e zás
caiu o tecto da miséria
sobre a horta da saudade
e traz
o sangue na artéria
e vem de longe a felicidade
e zás
e traz
alimentos biológicos
pimentos
ventos
tomates analógicos
TV digital
e zás
e traz
um bebé prematuro
e traz
e zás
o menino francisquinho
coitadinho
poisado no quintal
barrigudo
pançudo
vem de longe a felicidade
e zás
e traz
a côdea na algibeira
o sangue na artéria
vai para longe a ribeira
e leva a miséria
freguês...
e zás
e traz
vai uma voltinha?
Duas por uma
não custa nada
burguês
dá cá uma notinha
(de cinco, de dez ou de vinte)
ai freguês...
e zás
e traz
o som na espingarda e PUMBA
o sémen de aço
no peito do pedinte
o coração estilhaçado
e o palhaço sem braço
sem pernas nem cansaço
caiu o tecto da miséria
o sangue na artéria
sobre a horta da saudade
um tomate ficou danificado
e um pimento
coitado
como o menino francisquinho
deitado
no ninho
ao vento
sem alimento
sem pensamento
em sofrimento
à espera que cesse a tempestade
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