domingo, 23 de fevereiro de 2014

Uma rua dentro de ti, meu amor.

foto de: A&M ART and Photos

Há uma rua dentro de ti, meu amor, que sente o medo da solidão,
há nos teus cabelos de folha caduca nuvens de maré adormecida,
veias em combustão,
transeuntes insignificantes com mãos de porcelana,
rios, mares, e barcos de aço apodrecido,
há uma rua dentro de ti, meu amor,
deserta, húmida... uma rua sem nome, idade, como uma criança que brinca,
como um pedestal que espera pelo meu corpo de silêncio,
há palavras de ti, meu amor, palavras com fotografia para a montanha,
o medo,
o medo que em ti se entranha,
e te absorve,

submerges-te nas cavernas dos prisioneiros marinheiros embriagados,
há uma rua dentro de ti, meu amor, uma rua esquecida na madrugada,
uma rua sem maldade,
como tu, como eu... duas ruas de costas voltadas para o luar,

há uma rua dentro de ti, meu amor, com ranhuras, com palheiros recheados de desejo,
corpos misturados em pedaços de papel,
há em ti o beijo,
uma carícia disfarçada de amanhecer,
há uma rua, meu amor, uma rua que não dorme, uma rua que tem lágrimas, uma rua nua, deserta, uma rua revestida de pedra,
há uma rua, meu amor, uma rua como os teus olhos sem cor,
como as tuas pálpebras em flor,
há em ti, meu amor, a paixão, o inferno, a tristeza... e há em ti o poema em construção,
as palavras mortas, as palavras perdidas no rio dos arbustos empalhados,
há uma rua, meu amor, uma rua com homens falhados, como eu, como eu...
um homem falhado filho da rua, como eu... como eu, um homem em forma de rua,
mas... quem, mas quem és tu, meu amor? Existes? Vives e choras? Sofres?... como eu, como eu...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 23 de Fevereiro de 2014

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