domingo, 23 de novembro de 2014

Amanhã não...


A fuinha lâmina de luz inventando vulcões e sonhos de papel, à tarde regressam a casa os comboios emagrecidos da saudade, abro a porta, entro dentro do túnel das imagens a preto e branco, e
Meu irmão, amanhã nada seremos,
Pó e pedaços de cinza em evolução,
E cascalho descendo a montanha do sofrimento,
Amo-te...
Sinto-te nas sombras enigmáticas dos poemas em hibernação, nada há a acrescentar ao teu nome, perdeu-se, morreu nas pálpebras inchadas da madrugada,
Amo-te...
Não o sei, não percebo as viagens sem regresso, a morte quando disfarçada de viajante e acompanhada pelas ruas de uma cidade em destruição, amanhã
O telhado estremece, as fendas sonoras das paredes em xisto... parecem melodias embriagadas que só a noite consegue entender, amanhã
Amanhã os cinzentos barcos de espuma, os miúdos esperando a neblina para se esconderem da chuva, uma criança insemina-se no papel esquecido num banco de jardim, há plátanos centenários que me olham, e conversam comigo,
Amanhã...
Nada,
Incógnitas,
Futuro incerto,
Lâminas de ossos envenenados quase em decomposição, tenho medo, meu irmão, tenho medo da despedida, dos abraços e dos beijos sem palavras,
Amo-te... algum dia voltarei a alicerçar-me aos teus braços,
Amanhã...
Nada,
Incógnitas,
Futuro incerto, relatórios, falsas esperanças, rostos deformados, corpos pincelado de decadência..., amanhã
Nada,
Incógnitas
Amanhã estarei ao teu lado, pegarei na tua mão... lemos em conjunto os poemas que escrevi para ti e nunca os conseguiste ler, por medo, por... por vergonha de mim, não, não meu irmão,
Amanhã renasceremos das cinzas que sobejarem do corpo dele, e nada, nada a acrescentar aos teus lamentos, o que importa estarmos a lamentarmos-nos se ele
Amanhã,
Ele voará em direcção às nuvens invisíveis dos Oceanos, inchadas, as pálpebras, incógnitas disfarçadas de mendicidade, e tu
Amo-te... algum dia voltarei a alicerçar-me aos teus braços,
E tu calmamente caminhando lado a lado com o metro de superfície... odeio-o, não aguento mais senti-lo, não aguento mais ouvir os seus gemidos como gaivotas em cio, como pássaros ao cair da noite,
Torturam-me, obrigam-me a olhá-lo enquanto me encerram numa sala exígua e triste, nada posso fazer... se não
Amanhã,
Se não imaginar aquela lagarta recheada de transeuntes em passo apressado, mendigos à porta, pedindo o que é impossível dar-lhes
A vida,
Amanhã pegarei na tua mão, e
Ontem esqueci-me de comer, ontem esqueci-me de olhar-te, não o consigo, pareces uma sombra esperando o acordar da madrugada,
E
E ninguém para conversar, desabafar, ninguém para me ouvir e repetir os gritos que só o silêncio conhece...
E vem o mar,
E vem a saudade, os beijos, os abraços,
Amanhã não,
Não, não...
Amanhã não estarei no teu conforto, nunca consegui permanecer eternamente nos teus braços, fujo, finjo que tenho sono, e não o tenho...
Dormir,
Porque amanhã,
As imagens a preto e branco dos teus olhos, sem lágrimas, sem estátuas de marfim, e no entanto
Poisas em mim como uma bandeira hasteada nos dedos cremados da inocência, o sexo permanece clandestino, nas palavras, nos actos, na... na incógnita do adeus,
Sentir-me-ei uma constelação em vibração, eu sentir-me-ei uma hélice congestionada numa qualquer estrada sem saída,
Preciso de ti, meu irmão,
Amanhã,
Amanhã não,
Não, não...



(ficção)
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 23 de Novembro de 2014

Triciclos de luz


Sinto a falta do fumo do teu cigarro,
não percebo a ausência das tuas mãos...
quando poisavam no meu rosto,
e dos teus lábios sobejavam palavras que não me cansava de ouvir...
sinto a falta do teu olhar embrulhado no cacimbo,
e das mangueiras que brincavam no nosso quintal,
desenhando bonecos de sombra no meu peito,
sinto a tua falta...
e imagino-te a galgar o portão de entrada com um brinquedo debaixo do braço,
e eu...
e eu adormecia no teu colo,
sonhando com barcos de papel e triciclos de luz...



Francisco Luís Fontinha
Alijó, 23 de Novembro de 2014

sábado, 22 de novembro de 2014

Sem sentido - “A merda de um poema”


Queima o filme negro da tua vida,
ensina aos teus ossos as boas práticas de comer,
sem nunca mencionares o nome da despedida,
nem na rua invisível do teu corpo,
imagina o vento fatiado abraçando-se aos teus seios,
escrevendo neles...
Amo-te...
sem gaguejares,
sem medo de chorar,
os abutres cardumes da insónia
que se alicerçam aos teus cabelos de luar,
queima o filme negro da tua vida... como quem pronuncia pela última vez a palavra amar!



Francisco Luís Fontinha
Alijó, 22 de Novembro de 2014

Insígnia da paixão


Queimaste a insígnia da paixão no sonífero adeus da tempestade,
dormes profundamente só...
e te alimentas das insignificantes metáforas da saudade,
trazes nas lágrimas uma canção por escrever,
um poema se ergue na tua mão,
e sem o saberes...
habitas na calandra encaixotada do sofrimento,
não sei se algum dia serei teu,
não sei... não sei se lá fora há sol ou escuridão,
se é dia,
noite...
ou... uma mistura de tons com odor a infância,
um barco encalha nos teus seios,
transpiras... gemes as sílabas do prazer,
esperas pelo nascer da madrugada,
quando hoje não haverá madrugada,
quando hoje... não acontecerá nada...
se é dia,
noite...
ou... ou um pincel disparado pela espingarda da solidão,
e se entranha no teu sorriso...
e no entanto,
queimaste a insígnia da paixão,
como quem apaga um cigarro depois de te amar.




Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 22 de Novembro de 2014

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

A matriz do Adeus


(para os meus pais)


O “foda-se” triplicado na equação do Adeus
a morte
o corpo evapora-se e viaja em direcção a um punhado de fotografias a preto e branco
a roldana da insónia range
gritaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa..................................
não posso mais
estou mergulhado no teu sorriso como um pêndulo sem alicerce
embriago-me nas tuas pérolas falsificadas
olho-me no espelho... pareço um falhado construído de cartão
sem coração
em revolução...
apetece-me matar todas as flores do teu jardim
aprisionar os pássaros dos teus sonhos...
não posso mais com rostos transformados em nada
corpos cadentes
e lágrimas
o “foda-se” triplicado na equação do Adeus
a morte
o corpo vacila no sentido descendente da impaciência
penso
escrevo...
nada... apenas “merda”
e
e complicadas matrizes melódicas
a fome que não é fome...
e quando apareço nos seus cabelos...
ela me inventa equações sem resolução
os anais
sem personagens vestidas de marinheiro desempregado
o estranho
a pintura de engano das tuas veis desalojadas do Sol
e desengano-me a cada pedra de xadrez...



(não sou eu...)



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 21 de Novembro de 2014

Barco sem regresso


Desço ao inferno barco sem regresso,
olho-me no espelho do triste Oceano sem cortinados,
ou... ou janelas de pálpebras inchadas,
tenho na mão a enxada da dor...
e nos lábios o beijo de uma flor,
desço,
mergulho...
saltito nas cinzas do teu corpo inseminado nas páginas de um livro,
de poemas,
de “merdas” sem significado algum,
mergulho... e desço...
e percebo que o futuro é incerto,

Negro como a noite interminável...

Fujo,
escondo-me na sombra do teu sangrento olhar,
desço ao inferno barco sem regresso,
em desassossego,
como um esqueleto esquecido no mar...
como uma árvore que acaba de morrer,
sem medo...
sem... sem palavras de escrever.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 21 de Novembro de 2014

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Desintegração


Desintegro-me na desilusão das imagens adormecidas
pareço um velho palhaço gritando para a multidão
palavras
e canções
e noites perdidas,

Viagens enigmáticas com odor a madrugada
rios embriagados correndo nas minhas veias
dilatadas
tristes
tristes como as lágrimas da calçada,

Desintegro-me sem o saber
enquanto sonho nas planícies lunares
desintegro-me lentamente como o vento nas tardes de liberdade
recebo uma carta... lá dentro habita a saudade...
e desintegro-me nas palavras por escrever,

As rosas que disparam sorrisos encarnados
o oceano levitando nas mãos de alguém que é amado
o barco do desejo... navegando
navegando nos cortinados da mentira...
e desintegro-me nos planaltos prateados,

Há no teu olhar rochedos vadios comendo mendigos engravatados
das tuas pálpebras ancoradas
despem-se os seios da manhã sem despertador
maldito relógio que nunca morre...
e todas as luzes poisam nos ombros dos alegres desgovernados...




Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 20 de Novembro de 2014

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Cinco vidas perdidas


Cinco vidas perdidas
uma sombra sobejante
e esquecida
uma noite de tempestade
e eu, e eu... palmilhando a cidade
comendo sandes de insónia
e algemas de liberdade
cinco vidas perdidas
uma lua brilhante...
e falta-me uma cama decente
colorida...
como os poemas embrulhados em silêncios pincelados de saudade...
colorida
a vaidade
a ousadia...
viva... viva a poesia!



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 19 de Novembro de 2014

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Corpo flutuante


Um corpo flutuante nas arcadas nocturnas do medo
o fumo negro da saudade
que sobeja de um cigarro embriagado
tu
tu não vês... que há pássaros poemas
e poetas pássaros
tu
tu não vês... que há palavras disparadas de uma espingarda
um soldado que tomba
e sonha
e flutua...
o corpo flutuante sobe ao cimo da montanha,

grita
chora...
e ausenta-se da neblina cinzenta,

são horas de adormecer
o cansaço espera o corpo flutuante que aos poucos se solta das cordas do silêncio...
parece sofrer
mas... mas o medo permanece impávido
na parada da insónia
são horas do corpo flutuante renascer
brincar
e... e... e deambular sem correntes calçada abaixo
em direcção ao mar
grita
chora...
e ausenta-se da neblina cinzenta.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 18 de Novembro de 2014

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Equação do desejo


Quando a equação do desejo se perde na escuridão
e há uma incógnita sonolenta embrulhada na ardósia da tarde
nada a fazer
esperar
ou... ou chorar
ou... ou escrever,

Quando a equação...

É um pedaço de chuva alicerçada à tempestade
o xisto envenenado reaparece nos socalcos em fuga
nada a fazer
olhar o mar
ou... ou inventar palavras de amar
ou... ou desenhar o sorriso da Garça sem o saber,

Quando a equação...
… quando a equação te faz sofrer.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 17 de Novembro de 2014

domingo, 16 de novembro de 2014

pedaços de inveja


as migalhas são pedaços de inveja
da miserabilidade dos enlatados caixões de porcelana
há sempre uma janela não encerrada...
há sempre uma porta sem saída
não iluminada
há sempre uma rua finíssima
tão fina como as fatias de poesia
que o poeta deixa num banco de jardim.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 16 de Novembro de 2014

sábado, 15 de novembro de 2014

cacaréus


invento-te nos nocturnos cortinados da insónia
acaricio-te sabendo que não passas de um mísero desenho da minha autoria
não sei desenhar...
invento-te nas noites de água invisível
quando sei que lá fora...
… distante de mim
há uma tempestade de desejo em rotação
calculo o seu centro de massa
calculo o seu centro geométrico...
e descubro que és uma invenção de uma mísera folha de papel
sem odor nem corações
nem beijos

apenas um desenho meu

invento-te nas madrugadas cinzentas
quando todas as luzes dormem
e sonham...
e... e morrem nos meus braços

cacaréus
pedaços de ossos
cabelos teus que deixaste nos lençóis clandestinos de uma pensão sem nome...
e em frente à janela
o rio
a fome

cacaréus
cacaréus
… e cacaréus...

pedaços de nada sobejantes de uma noite em construção
ofegante tu
ofegantes os transeuntes em desalinhado cansaço...
e eu... e eu apenas queria desenhar-te no espelho do guarda-fato

e depois... e depois vestir a gabardina e fugir dos teus lábios
como um louco
sem perceber porque chove hoje...
sem perceber porque choram os pássaros do teu olhar.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 15 de Novembro de 2014

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Paraíso


Significas o quê?
o simplificado destino sem abraços ao cansaço,
se vives... grita,
chora,
constrói das lágrimas sorrisos de criança,
dança,
medita...
significas o quê?



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 14 de Novembro de 2014

Em rebelião


Não encontro a simplicidade do teu cabelo,
sinto-te cansado,
distante das clarabóias da saudade,
habitas esta cidade...
como se ela fosse um abrigo negro,
ou...
ou um poço tão profundo como a tua dor,
não encontro as tuas mãos...
quando me levavas a olhar os barcos,
e me dizias... e me dizias que um dia...
regressaríamos...
sem regressarmos nunca mais,
não encontro a simplicidade do teu cabelo
que a tempestade alicerçou ao luar...
sentado...
imaginas o silêncio embriagado estonteante contra as frestas do sofrimento,
não falas...
nada em ti é vida,
… ou alegria de caminhar junto ao mar,
imagino a tua partida...
e não sei o que escrever... depois,
amanhã,
… ou... ou amanhã ao quadrado...
e dentro de mim... as palavras em rebelião nos cortinados desta triste cidade...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 14 de Novembro de 2014

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Abutre em desassossego...


Tenho pena de ti, meu amor,
trocaste a liberdade por um pedaço de plástico...
um cartão,
um obscuro e amorfo ramo de árvore,
vendeste a felicidade ao diabo,
como se habitasses no interior de uma matriz composta,
insensível...
abraças-te à equação metafisica sem solução
que deambula na ardósia do teu olhar,
disfarçada de abutre em desassossego...
passeias-te pelas avenidas mais chiques de Lisboa,
e no entanto... és tão pobre, e no entanto... és tão imbecil,
como o pavimento nojento dos porcos em revolta...
há dias de “merda”,
dias em que até a lua nos “fode”,
noites tranquilas...
e noites inquietas,
e no entanto... és tão pobre, e no entanto... és tão imbecil,
tenho pena de ti, meu amor,
quando não quero amor,
quando não quero paixões de areia
e marés sem marinheiros,
tenho pena de ti...
e percebo que as palavras são um jogo desonesto,
sem saída, nojentas...
a janela quebrada
ou a pedra no charco da miséria...
tenho pena,
de ti,
meu amor!



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 13 de Novembro de 2014

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

O caixão da insónia


As máquinas enraivecidas
como vozes sem dono vagueando no areal
o sexo morre quando regressa a preia-mar e levita o caixão da insónia
um pequeno soluço
uma fina película de vento poisa sobre o corpo dela
e não existem gaivotas nas proximidades
a cortina nocturna do desejo... desce ao silêncio corpo fervilhando
dás-me a mão
e em finíssimos esqueletos de palha voando em direcção ao cinzento telhado de xisto
alcançamos o beijo
desenhado
decalcado nos teus lábios em flor,
as máquinas não sentem nem sabem o significado do “AMOR”
e tal como eu
um exército de máquinas desconhece o significado do “AMOR...
queria ser um barco passeando pela cidade adormecida
deitar-me quando todos acordam...
e acordar quando todos se deitam
levemente e aos poucos
alicerçar-me à minha cama desgovernada
sem nome
sem nada...
queria ser um barco... um barco em papel descolorido
amargo
sofrido
um barco simples
mais simples do que o “AMOR” das máquinas e do exército de máquinas...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 12 de Novembro de 2014

terça-feira, 11 de novembro de 2014

a bala sem mão


a espingarda de pau em sentido
o homem alicerçado a ela...
treme de frio
e tomba no chão ácido do íngreme tesão do luar
as estrelas são esferas de papel
mergulhadas em clítoris envenenados
a espingarda embriagada
grita
constrói espirros de chocolate
e soluça
como uma louca cidade
que deambula entre carris inanimados
e comboios drogados

a espingarda dispara um pequeno silêncio
que acorda o homem que habita o chão ácido do íngreme tesão do luar
e o homem sem o saber...
acredita na liberdade...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 11 de Novembro de 2014

A noite do nada


A noite é um finíssimo fio de sémen
em decomposição,
ele se move no teu corpo
como um falso esqueleto de chapa,
a noite não tem fim,
a noite às vezes... é chata,
como o amor... um fluxo de iões suspensos nos teus seios de cartão,
a noite se mata,
e alicerça aos abutres nocturnos sem esperança,
ainda a noite é uma criança...
e eu... e eu em desespero,
como o vilão da ruela sem saída,
perdido na cidade do desassossego,
escrevo aos barcos sem regresso as palavras de morrer,
a noite quando é comida num vão de escada,
como uma mulher sonâmbula,
como uma mulher não amada,
a noite é um finíssimo fio de sémen
em rotação,
ela não sabe que há no meu corpo farrapos...
não catalogados
esquecidos numa qualquer esplanada,
a noite não é nada...
a noite apenas se diverte como um poeta que espera a madrugada.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 11 de Novembro de 2014

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

O poema do Foda-se...


Foda-se esta vida de morrer,
foda-se a loucura e o saber,
foda-se a poesia e a literatura,
foda-se o silêncio
e a Primavera
e a escravatura,
foda-se o meu corpo embalsamado,
foda-se o cansaço,
a rua deserta e sem transeunte embriagado,
fodam-se os barcos,
as caravelas
e os cavalos de aço.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
segunda-feira, 10 de Novembro de 2014

Vibração


Meninos
meninas
senhoras e senhores...
o grandioso espectáculo vai começar,
malabaristas,
trapezistas...
cobras amestradas e homens de vidro,
canções, poesia e melódicas palavras...
(em tesão)
grandioso espectáculo...
bonecos em barro,
borboletas em papel rebuçado,
loucos, loucas e vampiros em chocolate,
casas sem janelas,
moças donzelas...
e...
e... e... e gaivotas em porcelana,
hoje,
só hoje...
o grandioso espectáculo da neblina matinal,
oito,
apenas oito bilhetes para o inferno...
o espectáculo de Inverno,
e as crianças não pagam,
mas... mas também não entram!
em cinco, em quatro, em... um... e zero...
as sete charruas do mendigo,
os três forquilhas da Andorinha,
o palco em vibração,
a cabeça em abraçados cansaços de xadrez,
oito,
três,
o amor que não vê,
nem sabe... que este circo,
circoooooooooooooooooooooooo...
chegou hoje à cidade.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 10 de Novembro de 2014