invento-te nos
nocturnos cortinados da insónia
acaricio-te sabendo
que não passas de um mísero desenho da minha autoria
não sei desenhar...
invento-te nas
noites de água invisível
quando sei que lá
fora...
… distante de mim
há uma tempestade
de desejo em rotação
calculo o seu centro
de massa
calculo o seu centro
geométrico...
e descubro que és
uma invenção de uma mísera folha de papel
sem odor nem
corações
nem beijos
apenas um desenho
meu
invento-te nas
madrugadas cinzentas
quando todas as
luzes dormem
e sonham...
e... e morrem nos
meus braços
cacaréus
pedaços de ossos
cabelos teus que
deixaste nos lençóis clandestinos de uma pensão sem nome...
e em frente à
janela
o rio
a fome
cacaréus
cacaréus
… e cacaréus...
pedaços de nada
sobejantes de uma noite em construção
ofegante tu
ofegantes os
transeuntes em desalinhado cansaço...
e eu... e eu apenas
queria desenhar-te no espelho do guarda-fato
e depois... e depois
vestir a gabardina e fugir dos teus lábios
como um louco
sem perceber porque
chove hoje...
sem perceber porque
choram os pássaros do teu olhar.
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Sábado, 15 de
Novembro de 2014
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