Esta seara de trigo
que ele deixou nos
braços do vento
do cansaço
construiu o sofrimento
e hoje vive no
planalto da inocência
como uma sombra sem
infância
dos palhaços
voadores
viveu
e cresceu
na laminada
sonolência que os fantasmas trazem ao peito
era um desajeitado
poeta sem palavras
mendigo nas horas
vagas...
esta seara de trigo
onde habitam as húmidas mulheres de gesso,
perdeu-se numa
calçada
a última vez que
foi encontrado...
brincava
sonhava
dentro de um
crocodilo de prata...
poeta desassossegado
poeta despedido das
avenidas incendiadas
corpos em chamas
sexos murchos...
embriagados
poemas...
e fotografou o amor
no Tejo longínquo
como uma gafanha
apaixonada,
esta seara onde te
escondes
e desenhas
o meu sorriso
envergonhado
olho a fotografia do
Tejo longínquo...
não te reconheço
não sei quem és...
e o odor do teu
corpo foi ancorado aos cais da despedida
um adeus ácido
alicerçou-se nos meus cabelos...
veio a noite
e toda a aldeia sob
uma podridão de gotículas inanimadas...
porque esta seara
não pertence às
cordas da paixão.
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Domingo, 26 de
Outubro de 2014