina-te de falsos alicerces...
como falsas deles as palavras que somos obrigados a ouvir
incinero-me na tua sombra sem o saber
e não entendo as tuas lágrimas após caírem sobre o soalho os cortinados da solidão...


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 16 de Janeiro de 2014

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

A lareira da paixão

foto de: A&M ART and Photos

Perceber o fogo do corpo em suspenso
aquele que arde entre a morte e as palavras enraivecidas
escrever no corpo que arde em suspenso quando os lábios do fogo
não morrem... e permanecem inconstantes como um círculo descendo a calçada da Ajuda
perceber que o homem arde
fervilha
e dorme no colo de outro homem...
ergue-se o cansaço argiloso das andorinhas de papel
vem a nós os desejos preguiçosos das saudades de ontem
e fervilhas
como um pedaço de madeira nas mãos de Deus...
porque o rio se despediu de ti e tu permanecerás dentro da lareira da paixão.



@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 15 de Janeiro de 2014

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Sílaba louca

foto de: A&M ART and Photos

A mágica sílaba louca
da ardósia tua boca
desenhando
escrevendo
construindo palavras nas pálpebras do sono,

A mágica sílaba louca
correndo à fonte a água pouca
saltitando
sonhando
as madrugadas de veludo em seu tão distinto trono,

A mágica sílaba louca
como nunca ninguém a viu nas manhãs sem touca
humedecendo
comendo
os censurados cobertores do absorto mono...

A mágica sílaba louca
sabendo que terminaram todas as rimas do silêncio em poupa
a cabeça dançando
e os braços... e os braços abraçando
as insígnias maleitas do desejo nono.


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 14 de Janeiro de 2014

Blogue Cachimbo de Água em destaque na Rede – Sapo Angola



segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Esqueleto apátrida

foto de: A&M ART and Photos

Nas pálpebras do silêncio um fino fio de tristeza,
mergulha, insemina e cresce como pétalas cinzentas,
corre na límpida água fresca dos seios encastrados na montanha do desejo,
morrem todas as palavras terminadas em OR,
morrem as nuvens de chocolate e os sinos ásperos do sofrimento...

Ouvem-se-lhes nas migalhas do dúctil granito as mágoas de um final de tarde,
sem luzes amarelas, sem néons alicerçados à cidade do medo,
ouvem-se-lhes os ditongos gagos nas planícies desnorteadas do corpo adormecido,
sem luzes amarelas, sem... nas migalhas do dúctil granito as mágoas... de tarde,

A dor veste-se de negro, e o vértice do prazer desalinha-se em relação ao centro da Cárcoda espalhada pela serra da Arada,
lobos uivos distraem-nos como pedaços de vento saltitando de pedra em pedra...
tropeça-se no buraco da nocturna habitação esquecida junto à ribeira,
e... o Inverno, e o Inverno transforma-se em esqueleto apátrida.


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 13 de Janeiro de2014

domingo, 12 de janeiro de 2014

Não... não... não... não te quero porque és uma migalha de pão sobre a pedra mesa da solidão

foto de: A&M ART and Photos

Não quero ser a lágrima inventada pelo teu putrefacto corpo
a palavra escrita na tua lápide de silêncio como uma gaivota em sofrimento
não quero ser o teu desejo inacabado
a porta encerrada do jazigo da tua minha loucura...
não quero as tuas cinzas embrulhadas em prata
numa urna calafetada
um cortinado chorando
não quero ser a estrada onde permaneces invisível
erva comestível... folha de jornal húmida das tempestades da paixão
não
não quero ser a chave do teu coração
a tua mão,

Não quero ser o teu corpo de porcelana
envenenado
com sabor a poema
não
não... não quero que tu me digas – Amo-te... quando eu não quero ser amado
não
não quero os teus cabelos
fecho os olhos quando imagino os teus lábios
e sinto no teu olhar a ravina até ao poço da desgraça
és a cidade empenhada
a pulseira sem nome no braço do condenado...
não,

Não quero ser o teu amado
prefiro um cadeado
um cão
um livro
mas não
não quero ser o que tu queres que eu seja
um doente mental
um quarto desabitado...
um punhal espetado
não
não o quero...
não,

Não o quero no meu peito
os beijos
as carícias
vestidas de milícias...
não... não... não... não te quero porque és uma migalha de pão sobre a pedra mesa da solidão
não te quero porque pertences às brancas montanhas dos alicates em aço.


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 12 de Janeiro de 2014

Granito censurado

foto de: A&M ART and Photos

Não me perguntem porque desejo tanto o mar
porque sou uma lâmina em papel voando sobre a alvorada embriagada
não quero pertencer aos corações de areia
às janelas sem vidros ou... ou com eles estilhaçados...
não... não me perguntem o que são noites em solidão
masmorras com sabor a limão
mesas candeeiros e portas de entrada em constipação...
não me perguntem pelas palavras mortas
suicidadas
esquecidas
velhas...
… ou cansadas,

Não me perguntem pelo verdadeiro amor
embrulhado em lençóis de paixão
não quero saber do luar
da luz
das calçadas com pedras de chorar
não... não me perguntem pelos sábados à noite entre uísque e lágrimas de poesia
corpos despidos pedindo clemência às cordas de nylon em fantasia...
… ou cansadas
não
não me perguntem pelas tristes madrugadas
cintilantes seios no meu peito em granito censurado...
não me perguntem porque desejo tanto o mar.


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 12 de Janeiro de 2014

sábado, 11 de janeiro de 2014

A espera

foto de: A&M ART and Photos

Inspiração quanto baste, três desejos e um sonho, o mar sumarento e sensível como a pele límpida da alvorada, quatro árvores desajeitadas e sem sono, uma drageia ao pequeno-almoço e outra...
Ao deitar?
E a outra e mais outra, a inspiração, o orvalho, o soalho e o espelho, a cama em lágrimas e o sofrimento impregnado nas lâminas transversais do gesso embriagado, quatro árvores em decadência, um corpo suspenso na madrugada, a chuva, as nuvens apaixonadas pelo triste cacimbo... e nada mais, e apenas um menino
Ao deitar?
Quatro drageias, três árvores em desejo misturado em cinco quintos de sonho, uma
Merda?
Ao deitar?
As fotografias em constante transbordo, a locomotiva da paixão descarrilou, ravina abaixo, ravina acima, a mini-saia encarnada e as meias com bolinhas brancas, no joelho a nódoa negra, a pedra em granito que caiu do silêncio camafeu em robe e velho pijama, o corredor, a espera, a derradeira espera, uma janela, cigarros na mão, ao longe, ao longe o metro de superfície parecendo uma lesma sobre os muros em xisto do Douro Vinhateiro, socalcos de pano, lanternas na cabeça, e a burra... tropeçando, e a burra...
Ao deitar?
Desesperado eu, a inspiração em drageias, quatro, cinco... ou nenhuma... as janelas embebidas na dor e eu sentado, braços cruzados, braços descruzados, e eu... compro cigarros, e eu... não compro cigarros, e eu... desesperando, pensando, pensando
O que será de nós?
E ao deitar,
Não sei se a imaginação vive dentro de mim ou se eu, e eu... compro cigarros, e eu... não compro cigarros, cruzo os braços, descruzo e enrolo-me à dor dos presentes, fumo, não fumo, abro a janela, não abro a janela... apetece-me saltar, aterrar do outro lado da rua, cair sobre os carris do metro, deitar-me de barriga para o céu... e gritar, e... e chorar..., e
Ao deitar tomo as drageias da saudade, meio copo com água, um copo com uísque, dissolvidas todas como sementes junto à eira em Carvalhais, irrita-me
Ao deitar?
O metro de superfície correndo como um louco, e dizem que o louco sou eu, cruzo, descruzo, invento desenhos nas paredes incolores da tristeza, oiço-os em conversas desalinhadas, finjo não os ouvir, eu não os quero ouvir,
Ao deitar? E ao deitar a sonolenta voz das palavras, a neve sobre os telhados que a dor deixa nos malditos ossos, frágil – cuidado, cuidado com o cão, cuidado com as carruagens do metro de superfície engasgadas, tosse e rouquidão, não sei se fume, não fume ou fume, comprar cigarros, saltar a janela, saltar o gradeamento, saltar os carris... e eu... e eu imaginando cigarros nas paredes coloridas da cela, a porta abre-se...
E?
O que será de nós?
E ao deitar, o perfume da Cinderela passeando junto aos carris...
(desesperado eu, a inspiração em drageias, quatro, cinco... ou nenhuma... as janelas embebidas na dor e eu sentado, braços cruzados, braços descruzados, e eu... compro cigarros, e eu... não compro cigarros, e eu... desesperando, pensando, pensando
o que será de nós?)
Inspiração quanto baste, três desejos e um sonho, o mar sumarento e sensível como a pele límpida da alvorada, quatro árvores desajeitadas e sem sono, uma drageia ao pequeno-almoço e outra...
Ao deitar?
Ao deitar as drageias, os silabados imaginados por um louco que depois da felicidade deseja voar como gaivotas sobre os petroleiros vampiros que habitam os rios dos velhos sonhos de infância,
Não sei, não... sei... não sei se ele conseguirá...!
Talvez,
Ao deitar?
Talvez... talvez ao deitar.


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 11 de Janeiro de 2014

… rochedos da saudade

foto de: A&M ART and Photos

Diluímos-nos com os velhos vapores que a solidão alicerça nos rochedos da saudade
habitávamos num fino e escuro cubículo de paixão com telhado de vidro
tínhamos na mão a varanda do suicídio construída com as raízes do medo
e voávamos como serpentes de papel nos cortinados das lareiras sem nome...
éramos o ébano lençol de seda com desenhos bordados a fogo
descíamos das nuvens embebidas em frestas de gesso e pedaços de madeira envelhecida...
fugíamos... fugíamos como loucas pedras em granito esquecidas na espuma do Pôr-do-Sol
inventávamos o mar dentro das nossas veias onde corriam insectos e outros objectos da noite
luzes
néons como venenos que iluminavam a madrugada das livrarias empoeiradas
diluímos-nos com os velhos vapores...
… rochedos da saudade,

Há uma saudade invisível nos socalcos da cidade das marés lunares
um barco de sémen navega sobre a tua pele doirada quando pintada com pincéis de aço
o teu corpo se transforma em fome
os teus braços desassossegam todos os transeuntes mendigos da dita cidade das marés lunares...
uma criança procura chocolates de areia nas algibeiras do segredo
corre como uma lebre talude abaixo
e do sol chegam até nós os prometidos apitos dos vapores que a solidão... alicerça... a saudade...
submerges nos êmbolos loucos dos relógios de parede
saberás abraçar-me?
desejo-te em cachimbos de madeira voando como gaivotas em silêncios de tabaco
o perfume entranha-se nas grades do soalho das pequenas sílabas que dormem no quarto do grito
e uma outra criança chega a ti e pergunta-te... porquê pai?


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 11 de Janeiro de 2014

Desilusão

foto de: A&M ART and Photos

Acreditava que o sonho se vestia de branco
que em todos os jardins existiam esqueletos de aço com coração de veludo
e que em todas as palavras pronunciadas...
escritas
e apaixonadas... habitavam as mãos do delírio sono extinto das noites circunflexas
tínhamos no sono a ânsia de viver dentro dos poços das amoreiras em flor...
crescíamos
e vivíamos...
e éramos vultos comestíveis como as folhas dos plátanos adormecidos
queríamos a paixão e vinha até nós a solidão
desejávamos o prazer
e acordava em ti a desilusão de deambular sobre os coqueiros em papel...


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 11 de Janeiro de 2014