sábado, 28 de fevereiro de 2015

as sombras do amanhecer


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


não inventes nos meus sonhos
a embriaguez da despedida
o silêncio pincelado de luar
quando ainda não existe luar na tua mão
não inventes
sonhos
viagens sem regresso
viagens sem partida
há dentro deste corpo
todos os alicerces da melancolia
há no teu olhar
as palavras da madrugada
sem fantasia...
e não sei porque me sento nesta pedra
esperando o esqueleto de papel
há muito esquecido na floresta
sem amor
sem paixão de saltar as sombras do amanhecer
e sempre que quero
não sei onde habitam os teus lábios
comestíveis beijos
não
inventes
sonhos nos meus sonhos sem vida...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 28 de Fevereiro de 2015

Crianças de luz


Não penso
não imagino as palavras semeadas nos relvados da saudade
não penso
não durmo
acreditando nas marés de vidro
descendo da montanha
imagino...
riscos suspensos na alvorada
crianças de luz gritando pela liberdade
e nada
nem ninguém
nas ruas desta cidade.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 28 de Fevereiro de 2015

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Os outros, o monstro das quatro cabeças brincando dentro de mim, saltava à corda, subia aos pinheiros pintados em papel cenário..., e havia sempre um pigmentado sorriso nos seus lábios, era Sexta-feira, daquelas Sextas-feiras que iluminam as imagens a preto e branco, o sono, a agonia de olhar o mar desenhado numa das paredes do quarto, escuro, ainda boiava a noite nas veias da adrenalina constelação do amor, aquele amor inventado apenas para adormecer na poesia, nada mais do que isso...
Isso o quê, meu amor!
Os outros, o monstro
Batem à porta,
Livros, livros nas mãos cardume do carteiro, assine aqui se faz favor, assinei, foi-se embora, escondido no arvoredo comecei a acariciar o envelope, lá dentro percebia-se que alguém existia para me abraçar, daqueles abraços trigonométricos, sabes?
Sei, os outros, o monstro, a perfeita nostalgia ,sebes de papel laminado voando sobre o jardim
O gajo passou-se, dizem...
Que sim, livros, Isso o quê, meu amor! Batem à porta, e falou comigo.



(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 27 de Fevereiro de 2015

insónia da noite


as palavras amaldiçoadas do teu poema
moribundo
sem personagens nem cidades floridas
os teus sonhos encantados
masturbados na triste insónia da noite
quando a noite deixou de existir
e hoje
apenas um cortinado de fumo
sem olhar
sem alma
se tens alma no teu amar...
se tens olhar na tua alma de brincar...
e as palavras de chorar
as fechaduras do teu peito
e as janelas dos teus seios
sem fotografia para o mar
se há olhar na tua alma
então este barco não é sucata
nem monstro da infância
se há alma no teu amar
porque existem correntes em aço
que me aprisionam a este muro em xisto...
com lábios em desejo
desejando a insónia da noite...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 27 de Fevereiro de 2015
Os teus lábios acorrentados aos meus beijos embriagados pelo desejo, não o sinto, o vulcão da tua pele, não vejo o sorriso da tua mão, em vulcão, mergulhada nas palavras que o silêncio desenha na melancolia,
É falso,
O dia disfarçado de lápide, os outros destinos rejeitados pelo cacimbo, há uma fogueira no corpo da sinfonia do amor,
É falso,
O falso prazer, a liberdade to TEXAS e Cais do Sodré gingava na penumbra salgada do abismo,
O querido dança?
Fumo,
É falso,
São falsas, os textos a beleza e o amar, quando o amar pertence aos clandestinos eternos sonos dos Narcisos de prata, o pilar central do orgasmo mergulhada entre duas árvores,
Amar, amor,
Ao fundo os homens calcetando labaredas em poesia adormecida... é falso, que o amor morra nas planícies salgas do deserto...



(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 27 de Fevereiro de 2015

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Partida

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


O dia suicida-se junto aos cedros
poisa na minha mão as suas lágrimas de chocolate
acende um cigarro
esconde os lábios na sonolência da cidade de prata
e parte
sem deixar saudade...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 26 de Fevereiro de 2015


quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

sombra envenenada

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


o imaginado silêncio
pela orquídea do desejo
palavra por palavra
o sangue que foge da veia amaldiçoada
como a charrua
entranhada
na terra...
abraça-se ao poema
fingindo que amanhã não há madrugada
nem amanhecer
esta cidade inventada
em páginas de cartão

o imaginado silêncio
na mão
de uma sombra envenenada
ele espera pelo regresso da amada
mas o amor é uma carta
sem palavra
sem nada
que só a morte sabe reconhecer
quando o mar entra dentro de casa
e gritam
os barcos encalhados
nos semáforos da saudade...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 25 de Fevereiro de 2015


terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

as ruas húmidas do desejo

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


quando as palavras semeadas no papel envelhecido
morrem
aquele que as escreve
despede-se
entre lágrimas e falsos sorrisos
um desenho insignificante
poisa docemente no vulcão da madrugada
sem mágoa
ou... ou paixão
abraça-se à noite dos tristes aconchegos
grita pelos sonhos
e... e em vão...

percebe que a vida é um triângulo de luz
voando nas ruas húmidas do desejo
tenho medo do silêncio
e do cansaço dos dias junto ao rio...
aquele que as escreve
despede-se
e parece um vadio
esmiuçando ossos e cigarros
ou... ou talvez não...
porque tem no corpo um vazio
um buraco negro recheado de insónias e imagens sem nome
como têm os pássaros nos prismas imaginados por uma árvore doente...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 24 de Fevereiro de 2015


segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

 
(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Os sete orgasmos do Mussulo, a liberdade sobre as palmeiras invisíveis que me atormentavam, como campânulas de sofrimento, ao deitar, o caixão que dançava deixou de o fazer, dificuldades com o cachê, dispensa de artistas e cadáveres de cera, um altar recheado de almas, tantas almas como os versos do sem-abrigo quando sentado numa cadeira apodrecida de um circo ambulante,
Quero ser artista, mãe!
Nem penses..., nem... penses...
Filho meu não é artista!
Nunca,
Nunca, mãe?
Os sete, juntos, e sós, no Mussulo era mais barato, a saia descaída, o soutien desenhado no peito
E...
Nunca, mãe?
Nunca,
Nunca
No peito uma flecha de sémen rodopiando no gelo do ringue de patinagem,,,, o belo, a dança... e o corpo em pequenas rotações...


(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 23 de Fevereiro de 2015

fotografia

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


o triturador do sono
mergulhado nos teus olhos incandescentes
tens nos lábios o pingente beijo
iluminado pela saudade
entre quatro paredes
paredes
sós
nem porta
janelas
cubículo de prata
onde habitam todos os cheiros da cidade...
as abelhas do amanhecer saboreando a tua pele de mel
como se tu
janelas
fosses um pedaço de pólen
ou
nem portas
e nas paredes
as frestas da insónia
sombreadas
e acorrentadas
às sílabas enforcadas
do velho barco de esferovite...
que em criança eu brincava.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 23 de Fevereiro de 2015


Um sem-abrigo, sem... e sem mundo...

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


A morte dos esquissos preguiçosos e das palavras enamoradas,
o fogo do poema invadindo a biblioteca assombrada pelos cortinados vivos dos esqueletos de papel,
cá dentro, marés de solidão abraçam-se aos lápis e canetas abandonadas sobre a secretária,
os papeis parecem doentes, empilhados numa qualquer enfermaria...
esperam,
desesperam,
e acreditam que um dia vão ressuscitar...
mentira,
nunca o farei,
porque os papeis são para destruir
juntamente com o meu corpo de granito vagabundo,
um sem-abrigo, sem... e sem mundo...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 23 de Fevereiro de 2015


domingo, 22 de fevereiro de 2015


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


A aldeia padece de claridade, existem fios de escuridão nos telhados cansados das palhotas de algodão,
Enigmático, eu?
Nunca tinha assistido à dança de um caixão...
Já imaginaram o dançar de um caixão?
Há tripas e...
Moelas,
E palavras sem coração, sentia-me embriagado nas mãos do amanhecer, sentia-me um miúdo encostado à sonolência da idade,
A aldeia em chamas, os campos esbranquiçados na tela do desejo imaginavam canções de moluscos e alguns grãos de areia,
O desenho teu na cidade dos alicerces alienados, os bares em combustão, as miúdas dançando canções de solidão,
Amas-me?
Que não,
Que a arte vive e vai morrer no teu olhar,
Ouves-me?
E palavras sem coração, avenidas nuas, travestidas de machimbombos reumáticos voando sobre a cidade, eu... eu... adormecia,
Inventava beijos nos teus braços, a minha primeira paixão, imaginava-te uma flor triste e cansada, nos circos ambulantes da saudade,



(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 22 de Fevereiro de 2015

Estátua de gelo...

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


O amor suicida-se nos lábios do sorriso de xisto,
uma carta poisa respeitadamente sobre uma almofada granítica,
impregnada de silêncios
e fósforos adormecidos na inocência do poema,
faltam-me as palavras...
oiço-o nos braços do seu amante,
inventado beijos
e livros entranhados nos socalcos do desejo,
há no Outono uma noite em despedida,
a sinfonia da saudade
nas clarabóias do sexo,
e lá fora todos os transeuntes são imagens a preto e branco,
expostas numa parede branca,
descendo a calçada,
virava à direita,
o engate,
a rua,
em nada,
como lâminas de sono contra as marés de prata,
não quero os sonhos
nem os seios dos caixotes de vidro
que habitam as minhas mãos de medo,
o amor suicida-se
nos lábios do sorriso de xisto... e a penumbra é uma estátua de gelo...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 22 de Fevereiro de 2015


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Eles chegaram, o caixão ainda cheirava à tinta fresca da manhã, brincava um silêncio de olhos verdes no vão de escada,
Foder num vão escada, como fodem todas as palavras do poema...
Sabíamos que o corpo não pertencia às nossas vidas,
Clandestino, eréctil nas disciplinas do abismo, o poema esfomeado esperando o amante suicidado,
amanhã, amanhã nascerá um cansaço de medo no afastamento dos círculos das cidades embriagadas,
Sem iluminação, sem mulheres ou bares para combater a distracção, uns panfletos expostos na parede xistosa,
Há Tripas,
O caixão dançava no centro da sala de estar,
Confesso,
Nunca tinha assistido à dança de um caixão...
Já imaginaram o dançar de um caixão?
Há tripas e...
Moelas,



(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 22 de Fevereiro de 2015


sábado, 21 de fevereiro de 2015

Calçada imaginada

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Imagino-te
nua
e triste
como uma calçada
ou uma simples rua...
mas tu não és uma calçada
nem és uma rua...
imagino-te
sentada
no jardim das acácias abandonadas...
mas tu
não és um jardim
nem és uma acácia
porque tu não és nada
nem imagem a preto e branco
nada
nada
apenas uma sombra descendo a calçada
imaginada...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 21 de Fevereiro de 2015


sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


E a doença sifilítica nos dedos do artista, adormece a tela, o poema e a musa do poeta,
Sinto-me... um suicidado cadáver de esperma, um transeunte canalha com suspensórios e gravata, e sapatos de ponta delgada,
Faltam-me as tuas mãos, mãe,
Café?
Viajo na tua saia e percebo que não temos regresso, regressar é um suicídio sem palavras, uma carta escrita, os motivos da tua ausência, as faltas da tua presença na Igreja, sinto-me quando abres a janela do quarto e tenho a certeza que estou vivo,
Bom dia, mãe...
Meu querido filho!
O livro cresce nas ardósias cinzentas da memória,
Que és enigmático, meu filho...
Que sim, minha mãe,
Que sim,
Telefonaram da Rua dos Mendigos?
Para mim, mãe?
A cidade embriagada nas sandálias do pescador, o mar, sempre o apaixonado mar, a paixão azul, do azul literário e poético...,sabes com é, mãe,
Pois,
Sei que semore sonhaste comigo,
Eu?
Sim, tu, mãe,
Quando dizias que aos três anos de idade já voava...



(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 20 de Fevereiro de 2015


Janelas prateadas

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Estes versos não têm destino,
imagino-me na penumbra saudade das arcadas em flor,
janelas prateadas,
com grades de nylon,
âncoras, barcos encalhados no meu peito,
o sal,
e a noite,
quando termina o calendário suspenso numa parede sem memória...
e o mar avança para mim como um cão faminto,
tão faminto como a própria sede,
a tranquila viagem nos confins da paixão,
como se alguém apagasse todos os candeeiros da cidade,
e todas as sombras do luar,
amanhã estes versos...
num mísero caixote perfumado,
com corações de areia húmida,
e nem assim conseguem acordar as jangadas de silêncio
que vivem enclausuradas numa rua sem nome,
nem idade...
estes
versos
não
têm destino...
ou estória.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 20 de Fevereiro de 2015


quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Sinto-me um caixote em madeira, um socalco lágrima descendo até ao Douro, uma eira, imaginada em Carvalhais – S. Pedro do Sul, sinto-me a noite vestida de negro, abraçada aos meus sonhos, sem poder mais,
Amanhã, meu amor!
O circo, os palhaços narcisados nas palavras escritas pelo fantasma do silêncio, a minha vida uma “merda” comparada com a vida dos meus vizinhos, hoje sonhei que a pobreza tinha morrido... como se a pobreza tenha morte... este momento embriagado em poemas de amor,
Poder mais...
Os sorrisos, a mentira do soneto sobre os ombros vergados de uma enxada, o cristal opaco que sobressai nas fotografias de infância, a dor, e a doença
Sinto-me
E a doença sifilítica nos dedos do artista, adormece a tela, o poema e a musa do poeta,
Sinto-me... um suicidado cadáver de esperma, um transeunte canalha com suspensórios e gravata, e sapatos de ponta delgada,
Um café Doutor?
Café...
Faltam-me os cigarros...



(texto de ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 19 de Fevereiro de 2015

A última maré do dia...

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


O destino do homem sem cabeça,
mergulhado no silêncio dos beijos enlouquecidos,
às vezes é mendigo...
às vezes... tem medo do perigo,
e foge,
e esconde-se no volátil vulcão da pele em flor,
sem o saber,
apaixona-se
e morre
num jardim perto de casa,
é dono da rua infestada de pássaros
que habitam nas mãos das amoreiras,

Erguem-se as árvores nuas da saudade,
passeiam-se como estátuas nos subúrbios das pálpebras do desejo,
abraçam-se
e abraçam-se...
como loucos cubos de vidro
entranhados no luar,
o corpo emagrece
e voa sobre as calçadas de aço...
podíamos construir na noite uma jangada de espuma,
adormecer no olhar da última maré do dia...
e o destino do homem sem cabeça
nas arcadas invisíveis do infinito...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 19 de Fevereiro de 2015


quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Regressar, mãe?
O texto escreve-se no teu corpo, a partida pertence ao passado, triste, tão triste como fazer amor num vão de escada,
Os gemidos,
Os silêncios mergulhados na algibeira do cansaço, amanhã saberei se me pertences, maldito caixote em madeira,
Alguns tarecos, meia dúzia de fotocópias de fotografias,
O mar, mãe?
O mar... morreu,
Como morrem todas as coisas belas.


(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 18 de Fevereiro de 2015

São as noites

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


São as noites perdidas nos teus braços invisíveis,
há nos teus lábios o sabor da partida,
entre beijos esquecidos,
e tardes amigas,
sentidas nebulosas mãos no meu rosto,
quando cresce em ti a solidão das marés em fúria,
são as noites,
que te trazem ao meu esconderijo,
sem espelhos adormecidos num quarto de pensão...
às palavras o silêncio,
quando desnuda te debruças sobre a madrugada,
e sentes... o meu corpo em cinzas navegando no teu ventre!



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 18 de Fevereiro de 2015


terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Partiram, levaram o miúdo dos calões e o caixote em madeira,
Alguns tarecos, pouca coisa e fotocópias de fotografias envenenadas pelo silêncio, na algibeira, o amor, o desejo do mar, dos barcos e das coisas
Simples?
Os livros,
E das coisas sem nome,
Sombras de mangueira?
E beijos, das coisas travestidas de saudade, dos livros lidos nas entranhas do desejo, caminhávamos entre quatro círculos de luz, abraçavas-me como se abraçam os pássaros, as acácias e os pindéricos cabelos de nata,
Amanhã amo-te...
Partiram, fugiram das noites embriagadas com direito a limonada e a sexo, construíram cubatas nos musseques da alegria, saltaram muros e muros, tinha medo das curvas da vida, adivinhava os beijos como sendo abelhas em flor, sobre as casas sem nome, idade, e
Sexo?
Só depois das seis,
E sonhos, de um dia regressar...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 17 de Fevereiro de 2015


A vírgula do desejo

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


A morte suspende-se-lhe no peito
como uma âncora de luz atravessando a solidão dos dias
os minutos em euforia
depois de passar a tempestade
e nas mãos poisa uma caneta invisível
sem tinta
palavras...
os minutos desassossegados como cidades a arder
as cancelas do silêncio caminhando junto ao mar...
sós
nas lânguidas canções de areia
e nos atormentados sonhos da madrugada,

Uma vírgula sem Pátria
a aldeia encalhada nos seios da alvorada
uma flor cansada
na lapela
morte
depois regressam as saudades
e os beijos de papel...
e no peito nascerá uma lápide de sombra
como todas as lápides de sombra nos sótãos dos loucos amantes
em corpos incandescentes
do amor
e da paixão...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 17 de Fevereiro de 2015


segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Estes desenhos sem sentido, abstractos, doentes, malditos... sinto-o e finjo que ele não existe, não o quero ver, não me apetece falar com ele, amanhece nos teus braços e não me dou conta da liberdade das tuas mãos, das palavras dos teus lábios... e dos teus beijos geométricos,
A rima é de quem a trabalha,
Geométricas cintilações de cianeto, o azoto e os cigarros,
E tu?,
Amanhã amar-me-ás como hoje?
Mas hoje... não exuste, um caixote em madeira, alguns tarecos e meia dúzia de fotografias,
Todas,
Todas a preto e branco...

/ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 16 de Fevereiro de 2015

Lareira da solidão

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Os cigarros mortos
na boca do bandido
o silêncio adormecido
nos beijos da madrugada
os cigarros arrependidos
e apaixonados...
pela cidade desgovernada
como um livro... na lareira da solidão...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 16 de Fevereiro de 2015


Entrevista – Francisco Luís Fontinha – Miraonline Jornal


domingo, 15 de fevereiro de 2015

A viagem sem regresso

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Perdi-me nas aldeias incendiadas do prazer,
desassossegadamente, o teu corpo entrelaçado nos meus braços de xisto,
descendo cada socalco meu,
entre nós... o rio
e a saudade dos Sábados folheando livros,
e beijos,
perdi-me nas aldeias incendiadas do prazer
como se fosse um pássaro sem Pátria,
fugindo da lentidão das coisas belas,
os cigarros em tristes sorrisos de esferovite...
boiando como um carnívoro na liberdade das palavras,
com sotaque a náufrago envelhecido,

Sinto no corpo,
as garras e os fios de luz da loucura,
as cabeleiras falsas voando nos meus ombros
em chocolate embriagado,
os teus lábios pincelados de amanhecer...
e todas as janelas encerradas,
dentro de um caixote em madeira,
tarecos, miudezas e esqueletos de vinil,
a viagem sem regresso,
quando os seios da noite
mergulham nos alpendres floridos
e tu... junto à lareira da paixão,

Um livro,
Embrulham-se em nós as personagens da escuridão,
da tua mão
sinto
em pequeníssimas fatias de luar
a saudade e o perigoso feitiço do amor,
o livro saltita em nós,
come-nos e acende todas as lanternas do ciume...
não venhas, hoje, meu amor,
um livro,
e embrulham-se
em nós as lâminas da poesia...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 15 de Fevereiro de 2015


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


As tristes viagens ao cacimbo da infância, o sombreado rosto no pavimento térreo e sem nome, as mangueiras no retrato do meu avô, de machimbombo na mão, abria-se o portão de entrada, um beijo, infinitos abraços... e o sentar numa cadeira de vime,
O cansaço disfarçado de saudade, a tela do silêncio em pequenos suspiros de amor, o sexo mergulhado nas frestas do passado, a morte e a loucura, e uma equação irresolúvel, menstruada nas sílabas da madrugada, não sei o significado desta noite,
Faltam-me as palavras,
E os desenhos,
Faltam-me as palavras certas para a tua boca de verniz, e quanto aos desenhos
Uma porcaria,
Sem nexo, abstractos como o teu sorriso, e tristes como o final da tarde junto ao rio, O Tejo embriagado nos meus lábios, os esqueletos de palha ardendo na maré, e uma porcaria
Os meus desenhos?
E tu,
Uma porcaria como todas as porcarias da minha vida,
E tu,
A “Divina Comédia”...
Entre as minhas pálpebras de arroz,


Francisco Luís Fontinha . Alijó
Domingo, 15 de Fevereiro de 2015


sábado, 14 de fevereiro de 2015

Cidade maldita

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Há uma jangada salival adormecida no teu peito, meu amor,
tens no olhar os desenhos nocturnos da tempestade
e a sinfonia das palavras embriagadas nos teus pulsos,
os beijos de incenso suspensos nas estrelas da paixão,
o teu corpo de luz
na escuridão da proibição,
amar,
amar o luar quando sinto a falta das tuas mãos...
simplesmente sós
e transparentes,
como os vidros do desejo,
nas sílabas da montanha abraçada pela loucura,

Não posso desenhar os teus seios
nos pavimentos clandestinos da cidade,
não consigo imaginar-te vestida de marinheiro...
como pertencem os retratos dos crocodilos de papel,
nem as plumas da inocência,
há uma jangada de silêncio...
entranhada no teu púbis cristalino
na água inseminada pelo beijo,
e na tua boca as flores da madrugada
acorrentadas às janelas do destino...
cidade maldita esta
onde habitam os teus ossos em poeira...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 14 de Fevereiro de 2015