quinta-feira, 3 de maio de 2012

A morte dos cigarros


Conheci uma mulher que dançava em cima de uma mesa,
- Olho o cadáver do cigarro prisioneiro nos pergaminhos das acácias da tarde, aos poucos uma nuvem cinzenta em pequeníssimos voos desaparece na fotografia onde me escondo junto ao Tejo, e percebo
E percebo que a mulher que dançava sobre a mesa está apaixonada pela fotografia onde me escondo, e que em todas as palavras que escrevi existe uma palavra invisível que só a mulher da fotografia consegue ler, que só eu consigo ler, SOLIDÃO,
- SOLIDÃO com feijão, SOLIDÃO com pão, SOLIDÃO de cabidela porque Não?
Peço ao cadáver do meu último cigarro que tenha paciência com o meu desespero, e que não faça mal à fotografia onde me escondo e aparece a mulher que dançava sobre a mesa, lembro-me como se fosse hoje, lembro-me de ver os cigarros embalsamados no cemitério de um bar em Alcântara, lembro-me de olhar para as nuvens suspensas no tecto e o tecto em pedacinhos de lã desaparecia em direcção ao rio, lembro-me da mulher vestida de negro a dançar em cima de uma mesa envelhecida e que de tempos a tempos, que em cadências malignas, rangia em desejos de orgasmo com sabor a Vodka,
- Lembro-me da SOLIDÃO dentro de um copo com três pedras de gelo, e desde então, tudo parece dormir em cima da mesa de madeira, restos de saliva pertencentes aos lábios da mulher vestida de negro aparecem e desaparecem no céu, depois de apagar a luz do quarto sem acesso ao telhado, lembro-me de sonhar com o acesso ao telhado,
Eu, a SOLIDÃO e a Vodka, os três em cima do telhado e três pedras de gelo, e lá de cima pintávamos os passos da mulher vestida de negro a dançar sobre a mesa de madeira, eu escrevia nas nádegas do silêncio os sussurros da mulher vestida de negro, a SOLIDÃO acariciava as mamas da Vodka com três pedras de gelos junto ao púbis, e os cigarros morriam
- É hoje,
Deus queira que seja hoje.

(texto de ficção não revisto)

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