segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Nesta vida de nada

Foto: Ellestudio.net / Fabien Queloz photographi

Nesta vida de nada
que não me pertence porque amanhã sou apenas um grão de areia
vagueando pelas calçadas da cidade
nesta vida sem nada
caminho caminhando... procurando as palpitações das pálpebras embriagadas
e sinto-me pertencer aos mausoléus da saudade
e às janelas quebradas...
nesta vida há o nada e o alguém
que ama
que busca
que cresce... e morre também
nesta vida eu sou o quê? uma pedra um sapato pontiagudo ou uma enxada?

Nada não sou nada
nesta vida de ninguém
nesta triste vida de nada,

Eu sinto-me uma alma penada
um pedaço de papel ardendo nos teus seios
nesta vida de corpos circunflexos... e anexos... e nesta vida de equações lineares
em nada
sou o nada
e sinto-me uma pedra pesada
tão pesada como a penugem de uma gaivota
nesta vida malvada sou um crucifixo disfarçado de madrugada
uma lápide
ou uma dolorosa argila sofrendo nas mãos do pedreiro
que antes de uma vida de anda
foi mestre em culinária e barbeiro... e carpinteiro... poeta sofredor... e nada... nada de doutor.



@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 20 de Janeiro de 2014

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