Mostrar mensagens com a etiqueta liberdade. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta liberdade. Mostrar todas as mensagens

domingo, 22 de abril de 2018

Palavras ao vento


Flor queimada.

Quando a enxada da saudade,

Dócil quimera da tempestade,

Mergulha na madrugada,

 

Perfume da solidão,

Rasgando a terra onde se entranha o teu cansaço,

Toco-te com a minha mão…

E sacudo a espada do abraço,

 

Nada faço,

 

A não ser escrevendo palavras ao vento.

 

Me sento.

 

Me alimento.

 

Menino da tua liberdade.

 

Flor queimada,

Que o mar semeia nos tempos de espera,

Quem me dera…

Nos soníferos da pomba assassinada.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 22 de Abril de 2018

quinta-feira, 6 de julho de 2017

As faúlhas que dormem na escuridão


Era teu, meu amor,

Agora pertenço ao grupo dos desalojados locais,

Apátrida,

Silencioso esquecimento das nuvens em flor,

Solstício da saudade, e lá ao longe, muito longe… um jardim de silêncios envenenados pela escuridão,

Onde adormecem as faúlhas,

Onde poisam todos os pássaros em papel,

Antes do nascimento do Sol…

Terra queimada,

Húmus da liberdade condicional,

Os livros suspensos no teu olhar…

Quando cai a noite,

Ausento-me,

Desapareço no horizonte…

E aproximo-me de ti como fazem as gaivotas na Primavera,

Abraçam-te,

Abraçam-te enquanto um velho relógio se engasga entre ao catorze e as quinze horas,

E morre…

E morre no pulso do poeta,

 

As faúlhas ventiladas das noites em claro,

A clarabóia do destino encalhada nas estrelas,

Como eu, como eu depois da partida do ausentado destino…

Velho, velho de morrer.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 6 de Julho de 2017

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Palavras apitos e homens de chapéu negro


Este apeadeiro sem telhado

Sofrido nas frestas e nas ripas e nos pregos

A farsa de um comboio vomitando na noite escura

Palavras

Apitos

E homens de chapéu negro

Inventam uma revolução

Eles gritam

“queremos pão”

Não é crime pedir pão

Não é crime ler com um pão na mão

Crime é sentir a liberdade

Sentada

Numa jaula com grandes de cartão…

Crime é não ter a liberdade desejada.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

quinta-feira, 10 de Dezembro de 2015

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

os cabelos da alvorada


esconde-se o corpo no tapete nocturno da solidão

as cânforas manhãs do desassossego libertam-se das amarras

a liberdade acorda

todas as flores são livres

e todos os pássaros voam sobre os cabelos da alvorada

o olhar da serpente brinca num longínquo quintal abandonado

onde uma criança

também ela livre…

sonha com barcos em papel e estrelas coloridas

o corpo nunca teve medo

a não ser da solidão

que é a única prisão que amedronta o homem sem corpo…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

segunda-feira, 16 de Novembro de 2015

sábado, 14 de novembro de 2015

musseque da esperança


este rio de sangue

em direcção ao musseque da esperança

o cacimbo envergonhado na solidão

o triste amanhecer esperando nas mãos da manhã

um novo dia a acordar

novas palavras prontas para a vida

um livro sobre a secretária no silêncio a arder

nos teus lábios

junto ao mar

um barco amarrado aos teus braços

neste rio de sangue…

… impossível de zarpar

Sonhar

E crescer

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

sábado, 14 de Novembro de 2015

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

A morte da verdade


Fontinha – Outubro/2015
 
A estátua que habitava no teu peito
Esta sentada, hoje, numa cadeira sem jeito,
Brinca, hoje, num jardim amarrotado por mãos inanimadas,
Como são tristes todas as madrugadas
E todos os versos do poeta,
Como são tristes todas as manhãs embriagadas
À mesa com um qualquer pateta,
Um imbecil encurralado na noite
Esperando o acordar de um relógio sem alma,
Chora, acredita nas lágrimas do sofrimento,
Chora, e inventa o inferno
No corpo do vento…
 
A estátua… não se cansa de dançar
Sobre a tua pele grená…
Os lábios manchados de sangue,
Os braços entranhados na face de um inocente,
Chora, acredita na liberdade,
Chora, acredita na saudade
Dos ausentes corpos de esferovite,
Grita, grita contra o muro invisível da prisão,
Morre a verdade,
Morre o ditador em pedacinhos de cacimbo…
Rasga o convite
E fica esquecido no tédio limbo…
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 14 de Outubro de 2015
 


domingo, 11 de outubro de 2015

Revolta


(Liberdade para todos os Presos Políticos em Angola)

 

Não acredito no amor,

Porque “o amor é um gajo estranho” (Pop Dell`` Arte),

O amor é um cadáver deitado no vazio,

É um esqueleto de estanho,

Em cio,

No princípio da madrugada,

Com fastio,

Drogada,

Não acredito no amor,

Não acredito na alvorada,

Me mente,

E me ama…

Como uma enxada,

Desenhando nos Socalcos do Douro a paixão de quem manda,

O fuzilamento de mim

Abraçado ao teu cabelo,

Sentado,

Cansado…

Cansado deste jardim,

Me escondo de ti,

E tenho saudades tuas…

Escrevo, rasco o que escrevo…

E nem devia,

E não devo…

Escrever o que sentia,

Esquecer o que me rodeia…

Nesta aldeia,

Neste cubículo de quem semeia…

O amor que não acredito,

Paro,

Escuto e grito,

“Liberdade para os presos Políticos de Angola”,

Foda-se,

A prisão

E as ditaduras,

O medo,

O medo e todas as esculturas,

Os ditadores,

Os impostores…

Agachados nos meus berços.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 11 de Outubro de 2015

sábado, 28 de fevereiro de 2015

Crianças de luz


Não penso
não imagino as palavras semeadas nos relvados da saudade
não penso
não durmo
acreditando nas marés de vidro
descendo da montanha
imagino...
riscos suspensos na alvorada
crianças de luz gritando pela liberdade
e nada
nem ninguém
nas ruas desta cidade.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 28 de Fevereiro de 2015

domingo, 14 de dezembro de 2014

A estátua do medo


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Sinto as tuas finíssimas lâminas de agonia
sobre os meus ombros de xisto
tenho nos versos a enxada do silêncio
e no peito a espada do cansaço
sinto as tuas lágrimas de estanho
descendo a calçada
como uma fotografia
morta
rasgada
e a noite constrói-se no teu cabelo
sempre que um relógio engasgado
adormece no pulso da insónia,
não existem imagens nas minhas mãos
tenho medo da cidade depois de se erguer a madrugada
sinto as tuas finíssimas lâminas de agonia
sinto as tuas lágrimas de estanho
nesta triste parede embriagada
pelo medo
pelo tédio...
morta
rasgada
uma algibeira sem nome
perdida na estrada
sem nome... esquecida na perpétua estátua da liberdade.




Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 14 de Dezembro de 2014

domingo, 30 de novembro de 2014

Em fuga – (o medo de arder)


A cidade a arder
quando os teus lábios se entranham nos meus lábios
alguém liga o interruptor da noite
e ela cai sobre os teus seios
como a tempestade
ou... ou a destruição do muro que nos aprisiona
e come a cidade a arder
e as ruas em fuga
para a outra margem
o barco escondido nas tuas mãos
nos leva
e desaparecemos na neblina,

A fogueira que há em ti
e faz do teu corpo o aço em delírio
o sino da aldeia nos acorda
e alimenta
e encanta...
como um jardim despido à nossa espera
tenho medo das tuas garras de serpente sem nome
envenenada pela paixão
a cidade a arder...
na cidade com fome
da cidade sem coração
da cidade dos rochedos em liberdade.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 30 de Novembro de 2014

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Desintegração


Desintegro-me na desilusão das imagens adormecidas
pareço um velho palhaço gritando para a multidão
palavras
e canções
e noites perdidas,

Viagens enigmáticas com odor a madrugada
rios embriagados correndo nas minhas veias
dilatadas
tristes
tristes como as lágrimas da calçada,

Desintegro-me sem o saber
enquanto sonho nas planícies lunares
desintegro-me lentamente como o vento nas tardes de liberdade
recebo uma carta... lá dentro habita a saudade...
e desintegro-me nas palavras por escrever,

As rosas que disparam sorrisos encarnados
o oceano levitando nas mãos de alguém que é amado
o barco do desejo... navegando
navegando nos cortinados da mentira...
e desintegro-me nos planaltos prateados,

Há no teu olhar rochedos vadios comendo mendigos engravatados
das tuas pálpebras ancoradas
despem-se os seios da manhã sem despertador
maldito relógio que nunca morre...
e todas as luzes poisam nos ombros dos alegres desgovernados...




Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 20 de Novembro de 2014

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Cinco vidas perdidas


Cinco vidas perdidas
uma sombra sobejante
e esquecida
uma noite de tempestade
e eu, e eu... palmilhando a cidade
comendo sandes de insónia
e algemas de liberdade
cinco vidas perdidas
uma lua brilhante...
e falta-me uma cama decente
colorida...
como os poemas embrulhados em silêncios pincelados de saudade...
colorida
a vaidade
a ousadia...
viva... viva a poesia!



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 19 de Novembro de 2014

terça-feira, 11 de novembro de 2014

a bala sem mão


a espingarda de pau em sentido
o homem alicerçado a ela...
treme de frio
e tomba no chão ácido do íngreme tesão do luar
as estrelas são esferas de papel
mergulhadas em clítoris envenenados
a espingarda embriagada
grita
constrói espirros de chocolate
e soluça
como uma louca cidade
que deambula entre carris inanimados
e comboios drogados

a espingarda dispara um pequeno silêncio
que acorda o homem que habita o chão ácido do íngreme tesão do luar
e o homem sem o saber...
acredita na liberdade...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 11 de Novembro de 2014

sábado, 27 de setembro de 2014

Sanzala de lata


Liberta-me
desassossega-me esta insónia fervilhante
que atormenta as minhas mãos
e me proíbe de escrever
liberta-me quando começar a madrugada
e lá fora
ninguém
ninguém para me ver
ninguém para me observar
quero ser a noite vestida de luar
quero ser o socalco que nunca se cansar de olhar...
o rio
e as pessoas que o rio engole e mata
liberta-me
liberta-me deste cansaço desengraçado
que habita nesta sanzala de lata.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 27 de Setembro de 2014

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

em silêncio


este silêncio que se entranha no meu corpo
como ponhais de areia
um oceano de saudade caminha calçada abaixo
abraçando-se ao rio
beijam-se como dois loucos
encastrados no pulsar da madrugada
este silêncio mata
e consome o desejo de partir
o barco ancorado aos lábios do marinheiro poeta
as cordas castanhas quase em liberdade
como os homens tristes dos bares da velha cidade...
em silêncio...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 19 de Setembro de 2014

domingo, 11 de maio de 2014

Cerejas de papel


O corpo é de espuma verde,
cintilam nela as cerejas de papel,
o corpo incendeia-se quando cresce a noite nas mãos do desejo,
e ouve-se o beijo,
deambulando nas orgias marés de Inverno,
o corpo em chamas, o corpo Inferno,
como lábios de mel...
a cidade desamarra-se do cais da liberdade,

O corpo é de espuma verde,
erva daninha nas encostas da montanha sem amanhecer,
o corpo brinca na lareira inventada dos olhos em verniz envelhecer,
o corpo ginga como uma moeda a morrer,
sei que vês os Oceanos marginais que a cidade embarca,
o corpo diminui, o corpo procura a sílaba tonta com perfume de naftalina, e há uma arca,
e há uma sombra, apenas com uma palavra e que não quero escrever...
o corpo é uma bala com nome de cidade,

A cidade a arder.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 11 de Maio de 2014

sexta-feira, 25 de abril de 2014

as palavras de solidão


imagino-te submersa em palavras de solidão
imagino-te vestida de poesia
de cravo na mão
imagino-te livre
nua
imaginar...
a madrugada sem nome
voando sob a cidade dos xistos embriagados
e há um rio em silêncio
um rio... um rio apaixonado
imagino-te deitada na areia pálida do Mussulo
escrevendo as palavras de solidão

no meu corpo
em mim
em construção

imagino-te com asas em papel amarrotado
escrito
rasgado no centro geométrico
rodando
brincando junto aos coqueiros imaginados
imagino-te de lábios desenhados
no muro da insónia
e sonhas
sonhando...
que te imagino submersa em palavras de solidão
e há uma varanda com cortinados de paixão
e há uma canção que acorda em ti... que te imagino submersa... solidão

no meu corpo
em mim
em construção.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 25 de Abril de 2014

segunda-feira, 17 de março de 2014

Panfletos negros

foto de: A&M ART and Photos

Liberto-me dos panfletos negros que habitam nos muros tuas mãos,
há pedacinhos de silêncio, pequenas gotículas de solidão invisíveis ao meu olhar,
escrevo-te, escrevo-te sabendo que hoje existe luar, e palavras impregnadas nos seus lábios,
e que... e que o amor morre, como eu, como tu, como... como os rios antes de adormecerem,
sonharem...
liberto-me percebendo que às palavras dar-lhe-ei o descanso eterno,

E que o meu envelhecido corpo, esse, coitado... cinza,
dispersa,
voando sobre os imaginários telhados de Luanda,
liberto-me,
sim, claro que sim... liberto-me dos panfletos negros,
sombrios, nuvens de chocolate mergulhadas em nocturnas estrelas sem pálpebras,

A cidade submerge da tua boca de cristal puro,
o vidro dos teus olhos... parte-se... e sinto-o descendo a calçada em direcção a uma rua sem saída,
uma penumbra fresca de água e estanho embalsamam o teu corpo em papel vegetal,
e oiço a tua voz em pequenos grunhidos...
como um calendário ardendo na fogueira do desejo,
e dizem-me que estou em liberdade.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 17 de Março de 2014

domingo, 20 de outubro de 2013

Este cigarro pertence aos habitantes carrancudos das aldeias em flor

foto de:A&M ART and Photos

Este cigarro de melancolia nunca me pertenceu, no entanto habita em mim há quarenta e sete anos, fuma-se, desgasta-se, depois fica como novo, pronto a acender-se, pronto a iluminar-me como se em mim existisse uma janela virada para a montanha e da minha cama os lençóis de vidro em gemidos constantes, vibratórios, oscilações melódicas e poéticas nas mãos do Outono, são quase horas de adormecer e percebo que lá fora ainda brincam as neblinas pálpebras da tarde, mesmo assim, oiço-a, olho-a com uma criança pela mão, elas brincam, elas parecem felizes, e
Este cigarro sempre a desprender-se, sempre a extinguir-se como uma sepultura de carvão mergulhada no cimento névoa dos andaimes murmúrios que os lábios exageram quando tu
Eu?
Ela saltita entre mãos e cabelos de vento, soltam-se os primeiros beijos nas asas do anjo solitário, ele é assim,
Assim?
Eu, eu pertenço às neblinas lágrimas de insónia que acompanham a noite,
Pensava que ela era minha filha, poderia sê-lo se não fosse o raio do...
Não o é,
Nunca o será,
Este cigarro pertence aos habitantes carrancudos das aldeias em flor e lá fora oiço-os, em longos gritos de sabão
(ACABOU-SE A DITADURA E A ESCUMALHA PRETORIANA)
Este cigarro e estes gajos, nojentos vermes como línguas de azoto nos cornos da Lua, podia ser o seu filho, podia ser o seu cigarro, e podia ser a sua noite, mas tudo, mesmo tudo, perdeu quando de um velho cortinado apareceu uma rosa sombreada com bolinhas encarnadas, podia ser o seu filho
Meu filho? Impossível...
A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E...
(ACABOU-SE A DITADURA E A ESCUMALHA PRETORIANA)
A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E... A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E... A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E...
Este filho que poderia
Mas não o é,
Poderia ser o teu filho, uma menina que brinca com uma Primavera de olhos castanhos e braços loiros, uma menina que saltita de cadeira em cadeira no café, saboreio-o e lembro-me de quando era como ela, e lembro-me de quando ele poderia ser,
Mas...
Claro que não o é porque se o fosse eu saberia, eu perceberia, eu, eu, eu, eu...
A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E...
Claro que não o é porque se o fosse eu saberia, eu perceberia, eu, eu, eu, eu..., eu teria o prazer de abraçá-la como se fosse minha, e não o é, e este cigarro parece louco, feliz, contente, arde docemente nas tuas mãos e pertence aos tubarões de limalha que deixamos ficar sobre a mesa-de-cabeceira num hotel em Lisboa, parecíamos filhos de Belém, e não o éramos, parecíamos filhos de um rio
E nunca o fomos,
Parecíamos um corpo decadente e nunca o fomos porque estávamos sempre em ebulição, éramos água dentro de uma panela de pressão, ouvíamos o apito do comboio quando da janela apenas sentíamos as vertigens da noite anterior, poderia ser o teu
O meu?
Sim, o dele, e no entanto...
Claro que não o é porque se o fosse eu saberia, eu perceberia, eu, eu, eu, eu...Claro que não o é porque se o fosse eu saberia, eu perceberia, eu, eu, eu, eu...Claro que não o é porque se o fosse eu saberia, eu perceberia, eu, eu, eu, eu...
E no entanto somos apenas duas locomotivas descarriladas, duas vozes... duas vozes quase roucas, quase, quase...
A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E... A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E... A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E...
Quase mas não o é, e sinto-a e vejo-a a brincar com a mãe como se ela fosse a minha mãe e a outra ela, eu
Uma feliz madrugada em flor.
(A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E... A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E... A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E...)

(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 20 de Outubro de 2013

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Viver como um pássaro e voar como um barco cambaleando sobre as ondas sonoras dos poemas de AL Berto

foto de: A&M ART and Photos

Acredito que o Sol voltará a brilhar nas íngremes encostas mergulhadas nos seios mendigos do rio mais belo do Universo, acredito que a chuva das vindimas transformar-se-á em pequenos balões de hélio sobrevoando as lâmpadas do silêncio como xistos em revolta, acredito que todas as grades em aço que cercam as prisões brevemente acordarão vestidas de botão de rosa, de muitas cores, e em pétalas poeira cintilando nas mãos tuas madrugada
Liberdade?
Liberdade...
Viver como um pássaro e voar como um barco cambaleando sobre as ondas sonoras dos poemas de AL Berto, do cimo da montanha e em pétalas poeira cintilando nas mãos tuas madrugada, ele revestido a prata, ele sorrindo, poisando o desejo sobre a mão dela,
Acredito que as nuvens vão ser de algodão, leves, leves como os círios da Igreja onde me esperas quando eu morrer, e sem lágrimas, e sem demandas... acreditarás que eu vou voar e que mais tarde... mais tarde nos encontraremos junto a uma mangueira, e sobre nós sombras de cacimbo e o latejo dos mabecos felizes por
Acreditares,
No futuro, na liberdade, nas grades em aço que transformar-se-ão em rosas, rosas, rosas com lábios encarnados,
Perfumadas pois então,
Nós
Felizes
E viveremos nas encastradas encostas da chuva em vindimas de pergaminho, ouvem-se os pais beijarem os filhos, vêem-se as mães acreditarem nas alegrias dos filhos, ouvem-se os arbustos despedirem-se do ferrugento barco em suspiros profundos
Fundeando há vinte anos..., afundam-se e gritam
Os outros,
Liberdade, acredito que as flores vão ser de papel, e que dos meus livros, e que dos meus livros acordarão todas as personagens que vivem em mim, estas há mais de vinte anos, e no entanto, não tão ferozes como as outras,
Tudo servia para comer,
O quê?
Tudo, tudo... e até as pedras acreditavam no medo...
O medo?
Em capa dura, do amarelo sobressai o peso de um corpo em ziguezague, sonolento, o título é em oiro futuro, e ele
Embrulhado em plumas de cetim
Acreditava que “O medo” não tinha medo,
Acredito que com a trovoada vêm as sílabas palavras com pele sedosa, e das caricias de uma gaivota, ele
Acredita,
Acredita que o mar é de todos, que o Sol iá nascer para todos
(enquanto hoje, apenas alguns dementes têm o prazer de o ver)
Nunca vi o Sol, não sei como é o Sol...
Mas acredito que existe, que vive, sorri...
(Perfumadas pois então,
Nós
Felizes
E viveremos nas encastradas encostas da chuva em vindimas de pergaminho, ouvem-se os pais beijarem os filhos, vêem-se as mães acreditarem nas alegrias dos filhos, ouvem-se os arbustos despedirem-se do ferrugento barco em suspiros profundos
Fundeando há vinte anos..., afundam-se e gritam
Os outros),
Não sabem que a chuva das vindimas é uma mulher nua abraçada a cachos de uva, em seu redor, um louco grita,
Acreditar,
E eu, que apaixonei-me pela chuva...
Acredito.

(Não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 27 de Setembro de 2013