foto de: A&M ART and Photos
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Liberto-me dos panfletos negros que
habitam nos muros tuas mãos,
há pedacinhos de silêncio, pequenas
gotículas de solidão invisíveis ao meu olhar,
escrevo-te, escrevo-te sabendo que hoje
existe luar, e palavras impregnadas nos seus lábios,
e que... e que o amor morre, como eu,
como tu, como... como os rios antes de adormecerem,
sonharem...
liberto-me percebendo que às palavras
dar-lhe-ei o descanso eterno,
E que o meu envelhecido corpo, esse,
coitado... cinza,
dispersa,
voando sobre os imaginários telhados
de Luanda,
liberto-me,
sim, claro que sim... liberto-me dos
panfletos negros,
sombrios, nuvens de chocolate
mergulhadas em nocturnas estrelas sem pálpebras,
A cidade submerge da tua boca de
cristal puro,
o vidro dos teus olhos... parte-se... e
sinto-o descendo a calçada em direcção a uma rua sem saída,
uma penumbra fresca de água e estanho
embalsamam o teu corpo em papel vegetal,
e oiço a tua voz em pequenos
grunhidos...
como um calendário ardendo na fogueira
do desejo,
e dizem-me que estou em liberdade.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 17 de Março de 2014