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quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

 

Tenho um blogue no SAPO apelidado

 

Cachimbo de Água

 

Tenho dúvidas em continuar este

blogue como

 

Orgasmo

Literário

 

Ou

 

Cachimbo de Água

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

terça-feira, 13 de março de 2012

As coxas da noite

Quem sou,
Das mãos mergulhadas em mim sorri a claraboia da solidão, o cais emagrece no final de tarde, das mãos mergulhadas em mim os teus lábios embebidos nas lágrimas do paquete de partida para Lisboa, a cidade afunda-se nas mãos mergulhadas em mim, a cidade aos poucos longe e desaparece entre as palmeiras,
É noite
- Quem sou?
Na algibeira dos sonhos, é noite no sorriso das árvores, é noite
- Quem sou Mãos mergulhadas em ti quando poisas as pétalas dos teus olhos nos meus lábios, Quem sou,
É noite dentro da alvorada sem janelas para o mar, e ao longe engasga-se o rabugento paquete cansado de navegar,
- Detesto os teus versos, detesto as tuas palavras e todas as merdas que desenhas, Quem és?, uma fogueira que se alimenta de papéis e palavras e riscos e cores e de nada…
Um cachimbo de água entalado nas coxas da noite
- Talvez,
É isso que sou, um misero cachimbo de água comprado a um Marroquino abraçado às nádegas cinzentas da maré, Cais de Sodré, Cais de Sodré tem os seus encantos, e quando me sentava
- Pagas um copo Riqueza?
As meninas vestidas de algodão doce pareciam gotinhas de saliva, e eu, e eu quem sou?, e eu apenas procurava o silêncio, e eu não queria engatar nem ser engatado,
- Um cachimbo de água entalado nas coxas da noite e das mãos mergulhadas em mim sorri a claraboia da solidão, e quando me sentava sentia o meu corpo voar sobre a escuridão do Tejo,
Cais de Sodré tem os seus encantos, e eu perdia-me nos cigarros antes de descer ao poço do inferno, ziguezagueando subia a calçada em sílabas embriagadas, sentia que me seguiam, ouvia-lhe os gemidos,
- Pagas um copo Riqueza?
E que não Respondia-lhe a algibeira dos sonhos.

(texto de ficção)
Obrigado

quinta-feira, 1 de março de 2012

Nas tardes de Luanda (em destaque no Sapo Angola)


Nas tardes de Luanda

Em criança queria ser estilista e nas tardes de Luanda embrulhado em trapos e agulhas e picadelas de agulha construía vestidos para um parvalhão de um boneco apelidado de chapelhudo, e quando penso no Carlos Manuel pergunto-me,
- Qual o parvalhão que batiza um parvalhão de um boneco de chapelhudo,
E em sorrisos pregados na umbreira abraçados à sombra das mangueiras respondia
- Eu,
Queria ser estilista em criança e nas tardes de Luanda ouvia-se o mar quando descia do céu e poisava sobre o ferrugento triciclo onde o parvalhão do chapelhudo entre provas e desaprovas adormecia em corridas de taxímetro e os machimbombos em círculos e círculos e circos onde trapezistas e malabaristas e miúdas de minissaia dançavam sobre o arame invisível da noite,
- Eu Dizia-me ele quando nos sentávamos no jardim e conversávamos sobre sonhos e nunca me esqueço de quando me perguntou O que queres ser quando fores grande?, e eu pensava e eu pensava e engasgado no sorvete do Baleizão respondia-lhe Não ser grande,
Quero ser um petroleiro ziguezagueando nas nuvens do pôr-do-sol e alimentar-me de vento e de espuma do mar, e quando penso no Carlos Manuel pergunto-me,
- Parvalhão
Claro que me importo
Parvalhão que batiza um boneco de chapelhudo,
De ser grande e deixar de ver o mar a descer do céu e poisar sobre o ferrugento triciclo a tarde misturada nos silêncios do capim e dos pássaros fingindo que eram aviões E qual aviões menino E sempre soube que eram pássaros e sempre soube
- Claro que me importo,
Que o circo era a fingir, e sempre soube que a menina que andava a cavalo em frente ao portão do quintal era a fingir, e sempre soube que os petroleiros não ziguezagueiam e se ziguezagueiam é porque estão embriagados e tão pouco se alimentam de vento e de espuma do mar,
- Se me importo?
Claro que me importo quando passa por mim o Carlos Manuel com o chapelhudo ao colo que em criança queria ser estilista e nas tardes de Luanda embrulhado em trapos e agulhas e picadelas de agulha construía vestidos e hoje mora numa pensão de Cais de Sodré e quando acorda a noite veste-se de Marilú e senta-se numa pedra junto ao Tejo a enrolar cigarros e a chamar pelo mar,
- Parvalhão,
O mar.

(texto de ficção)