Mostrar mensagens com a etiqueta escadas. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta escadas. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

... que acorde então a madrugada

foto de: A&M ART and Photos

As suas siglas perfumadas subindo as escadas do desejo
abraçando as singelas sílabas abandonadas que espreitam a madrugada entre o cortinado e a alvorada
sinto o bater das pérolas negras que caminham corredor abaixo... e na paragem do eléctrico
junto à porta que dá acesso à biblioteca
os teus seios mergulhados na argila manhã de triste neblina
criança ainda
perfumada
a sigla de ti acompanha as outras siglas deles até que acorde o Pôr-do-Sol
que venha a noite e traga muitos amigos
feiticeiros e feiticeiras
janelas e abrigos
bandeiras... portas e luares sem Janeiro...

As suas siglas perfumadas subindo... coitadas as derreadas canções de Abril
(Ora aí está... que acorde então a madrugada, que se abram todas as janelas, e que o dia finja ser um belo domingo, sol, muito sol... e ao longe... ao longe a praia, os coqueiros...)
os silêncios de mim entranhados nas tuas mãos
sentia-te saltitar sobre as finas areias da Baía...
os barcos nossos lançavam-se nos teus seios... e sabia-te sentada sobre as mangueiras do amanhecer...

O fogo permanece na tua alma inconstante
o fogo alicerça-se nos teus olhos de sincelo... e sem o saberes uma flor quadriculada dança nas pálpebras húmidas da paixão
dormes sem mim porque o infinito acontece todas as noites depois dos dispersos horários se debruçarem no varandim com telhados de prata
a tua pele fervilha e arde
e o fogo em ti é como as palavras em mim
nada de especial
o papel simples e informal...
sem gravata
sem... sem as apaixonadas mulheres nas borboletas de veludo que a luz ilumina
quero gritar não consigo
consigo gatinhar sobre a geada Aurora e não o quero
quero... e não percebo porque morrem todas as siglas perfumadas subindo as escadas do desejo.


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2014

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

um corpo putrefacto como as flores de Sábado à noite...

foto de: A&M ART and Photos

a quem pertencerá este corpo que habita nas escadas do meu sótão?
não vestido
voando como abelhas e poisando nas pétalas de madeira
debaixo do corrimão...

oiço-o ofegante adormecido nas noites de solidão
oiço-o em corrida apresada descendo a calçada
abrindo janelas
abrindo... olhares cintilantes com sabor a estrelas do mar

oiço os apitos marinheiros
embriagados por ti
e em ti
quando inventas seios de prata e coxas de chocolate

oiço-o mergulhar nas minhas asas
são os teus sorrisos vagabundos como silêncios prisioneiros das aranhas clandestinas
mórbidas
mortas pela ranhura de uma lâmina de barbear

(a quem pertencerá este corpo que habita nas escadas do meu sótão?
não vestido
voando como abelhas e poisando nas pétalas de madeira
debaixo do corrimão...)

e oiço-o suspenso nas árvores do jardim da Estrela
e oiço-o que me chama e precisa das minhas mãos para subir as escadas da insónia
pertencerás tu aos grandes pilares de areia?
o comboio cintila e morre nos teus olhos cintilantes envenenados pela luz falsa
reescrita nos muros das palavras deambulantes que as gaivotas trazem da ilha...
oiço-o
e oiço-o sobre a cama esperando pelos meus lábios de sabão
como as pequenas caravelas de esferovite perdidas no tanque dos quatro caminhos

a quem pertencerá? um corpo voando nas marés de vidro
um corpo um apenas e simples corpo
o teu corpo que ninguém consegue explicar a quem pertencerá...
terá nome idade sexo religião? um corpo putrefacto como as flores de Sábado à noite...


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 2 de Setembro de 2013

sábado, 11 de maio de 2013

A deleitada manhã ensanguentada pelos carris de uma paixão invisível

foto: A&M ART and Photos

Subo até desistir de caminhar sobre cobertores
e finos espelhos de aço
subo teu corpo meu poiso ancorado
sabendo que em cima da cúpula cúbica uma raiz quadrada morre e cai...
e subo e desço e sento-me sobre as linhas rectas do desejo,

Procuro e busco beijos tridimensionais
beijos em lábios triangulares
como um sótão solitário debaixo do céu
um bocadinho acima da saudade cidade
entre esparsas lágrimas e panos margaridas,

Subo
e desces por mim até chegares ao terminal número cinco
faixa três primeiro andar esquerdo na rua dos pilares de areia...
e desço sobre ti
como descem as madrugadas nas pálpebras cinzentas das tuas mãos,

Sou um imbecil programado
iletrado e desalinhado como os parafusos das dobradiças do teu púbis montanha de peixe
e conversávamos sobre poemas de leite
e conversávamos...
as minguas cavidades sombrias das frestas do delírio que a noite desenhava em nossos corpos de maré revoltada,

E línguas de xisto derramavam sobre os teus seios em socalco
subtis palavras em pedaços de terra adormecida na esplanada do abraço
e a deleitada manhã ensanguentada pelos carris de uma paixão invisível
e talvez impossível de desenhar
evapora-se dentro da tua doce boca com sabor a naftalina...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 26 de março de 2013

Sótão da Insónia

Foto: A&M ART and Photos

Há um amontoado de espelhos e cobertores
que me levam até ti
há um corrimão onde poisamos as nossas mãos
e juntos
procuramos o sol,

Há um sótão
onde supostamente habita esse procurado sol
tem uma janela com pequeníssimos vidros de cetim
e uma fotografia para o mar
onde partem e regressam os barcos de brincar,

Leio os livros espalhados nesse sótão
onde às vezes adormecemos vaiados pelo cansaço da noite
mergulhados em palavras
e imagens
e sonhos suicidados dentro das tempestades do inferno,

silêncios dentro do sótão
fragmentos de porcelana abraçados a pedaços de cola
há uma jangada com velas de linho
que dentro do sótão pedem clemência ao vento traiçoeiro,

Há beijos disfarçados de solidão
e bocas em desejo
nos lábios da insónia...
há em mim coitados pássaros loucos
pássaros que só o nosso sótão consegue alimentar.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha