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foto de: A&M ART and Photos
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Diluímos-nos com os velhos vapores que
a solidão alicerça nos rochedos da saudade
habitávamos num fino e escuro cubículo
de paixão com telhado de vidro
tínhamos na mão a varanda do suicídio
construída com as raízes do medo
e voávamos como serpentes de papel nos
cortinados das lareiras sem nome...
éramos o ébano lençol de seda com
desenhos bordados a fogo
descíamos das nuvens embebidas em
frestas de gesso e pedaços de madeira envelhecida...
fugíamos... fugíamos como loucas
pedras em granito esquecidas na espuma do Pôr-do-Sol
inventávamos o mar dentro das nossas
veias onde corriam insectos e outros objectos da noite
luzes
néons como venenos que iluminavam a
madrugada das livrarias empoeiradas
diluímos-nos com os velhos vapores...
… rochedos da saudade,
Há uma saudade invisível nos socalcos
da cidade das marés lunares
um barco de sémen navega sobre a tua
pele doirada quando pintada com pincéis de aço
o teu corpo se transforma em fome
os teus braços desassossegam todos os
transeuntes mendigos da dita cidade das marés lunares...
uma criança procura chocolates de
areia nas algibeiras do segredo
corre como uma lebre talude abaixo
e do sol chegam até nós os prometidos
apitos dos vapores que a solidão... alicerça... a saudade...
submerges nos êmbolos loucos dos
relógios de parede
saberás abraçar-me?
desejo-te em cachimbos de madeira
voando como gaivotas em silêncios de tabaco
o perfume entranha-se nas grades do
soalho das pequenas sílabas que dormem no quarto do grito
e uma outra criança chega a ti e
pergunta-te... porquê pai?
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 11 de Janeiro de 2014