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domingo, 26 de janeiro de 2014

A dita tranquila paixão...

foto de: A&M ART and Photos

Sentíamos os pinheiros de papel voando nas planícies pinceladas em vermelho inventado,
havia um pulmão de Inverno nos teus olhos de disco voador,
gaivota sonhadora, havia em ti um tímido silêncio de dor,
uma travestida mágoa conversando nas eiras com palheiros de granito,
ouvíamos, às vezes, o ranger das ripas entre os pregos ao aço dorido,
e sentíamos os triângulos isósceles quando ainda existia em nós... a dita tranquila paixão...

Ainda sinto as tuas tristes mãos onde habitavam palavras com medo,
segredos sem sentido,
amores proibidos... beijos que nunca conheceram o diáfano cansaço da noite,
sentíamos os alforges engolindo pedras e outras coisas sem nome,
e ainda sinto,
e ainda tenho... a dita tranquila paixão...

Sabíamos que a saudade era apenas uma palavra perdida no meio da seara envenenada,
sabíamos... sentíamos... sabíamos que os nossos corpos jamais se separariam das janelas com grades em vidro,
e no entanto... deixamos adormecer todas as imagens a preto-e-branco que tínhamos encerrado dentro dos nossos corações de manteiga,
o amor desperdiçado em voláteis vozes em fumo e banho-Maria,
e... e nós... a dita tranquila paixão...
em poderosos parquímetros com paquetes em dóceis apitos do desejo.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 26 de Janeiro de 2014