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foto de: A&M ART and Photos
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“Estoy enamorado” e apelidam-de de pássaro das
frias noites de agonia, sinto as ranhuras no gesso que a esperança
corrompe as paredes da minha habitação, um fino e velho cubículo,
um casebre com quatro janelas de pano, um esqueleto em porcelana com
duzentos e seis ossos embainhados nas tormentas dos beijos
desperdiçados,
Estoy enamorado,
“Estoy enamorado” sem perceber que a cidade
dorme, respira e sonha..., deixei de sonhar quando dei conta das
árvores com braços de cinzentos cigarros de enrolar, tive medo que
depois de adormecer, nunca, nunca mais acordaria para olhar o mar,
dormi, não sonhei... e quando me acordaram, anos depois, voltei a
olhar
“Estoy enamorado” pelo mar,
E conheci uma abelha por
quem “estoy enamorado”, literáriamente é uma besta, sempre aos
gritos, acorda todos os fantasmas da cidade dos peixes, sinto dentro
de mim os barcos da desgraça, sinto dentro de ti os edifícios com
alicerces de prata e telhados em colmo, a floresta deambula nos teus
cabelos, e tu, estúpida abelha, literáriamente pareces uma lareira
sempre extinta, apenas daquelas que servem apenas de adorno, um cão
saltita de sofá em sofá, e do resto do mobiliário... apenas a
escrivaninha com quatro gavetas encerradas a fechaduras de marfim, um
velho e rabugento cinzeiro e claro... a porcaria de sempre das mesmas
fotografias de sempre, família, fantasmas que hoje apenas o são,
habitam dentro do nosso pequeno espaço, não respiram, não saem de
casa... mas... também não bebem, dançam umas com as outras, fumas
haxixe por prazer e lêem revistas com fotografias de gajos nus, eles
e a minha abelha parecem a tromba de um elefante depois da congestão
com percebes e algumas quitetas, lembro-me das asas dela, e sinto
nojo das palavras que me escrevia, dizendo que
“Estoy enamorada”,
As barbatanas sentiam o cheiro intenso do sossego
das conchas vermelhas, a lua em guindastes de orgasmo levanta-se do
divã, e
“Estoy enamorada” por ti, por eles, por todos os
homens com vestidos de prata, os olhos pintados com rímel e nos
lábios um colorido desejo sobressaltava... ouvíamos do outro lado
da ranhura do gesso
“Estoy enamorado”,
“Sí mi querido”,
E as varandas balançavam e as escadas brilhavam e
as ombreiras...
Se iluminavam,
E
“Estoy enamorado”,
“Sí mi querido”,
Amávamos-nos como bijutarias da “feira da ladra”,
levava livros para vender e trazia panfleto de heroína para fumar,
“Si mi querido”,
“Estoy enamorado de ti”
e quando regressávamos a casa tínhamos um regimento de transeuntes
à nossa espera, polícia, polícia e mais polícia, tudo porque
tínhamos trocado alguns livros por outros tantos panfletos de
ardósia tarde sem recreio,
“Estoy enamorado” e apelidam-de de pássaro das
frias noites de agonia, sinto as ranhuras no gesso que a esperança
corrompe as paredes da minha habitação, um fino e velho cubículo,
um casebre com quatro janelas de pano, um esqueleto em porcelana com
duzentos e seis ossos embainhados nas tormentas dos beijos
desperdiçados, a canalização sempre em pequenos arrotos devido aos
pigmentos de ferrugem, ouvíamos cair sobre nós os pingos longos da
chuva sem
Nome?
“Estoy enamorado” e apelidam-de de pássaro das
frias noites de agonia, sinto as ranhuras no gesso que a esperança
corrompe as paredes da minha habitação, um fino e velho cubículo,
um casebre com quatro janelas de pano, um esqueleto em porcelana com
duzentos e seis ossos embainhados nas tormentas dos beijos
desperdiçados, o nome pertencia à rua do abismo construído sobre
os rochedos da coragem, estar e não pertencer estando, e nunca
estive, e nunca estarei...
Disponível,
“Estoy enamorado”,
“Sí mi querido”,
E a abelha zarpou de mim, sinto-me livre,
sinto-me... sinto-me como uma enxada vociferando os novelos de lã da
minha mãe...
Amanhã, amanhã... amanhã “estoy enamorado”.
(não revisto - ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 4 de Janeiro de 2014