foto de: A&M ART and Photos
|
Há uma rua dentro de ti, meu amor, que
sente o medo da solidão,
há nos teus cabelos de folha caduca
nuvens de maré adormecida,
veias em combustão,
transeuntes insignificantes com mãos
de porcelana,
rios, mares, e barcos de aço
apodrecido,
há uma rua dentro de ti, meu amor,
deserta, húmida... uma rua sem nome,
idade, como uma criança que brinca,
como um pedestal que espera pelo meu
corpo de silêncio,
há palavras de ti, meu amor, palavras
com fotografia para a montanha,
o medo,
o medo que em ti se entranha,
e te absorve,
submerges-te nas cavernas dos
prisioneiros marinheiros embriagados,
há uma rua dentro de ti, meu amor, uma
rua esquecida na madrugada,
uma rua sem maldade,
como tu, como eu... duas ruas de costas
voltadas para o luar,
há uma rua dentro de ti, meu amor, com
ranhuras, com palheiros recheados de desejo,
corpos misturados em pedaços de papel,
há em ti o beijo,
uma carícia disfarçada de amanhecer,
há uma rua, meu amor, uma rua que não
dorme, uma rua que tem lágrimas, uma rua nua, deserta, uma rua
revestida de pedra,
há uma rua, meu amor, uma rua como os
teus olhos sem cor,
como as tuas pálpebras em flor,
há em ti, meu amor, a paixão, o
inferno, a tristeza... e há em ti o poema em construção,
as palavras mortas, as palavras
perdidas no rio dos arbustos empalhados,
há uma rua, meu amor, uma rua com
homens falhados, como eu, como eu...
um homem falhado filho da rua, como
eu... como eu, um homem em forma de rua,
mas... quem, mas quem és tu, meu amor?
Existes? Vives e choras? Sofres?... como eu, como eu...
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 23 de Fevereiro de 2014
Sem comentários:
Enviar um comentário