foto de: A&M ART and Photos
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Inspiração quanto baste, três desejos e um sonho,
o mar sumarento e sensível como a pele límpida da alvorada, quatro
árvores desajeitadas e sem sono, uma drageia ao pequeno-almoço e
outra...
Ao deitar?
E a outra e mais outra, a inspiração, o orvalho, o
soalho e o espelho, a cama em lágrimas e o sofrimento impregnado nas
lâminas transversais do gesso embriagado, quatro árvores em
decadência, um corpo suspenso na madrugada, a chuva, as nuvens
apaixonadas pelo triste cacimbo... e nada mais, e apenas um menino
Ao deitar?
Quatro drageias, três árvores em desejo misturado
em cinco quintos de sonho, uma
Merda?
Ao deitar?
As fotografias em constante transbordo, a locomotiva
da paixão descarrilou, ravina abaixo, ravina acima, a mini-saia
encarnada e as meias com bolinhas brancas, no joelho a nódoa negra,
a pedra em granito que caiu do silêncio camafeu em robe e velho
pijama, o corredor, a espera, a derradeira espera, uma janela,
cigarros na mão, ao longe, ao longe o metro de superfície parecendo
uma lesma sobre os muros em xisto do Douro Vinhateiro, socalcos de
pano, lanternas na cabeça, e a burra... tropeçando, e a burra...
Ao deitar?
Desesperado eu, a inspiração em drageias, quatro,
cinco... ou nenhuma... as janelas embebidas na dor e eu sentado,
braços cruzados, braços descruzados, e eu... compro cigarros, e
eu... não compro cigarros, e eu... desesperando, pensando, pensando
O que será de nós?
E ao deitar,
Não sei se a imaginação vive dentro de mim ou se
eu, e eu... compro cigarros, e eu... não compro cigarros, cruzo os
braços, descruzo e enrolo-me à dor dos presentes, fumo, não fumo,
abro a janela, não abro a janela... apetece-me saltar, aterrar do
outro lado da rua, cair sobre os carris do metro, deitar-me de
barriga para o céu... e gritar, e... e chorar..., e
Ao deitar tomo as drageias da saudade, meio copo com
água, um copo com uísque, dissolvidas todas como sementes junto à
eira em Carvalhais, irrita-me
Ao deitar?
O metro de superfície correndo como um louco, e
dizem que o louco sou eu, cruzo, descruzo, invento desenhos nas
paredes incolores da tristeza, oiço-os em conversas desalinhadas,
finjo não os ouvir, eu não os quero ouvir,
Ao deitar? E ao deitar a sonolenta voz das palavras,
a neve sobre os telhados que a dor deixa nos malditos ossos, frágil
– cuidado, cuidado com o cão, cuidado com as carruagens do metro
de superfície engasgadas, tosse e rouquidão, não sei se fume, não
fume ou fume, comprar cigarros, saltar a janela, saltar o
gradeamento, saltar os carris... e eu... e eu imaginando cigarros nas
paredes coloridas da cela, a porta abre-se...
E?
O que será de nós?
E ao deitar, o perfume da Cinderela passeando junto
aos carris...
(desesperado eu, a inspiração em drageias, quatro,
cinco... ou nenhuma... as janelas embebidas na dor e eu sentado,
braços cruzados, braços descruzados, e eu... compro cigarros, e
eu... não compro cigarros, e eu... desesperando, pensando, pensando
o que será de nós?)
Inspiração quanto baste, três desejos e um sonho,
o mar sumarento e sensível como a pele límpida da alvorada, quatro
árvores desajeitadas e sem sono, uma drageia ao pequeno-almoço e
outra...
Ao deitar?
Ao deitar as drageias, os silabados imaginados por
um louco que depois da felicidade deseja voar como gaivotas sobre os
petroleiros vampiros que habitam os rios dos velhos sonhos de
infância,
Não sei, não... sei... não sei se ele
conseguirá...!
Talvez,
Ao deitar?
Talvez... talvez ao deitar.
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 11 de Janeiro de 2014
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