foto de: A&M ART and Photos
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Sentíamos os pinheiros de papel voando
nas planícies pinceladas em vermelho inventado,
havia um pulmão de Inverno nos teus
olhos de disco voador,
gaivota sonhadora, havia em ti um
tímido silêncio de dor,
uma travestida mágoa conversando nas
eiras com palheiros de granito,
ouvíamos, às vezes, o ranger das
ripas entre os pregos ao aço dorido,
e sentíamos os triângulos isósceles
quando ainda existia em nós... a dita tranquila paixão...
Ainda sinto as tuas tristes mãos onde
habitavam palavras com medo,
segredos sem sentido,
amores proibidos... beijos que nunca
conheceram o diáfano cansaço da noite,
sentíamos os alforges engolindo pedras
e outras coisas sem nome,
e ainda sinto,
e ainda tenho... a dita tranquila
paixão...
Sabíamos que a saudade era apenas uma
palavra perdida no meio da seara envenenada,
sabíamos... sentíamos... sabíamos
que os nossos corpos jamais se separariam das janelas com grades em
vidro,
e no entanto... deixamos adormecer
todas as imagens a preto-e-branco que tínhamos encerrado dentro dos
nossos corações de manteiga,
o amor desperdiçado em voláteis vozes
em fumo e banho-Maria,
e... e nós... a dita tranquila
paixão...
em poderosos parquímetros com paquetes
em dóceis apitos do desejo.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 26 de Janeiro de 2014