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sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Partida


Sinto as garras dos teus ossos no pano encarnado da minha solidão,

Quero fugir do teu olhar,

Sem sorrir, nunca sorrir…

Partir,

Em direcção ao mar,

Descalço,

Bandido…

Anexo perdido sobre uma secretária de vidro,

Hoje,

Partir,

Sentir dentro de mim a alegria do luar,

Quero,

 

Sem sorrir…

Partir,

Fugir dos teus lábios,

 

Afogar-me nas tuas coxas rochosas,

 

Quero,

 

Sentir,

 

Partir…

 

Fugir…

 

E sinto,

E minto,

 

Às amoreiras em flor

E às pedras chorosas,

 

E sinto, meu amor,

Que a terra é uma lápide de lágrimas,

De dor,

E pedras preciosas encharcadas…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 7 de Agosto de 2015

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

A última maré do dia...

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


O destino do homem sem cabeça,
mergulhado no silêncio dos beijos enlouquecidos,
às vezes é mendigo...
às vezes... tem medo do perigo,
e foge,
e esconde-se no volátil vulcão da pele em flor,
sem o saber,
apaixona-se
e morre
num jardim perto de casa,
é dono da rua infestada de pássaros
que habitam nas mãos das amoreiras,

Erguem-se as árvores nuas da saudade,
passeiam-se como estátuas nos subúrbios das pálpebras do desejo,
abraçam-se
e abraçam-se...
como loucos cubos de vidro
entranhados no luar,
o corpo emagrece
e voa sobre as calçadas de aço...
podíamos construir na noite uma jangada de espuma,
adormecer no olhar da última maré do dia...
e o destino do homem sem cabeça
nas arcadas invisíveis do infinito...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 19 de Fevereiro de 2015


domingo, 2 de março de 2014

Cais das laranjeiras

foto de: A&M ART and Photos

Perdi o teu olhar na penumbra seara de trigo,
tínhamos descoberto o silêncios dos rios que dormiam nas nossas veias,
perdi o teu olhar das palavras por escrever,
e sentia em ti o desejo de partires,
à janela apareciam as imagens que tínhamos deixado do outro lado do muro,
havia um fino sorriso de melancolia e as tuas mãos tremiam como tremia a tua voz de centeio,
perdi o teu olhar,
e da penumbra seara de trigo apenas sobejaram as flores envenenadas dos beijos adormecidos,
Descemos a montanha,
dormíamos nas almofadas clarabóias das rochas graníticas,
líamos as estrelas junto ao cais das laranjeiras, e... e sentíamos o florescer da manhã com rosas,
sobre nós um papagaio de papel lançava pequenos grãos de areia e alguns favos de mel...
as abelhas descoloridas morriam,
como nós, hoje,
cadáveres de gesso suspensos nas amoreiras,
e havia sempre uma criança em ti que me fazia sonhar...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 2 de Março de 2014

domingo, 19 de janeiro de 2014

Janelas de mármore...

foto de: A&M ART and Photos

Os últimos cacos de ti desaparecem nas amoreiras virgens dos telhados de colmo
a dor inseminada que sentiam as tuas dúcteis veias habitam hoje nas janelas de mármore
e durante a noite
a mão solitária da insónia rouba o mar que se ouvia das janelas de mármore...
sinto-te neste momento em finas placas de poeira
inventas o vento para que os teus despojos sejam selvaticamente levados para a montanha
uma ribeira alegremente chora
e no teu rosto de cacos
as pequenas lágrimas de cianeto que invadem o teu doce sofrimento
hei-de ser uma lareira acesa na tua mão de porcelana
um livro em forma de chocolate...
hei-de ser um dos últimos cacos de ti.


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 19 de Janeiro de 2014