A
fuinha lâmina de luz inventando vulcões e sonhos de papel, à tarde
regressam a casa os comboios emagrecidos da saudade, abro a porta,
entro dentro do túnel das imagens a preto e branco, e
Meu
irmão, amanhã nada seremos,
Pó
e pedaços de cinza em evolução,
E
cascalho descendo a montanha do sofrimento,
Amo-te...
Sinto-te
nas sombras enigmáticas dos poemas em hibernação, nada há a
acrescentar ao teu nome, perdeu-se, morreu nas pálpebras inchadas da
madrugada,
Amo-te...
Não
o sei, não percebo as viagens sem regresso, a morte quando
disfarçada de viajante e acompanhada pelas ruas de uma cidade em
destruição, amanhã
O
telhado estremece, as fendas sonoras das paredes em xisto... parecem
melodias embriagadas que só a noite consegue entender, amanhã
Amanhã
os cinzentos barcos de espuma, os miúdos esperando a neblina para se
esconderem da chuva, uma criança insemina-se no papel esquecido num
banco de jardim, há plátanos centenários que me olham, e conversam
comigo,
Amanhã...
Nada,
Incógnitas,
Futuro
incerto,
Lâminas
de ossos envenenados quase em decomposição, tenho medo, meu irmão,
tenho medo da despedida, dos abraços e dos beijos sem palavras,
Amo-te...
algum dia voltarei a alicerçar-me aos teus braços,
Amanhã...
Nada,
Incógnitas,
Futuro
incerto, relatórios, falsas esperanças, rostos deformados, corpos
pincelado de decadência..., amanhã
Nada,
Incógnitas
…
Amanhã
estarei ao teu lado, pegarei na tua mão... lemos em conjunto os
poemas que escrevi para ti e nunca os conseguiste ler, por medo,
por... por vergonha de mim, não, não meu irmão,
Amanhã
renasceremos das cinzas que sobejarem do corpo dele, e nada, nada a
acrescentar aos teus lamentos, o que importa estarmos a
lamentarmos-nos se ele
Amanhã,
Ele
voará em direcção às nuvens invisíveis dos Oceanos, inchadas, as
pálpebras, incógnitas disfarçadas de mendicidade, e tu
Amo-te...
algum dia voltarei a alicerçar-me aos teus braços,
E tu
calmamente caminhando lado a lado com o metro de superfície...
odeio-o, não aguento mais senti-lo, não aguento mais ouvir os seus
gemidos como gaivotas em cio, como pássaros ao cair da noite,
Torturam-me,
obrigam-me a olhá-lo enquanto me encerram numa sala exígua e
triste, nada posso fazer... se não
Amanhã,
Se
não imaginar aquela lagarta recheada de transeuntes em passo
apressado, mendigos à porta, pedindo o que é impossível dar-lhes
A
vida,
Amanhã
pegarei na tua mão, e
Ontem
esqueci-me de comer, ontem esqueci-me de olhar-te, não o consigo,
pareces uma sombra esperando o acordar da madrugada,
E
E
ninguém para conversar, desabafar, ninguém para me ouvir e repetir
os gritos que só o silêncio conhece...
E
vem o mar,
E
vem a saudade, os beijos, os abraços,
Amanhã
não,
Não,
não...
Amanhã
não estarei no teu conforto, nunca consegui permanecer eternamente
nos teus braços, fujo, finjo que tenho sono, e não o tenho...
Dormir,
Porque
amanhã,
As
imagens a preto e branco dos teus olhos, sem lágrimas, sem estátuas
de marfim, e no entanto
Poisas
em mim como uma bandeira hasteada nos dedos cremados da inocência, o
sexo permanece clandestino, nas palavras, nos actos, na... na
incógnita do adeus,
Sentir-me-ei
uma constelação em vibração, eu sentir-me-ei uma hélice
congestionada numa qualquer estrada sem saída,
Preciso
de ti, meu irmão,
Amanhã,
Amanhã
não,
Não,
não...
(ficção)
Francisco
Luís Fontinha
Alijó,
23 de Novembro de 2014
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