segunda-feira, 2 de setembro de 2013

um corpo putrefacto como as flores de Sábado à noite...

foto de: A&M ART and Photos

a quem pertencerá este corpo que habita nas escadas do meu sótão?
não vestido
voando como abelhas e poisando nas pétalas de madeira
debaixo do corrimão...

oiço-o ofegante adormecido nas noites de solidão
oiço-o em corrida apresada descendo a calçada
abrindo janelas
abrindo... olhares cintilantes com sabor a estrelas do mar

oiço os apitos marinheiros
embriagados por ti
e em ti
quando inventas seios de prata e coxas de chocolate

oiço-o mergulhar nas minhas asas
são os teus sorrisos vagabundos como silêncios prisioneiros das aranhas clandestinas
mórbidas
mortas pela ranhura de uma lâmina de barbear

(a quem pertencerá este corpo que habita nas escadas do meu sótão?
não vestido
voando como abelhas e poisando nas pétalas de madeira
debaixo do corrimão...)

e oiço-o suspenso nas árvores do jardim da Estrela
e oiço-o que me chama e precisa das minhas mãos para subir as escadas da insónia
pertencerás tu aos grandes pilares de areia?
o comboio cintila e morre nos teus olhos cintilantes envenenados pela luz falsa
reescrita nos muros das palavras deambulantes que as gaivotas trazem da ilha...
oiço-o
e oiço-o sobre a cama esperando pelos meus lábios de sabão
como as pequenas caravelas de esferovite perdidas no tanque dos quatro caminhos

a quem pertencerá? um corpo voando nas marés de vidro
um corpo um apenas e simples corpo
o teu corpo que ninguém consegue explicar a quem pertencerá...
terá nome idade sexo religião? um corpo putrefacto como as flores de Sábado à noite...


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 2 de Setembro de 2013

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