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sábado, 14 de outubro de 2023

A minha rua



É noite nos teus olhos,

Meu amor,

É noite nos teus olhos,

E do outro lado da rua,

Procuro a outra rua,

A rua da minha ausência,

É noite, meu amor,

É noite e do outro lado da rua,

Procuro a tua rua,

A rua das flores,

A rua dos jardins suspensos da Babilónia…

É noite, meu amor,

É noite no outro lado da rua,

É noite nos teus olhos, meu amor,

E procuro as tuas mãos,

E procuro os teus lábios…

Do outro lado da rua,

Em frente à minha rua…

Junto ao mar.

 

14/10/2023

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Uma rua dentro de ti, meu amor.

foto de: A&M ART and Photos

Há uma rua dentro de ti, meu amor, que sente o medo da solidão,
há nos teus cabelos de folha caduca nuvens de maré adormecida,
veias em combustão,
transeuntes insignificantes com mãos de porcelana,
rios, mares, e barcos de aço apodrecido,
há uma rua dentro de ti, meu amor,
deserta, húmida... uma rua sem nome, idade, como uma criança que brinca,
como um pedestal que espera pelo meu corpo de silêncio,
há palavras de ti, meu amor, palavras com fotografia para a montanha,
o medo,
o medo que em ti se entranha,
e te absorve,

submerges-te nas cavernas dos prisioneiros marinheiros embriagados,
há uma rua dentro de ti, meu amor, uma rua esquecida na madrugada,
uma rua sem maldade,
como tu, como eu... duas ruas de costas voltadas para o luar,

há uma rua dentro de ti, meu amor, com ranhuras, com palheiros recheados de desejo,
corpos misturados em pedaços de papel,
há em ti o beijo,
uma carícia disfarçada de amanhecer,
há uma rua, meu amor, uma rua que não dorme, uma rua que tem lágrimas, uma rua nua, deserta, uma rua revestida de pedra,
há uma rua, meu amor, uma rua como os teus olhos sem cor,
como as tuas pálpebras em flor,
há em ti, meu amor, a paixão, o inferno, a tristeza... e há em ti o poema em construção,
as palavras mortas, as palavras perdidas no rio dos arbustos empalhados,
há uma rua, meu amor, uma rua com homens falhados, como eu, como eu...
um homem falhado filho da rua, como eu... como eu, um homem em forma de rua,
mas... quem, mas quem és tu, meu amor? Existes? Vives e choras? Sofres?... como eu, como eu...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 23 de Fevereiro de 2014

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Janelas envenenadas

foto de: A&M ART and Photos

Aqui sei que me esperas como janelas envenenadas
aqui sei que me amas
e desejas
sempre que o cortinado tomba e dele se derrama o líquido chamado de solidão...
aqui tenho-te dentro de mim
aqui sou eu
aqui... aqui somos livres de amar
desejar
possuir esqueletos com asas em papel
e és gira com vestidos de napa
derretida nos límpidos tecidos do teu insignificante corpo encurvado
ao leme o velho monstro de quatro cabeças...

Confessas-me que tens velas de seda
… e desejas tanto o vento como a sombra da minha mão...
vaidosa
pareces uma pomba com sandálias de porcelana
Princesa
invejosa...

Aqui confundo-me com as árvores envelhecidas
onde poisam pássaros recheados de reumatismo
e bicos de papagaio...
aqui sou feliz
aqui
aqui vivo percebendo que a vida é uma roldana
uma velha roda dentada
gasta
sem dentes
sem nada
aqui sei que me esperas como janelas envenenadas
e quando desce a lua sobre os teus seios... apenas oiço o suspiro das calçadas

Aqui já fui o Príncipe das Avenidas gastas
o velho escorpião dos bares nocturnos do prazer
aqui fui o velho marinheiro
o cachimbo de água do confuso poeta escritor aldrabão e impostor...
aqui vivo
e aqui morrerei como uma serpente enrolada no pescoço da saudade

Aqui
aqui... serei o teu cadáver depois de travestido em fúnebre jarra parda com flores plastificadas
cansadas e tristes e aqui...
aqui... perdi-me de ti enquanto voavam as gaivotas dos círios cabelos castanhos da montanha.


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 17 de Dezembro de 2013

quarta-feira, 27 de março de 2013

Hoje é dia de festa

foto: A&M ART and Photos

Esta varanda que me alicerça o corpo às marés vazias, este ar e esta sensação de silêncio, que aprisiona os meus braços ao vento filho da rua das traseiras, este medo, esta manhã distante das estrelas complexas do nocturno céu da tua boca, uma janela, e
O espelho de ontem procurando a saliva de hoje,
Esta varanda que me aperta o coração, sabendo eu, que há muito deixei de ter coração, cabeça, prazeres, solidões de tempestades ao romper a madrugada num cenário de papel, os actores sentados na plateia, os artistas de circo que a infância semeou no capim junto aos Coqueiros, não sei, mas acredito que um dia vão voltar, também eles, sentados na plateia, ao jantar, os pratos vazios misturam-se com o público em círculos no palco, e começa o espectáculo
A vida de uma mulher de veludo, encenação de mim, e direcção de actores, também de mim, a tenda levita de quando em quando, saltita como seios roxos com pintinhas brancas e flores amarelas, e dizem que o mar entra pela porta da varanda, ela submissa na chávena de café olhando pensativamente a rua em ruínas como gaivotas órfãs pedindo esmola no cais das camélias abandonadas,
(solidões de tempestades ao romper a madrugada num cenário de papel, os actores sentados na plateia, os artistas de circo que a infância semeou no capim junto aos Coqueiros, não sei, mas acredito que um dia vão voltar, também eles, sentados na plateia, ao jantar, os pratos vazios misturam-se com o público em círculos no palco, e começa o espectáculo)
E começa
O
Circo,
E começa
O
Teatro,
E começa o espectáculo dos pratos vazios sobre uma mesa de vidro, ela, a mulher de veludo, refugia-se na varanda da vergonha, bebe café e aquece as mãos com o medo da fome, inventam-lhe alcunhas, e obriga-se a submergir-se nos oceanos dos pilares de madeira depois de o vento abandonar as crianças e os idosos..., na esplanada dos olivais encalhados na serra do desassossego, há um rio doente, rio que sobe as escadas, e leva a mulher de veludo, e leva o corpo de uma mulher fingindo alegria
Viva a alegria, Alegria, Alegria, Hoje é dia de festa,
Meninos e meninas,
Senhoras e senhores,
Respeitável público..., A senhora de Veludo!
E os cortinados mergulhavam na solidão, e havia a tristeza disfarçada de fome, quando os pratos vazios, e os talheres, e os guardanapos..., voavam entre paredes da cozinha,
O espelho de ontem procurando a saliva de hoje,
Na varanda,
E não regresses, eu a ouvi-los, os pássaros nas plataformas sobre as ruas em obras, telefona-me tá, e claro que não tá, nunca esteve, nunca estará, vestida, forte, de pé como uma estátua de bronze, pensava eu, na varanda, nua, uma janela em gemidos quando alguém tentava encerrá-la..., e claro, quem, digam-me, quem gosta de ser encerrado? Digam-me, quem gosta de ser aprisionado? Ninguém, ninguém, ninguém havia quando a terra começou a tremer, ela aos poucos, como pedaços de papel, desmoronou-se, de
Pedaço em pedaço,
De
Letra em letra,
Até chegar a palavra, chega, basta...
Fim.

(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 29 de maio de 2012

do outro lado da rua


do outro lado da rua
nua
ela crucificada nos ponteiros do relógio
nua

a tarde dentro da porta da noite
do outro lado
a rua

ela
ela nua do outro lado da rua
doze badaladas
meio dia
a felicidade dentro do alpendre
sem janelas

há urtigas em filetes
e framboesa
e do jantar
maionese com ilustrações
desenhos em areia
velas lírios à sobremesa

do outro lado da rua
ela
eu nela nua
a tarde sem literatura