quinta-feira, 31 de maio de 2012
tão bela ela dela a palavra
tão bela
ela
a poesia com marmelada
bela tão tão a palavra
dela
sem cigarros
tão linda
ela
na primavera
tão bela
ela
a poesia com madrugada
nela
à janela
tão bela
ela
dela
a poesia com marmelada
a poesia com madrugada
dela nela tão bela
a palavra
ela
tão bela
quarta-feira, 30 de maio de 2012
“ai que me vou morrer”
“ai que me vou morrer”
nas tuas coxas amarelas
ai ai ai
belas
relvas
ai
morrer
elas as ruas delas
no mar
“ai que me vou morrer”
nas tuas coxas
no ar
ao cu
do cu
ai ai “ai que me vou morrer”
do mar
sem vento
e no entanto
no entanto
ao cu ao cubo
ai ai ai
elas as ruas delas
terça-feira, 29 de maio de 2012
do outro lado da rua
do outro lado da rua
nua
ela crucificada nos ponteiros do relógio
nua
a tarde dentro da porta da noite
do outro lado
a rua
ela
ela nua do outro lado da rua
doze badaladas
meio dia
a felicidade dentro do alpendre
sem janelas
há urtigas em filetes
e framboesa
e do jantar
maionese com ilustrações
desenhos em areia
velas lírios à sobremesa
do outro lado da rua
ela
eu nela nua
a tarde sem literatura
Orgia na livraria
simetricamente encerrado
nas torradas e no chá com pimenta
às portas da urna de vidro
onde habita a saudade
a marquise doente
tosse febre rouquidão
(malditos cigarros)
lamenta-se o coveiro
levanta-se a urna de vidro
e pede um poema de menta
e um cinzeiro
(AI) ouve-se do interior da padaria
a menina de mini saia
a gritar
fujam fujam fujam...
há orgias
dentro da livraria
quem diria
(AI)
a livraria cansada
com mãos de página de revista
ou rolo de papel higiénico
fujam fujam fujam
quem diria
(AI AI AI)
quem diria
que um dia
dentro da livraria
eu ia
eu ia encontrar um livro em orgia.
nas torradas e no chá com pimenta
às portas da urna de vidro
onde habita a saudade
a marquise doente
tosse febre rouquidão
(malditos cigarros)
lamenta-se o coveiro
levanta-se a urna de vidro
e pede um poema de menta
e um cinzeiro
(AI) ouve-se do interior da padaria
a menina de mini saia
a gritar
fujam fujam fujam...
há orgias
dentro da livraria
quem diria
(AI)
a livraria cansada
com mãos de página de revista
ou rolo de papel higiénico
fujam fujam fujam
quem diria
(AI AI AI)
quem diria
que um dia
dentro da livraria
eu ia
eu ia encontrar um livro em orgia.
segunda-feira, 28 de maio de 2012
A loucura
Não sabia que a loucura
é um frasco de vidro com olhos verdes
que ama
loucamente
a paixão
não
não sabia
que em ti cresce poesia
melancolicamente
em alegria
geometricamente
suspenso no teu pescoço com asas azuis
e suspiros de prata
a loucura
um frasco de vidro com olhos verdes
(melancolicamente
em alegria
geometricamente
suspenso no teu pescoço com asas azuis
e suspiros de prata)
a fotografia do teu rosto cinzento
o frasco de vidro
desce ao silêncio do sono
uma fotografia com olhos verdes
a loucura transpira
emagrece
sorri e ri e liberta-se das tuas garras
(loucamente)
a paixão
sem amarras
a loucamente loucura
na tua mão
com olhos verdes
sem cancelas
portas
ou janelas
a paixão cresce
a paixão cresce e transpira
ou janelas
portas
sem cancelas
não admira
não sabia que a loucura
é um frasco de vidro com olhos verdes
que ama
loucamente
a paixão
ama
a paixão loucamente
nos lábios de uma gaivota
ama
ela
com ternura
eu não sabia
que a poesia
é um frasco de vidro com olhos verdes...
a loucura
sem ela
quando finge dormir dentro do mar
é um frasco de vidro com olhos verdes
que ama
loucamente
a paixão
não
não sabia
que em ti cresce poesia
melancolicamente
em alegria
geometricamente
suspenso no teu pescoço com asas azuis
e suspiros de prata
a loucura
um frasco de vidro com olhos verdes
(melancolicamente
em alegria
geometricamente
suspenso no teu pescoço com asas azuis
e suspiros de prata)
a fotografia do teu rosto cinzento
o frasco de vidro
desce ao silêncio do sono
uma fotografia com olhos verdes
a loucura transpira
emagrece
sorri e ri e liberta-se das tuas garras
(loucamente)
a paixão
sem amarras
a loucamente loucura
na tua mão
com olhos verdes
sem cancelas
portas
ou janelas
a paixão cresce
a paixão cresce e transpira
ou janelas
portas
sem cancelas
não admira
não sabia que a loucura
é um frasco de vidro com olhos verdes
que ama
loucamente
a paixão
ama
a paixão loucamente
nos lábios de uma gaivota
ama
ela
com ternura
eu não sabia
que a poesia
é um frasco de vidro com olhos verdes...
a loucura
sem ela
quando finge dormir dentro do mar
domingo, 27 de maio de 2012
e eu me encanto
(para ti)
Me encanta a tua voz poética
nas tuas palavras de sofrimento
me encantam as tuas mãos melódicas
quando regressa o vento
e eu me encanto
com os teus lábios de inverno
junto à lareira
me encanta o teu cabelo
(Loiro? Eu não sou Loira... eu sou Castanha!)
como se isso me importasse
porque me encanta a tua voz poética
e eu me encanto
com as noites de primavera
à lareira
a imaginar o teu cabelo
(Loiro Castanho, Castanho Loiro, Loiro Castanho, Castanho Loiro)
Me encanta a tua voz poética
nas tuas palavras de sofrimento
me encantam as tuas mãos melódicas
quando regressa o vento
tudo em ti me encanta
tudo de ti alimenta
o encanto de amar.
Me encanta a tua voz poética
nas tuas palavras de sofrimento
me encantam as tuas mãos melódicas
quando regressa o vento
e eu me encanto
com os teus lábios de inverno
junto à lareira
me encanta o teu cabelo
(Loiro? Eu não sou Loira... eu sou Castanha!)
como se isso me importasse
porque me encanta a tua voz poética
e eu me encanto
com as noites de primavera
à lareira
a imaginar o teu cabelo
(Loiro Castanho, Castanho Loiro, Loiro Castanho, Castanho Loiro)
Me encanta a tua voz poética
nas tuas palavras de sofrimento
me encantam as tuas mãos melódicas
quando regressa o vento
tudo em ti me encanta
tudo de ti alimenta
o encanto de amar.
sábado, 26 de maio de 2012
sexta-feira, 25 de maio de 2012
Norte
Preciso do norte
e na minha mão direita finge brincar o sul
preciso da montanha
e na minha mão esquerda o mar
a atormentar-me noite e dia
preciso do norte
e tenho o sul
deserto
entre cadeiras de vime
e chapéus de palha
sexos aos montes
nas janelas da algibeira
preciso do norte
e na minha mão direita
o abismo
e da minha mão esquerda
o sul que não me deixa adormecer
sem comprimidos
ou noites seguras
entre pássaros loucos
preciso do norte
e de uma abelha
com lábios de pólen
e mamas de mel.
quinta-feira, 24 de maio de 2012
jardim de prata
conheço um jardim de prata
onde brinca uma menina de sabão
conheço um jardim de prata
com árvores de lata
e sem coração
conheço uma menina de prata
em círculos num jardim de sabão
com flores de poesia
e sem alegria
ao meio-dia
conheço um jardim de prata
onde dormem cigarros de mel
e sem alegria
ao meio-dia
as flores de poesia
fogem num barco de papel
onde brinca uma menina de sabão
conheço um jardim de prata
com árvores de lata
e sem coração
conheço uma menina de prata
em círculos num jardim de sabão
com flores de poesia
e sem alegria
ao meio-dia
conheço um jardim de prata
onde dormem cigarros de mel
e sem alegria
ao meio-dia
as flores de poesia
fogem num barco de papel
o homem de sol
pareço um esqueleto com óculos de sol
um homem de madeira
que dança dentro de um relógio de pulso
aos soluços
quando começa a noite
pareço um esqueleto com óculos de sol
à procura de uma tenda de circo
e uma trapezista
em madeira
e que dança dentro de um relógio de pulso
e um rapaz simpático
que se veste de palhaço
quando não transporta o esqueleto
com óculos de sol
pareço
um homem de sol
com óculos de madeira
num esqueleto de pulso...
quando começa a noite
um homem de madeira
que dança dentro de um relógio de pulso
aos soluços
quando começa a noite
pareço um esqueleto com óculos de sol
à procura de uma tenda de circo
e uma trapezista
em madeira
e que dança dentro de um relógio de pulso
e um rapaz simpático
que se veste de palhaço
quando não transporta o esqueleto
com óculos de sol
pareço
um homem de sol
com óculos de madeira
num esqueleto de pulso...
quando começa a noite
quarta-feira, 23 de maio de 2012
Sobreviver
Que chatice. Sempre as malditas pesquisas no Google sobre o meu nome: pinturas de Luís Fontinha; bibliografia de Luís Fontinha...; poesia de Luís Fontinha; textos de Luís Fontinha...
Confesso que começo a ficar farto deste gajo, eu, porque não sou pintor, porque não sou escritor, porque não sou poeta, porque não sou nada.
Faço uns desenhos esquisitos para sobreviver ao tédio, escrevo umas merdas sem sentido e pouco menos, e um texto meu foi escolhido por José Luís Peixoto. Quanto à bibliografia é curta e sucinta: nasci em Luanda/Angola, cometeram o erro de trazerem-me para Portugal, fui drogado há muitos anos e estou desempregado e não tenho dinheiro.
E quem não gostar que se f*da...
“Que mais eu podia desejar” como escreveu AL Berto... “não estou alegre nem apaixonado”.
terça-feira, 22 de maio de 2012
Fingidos amigos
Detesto sorrisos
dentes fingidos
noites perdidas
dias sem sabor
morangos sem açúcar
leite com café
detesto sorrisos
dentes fingidos
bocas amargas
detesto sorrisos
fingidos amigos
sentados à esplanada
detesto sorrisos
dentes fingidos
cabras com guizos
chibos
detesto sorrisos
dentes fingidos
livros de merda
palavras como eu
corpos de merda
à procura do céu
detesto sorrisos
dentes fingidos
fotografias com cor
poemas de amor
detesto sorrisos
dentes fingidos
madrugadas à janela
noites de merda
(detesto sorrisos
dentes fingidos)
fingidos amigos.
Ribeira desgovernada
Há sempre uma carteira
recheada
na algibeira de alguém,
há sempre uma ribeira
desgovernada
em terras de ninguém.
segunda-feira, 21 de maio de 2012
Jardim platónico
este jardim
com bancos invisíveis
e flores em aço inoxidável
este jardim
com árvores de plástico
e pássaros de papel
este jardim
que tanto amei
despede-se de mim
como um sonho que sonhei...
Desilusão
A desilusão
acordar
e dar-me conta que não acordei,
a desilusão
sonhar que sonhei
sem sonhar
não sei...
a desilusão
tocar no peito
dar-me conta que não tenho coração
nem jeito,
a desilusão
em vão,
a desilusão
bater à porta de entrada
e na estrada
(a desilusão)
de não ter nada
madrugada
nem coração.
domingo, 20 de maio de 2012
Sem destino
Sem destino
leva-me contigo
qualquer lugar
qualquer abrigo
junto ao mar
longe do rio onde brinca o menino
sem destino
leva-me contigo.
sábado, 19 de maio de 2012
entre as torradas e o chá
Em pausa
entre as torradas
e o chá,
em pausa
suspensa nas páginas de um livro
na mão de um cigarro,
em pausa
o meu olhar no imaginário da tarde,
a literatura sufocada
nos teus verdes olhos,
em pausa
entre as torradas,
e o chá
em pausa,
à espera da madrugada.
O amor em desejo
O amor
em desejo
um simples olhar
num beijo
o amor
em flor
semeado nos sorrisos do mar
o amor
em desejo
o amor
que eu vejo
quando desce até mim o luar.
sexta-feira, 18 de maio de 2012
E tu não vens
E tu não vens
ao encontro dos meus braços
à luz dos meus olhos
cansados de esperar
junto à paragem do bus...
e tu não vens
ao encontro dos meus braços
agarrados à saudade
nos lábios do mar
ao longe a cidade
ao longe... o feitiço de amar
mergulhado na paisagem.
quarta-feira, 16 de maio de 2012
desesperadamente só
Desesperadamente
só
entre navalhas de xisto
e sonhos de açúcar
desesperadamente
só
entre a noite que não acorda
e a madrugada que teima em acordar
desesperadamente
só
à beirinha de um rio
sem te encontrar
só
entre navalhas de xisto
e sonhos de açúcar
desesperadamente
só
entre a noite que não acorda
e a madrugada que teima em acordar
desesperadamente
só
à beirinha de um rio
sem te encontrar
terça-feira, 15 de maio de 2012
imagens de néon
havia no teu corpo
uma finíssima sombra de palavras
um uivo de rimas
caminhava desesperadamente sobre a tua pele macia de amanhecer
ainda não tinha acordado o dia
ainda dormias dentro dos poemas de inverno
e na janela da sala
o meu rosto imaginava o longínquo mar de Luanda
havia barcos enferrujados pela solidão
das palmeiras
havia gaivotas poisadas sobre os barcos
enferrujados pela solidão das palmeiras
havia um miúdo à procura de rimas
e rimas à procura de um miúdo
que rabiscava desenhos cansados
no pavimento do porto de mar
onde adormeciam rebocadores
e velhos abraçados a bengalas de pergaminho
(havia no teu corpo
uma finíssima sombra de palavras)
havia vento
e palavras na sombra das palmeiras
havia a solidão
que caminhava na tua pele de desejo
(havia no teu corpo
uma finíssima sombra de palavras)
havia um rio que me conhecia
e me amava
e me abraçava
havia um porto de mar sem número de polícia
havia barcos
e livros deitados nos olhos dos barcos
meu deus – Tanta coisa que havia...
e hoje são apenas imagens de néon
uma finíssima sombra de palavras
um uivo de rimas
caminhava desesperadamente sobre a tua pele macia de amanhecer
ainda não tinha acordado o dia
ainda dormias dentro dos poemas de inverno
e na janela da sala
o meu rosto imaginava o longínquo mar de Luanda
havia barcos enferrujados pela solidão
das palmeiras
havia gaivotas poisadas sobre os barcos
enferrujados pela solidão das palmeiras
havia um miúdo à procura de rimas
e rimas à procura de um miúdo
que rabiscava desenhos cansados
no pavimento do porto de mar
onde adormeciam rebocadores
e velhos abraçados a bengalas de pergaminho
(havia no teu corpo
uma finíssima sombra de palavras)
havia vento
e palavras na sombra das palmeiras
havia a solidão
que caminhava na tua pele de desejo
(havia no teu corpo
uma finíssima sombra de palavras)
havia um rio que me conhecia
e me amava
e me abraçava
havia um porto de mar sem número de polícia
havia barcos
e livros deitados nos olhos dos barcos
meu deus – Tanta coisa que havia...
e hoje são apenas imagens de néon
segunda-feira, 14 de maio de 2012
viagem à lua
a viagem à lua
o rio encharcado de suor
a manhã toda nua
de joelhos no altar-mor,
o terço abraçado
a uma pétala em flor
deus ao teu lado
a escrever versos de amor,
ave maria cheia de graça
que voa sobre o mar
desce uma pomba à praça
levanta-se a manhã do altar.
o rio encharcado de suor
a manhã toda nua
de joelhos no altar-mor,
o terço abraçado
a uma pétala em flor
deus ao teu lado
a escrever versos de amor,
ave maria cheia de graça
que voa sobre o mar
desce uma pomba à praça
levanta-se a manhã do altar.
domingo, 13 de maio de 2012
o menino francisquinho
e zás
caiu o tecto da miséria
sobre a horta da saudade
e traz
o sangue na artéria
e vem de longe a felicidade
e zás
e traz
alimentos biológicos
pimentos
ventos
tomates analógicos
TV digital
e zás
e traz
um bebé prematuro
e traz
e zás
o menino francisquinho
coitadinho
poisado no quintal
barrigudo
pançudo
vem de longe a felicidade
e zás
e traz
a côdea na algibeira
o sangue na artéria
vai para longe a ribeira
e leva a miséria
freguês...
e zás
e traz
vai uma voltinha?
Duas por uma
não custa nada
burguês
dá cá uma notinha
(de cinco, de dez ou de vinte)
ai freguês...
e zás
e traz
o som na espingarda e PUMBA
o sémen de aço
no peito do pedinte
o coração estilhaçado
e o palhaço sem braço
sem pernas nem cansaço
caiu o tecto da miséria
o sangue na artéria
sobre a horta da saudade
um tomate ficou danificado
e um pimento
coitado
como o menino francisquinho
deitado
no ninho
ao vento
sem alimento
sem pensamento
em sofrimento
à espera que cesse a tempestade
caiu o tecto da miséria
sobre a horta da saudade
e traz
o sangue na artéria
e vem de longe a felicidade
e zás
e traz
alimentos biológicos
pimentos
ventos
tomates analógicos
TV digital
e zás
e traz
um bebé prematuro
e traz
e zás
o menino francisquinho
coitadinho
poisado no quintal
barrigudo
pançudo
vem de longe a felicidade
e zás
e traz
a côdea na algibeira
o sangue na artéria
vai para longe a ribeira
e leva a miséria
freguês...
e zás
e traz
vai uma voltinha?
Duas por uma
não custa nada
burguês
dá cá uma notinha
(de cinco, de dez ou de vinte)
ai freguês...
e zás
e traz
o som na espingarda e PUMBA
o sémen de aço
no peito do pedinte
o coração estilhaçado
e o palhaço sem braço
sem pernas nem cansaço
caiu o tecto da miséria
o sangue na artéria
sobre a horta da saudade
um tomate ficou danificado
e um pimento
coitado
como o menino francisquinho
deitado
no ninho
ao vento
sem alimento
sem pensamento
em sofrimento
à espera que cesse a tempestade
prescindir
Podia prescindir
de viver com livros e literatura
de escrever
ler
mas não fumar cigarros
é como fingir
semear orgasmos
no meio da rua
de viver com livros e literatura
de escrever
ler
mas não fumar cigarros
é como fingir
semear orgasmos
no meio da rua
os livros o medo todos os sonhos
travestis
putas
homens honestos
ruas em cidades
aldeias sem ruas
prédios sem janelas
e luas
nuas
sem portas de entrada
jardins floridos
fodidos
a literatura
os livros
o medo
todos os sonhos
na sepultura
putas
homens honestos
ruas em cidades
aldeias sem ruas
prédios sem janelas
e luas
nuas
sem portas de entrada
jardins floridos
fodidos
a literatura
os livros
o medo
todos os sonhos
na sepultura
sábado, 12 de maio de 2012
Vi o vento partir
vi o vento partir
da esplanada na tarde de Agosto
fingi sorrir
sorrir sem gosto,
vi barcos atracados nos muros da insónia
cabeças sem estrelas
línguas afiadas às paredes do inferno,
vi crianças sem pão
sem pátria sem memória
vi o vento partir,
ouvi o silêncio de uma nação
com história
a resistir,
a mentir,
(Vi o vento partir
da esplanada na tarde de Agosto
fingi sorrir
sorrir sem gosto),
a fugir
o povo mastigado
cansado
o povo a fingir
sossegado
a mentir
vi soldados
de punho cerrado
antes de acordar a alvorada
gargantas cortadas em pedaços
sem braços
a madrugada.
da esplanada na tarde de Agosto
fingi sorrir
sorrir sem gosto,
vi barcos atracados nos muros da insónia
cabeças sem estrelas
línguas afiadas às paredes do inferno,
vi crianças sem pão
sem pátria sem memória
vi o vento partir,
ouvi o silêncio de uma nação
com história
a resistir,
a mentir,
(Vi o vento partir
da esplanada na tarde de Agosto
fingi sorrir
sorrir sem gosto),
a fugir
o povo mastigado
cansado
o povo a fingir
sossegado
a mentir
vi soldados
de punho cerrado
antes de acordar a alvorada
gargantas cortadas em pedaços
sem braços
a madrugada.
cansaços de amar
Os olhos
gotículas pétala flor
em cansaços de amar
nos olhos
o perfume de uma flor
quando a noite se suicida no mar
gotículas pétala flor
em cansaços de amar
nos olhos
o perfume de uma flor
quando a noite se suicida no mar
sexta-feira, 11 de maio de 2012
e é tão triste o inverno
Olho-te sem me olhar
nas paredes do inferno,
olho-te em sonhos de sonhar
quando os lençóis do mar
em beijos amar
adormecem sem acordar,
olho-te sem me olhar
nas paredes do inferno,
e é tão triste o inverno...
nas paredes do inferno,
olho-te em sonhos de sonhar
quando os lençóis do mar
em beijos amar
adormecem sem acordar,
olho-te sem me olhar
nas paredes do inferno,
e é tão triste o inverno...
coisas invisíveis
imaginárias
as coisas invisíveis que vivem em mim
os sábados sem cigarros
domingos sem poesia
e hoje
sexta-feira...
(imaginárias
as coisas invisíveis que vivem em mim)
e hoje escrevo num sábado com cigarros
e o domingo sem poesia
e o domingo com nuvens sobre o teu peito
e hoje
sem poesia
domingos deitado dentro de um cubo de vidro
sem janelas
portas...
imaginárias
as coisas invisíveis que vivem em mim
quando me olho no espelho.
as coisas invisíveis que vivem em mim
os sábados sem cigarros
domingos sem poesia
e hoje
sexta-feira...
(imaginárias
as coisas invisíveis que vivem em mim)
e hoje escrevo num sábado com cigarros
e o domingo sem poesia
e o domingo com nuvens sobre o teu peito
e hoje
sem poesia
domingos deitado dentro de um cubo de vidro
sem janelas
portas...
imaginárias
as coisas invisíveis que vivem em mim
quando me olho no espelho.
quinta-feira, 10 de maio de 2012
e coisas banais
A abelha do amor
perde as asas nos lábios de uma pétala
incendeia-se o desejo entre pergaminhos e palavras
e coisas banais
sem sentido
significado
coisas
muitas coisas
tal como as abelhas do amor
sem asas
sem palavras
sem nada
à espera que cresça a madrugada.
perde as asas nos lábios de uma pétala
incendeia-se o desejo entre pergaminhos e palavras
e coisas banais
sem sentido
significado
coisas
muitas coisas
tal como as abelhas do amor
sem asas
sem palavras
sem nada
à espera que cresça a madrugada.
Um dia vou perceber
um dia
vou perceber os teus sonhos
as tuas palavras
os teus anseios...
um dia
quando acordar
vou perceber o silêncios das tuas mãos
e os gemidos do teu olhar
um dia
vou perceber
que as flores são belas
e a noite deslumbrante
um dia
quando acordar
vou perceber
os teus lábios
um dia
vou perceber
quando acordar
que a lua te faz chorar
quando acordar
um dia
vou perceber
que a noite te vai buscar
e das estrelas
vão descer
sorrisos e sonhos e sílabas de algodão
e madeixas de cetim
oiro e mirra e incenso
e todas as ervas invisíveis...
vou perceber os teus sonhos
as tuas palavras
os teus anseios...
um dia
quando acordar
vou perceber o silêncios das tuas mãos
e os gemidos do teu olhar
um dia
vou perceber
que as flores são belas
e a noite deslumbrante
um dia
quando acordar
vou perceber
os teus lábios
um dia
vou perceber
quando acordar
que a lua te faz chorar
quando acordar
um dia
vou perceber
que a noite te vai buscar
e das estrelas
vão descer
sorrisos e sonhos e sílabas de algodão
e madeixas de cetim
oiro e mirra e incenso
e todas as ervas invisíveis...
quarta-feira, 9 de maio de 2012
Lanterna
o feixe de palavras
mistura-se com a minha sombra
dentro do corredor brincam páginas de literatura
e poesia de páginas
amarelas
encarnadas
escuras
com listras de pôr-do-sol
nos lábios do mar
a boca do silêncio alimenta-se do teu corpo
e pingos de saliva subtraem-se às rimas do teu cabelo
a caneta de tinta permanente beija-o
docemente
ajeitando a almofada da solidão
sem braços
sem mão
à procura dos teus desejos
de algodão
no parapeito da janela da biblioteca
abraçados às personagens dos livros de A. Lobo Antunes
o feixe de palavras
mistura-se com a minha sombra
dentro do corredor... páginas de literatura
amarelas
rosas
encarnados
cravos
a lanterna da vida finge orgasmos nas palavras
amarelas
rosas
encarnados
cravos
e o corredor não tem fim
mistura-se com a minha sombra
dentro do corredor brincam páginas de literatura
e poesia de páginas
amarelas
encarnadas
escuras
com listras de pôr-do-sol
nos lábios do mar
a boca do silêncio alimenta-se do teu corpo
e pingos de saliva subtraem-se às rimas do teu cabelo
a caneta de tinta permanente beija-o
docemente
ajeitando a almofada da solidão
sem braços
sem mão
à procura dos teus desejos
de algodão
no parapeito da janela da biblioteca
abraçados às personagens dos livros de A. Lobo Antunes
o feixe de palavras
mistura-se com a minha sombra
dentro do corredor... páginas de literatura
amarelas
rosas
encarnados
cravos
a lanterna da vida finge orgasmos nas palavras
amarelas
rosas
encarnados
cravos
e o corredor não tem fim
e se amanhã eu não conseguir?
E se amanhã eu não conseguir
ressuscitar as palavras
que a noite semeia no meu peito
e se amanhã não existir amanhã
e se hoje começar o amanhã
sem que as palavras assassinadas acordem no papel amarrotado
e o vento
perder o encanto
amanhã sem pássaros sem nuvem onde me pendurar
e se amanhã eu não conseguir
ressuscitar as palavras
e se nunca mais existir amanhã...
e se amanhã os teus lábios
dormirem na minha mão
que a noite semeia no meu peito
(palavras
desenhos
parvoíces)
um calendário
sem dias sem horas sem amanhã
e se amanhã eu não conseguir?
ressuscitar as palavras
que a noite semeia no meu peito
e se amanhã não existir amanhã
e se hoje começar o amanhã
sem que as palavras assassinadas acordem no papel amarrotado
e o vento
perder o encanto
amanhã sem pássaros sem nuvem onde me pendurar
e se amanhã eu não conseguir
ressuscitar as palavras
e se nunca mais existir amanhã...
e se amanhã os teus lábios
dormirem na minha mão
que a noite semeia no meu peito
(palavras
desenhos
parvoíces)
um calendário
sem dias sem horas sem amanhã
e se amanhã eu não conseguir?
terça-feira, 8 de maio de 2012
A fuga
Desapareceram as escadas
de acesso à noite
fugiram todos os papeis
e todos os livros
na parede do quarto
a janela transformou-se em azevinho
com pássaros suspensos nos seus braços
e palavras que voam dentro das asas
(uma sílaba estonteada
procura-me no caixote do lixo)
e uma mimosa em flor
cresce nos meus olhos sem cor
sem desenhos para pintar
sem palavras para assassinar
sou o quê EU?
uma sílaba estonteada
procura-me no caixote do lixo
onde restos de sémen
e pingos de seda
se escondem no azevinho
(pássaros suspensos nos seus braços
e palavras que voam dentro das asas)
ao cair da tarde.
de acesso à noite
fugiram todos os papeis
e todos os livros
na parede do quarto
a janela transformou-se em azevinho
com pássaros suspensos nos seus braços
e palavras que voam dentro das asas
(uma sílaba estonteada
procura-me no caixote do lixo)
e uma mimosa em flor
cresce nos meus olhos sem cor
sem desenhos para pintar
sem palavras para assassinar
sou o quê EU?
uma sílaba estonteada
procura-me no caixote do lixo
onde restos de sémen
e pingos de seda
se escondem no azevinho
(pássaros suspensos nos seus braços
e palavras que voam dentro das asas)
ao cair da tarde.
Hoje Sem sonhos Sem lábios Sem mar
Hoje
sem sonhos
ontem
com o mar
hoje
sem noite
sem lábios
hoje
sem sonhos
ontem
com sonhos
hoje
sem palavras
ontem
sem sonhos
sem noite
sem lábios
hoje
hoje
um dia perfeitamente parvo
sem livros
sem sol
ontem
com chuva
hoje
hoje
ontem junto ao rio
em conversas
hoje
hoje
sem mar
sem sonhos
sem palavras
sem sonhos
ontem
com o mar
hoje
sem noite
sem lábios
hoje
sem sonhos
ontem
com sonhos
hoje
sem palavras
ontem
sem sonhos
sem noite
sem lábios
hoje
hoje
um dia perfeitamente parvo
sem livros
sem sol
ontem
com chuva
hoje
hoje
ontem junto ao rio
em conversas
hoje
hoje
sem mar
sem sonhos
sem palavras
segunda-feira, 7 de maio de 2012
Esconderijo
Dentro de uma língua de silêncio
escondes os teus lábios,
no mar
deixas ficar os sonhos
e as gotinhas de orvalho,
nos cortinados da madrugada
abres a janela do desejo
e uma gaivota de prazer
voa sobre os teus olhos de maré
antes da chegada do pôr-do-sol,
a lua do teu ventre
mingua no interior das estrelas de algodão
e todos os pássaros às bicadas a uma mão
que o corpo do homem em solidão
deixou ficar juntamente com os sonhos,
o vento leva tudo
e o mar
no mar
em busca dos meus ossos,
e o mar
no mar
as minhas palavras em congestão
depois do pequeno-almoço,
Dentro de uma língua de silêncio
escondes os teus lábios,
no mar...
e o mar
deitado no teu peito de púrpura amanhecer.
escondes os teus lábios,
no mar
deixas ficar os sonhos
e as gotinhas de orvalho,
nos cortinados da madrugada
abres a janela do desejo
e uma gaivota de prazer
voa sobre os teus olhos de maré
antes da chegada do pôr-do-sol,
a lua do teu ventre
mingua no interior das estrelas de algodão
e todos os pássaros às bicadas a uma mão
que o corpo do homem em solidão
deixou ficar juntamente com os sonhos,
o vento leva tudo
e o mar
no mar
em busca dos meus ossos,
e o mar
no mar
as minhas palavras em congestão
depois do pequeno-almoço,
Dentro de uma língua de silêncio
escondes os teus lábios,
no mar...
e o mar
deitado no teu peito de púrpura amanhecer.
O centro da noite
Às palavras
o pavor de acordar no centro da noite
puxar de um cigarro
e não existirem cigarros
puxar de um livro
e dentro do livro
nada
simplesmente folhas de papel
sem palavras
sem rostos
sem cigarros
e tudo morre dentro do sonho.
o pavor de acordar no centro da noite
puxar de um cigarro
e não existirem cigarros
puxar de um livro
e dentro do livro
nada
simplesmente folhas de papel
sem palavras
sem rostos
sem cigarros
e tudo morre dentro do sonho.
domingo, 6 de maio de 2012
À minha terra
De onde eu vinha
não sabia para onde ia
e que um dia
eu iria
perceber
que não sabendo
eu sabia
que um dia
regressaria
à terra que me viu nascer
na terra onde quero morrer.
(Paquete Império)
A noite de brincar
Quando a noite se esquece de acordar
e no jardim dos plátanos uma criança a chorar
quando da noite crescem sonhos de sonhar
e encerrada
a janela para o mar
quando finge amar
a porta da madrugada
quando a noite não tem mais nada
e há palavras de brincar
quando a noite magoada
se esconde no luar
(Quando a noite se esquece de acordar
e no jardim dos plátanos uma criança a chorar)
quando um barco embriagado
se cansa de navegar
porque a noite de brincar
morreu a abraçar
o menino de chorar
coitado...
e no jardim dos plátanos uma criança a chorar
quando da noite crescem sonhos de sonhar
e encerrada
a janela para o mar
quando finge amar
a porta da madrugada
quando a noite não tem mais nada
e há palavras de brincar
quando a noite magoada
se esconde no luar
(Quando a noite se esquece de acordar
e no jardim dos plátanos uma criança a chorar)
quando um barco embriagado
se cansa de navegar
porque a noite de brincar
morreu a abraçar
o menino de chorar
coitado...
sábado, 5 de maio de 2012
Alucinação
Oiço a musicalidade do teu olhar rodopiando nos meus lábios, na minha boca seca encostas a tua língua adormecida pela noite de lua cheia, estás nua, e calças as galochas pretas...
(nada desta merda aconteceu; efeitos secundários do Champix)
Tecto da insónia
Deixei de perceber
as manhãs de primavera
deixei de olhar as plantas
e os pássaros de meu jardim,
deixei de escrever
palavras nas paredes do meu quarto,
cerrei a janela,
a porta,
e destruí a lâmpada de halogéneo
suspensa no tecto da insónia.
as manhãs de primavera
deixei de olhar as plantas
e os pássaros de meu jardim,
deixei de escrever
palavras nas paredes do meu quarto,
cerrei a janela,
a porta,
e destruí a lâmpada de halogéneo
suspensa no tecto da insónia.
sexta-feira, 4 de maio de 2012
Nem que o coração me implore
Conheci um diário com o coração partido, pequeníssima fenda, mas para um coração dois milímetros é gravíssimo, desastroso,
Ouvia-lhe o ruído das engrenagens junto à fechadura, ouvia-lhe o tilintar de suspiros na tempestade da tarde, ouvia-lhe
as palavras derramadas no papel de parede, desenhos abstractos misturados com pedacinhos de poeira, e fumo de cigarro que embaciavam as lentes dos óculos do diário com o coração partido,
Hoje acordei cedo, abri a janela e a madrugada tinha desaparecido, evaporou-se no interior da alvorada antes da iluminação pública cerrar-se hermeticamente na chávena de café com leite, as torradas sonâmbulas dentro da minha boca recusaram-se à destruição maciça por parte dos meus dentes e o comprimido para deixar de fumar entrou garganta abaixo e possivelmente em sorrisos parvos, e possivelmente, sentou-se junto ao mar,
dois milímetros de uma janela no coração do meu diário, 4 de Maio de 2012, sete horas e trinta minutos,
Chove torrencialmente no meu quintal, um casal de melros a todo o custo protege as crias que adormecem no ninho pendurado na cerejeira sobre a casota do meu cão, pais e filhos estão felizes e o meu cão que detesta chuva está melancólico, triste, ausente, chove torrencialmente no meu quintal e pergunto-me ao olhar a janela de dois milímetros no meu coração se amanhã é sexta-feira ou quinta-feira ou domingo, é que com tanta chuva deixei de perceber os dias, as horas, os minutos e os segundos,
dois milímetros de uma janela no meu coração sem vista para o mar, chove torrencialmente no meu diário e lá fora, e lá fora o coração partido aos pulos como se fosse um pugilista ou um canguru nas margens de um qualquer rio encalhado na Austrália, talvez no Tua, talvez no Douro, talvez no jardim onde brincam plátanos e barcos de papel, talvez na minha mão
Conto os segundos, e oiço através da pequeníssima ranhura do coração do meu diário que hoje é sexta-feira, e se hoje é sexta-feira amanhã é sábado, dia de Antologia de Poesia Moçambicana, finalmente, finalmente as palavras do meu diário a boiarem dentro da chávena de café com leite, finalmente posso terminar o dia porque hoje, porque hoje recuso-me a escrever mais palavras nas suas páginas, nem que o coração me implore,
nunca mais vi o mar, e junto à fechadura o tilintar de suspiros na tempestade da tarde, ouvia-lhes as sílabas assassinas da noite antes de chegar a noite, ouvia-lhes as vogais embriagadas das estrelas antes de a noite ser noite e muito antes de encerrar o meu diário, muitos antes de saber o significado de mar,
Nem que o coração me implore.
(texto de ficção não revisto)
O limite do amor de X
O que é o amor?
Nuvem
pássaro
avião
uma gaivota sem asas?
Uma pedra sem coração
ou uma mão?
Não
será o amor
uma flor
e uma flor
o desejo do amor?
E uma pedra?
Ama
é amada
desejada
ou simplesmente contemplada...
(O que é o amor?
Nuvem
pássaro
avião
uma gaivota sem asas?
Uma pedra sem coração
ou uma mão?
Não)
o limite do amor de X é infinitamente grande
quando o X tende para o desejo.
Nuvem
pássaro
avião
uma gaivota sem asas?
Uma pedra sem coração
ou uma mão?
Não
será o amor
uma flor
e uma flor
o desejo do amor?
E uma pedra?
Ama
é amada
desejada
ou simplesmente contemplada...
(O que é o amor?
Nuvem
pássaro
avião
uma gaivota sem asas?
Uma pedra sem coração
ou uma mão?
Não)
o limite do amor de X é infinitamente grande
quando o X tende para o desejo.
quinta-feira, 3 de maio de 2012
A morte dos cigarros
Conheci uma mulher que dançava em cima de uma mesa,
- Olho o cadáver do cigarro prisioneiro nos pergaminhos das acácias da tarde, aos poucos uma nuvem cinzenta em pequeníssimos voos desaparece na fotografia onde me escondo junto ao Tejo, e percebo
E percebo que a mulher que dançava sobre a mesa está apaixonada pela fotografia onde me escondo, e que em todas as palavras que escrevi existe uma palavra invisível que só a mulher da fotografia consegue ler, que só eu consigo ler, SOLIDÃO,
- SOLIDÃO com feijão, SOLIDÃO com pão, SOLIDÃO de cabidela porque Não?
Peço ao cadáver do meu último cigarro que tenha paciência com o meu desespero, e que não faça mal à fotografia onde me escondo e aparece a mulher que dançava sobre a mesa, lembro-me como se fosse hoje, lembro-me de ver os cigarros embalsamados no cemitério de um bar em Alcântara, lembro-me de olhar para as nuvens suspensas no tecto e o tecto em pedacinhos de lã desaparecia em direcção ao rio, lembro-me da mulher vestida de negro a dançar em cima de uma mesa envelhecida e que de tempos a tempos, que em cadências malignas, rangia em desejos de orgasmo com sabor a Vodka,
- Lembro-me da SOLIDÃO dentro de um copo com três pedras de gelo, e desde então, tudo parece dormir em cima da mesa de madeira, restos de saliva pertencentes aos lábios da mulher vestida de negro aparecem e desaparecem no céu, depois de apagar a luz do quarto sem acesso ao telhado, lembro-me de sonhar com o acesso ao telhado,
Eu, a SOLIDÃO e a Vodka, os três em cima do telhado e três pedras de gelo, e lá de cima pintávamos os passos da mulher vestida de negro a dançar sobre a mesa de madeira, eu escrevia nas nádegas do silêncio os sussurros da mulher vestida de negro, a SOLIDÃO acariciava as mamas da Vodka com três pedras de gelos junto ao púbis, e os cigarros morriam
- É hoje,
Deus queira que seja hoje.
(texto de ficção não revisto)
quarta-feira, 2 de maio de 2012
Promoção
Piolhos com cinquenta por cento de desconto
em cartão
sem promoção
nem talão
vaginas tricolores
flores
meninas com tractores
em cartão
sem promoção
nem talão
com cinquenta por cento de desconto
desempregados em cartão
sem promoção
nem talão
com cinquenta por cento de desconto
Piolhos
em cartão
sem promoção
nem talão
com cinquenta por cento de desconto
um galo de Barcelos
ou um caralho das caldas
tudo em promoção
em cartão
com cinquenta por cento de desconto...
um tostão
em cartão
sem promoção
nem talão
(um galo de Barcelos
ou um caralho das caldas)
tudo em promoção
o pão
o sabão
e a prisão.
em cartão
sem promoção
nem talão
vaginas tricolores
flores
meninas com tractores
em cartão
sem promoção
nem talão
com cinquenta por cento de desconto
desempregados em cartão
sem promoção
nem talão
com cinquenta por cento de desconto
Piolhos
em cartão
sem promoção
nem talão
com cinquenta por cento de desconto
um galo de Barcelos
ou um caralho das caldas
tudo em promoção
em cartão
com cinquenta por cento de desconto...
um tostão
em cartão
sem promoção
nem talão
(um galo de Barcelos
ou um caralho das caldas)
tudo em promoção
o pão
o sabão
e a prisão.
Navio sem nome
E o navio se esconde
e o navio se abraça,
e o navio sem nome
procura outro navio ou barcaça,
e o navio com fome
na cidade da desgraça
sem nome
sem graça.
e o navio se abraça,
e o navio sem nome
procura outro navio ou barcaça,
e o navio com fome
na cidade da desgraça
sem nome
sem graça.
terça-feira, 1 de maio de 2012
Quatro paredes de ardósia
Limito-me a quatro paredes
de ardósia
e ao cheiro do mar,
limito-me às palavras de argila
semeadas nas tardes imaginárias
sem mendicidade
sem saudade
na cidade,
Limito-me a quatro paredes
de ardósia
e ao cheiro do mar,
sentado
não sabendo
que sendo amado
vou lendo...
um livro cansado,
ao acordar,
e ao cheiro do mar,
limito-me sofrendo não sofrer
sem perceber que a noite é como a morte
sem sorte
dentro de um corredor profundo
o mundo
ao adormecer.
de ardósia
e ao cheiro do mar,
limito-me às palavras de argila
semeadas nas tardes imaginárias
sem mendicidade
sem saudade
na cidade,
Limito-me a quatro paredes
de ardósia
e ao cheiro do mar,
sentado
não sabendo
que sendo amado
vou lendo...
um livro cansado,
ao acordar,
e ao cheiro do mar,
limito-me sofrendo não sofrer
sem perceber que a noite é como a morte
sem sorte
dentro de um corredor profundo
o mundo
ao adormecer.
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