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sábado, 18 de abril de 2015

Deitar só…


Hoje

Conversei com a noite

Como estás?

Há tanto tempo que não te via…

Estou

Aqui

Estou bem

Obrigado

Percebo que o amor

É um poema de “merda”

Amar é sofrer

Preferia resolver

 

Equações complexas

Davam-me mais prazer

E não tinha medo de perder…

Aquilo que nunca tive

Regressar a ti

Aos teus braços de constelação apaixonada

A essência dos delírios em Cais do Sodré

Não é

Meu amor

O passado

Uma fotografia do futuro?

O amor é orgasmo

 

(li hoje num poema de uma amiga)

O amor é orgasmo

É silêncio

Na boca da esperança

Perdia-a

Perdi-me

Nas tuas avenidas

De luz

Com pontes

As matrizes

Deambulando nos teus seios

Os dardos do sofrimento

 

Todos

Eles

No meu peito de granito

Perdi as lágrimas

E o futuro

Vivo

Acreditando que não vivo

Escrevo

Mas sei que não escrevo

Tenho medo

Daquilo que os outros pensam

É maluquinho…

 

Poemas de amor…

Já ninguém os escreve

Há nas ruas da minha solidão

O fantasma da velhice

Acordar

E

Deitar

Só…

Os alfinetes da saudade

Imaginados

Nas nádegas dos orgasmos invisíveis…

Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii

 

Os cortinados envenenados pela paixão

Meu amor

Nas nádegas o sorriso da censura

Nada espero de ti

Porque nunca esperei nada

De nada

Apenas dos orgasmos meu amor

Das palavras

Entre palavras

Dois corpos de palavras

O amor

Os solitários

 

Os beijos desenhados nas cancelas da madrugada

Não encontra o número do cubículo

Procura na algibeira as chaves do púbis enganado

Ele

Desempregado

Das palavras

Entre palavras

Gemidos

Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii

E a vida termina…

Numa ruela

Sem… sem saída.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 18 de Abril de 2015

domingo, 5 de abril de 2015

O triste silêncio das âncoras de prata…


Não sei a quem pertencem os teus olhos

Esboçando sombreadas canções nos meus braços

A luz incendeia a noite em despedida

Não sei a quem pertencem

Os olhos

As cidades

E os distantes lugares

Dos teus lábios

Lábios

Em chamas

Sinto as nuvens nos meus ombros

E tenho nas pálpebras

As húmidas manhãs de Primavera

Os olhos

Não sei

Como às palavras roubadas

Enquanto os pigmentos da paixão

Alicerçavam as cordas da prisão

O cais

O teu corpo fundeado em mim

Respirando as sílabas do primeiro encontro

O cruzamento

A estrada da vida congestionada

E os olhos

E as palavras

Lábios

Em chamas

Esboçando…

Clarabóias de medo

Nas frestas do silêncio

O amor

A solidão vestida de amor

Lá fora

Os olhos

Numa fotografia de família

Os pais

Os irmãos

E

E os olhos

Lá fora

Nas palavras

Sempre as palavras dos teus seios

Nas rodas dentadas do desejo

A claridade das tuas coxas

Os olhos

A boca

O sémen estampado numa tela

Branca

Negra

A noite

Vens

Desces os socalcos do prazer

Despes-te e danças para o espelho da melancolia

E o amor

Vens

Despes-te

Nos olhos

Dos olhos

O poema brincando na tua pele de madrugada

Acabada de nascer

Apagam-se as personagens dos versos

Ficam na tua roupa

Como cadáveres de espuma

Fingindo orgasmos

E Domingos num parque infantil

Brincando

Nos olhos

Os olhos

Nas palavras

E nos destinos mais escondidos da tua mão…

As cidades respiram

Meu amor?

As cidades sentem no corpo

As melódicas canções do poema

Meu amor?

O papel inanimado sobre a secretária do pensamento

Os fósforos pontapeando pedaços de lágrimas

Contra o copo de uísque

Sem nome

O corpo da cidade

Dói-lhe

Menina?

Os livros acorrentados ao teu cabelo

E as serpentes do luar

Dentro de quatro paredes

As janelas onde poisas o queixo

No meu colo

A tua cabeça de diamante

Não lapidado

O sorriso

O sorriso apaixonado de uma vogal

E da cidade

As tristes âncoras da morte

És

Meu amor…

O triste silêncio das âncoras de prata…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 5 de Abril de 2015

quinta-feira, 26 de março de 2015



(Para a minha mãe, feliz aniversário / IPO - Porto, 26 de Março de 2015)


“Descascando a cebola” como Gunter Grass me ensina, mergulho no parapeito da fotografia com vista para o jardim, ao meu lado, sombras, terraços de chocolate, homens, mulheres e crianças.

Perdi a paciência, diz ele em tom de prosador,

Deus olha-me, penso eu, não encontro no corpo o prazer do sossego, quando as palavras morrem, e a morte é a viagem para a literatura,

A espingarda, finjo, tenho na algibeira meia dúzia de balas, de xisto, como o Douro Vinhateiro, o rio

E as crianças, a cebola liquefeita nas mãos da cozinheira,

Mãe o que é hoje o jantar?

Poemas de “Al Berto”,

Gosto, adoro, amo…

Amar, desenhar na cebola os lábios da inocência (telefone toca) quando amanhece no teu sorriso, a espingarda

Minha querida!

E a espingarda escrevendo poemas em cada camada da desassossegada cebola…

 
(Ficção)

Francisco Luís Fontinha . Alijó

Quinta-feira, 26 de Março de 2015





terça-feira, 3 de março de 2015

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Mãe, como é o mar?
Lençóis de espuma, meu filho, silêncios de sombras poisadas numa tela virgem, aos poucos reaparecem as palavras e os riscos, a arte de amar e de navegar num beijo invisível, sem imagens, sem noite para chorar, as ruas completamente indiferentes às minhas tristezas, as cintilações dos versos descendo os socalcos imaginados pelas tuas brincadeira de menino,
Fui menino, mãe?
Cansei-me das palavras,
Escrita... nunca,
Mais
Amanhã restará uma única sílaba ao acordar, o espelho
Mais nada a acrescentar aos teus desejos, meu filho...
Cansei-me das palavras, mãe, das flores, dos sonhos e das cidade de vinil, cansei-me das mãos de porcelana da madrugada, sem janelas
O cubículo?
Morreu,
As janelas e o espelho completamente envergonhados pela partida do monstro das quatro cabeças, nada mais do que isso, literatura ao jantar, poesia ao pequeno-almoço, e
Morreu,
E alguns gladíolos apaixonados pelo jardim dos arciprestes, sabes? Falamos sobre isso, lembras-te?
Não, não...
Morreu.


(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 3 de Março de 2015


sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


E a doença sifilítica nos dedos do artista, adormece a tela, o poema e a musa do poeta,
Sinto-me... um suicidado cadáver de esperma, um transeunte canalha com suspensórios e gravata, e sapatos de ponta delgada,
Faltam-me as tuas mãos, mãe,
Café?
Viajo na tua saia e percebo que não temos regresso, regressar é um suicídio sem palavras, uma carta escrita, os motivos da tua ausência, as faltas da tua presença na Igreja, sinto-me quando abres a janela do quarto e tenho a certeza que estou vivo,
Bom dia, mãe...
Meu querido filho!
O livro cresce nas ardósias cinzentas da memória,
Que és enigmático, meu filho...
Que sim, minha mãe,
Que sim,
Telefonaram da Rua dos Mendigos?
Para mim, mãe?
A cidade embriagada nas sandálias do pescador, o mar, sempre o apaixonado mar, a paixão azul, do azul literário e poético...,sabes com é, mãe,
Pois,
Sei que semore sonhaste comigo,
Eu?
Sim, tu, mãe,
Quando dizias que aos três anos de idade já voava...



(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 20 de Fevereiro de 2015


segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

O encontro


O frio entranhava-se-lhe nos ossos fictícios de pequenas partículas de desejo, António inventava fogueiras no olhar, esfregava as mãos como se de um reza se tratasse, mas não, a rua deserta deixava-lhe suspenso nos ombros um fino silêncio de noite, imaginava vãos de escada em cada esquina, desenhava na geada pequenos quadrados, depois, de pé ente pé saltitava como a queda de uma folha,
Um cigarro adormecia-me a alma, reclamava ele quando dois adolescentes se abraçaram a ele
E ele?
Incrédulo,
Vocês. Aqui?
Sim, pá, nós aqui,
António florescia, António corria calçada abaixo até ao rio, sorria... e regressava,
Não,
Não acredito que os meus irmãos estejam aqui, comigo, só nós,
Não,
Um cigarro, tem lume? Que não, que não,
Vocês aqui...
Meus Deus, tanta solidão, frio, fome...,
Foste tu que quiseste, ou não?
E António fulminava o irmão Miguel com as pálpebras inchadas,
Eu é que quis...!
Quase como lâminas afiadas, depois, o acordar da cidade, os primeiros automóveis do dia, depois os últimos bêbados da noite, e depois
Não, não acredito,
Os Primeiros cheiros de Lisboa,
O fumo argamassou todas as palavras... Meus Deus, vocês aqui...


(…)


(Texto ficção)
25/01/2015
Francisco Luís Fontinha – Alijó

domingo, 25 de janeiro de 2015

O suicídio do amor


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Trazíamos no corpo as feridas da luz,
havia silêncio nos teus olhos
e na pedra fulminante da paixão,
tínhamos nas estrelas o cansaço das palavras
roubadas do jardim sem coração,
desenhávamos o amor na areia fria da insónia,
como se houvessem lençóis de prata nos teus ombros...
equações,
geometria invisível galgando a ardósia da tarde,
e sabíamos que o suicídio do amor
aconteceria um dia,
como acorrentadas mãos a uma caneta,
uma corda em lágrimas imaginada pelo abstracto objecto das arcadas envergonhadas,
as rochas frias que alimentavam o desassossego do poema,
e nos teus braços...
as sílabas que sentiam as tristes pontes metálicas
e os animais enraivecidos,
trazíamos no corpo as feridas da luz,
o poço da morte iluminado pela tua pele em pedaços de suor...
o desejo de ti quando lá fora alguém gritava pela alvorada,
e não tínhamos horário para navegar nas ondas secretas do mar,
vadiávamos a cidade,
comíamos sombras de nada...
e amávamos a literatura.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 25 de Janeiro de 2015

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Sem horário

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Que faço a estas flores...
se tu, se tu já não existes,
voaste em direcção ao Tejo,
suicidaste-te na Calçada da Ajuda,
sem ajuda nenhuma,
sem perceberes que habita na noite o amor,
a literatura, a poesia,
e a pintura...
que faço, meu amor,
a estas flores de névoa, a estes silêncios sem horário,
que faço a estas flores...
diz-me...
diz-me por favor,
e a pintura,
se tu, se tu já não existes,
e agora, e agora és uma flor sem leitura...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 15 de Janeiro de 2015


segunda-feira, 10 de novembro de 2014

O poema do Foda-se...


Foda-se esta vida de morrer,
foda-se a loucura e o saber,
foda-se a poesia e a literatura,
foda-se o silêncio
e a Primavera
e a escravatura,
foda-se o meu corpo embalsamado,
foda-se o cansaço,
a rua deserta e sem transeunte embriagado,
fodam-se os barcos,
as caravelas
e os cavalos de aço.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
segunda-feira, 10 de Novembro de 2014

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Hoje


Hoje,
hoje um dia perfeitamente de “merda”,

tudo parece desabar sobre os meus ombros,
chove,
hoje,
hoje estás triste,
hoje,
hoje estás ausente...

hoje,
hoje percebi que em breve partirás,
e hoje...
eu, e hoje, eu sem paciência para as palavras,
odeio... as palavras,
odeio a arte de escrever,

odeio a literatura,
odeio a pintura,

hoje,

hoje...

hoje odeio a noite,
e os esconderijos nocturnos da solidão,
hoje,
hoje um dia sem memória,
hoje um dia sem história,
hoje... hoje sinto-me um prisioneiro das sombras do infinito...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 7 de Outubro de 2014

sábado, 4 de janeiro de 2014

Estoy enamorado

foto de: A&M ART and Photos

“Estoy enamorado” e apelidam-de de pássaro das frias noites de agonia, sinto as ranhuras no gesso que a esperança corrompe as paredes da minha habitação, um fino e velho cubículo, um casebre com quatro janelas de pano, um esqueleto em porcelana com duzentos e seis ossos embainhados nas tormentas dos beijos desperdiçados,
Estoy enamorado,
“Estoy enamorado” sem perceber que a cidade dorme, respira e sonha..., deixei de sonhar quando dei conta das árvores com braços de cinzentos cigarros de enrolar, tive medo que depois de adormecer, nunca, nunca mais acordaria para olhar o mar, dormi, não sonhei... e quando me acordaram, anos depois, voltei a olhar
“Estoy enamorado” pelo mar,
E conheci uma abelha por quem “estoy enamorado”, literáriamente é uma besta, sempre aos gritos, acorda todos os fantasmas da cidade dos peixes, sinto dentro de mim os barcos da desgraça, sinto dentro de ti os edifícios com alicerces de prata e telhados em colmo, a floresta deambula nos teus cabelos, e tu, estúpida abelha, literáriamente pareces uma lareira sempre extinta, apenas daquelas que servem apenas de adorno, um cão saltita de sofá em sofá, e do resto do mobiliário... apenas a escrivaninha com quatro gavetas encerradas a fechaduras de marfim, um velho e rabugento cinzeiro e claro... a porcaria de sempre das mesmas fotografias de sempre, família, fantasmas que hoje apenas o são, habitam dentro do nosso pequeno espaço, não respiram, não saem de casa... mas... também não bebem, dançam umas com as outras, fumas haxixe por prazer e lêem revistas com fotografias de gajos nus, eles e a minha abelha parecem a tromba de um elefante depois da congestão com percebes e algumas quitetas, lembro-me das asas dela, e sinto nojo das palavras que me escrevia, dizendo que
“Estoy enamorada”,
As barbatanas sentiam o cheiro intenso do sossego das conchas vermelhas, a lua em guindastes de orgasmo levanta-se do divã, e
“Estoy enamorada” por ti, por eles, por todos os homens com vestidos de prata, os olhos pintados com rímel e nos lábios um colorido desejo sobressaltava... ouvíamos do outro lado da ranhura do gesso
“Estoy enamorado”,
“Sí mi querido”,
E as varandas balançavam e as escadas brilhavam e as ombreiras...
Se iluminavam,
E
“Estoy enamorado”,
“Sí mi querido”,
Amávamos-nos como bijutarias da “feira da ladra”, levava livros para vender e trazia panfleto de heroína para fumar,
“Si mi querido”,
“Estoy enamorado de ti” e quando regressávamos a casa tínhamos um regimento de transeuntes à nossa espera, polícia, polícia e mais polícia, tudo porque tínhamos trocado alguns livros por outros tantos panfletos de ardósia tarde sem recreio,
“Estoy enamorado de ti”,
“Estoy enamorado” e apelidam-de de pássaro das frias noites de agonia, sinto as ranhuras no gesso que a esperança corrompe as paredes da minha habitação, um fino e velho cubículo, um casebre com quatro janelas de pano, um esqueleto em porcelana com duzentos e seis ossos embainhados nas tormentas dos beijos desperdiçados, a canalização sempre em pequenos arrotos devido aos pigmentos de ferrugem, ouvíamos cair sobre nós os pingos longos da chuva sem
Nome?
“Estoy enamorado” e apelidam-de de pássaro das frias noites de agonia, sinto as ranhuras no gesso que a esperança corrompe as paredes da minha habitação, um fino e velho cubículo, um casebre com quatro janelas de pano, um esqueleto em porcelana com duzentos e seis ossos embainhados nas tormentas dos beijos desperdiçados, o nome pertencia à rua do abismo construído sobre os rochedos da coragem, estar e não pertencer estando, e nunca estive, e nunca estarei...
Disponível,
“Estoy enamorado”,
“Sí mi querido”,
E a abelha zarpou de mim, sinto-me livre, sinto-me... sinto-me como uma enxada vociferando os novelos de lã da minha mãe...
Amanhã, amanhã... amanhã “estoy enamorado”.


(não revisto - ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 4 de Janeiro de 2014

domingo, 1 de dezembro de 2013

sem-nome

foto de: A&M ART and Photos

não tínhamos nome
perdemos-nos na idade enquanto poisava no tecto do desejo a saudade
inventávamos estórias com pequenos paus de fósforo
aqueles...
que sobejavam dos cigarros perdidos na madrugada
não dormíamos
e não tínhamos nada...
cama
roupa
ou comida
lavada
não tínhamos nome
(morada
idade
sexo
não éramos nada comparados com os tristes cortinados das alvoradas sem tempestade)
percebíamos nada de poesia
tínhamos medo da literatura
e durante a noite...
dormíamos embrulhados às personagens que tínhamos lido quando ainda existia em nós a tarde junto ao candeeiro cinzento do jardim nocturno dos abismos rochedos de néon
os sexos mergulhavam na ponte metálica das treliças mãos que o desejo deixava em nós...
calculávamos o momento fletor das nádegas tuas quando lá fora uma equação de tédio
sem nome como nós
também
perdia-se nas sanzalas dos olhos verdes
o medo absorvia-nos
e a morte aos poucos
comia-nos como come os marinheiros de ombros sombreados nos petroleiros do fantasma envidraçado...


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 1 de Dezembro de 2013

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

seara negra

foto de: A&M ART and Photos

serei o velho relojoeiro com olhos de carvoeiro
aquele que deambula pela cidade
de pêndulo suspenso na alvorada
dá-lhe corda
fá-lo correr quando se ouve a maré dos silvados xistosos nas encostas íngremes do Douro...
há um leve apito de um novo marinheiro
o cachimbo geosmina como serpentinas voando sobre os candeeiros da saudade
o velho relojoeiro engata uma nova carvoeira
decidem os dois romperem os lençóis do desejo quando os segundos ficam suspensos nas ardósias tardes de literatura
há uma cama estonteante com tonturas e pequenos enjoos...
coisa de loucos

drogas dizem logo os transeuntes da rua dos abismos...
cansaço... sussurra o Psiquiatra Manel...

o homem do homem esconde-se nas ventosas térreas das searas negras
o velho relojoeiro dá a sua mão milagrosa à menina acabada de engatar
ouvem-se as sílabas castanhas borbulhando sobre uma prata de alumínio
chovem as lágrimas da menina engatada
se é a carvoeira ou a mendiga empregada da livraria... eu não o sei...
o homem chove
desculpem... os homens não chovem
choram
não choram
se fodem ou não fodem...
o silêncio sabe-o como sabe o cinzento eléctrico das noites que ejaculam migalhas de pão
sobre uma mesa... uma mesa sem vaidade

uma mesa sem...
sentido
pratos
húmidas abstractas colectâneas
toalhas bordadas...
comida pouca
serei o velho relojoeiro com olhos de carvoeiro
aquele que deambula pela cidade?

uma mesa vestida de eléctrico palmilhando medos
voando sobre a cidade das searas negras
parte de Cais do Sodré e adormece sobre a lápide encarnada do cemitério da Ajuda
não...
não AJUDA nada
pertenceres aos mosquitos de prata que brincam nos relógios de cacimbo
procurando a menina engatada pelo velho relojoeiro
carvoeiro... ejaculam
toalhas bordadas...
comida pouca
serei o velho relojoeiro com olhos de carvoeiro
aquele que deambula pela cidade?

- que horas tens meu querido?

uma mesa sem...
sentido
pratos
húmidas abstractas colectâneas
toalhas bordadas...

… fá-lo correr quando se ouve a maré dos silvados xistosos nas encostas íngremes do Douro...


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 28 de Novembro de 2013

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Barcos em flores acreditando nas gaivotas de porcelana

foto de: A&M ART and Photos

Éramos dois barcos dentro da mão da tempestade, vivíamos sonhando como sonhavam os nossos antepassados, tínhamos luas sem luar, ouvíamos as lágrimas da noite e dormíamos acreditando que a noite era mãe das amendoeiras em flor, tínhamos sidos enganos, só não éramos nada, tu e eu, como a noite nunca existiu, só não éramos nada, como tu e eu, como os sonhos são uma mentira inventada pelas nuvens de prata, só não éramos anda, tu e eu, como a noite, sim, essa mesmo, como a noite nunca foi a mãe das amendoeiras em flor, porque estas
Nunca existiram?
Existiram, e existem, mas... deixaram de habitar a nossa aldeia depois dos incêndios que fizeram de nós, num verão incandescente, como uma lareira enfeitada com papel florido e pequenos desenhos em acrílico sobre tela, quanto vale
Nada,
Não vendo desenhos, não vendo vidas habitadas em telas sem sentido, nuas, escuras, telas minhas que acreditava serem também tuas, telas dela que eu acreditava serem dele... e nada lhes pertencia, a manhã, o frio, as flores dos vasos que quando o vento era mais forte os fazia estilhaçar na calçada, da varanda em queda livre
Ajuda!,
E AJUDA nenhuma, apenas paralelepípedos de tristeza mergulhados nas línguas dos magalas com gravatas em tecido desbravado das costureiras envelhecidas, ela trôpegamente subia as escadas, abria a porta de entrada e logo de seguida um velho gato infestado de reumático lhe poisava não mão esquerda, enquanto com a mãos direita afagava os colarinhos de uma gaivota tresmalhada, envenenada pelas insónias vodkas dos bares em Cais do Sodré, e putas de perfume inocência vagueavam a rua saboreando sexos murchos dos candeeiros ancorados aos pinheiros de Trás-os-Montes acabados de nascer, e cresciam, e cresciam
E AJUDA nada,
Descíamos pensando que subíamos,
Os braços da sombra Inglesa com rissóis de maré grelhada e molho de pôr-do-sol, éramos quatro barcos, éramos quatro vadios guindastes de marfim na boca de um crocodilo em pau-preto, e se a princípio éramos apenas dois barcos
Como quatro hoje?
Barcos em flores acreditando nas gaivotas de porcelana, como dois antes, os filhos dos filhos, e as putas de perfume inocência vagueavam a rua saboreando sexos murchos dos candeeiros ancorados aos pinheiros de Trás-os-Montes acabados de nascer, e cresciam, e cresciam
Até
E cresciam...
Até morrerem.


P.S.


o habitáculo do desejo


dentro do habitáculo do desejo
a bailarina Caliente voa sobre as gaivotas em flor
uma moeda insere-se na ranhura do piano embriagado
ouvem-se sons dispersos nas coxas dele
ele geme
ela sente cada milímetro quadrado dos gemidos dele
o piano enlouquece
o piano derrama a fina pauta de sémen sobre a geada da alvorada
sinto a lareira do ciume nas planícies do abismo coração solitário
e dentro do habitáculo
ela
ela ri-se e dos lábios sobejam as finas pétalas do prazer...




Percebes agora a razão da existência dos quatro barcos em vez de dois?
Não, não percebo,
Éramos dois barcos dentro da mão da tempestade, vivíamos sonhando como sonhavam os nossos antepassados, tínhamos luas sem luar, ouvíamos as lágrimas da noite e dormíamos acreditando que a noite era mãe das amendoeiras em flor, tínhamos sidos enganos pelo habitáculo do desejo, e dos vidros embaciados, nasceram mais dois barcos, filhos dos dos dois primeiros barcos,
Percebes agora a razão da existência dos quatro barcos em vez de dois?
Não, não percebo,
Tudo
Não percebes?
Tudo tão negro quando os gemidos da saudade se entranham nas frestas dos complexos números do quadriculado caderno, e de vez em quando
Poemas,
E de vez em quando
Percebes agora a razão da existência dos quatro barcos em vez de dois?
Não, não percebo,
Como nunca percebi porque chamam Calçada à AJUDA... quando ninguém é ajudado e o rio engole os sexos murchos dos candeeiros ancorados aos pinheiros de Trás-os-Montes acabados de nascer, e cresciam, e cresciam
E morriam.


(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 12 de Novembro de 2013
Barcos em flores acreditando nas gaivotas de porcelana

domingo, 20 de outubro de 2013

Bonitas, moças donzelas, meninas e meninos...

foto de: A&M ART and Photos

Preciso dos teus beijos,
Dizes-me tu,
E não percebes, e não entendes, e
Nunca tive beijos para dar, que nunca tive beijos para oferecer, vender... que sou um imbecil desgovernado caminhando sobre os carris da solidão, não percebo, não entendo, como tu
Para que precisamos de beijos?
Tudo à minha volta estremece, a imagem do meu portátil enlouqueceu, treme... treme como varas verdes depois do vento entrar pela janela, treme como tu, quando ouves, ou ouvias, ou sei lá o quê
A minha voz?
A tua voz parece um esconderijo em papel, as vogais mal pronunciadas, as sílabas amedrontadas com os meus olhos escondem-se nas clandestinas palavras que um muro da cidade acolhe como quem acolhe o mendigo do rés-do-chão
Oiço-os
(Nunca tivemos sorte nenhuma)
Oiço-os balançar como esqueletos de vidro pendurados nas árvores com cavernas de granito e as vozes que se entranham nas algibeiras da ganga gasta e desgasta nas Primaveras em construção são-o e talvez não o pareçam
(Orgasmos sonolentos de velhos recheados com artroses e reumático)
Preciso dos teus beijos,
Dizes-me tu,
E não percebes, e não entendes, e desconheces que em mim nada de bom existe, sou uma nuvem pintada com tinta acrílica negra, esponjoso o meu coro absorve todas as lágrimas dos jardins sem capitão, ao leme um vulto que todos apelidam de O Senhor Das Montanhas Do Sol Adormecido, e assim vamos correndo entre o aço paralelo, e assim vamos
Vivendo?
Diz-me tu, se isto é vida? Os veados encurralados nas ardósias da tarde, começam a voar e daqui a nada estão novamente junto dos alegres dias com chuva e uma lareira na sala de estar a derreter livros, palavras e afins...
Vivendo, como?
Diz-me tu como é o outro lado da muralha, se há árvores, pássaros, se há rios e gaivotas e barcos e ilhas e mulheres bonitas
Gajas?
Diz-me tu porque tombaram os versos das crateras de centeio nos campos de Carvalhais? E oiço-os como se eles estivem à minha frente
Quem são eles?
Voilá... POP DEL ARTE... e voláteis pasteis de Belém nas catacumbas da solidão adormecem como cadáveres de silicone,
(o rabo, as mamas, a cabeça... a massa encefálica... tudo é em silicone... e coitadas)
Dançam como ventoinhas na pinta de dança, as meninas não pagam...
Mas... Também não bebem,
Voilá... Le POP DEL ARTE, e La Maisom quiçá, também ela em
Silicone?
Não aguento mais estes carris em aço, sempre paralelos, sempre abraçados, sempre...
Diz-me tu como é o outro lado da muralha, se há árvores, pássaros, se há rios e gaivotas e barcos e ilhas e mulheres bonitas
Gajas?
Bonitas, moças donzelas, meninas e meninos... O CIRCO TERMINOU...

(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 20 de Outubro de 2013

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

No sorriso da lua, esse corpo pertence-te?

foto de: A&M ART and Photos

Este corpo não é o teu, esses olhos com que iluminas as noites cansadas na solidão da insónia... não são os teus, essa boca, e esses lábios, não te pertencem, não é a tua boca, não são os teus lábios, as noites com que embrulhas as palavras, não o são, as tuas pobres noites embriagadas com sofrimento e dor, e a vida que vives, também não te pertence, não és nada, apenas uma imagem deixada num banco em madeira, sentas-te na penumbra, olhas-me sabendo que eu não te vejo, porque tu não existes, porque tu nunca exististe, és uma mentira pregada numa cruz metálica, foste crucificada quando as nuvens ainda eram nuvens e hoje, como tu
Não são nada,
Esse corpo que estampas nos meus olhos não é o teu corpo, e os seios que trazes no peito... são apenas tangerinas perdidas nos muros de xisto enroladas em socalcos, abelhas e pedaços de pólen, não são nada, e tudo em ti, apenas janelas de cansaço com cortinados de algas com perfume de mendicidade, gostava de ser como tu, invisível, transparente, gostava de pertencer às pedras com películas mergulhadas em sais de prata, gostava de ser uma fotografia tua,
Não são nada,
No sorriso da lua, esse corpo pertence-te?
Como tu, o xisto esfarela-se e voa sobre os limos das volúpias ensanguentada que os mabecos deixam ficar sobre os charcos da infância, saltar à corda, jogar à bola, ao espeto... partir vidros por falta de pontaria, rir, brincar, chegar ao espelho e não acreditar que já não pertences aos corpos verdadeiros, em carne, ossos, palpáveis, comestíveis, corpos como aqueles que vivem nos edifícios das cidades dos machimbombos envenenados pelas tempestades de verniz que sobejaram das tuas unhas, como tu, o xisto esfarela-se e voa sobre os limos das volúpias ensanguentada que os mabecos deixam ficar sobre os charcos da infância, o livro de ti apaga-se, esconde-se dentro de gaveta da cómoda, sobre a mesa-de-cabeceira deixavas ficar as tuas pulseiras, os anéis... e outras tantas bugigangas, e as tatuagens que trazes no teu ombro esquerdo, hoje
No sorriso da lua, esse corpo pertence-te?
Hoje parecem cromos dispersos dentro de uma caderneta inacabada, extinta, húmida quando entra-nos pela janela o jardineiro, o frio, e os arbustos da despedida, depois ouvimos o rio, o rio com braços, pernas, púbis e coxas, e mandíbulas em aço inoxidável,
Ferro forjado,
Enferrujado e velho, as cordas dos tentáculos de vidro invadem o teu corpo, e dizem-me que...
Esse corpo não é o dela,
E dizem-me...
Ferro forjado, ferro e ferro, ferro do bom, ferro verdadeiro, corpo molhado sobre os lençóis da despedida em arbustos de lágrimas, o apito do teu vazio peito, o uivo do teu lento olhar, a bandeira dos teus alegres cabelos... e mesmo assim
Tu nunca exististe,
E mesmo assim...
Gosto de ti, gostava de ti, não o sei... talvez, amanhã, ou
Ontem?
Porquê ontem?
Tu nunca exististe,
E mesmo assim...
Gosto de ti, gostava de ti, não o sei... talvez, amanhã, ou
Ontem?
E nunca sei quando é Domingo, e nunca percebo porque acreditam as rosas nas folhas do teu livro... e ainda lá dormem, e depois
Ontem?
Dizias-me que esse corpo não era o teu, que não, pois as montanhas não falam e os pássaros não são barcos e as sanzalas não são tardes de melancolia, e o musseque não é a Primavera, o Outono...
Gosto de ti, gostava de ti, não o sei... talvez, amanhã, ou
Não falas, e dizes-me que esse
Corpo?
Não, não... e dizes-me que as minhas mãos são de pergaminho.


(não Revisto – Ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 16 de Outubro de 203