quinta-feira, 31 de outubro de 2013

o amor morre como um esqueleto de vidro

foto de: A&M ART and Photos

havia suspiros na tua voz de chocolate
lanternas diurnas embrulhadas em finas mãos de silêncio
escrevem-se nas palavras dos teus braços
oiço as teclas dos teus dedos na máquina do meu corpo
onde te espera uma folha de tristeza para rasurares como uma tempestade envenenada
havia suspiros uivos nos teus doces lábios
e dos beijos amargos o poema envaidece-se
cresce
e torna-se homem
mulher
apaixonado
apaixonada

o amor morre como um esqueleto de vidro
amado
amada
desamada
desalmada
o amor desaparece dentro dos círculos verdes das marés de incenso

havia suspiros nos olhos dos crisântemos
sobre a térrea campa do desejo
na lápide uma límpida manhã ensonada conversando sobre esplanadas
rios como cemitérios de ferrugem
e barcos como mulheres ansiosas pela chegada dos corpulentos marinheiros do abismo
tínhamos uma algibeira recheada de geada
tínhamos no peito uma mísera envergonhada madrugada
húmida
comida pelo suor das palavras loucas
tínhamos no sexo uma fiada cinzenta de cinza
que sobejava dos tristes cigarros em papel crepe
havia suspiros nos olhos... e sempre que chovia ouvíamos os comboios suicidarem-se nos carris do sonho

o sonho morreu junto aos arbustos em Belém
o rio galgou as montanhas de gelo
e entrou na tua vida alimentando-a de ossos e pedaços de sombra
havia suspiros
lágrimas
desajeitadas mãos na face de um busto granítico...

havia suspiros de chapa doirada
nas sanzalas avenidas que sentíamos das janelas de verniz
tínhamos uma lareira em cada suspiro inventado no teu ventre
havia rosas vermelhas nos confins das tuas coxas
migalhas de xisto entranhavam-se nos teus seios borbulhantes
e nós que parecíamos crianças sem infância
brincávamos como bonecas de trapos
e folhas de mangueira
ouvíamos o pulsar garrido do cavalo branco
e sabia dos teus cabelos clandestinos
onde escondias o verdadeiro amor...


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 31 de Outubro de 2013

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

neblinas marés do inferno

foto de: A&M ART and Photos

não precisaria da noite para reescrever-te e reinventar-te das neblinas marés do inferno
não precisaria de ver-te
acariciar-te
tocar-te como o faço sempre que te observo nas sombras dos cansados telhados de suor
não precisaria
mas também não fazia sentido sentir-te
sentindo-me agachado junto aos rochedos da miséria
indefinidamente
sem pontuação
nem um simples ponto final... e despedir-me
de ti

(sem precisar
não precisaria de despedir-me das pegadas em flor
ou
dos candeeiros verdes das janelas em plátanos solitários)

não precisaria de imaginar-me nas ravinas doentes das montanhas com reumatismo
obesas caminhando abraçadas aos três carris que o Inverno tece nas mãos da geada
não precisaria
e preciso
olhar-te
imaginar-te deitada no meu desajeitado colo
porque os meus joelhos parecem dobradiças enferrujadas
barcos encalhados nos finíssimos bancos de jardim
à madeira empobrecida
no caruncho bicho das palavras derretidas nos talheres do açúcar em pedra...
o mar alimenta-me a saudade
de precisar quando eu não precisaria... dos teus beijos amanhecer


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
quarta-feira, 30 de Outubro de 2013

terça-feira, 29 de outubro de 2013

locomotiva da paixão

foto de: A&M ART and Photos

a locomotiva acaba de descarrilar nas tuas mãos
sentada olhas o perfume que o silêncio tece nas nuvens em cabelos de vento
há pássaros desajeitados comendo migalhas de sofrimento
bebendo lágrimas de insónia
a locomotiva da paixão
morre
suicida-se nos rochedos da saudade
como se a eira granítica do teu peito adormecesse nas montanhas encarnadas


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 29 de Outubro de 2013

movediças areias

foto de: A&M ART and Photos

movediças areias tuas manhãs cansadas em mim
orvalhos siderais colados na língua do Outono
migalhas dele nas mãos do inferno
o invisível mergulhado das travessias inconstantes das flores empastelares
pareço um viúvo de fotografia ao peito
com suspensórios de tristeza acorrentados à solidão das noites indolores
movediças areias
as tuas coxas
as tuas ideias
os teus pérfidos seios de porcelana no clandestino horário que vive nos meus pulsos de aço
procuras abraços
e eu... ofereço-te palavras sem nexo
desejos vãos
carícias por correspondência a cobrar no destinatário
pareço um viúvo embebido nos arbustos da partida
cândidos odores que provocas nas praças diurnas da cidade dos beijos
transeunte esqueleto sem vida
na minha vida
os lábios dilacerados em pedaços de papel de embrulho
movediças areias
as tuas lágrimas lunares em madrugadas de cio
e lambedoras orgias estrelares
sobre a ponte fina e escura
do cemitério da poesia


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 29 de Outubro de 2013

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

some-te molha-te humedece-te...

foto de: A&M ART and Photos

molha-te
humedece-te como um rio em cio
mergulha
alegre
nas sílabas pérfidas dos anónimos mendigos das calçadas embriagadas
molha-te
humedece-te
embriaga-te como uma pedra depois de ser lançada pelo pénis do poema
abre-te
agacha-te e dorme
sonha
morre
(molha-te
e humedece-te como uma Rainha sentada no trono da despedida)
some-te
molha-te
humedece-te...
vive
dorme
esquece-me


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 28 de Outubro de 2013

como pronunciarás a palavra amor? meu amor!

foto de: A&M ART and Photos

outra coisa qualquer transformar-se-á em esqueleto de zinco
e o teu corpo permanecerá intacto e indolor como as árvores do jardim da tristeza
haverá sorrisos disfarçados de ramos
e ramos
disfarçados de ramos... sem folhas e sem lâminas de luz a atravessarem o horizonte
eu sentirei em mim as lâmpadas dos teus lábios embainhadas nos meus pulsos
sangrarei como um animal selvagem
e sonharei como uma pedra pronta afogar-se no rio da saudade
lembrá-te-ás de mim?
recordarás de como eram as minhas mãos de peixe?
e os meus olhos de pálpebras de vidro... como pronunciarás a palavra amor?
meu amor!

outra coisa qualquer aparecerá no divã onde te deitavas
e te enrolavas dentro da minha circular insígnia sombra recheada de estrelas encarnadas
outra coisa como um fino arame de papel
atravessará a rua dos cândidos sonâmbulos depois de acordarem as mártires estátuas de pedra
desenhava-te no térreo pavimento de capim argamassado como um túnel no centro das sílabas distraídas
parvas
e cansadas de ti
abraçava-te imaginando que abraçava um cargueiro rasgando as vaginais marés
dos Oceanos púbis em transatlânticos murmúrios que as palavras deixavam sobre a mesa-de-cabeceira
e adormecia acreditando que todas as noites eram sábado...


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 28 de Outubro de 2013

esquecer

foto de: A&M ART and Photos

adorava voar nos teus lábios de beijar
e escrever na tua bocas beijos de sonhar
e desenhar nas tuas mãos teclas de amar...
adorava-te ver-me em ti sabendo que não existiram despedidas
vagueadas manhãs vagabundas
noites envenenadas
e dias e dias desgraçadamente passados entre gradeamentos e clarabóias mendigas
desejava voar nos teus lábios de pergaminho
baixinho
junto ao teu coração
adorava e não consigo esquecer o mar
odiava e esqueci o nauseabundo cheiro da naftalina


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 28 de Outubro de 2013

domingo, 27 de outubro de 2013

Quase anda

foto de: A&M ART and Photos

Esqueço-me que a minha velhinha máquina de escrever ainda escreve, apesar da idade, ainda lhe sinto em algumas das noites o pulsar das teclas, às vezes percebe-se que existe um sobressalto, coisa pouca, quase como quando vamos por uma calçada e encontremos uma das pedrinhas salientes, damos um pulhinho, quase que caímos ou não caímos e continuamos as conversas como se nada tivesse acontecido, acontece que muitas da vezes faltam-lhe as palavras, algumas deixaram de existir nela, outras come-as embrulhadas nas também velhas folhas de papel, e ainda tenho o problema da fita, quase inexistente, quase transparente, e vejo as letras como que invisíveis rajadas de vento quando os edifícios da outra margem vergam, ajoelham-se e rezam, e assim vão acontecendo frases, palavras misturadas em negros e vermelhos, rasuradas com o lápis-borracha, e qualquer dia, ela
FIM,
E qualquer dia, ele
FIM,
E qualquer dia, nós
Esquecemos-nos que a nossa velhinha máquina de escrever ainda escreve, pouca coisa, ou quase nada, mas escreve, banalidades, a fulana do terceiro esquerdo diz que o companheiro do quarto direito a agride, o transparente transeunte do rés-do-chão afirma a pés juntos que a menina do sexto frente está quase sempre embriagada
E eu, a velha máquina de escrever, pergunto-me
Que tenho eu a ver com isso tudo, que me interessa a mim, ao papel onde escrevo e à fita que colocas os careceres já gastos no pequeno papel, às vezes tão fino que consegue-se ler do outro lado
Do espelho?
E qualquer dia, ele
FIM,
E qualquer dia, nós
Fartos de ouvir, de ler, banalidades,
Coisas sem significado, fulana põe os cornos ao marido, e depois?
O marido corneia a fulana, e depois?
Que tenho eu, uma velha máquina de escrever com todos esses acontecimentos, e a culpa foi do parvalhão que me tirou da caixa em plástico rijo onde eu habitava, anos e anos encerrada, dormia, sonhava...
E eu, a velha máquina de escrever, pergunto-me
E depois?
“Fodia não fodia” mas percebia,
E depois?
FIM,
Da vida, da escrita, das folhas em papel, e do cheiro a tinta, fazes-me falta quando sentia os teus dedos no meu teclado, e depois de escreveres um poema ou um texto, sentia-te dentro de mim e ele acontecia, o orgasmo maquinal
FIM,
E deixaste de tocar-me e deixaste de escrever em mim e deixaste de olhar-me e pegar-me e acariciar-me e
FIM,
Beijinhos,
FIM.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 27 de Outubro de 2013

não sei o significado de janelas com vidros de prata

foto de: A&M ART and Photos

percebo pouco dessas coisas do amor
lexical... sou um desamor
desalmado
desiludido
cansado
sou um estupor
fingidor
percebo pouco dessas coisas do amor

percebo
pouco
e construo palavras com réstias de cinza dos barcos a vapor
percebo pouco dessas coisas do amor
da paixão
e do coração de uma gaivota com seios de pôr-do-sol... percebo pouco
dessas coisas sem motor
nas mãos de um louco

percebo pouco dessas coisas do desejo
do beijo
e das lágrimas em flor
percebo tão pouco dessas coisas do amor...
ai o amor...
ai e ai
e não vem e não cai
como sanzalas na lareira tuas coxas sem sabor

sem as palavras do amor
que eu não percebo nada
não entendo
não sei o significado de janelas com vidros de prata
não percebo nada dessas coisas do amor
dos telhados em lata
em chapa
o amor como tuas lágrimas que jorram na madrugada


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 27 de Outubro de 2013

as palavras... palavras malvadas

foto de: A&M ART and Photos

converso com as pedras húmidas dos socalcos em flor
e oiço a tua voz mórbida embrulhada na neblina que se entranha no amanhecer
oiço as tuas mãos descerem às profundezas do desejo
encontro-as abraçadas aos espelhos da dor
sou um bandido recheado com pétalas de amor
e recibos envenenados dos alguidares sobre o tanque da desova...
converso e estranho a presença dos teus seios
nas montanhas de absinto
miseráveis pedaços em papel
onde escrevo
e sinto
as palavras sem sentido

(as palavras indesejadas
as palavras... palavras malvadas)

converso com as pedras húmidas dos socalcos em flor
e misturo-me com as daninhas ervas em caricias cores
escrevo-te sabendo que a saudade ainda vive dentro de nós
como um rochedo
alicerçado
mergulhado
prisioneiro das janelas com vidros de mármore
lápides onde jaz o teu nome
e vive a minha idade
as palavras
indesejadas
as palavras... palavras malvadas


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 27 de Outubro de 2013

sábado, 26 de outubro de 2013

Nunca o saberei, e nunca te perguntarei...

foto de: A&M ART and Photos

Acordei e percebi que tinha mãos de tecido, estampado com pequenos desenhos interpenetráveis nas manhãs deslaçadas em neblinas e cinzentos cinzeiros de areia, desenhos obscuros, desenhos como noites deitadas sobre as ponte em madeira, que ligavam a cidade dos mendigos às terras perdidas dos confins da insónia,
Tinha medo de amar-te sabendo que não existias como mulher disfarçada de árvores, como as outras, embrulhadas em sombra, encobertas e enroladas nos desgostos das meninas com tranças e vestidos de chita, adormecíamos sempre que a luz diurna se extinguia nas falsas alvoradas dos papagaios em papel, seguravas tu o fino cordel, e eu
Sentado, sentavas-te no portão de entrada, amarrávamos o cordel a uma das pequenas barras em ferro e olhávamos-nos como se eu fosse o espelho, e tu
Eu a menina das tranças e vestido de chita, eu a menina que não sabias existir e que passava horas a olhar-te na paragem dos machimbombos quando apressadamente corrias a cidade como um louco em bicicleta rumo ao Oceano, depois esperava-nos um barco de esferovite com um potente motor a pilhas que tinhas retirado a um dos teus carrinhos de brincar,
Lembras-te do avião que penduravas por um finíssimo fio de pesca num dos ramos da mangueira e em círculos acertados, vomitava voltas como ventoinhas suspensas no tecto da tristeza?,
Claro que não me lembro,
Não te lembras porque as tuas mãos de tecido derramaram-se sobre a velha máquina Singer e hoje elas são parte integrante do vestido de chita da menina
Quem é essa menina de tranças e vestido de chita?
A flor, o centeio correndo leira abaixo, descendo paredes em xisto, derretendo os cubos de açúcar dos torrões de terra ressequidos, no centro da terra o espantalho, uma velha vassoura, trapos e uma cabeça de
Abóbora?
Doce de abóbora e torradas,
Lembras-te dos dias quando ainda éramos sombras de ébano e tínhamos no corpo a excentricidade das cambaleantes escadarias dos guindaste depravados, mendigos como eu havia muitos, muitos de corpo empalhado, e como eu
Com mãos de tecido,
E como tu, como tu adoravas as tardes com a tua cabeça adormecida no meu leito colo sem horário para acordares, e eu quando acordava,
Mãe, mãe tenho sede,
Tínhamos uma mesa e quatro cadeiras, tínhamos uma sala minúscula onde apenas cabíamos quando pedíamos licença ao velho para nos sentarmos, e depois da devida autorização
Sentávamos-nos, e comíamos,
E bebíamos o veneno da vergonha de existirmos.
Acordava, e percebia que tinha mãos de tecido, estampado com pequenos desenhos interpenetráveis nas manhãs deslaçadas em neblinas e cinzentos cinzeiros de areia, desenhos obscuros, desenhos como noites deitadas sobre as ponte em madeira, que ligavam a cidade dos mendigos às terras perdidas dos confins da insónia, e olhava-me e do outro lado do espelho ela vestida com um vestido de chita e tranças...
Não, não te conheço, desculpa, não te amarei sabendo que és apenas uma sombra como telhados de vidro nos cardumes das cidades invisíveis, amar-te-ei?
Nunca o saberei, e nunca te perguntarei...

(texto de ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 26 de Outubro de 2013

mulher desalmada

foto de: A&M ART and Photos

palavras sem rosto
quando sorrisos poucos
habitam no cansaço do transeunte doente
palavras sem gosto
que os barcos loucos
escrevem no caderno infame
sobre as algas de Agosto
palavras em fome
palavras sem nome
que as lágrimas do livro ausente
voam sobre a cidade dos candeeiros de papel
palavras sem nome
palavras que a morte come
e uma límpida gota de suor alimenta
como espelhos esmigalhados pelo pincel
que o pinto inventa
numa tela
numa parede
em gesso
o berço
da criança com sede
palavras sem rosto
palavras de orvalho e palavras do … e palavras nos lábios dela
dos versos verdes das plantas apaixonadas
palavras cansadas
esbeltas
tristes
magoadas
palavras sem rosto
sem gosto
sem madrugada
quando a noite é a noite drogada
palavras
palavras
palavras... de uma mulher desalmada...


(não revisto9
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 26 de Outubro de 2013

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

janelas de camomila

foto de: A&M ART and Photos

sabia que uma nuvem de chocolate
poisava nos teus lábios de amanhecer
sabia e não queria acreditar
que na tua boca cresciam beijos de beijar
e morangos versos brincavam nas palavras de escrever
sabia que a noite trazia-te a vontade de adormecer
oferecia-te rosas que escondias nos livros enjoativos
aqueles que ainda consegues esconder numa prateleira envidraçada
sabia que tinhas nas mãos a Lua
e o apaixonado Luar
os barcos de ferrugem madrugar
e o mar

mas eu não sabia
que tu sabias
que existiam nuvens de chocolate
janelas de camomila
e portas de insónia
e bebia
e eu comia as sobejantes palavras tuas quando os teus olhos fugiam dos vidros de açúcar
na cama do sofrimento
acariciava-te e sentia
que tu
eu não sabia
que tu também eras de chocolate


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 25 de de Outubro de 2013

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

cristais sonolentos em manhãs endiabradas

foto de: A&M ART and Photos

entranhava-me nos teus indefinidos sorrisos
quase como um espelho com vida
que sofre
ama
e odeia a madrugada depois da despedida
entranhava-me nos meandros castanhos das tuas janelas de vidro
quando poisavas os cotovelos num peitoril embriagado
sofrido
cansado
dorido...
entranhava-me todo eu em ti
nuvem percebida das palavras encurraladas no corredor da solidão
vem a insónia e me diz
… você meu amigo
você é louco como as tempestades dos cristais sonolentos em manhãs endiabradas
em teus corpos endurecidos
embalsamados
esqueletos dentro do armário sem vida
suicidado num dia de neblina
indiferente às coisas belas que habitam o Outono
entranhava-me no sono dos teus indefinidos sorrisos
fotografava-te com um cintilante olhar
ser amante
companheiro
poeta
jardineiro...
infeliz
feliz
as palavras escritas nos teus seios mórbidos sem fumo nem cigarros
sem claridade nem fulminantes beijos em lábios de esferovite
entranhava-me
e desentranhava-me
comia
descosia
e dormia jurando que não te sentia


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 24 de Outubro de 2013

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Janela indesejada

foto de: A&M ART and Photos

Parecíamos cascatas de papel mergulhadas nas pequenas gotículas de suor que o corpo dele absorvia quando terminava o dia, escondia-se em nós a claridade do desejo, sobressaltava-se como uma serpente enrolada no pescoço de uma Lady, parecíamos cascatas em flor, sem jeito, desfeito, parecíamos o orvalho na mão de um transeunte vestido de fato-macaco e luvas transparentes onde escondia os poucos dedos que lhe restaram da explosão de sémen quando da noite envergonhada porque uma janela indesejada
Transtornada,
Vomitou pequenas lâminas de aço e uma lâmpada de néon, escondida no espelho do quarto, masturbava-se sentindo-se voar sobre os alfinetes dos rochedos como pronomes envenenados em esquinas de areia, as palavras suicidavam-se contra os poucos raios de Sol acabados de nascer,
Detesto nascer, e cada vez que nasço... fico triste, fico... fico ausente como livros esquecidos na paragem do eléctrico, ela chamava-se Etelvina, usava cabelo curto, às vezes aparecia no bairro com calções muito justos, tinha nos olhos a tela das imagens de uma máquina de slides inventada por dois loucos, e de uma caixa de sapatos e uma lanterna
Transtornada, transtornávamos a parede em granito puro, húmido e frio, saboroso no Verão, transeunte passeando na avenida dos Cristais de Iodo e Etelvina seguia sabendo que estava a ser fotografada por um par de olhos verdes, os sapatos rasos chapinhavam no soalho um melódico som comparável apenas quando a lareira se encontrava em orgias de calor no interior de um recuperador de calor, muitas vezes eu
Quis ser o teu corpo, muitas vezes
Habitar em ti,
Muitas vezes sentei-me com o pretexto de me sentir cansado, mas na verdade, fazia-o apenas para te ver passar, finíssimas pernas sentia-as submersas no meu peito, e quis ser o teu corpo, muitas vezes, habitar em ti, ser o que tu nunca foste, fazer o que nunca foste capaz de fazer, muitas vezes
Sentava-me com o pretexto de
Cansado,
E no entanto,
Vivíamos paredes meias com a argamassa solidão das noites em construção, o carpinteiro semeava pregos nas clarabóias em vidro duplo para que os pássaros não entrassem em nós, e o nosso erro
Não deixarmos os pássaros serem como nós,
Vivos, fingindo-se cansado, sentava-me e via-a passar como pernas alimentadas por cogumelos acabados de escrever
Escrever?
Acabados de colher, ainda mexiam, ainda lhe palpitava o coração e só nesse dia é que descobri que a Etelvina fazia com que os corações dos cogumelos palpitassem mesmo depois de morrerem, e ainda há quem não acredite que
Os cogumelos apaixonam como as árvores?
As mulheres,
Os homens,
E também eles, e também nós, e
Enfim,
O dilema de sempre, as questões insignificantes de sempre,
Que
A
Solidão...
É uma coisa engraçada quando existe uma lareira e uma Etelvina que faz com que os corações dos cogumelos,
Que têm os corações dos cogumelos?
Palpitam, palpitam quando ela lhes toca,
E eu também palpitava... se ela me tocasse, e eu também palpitava.


(texto de ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 23 de Outubro de 2013

labirinto corpo de canela

foto de: A&M ART and Photos

tenho uma mão que não me pertence
da vida sobejam-me os sonhos que nunca me pertenceram
e no entanto acreditava na escuridão nocturna
vivo e vivia entre ruas e ruelas como esqueletos de ossos sacrificados ao jantar
vivia pensando que era uma gaivota
e que nos meus braças habitavam cegonhas e pernaltas
barcos e caravelas
portas e janelas

acreditava que estava só
e eu queria
e eu
… eu quero estar só

tenho uma mão que não me pertence
e acariciou o teu labirinto corpo de canela
acredita que vivia
não vivo
caminho somo sonâmbulo nos carris do medo
na paixão do segredo
acreditava e não o estou...
só abandonado triste desalmado e desamado

(acreditava que estava só
e eu queria
e eu
… eu quero estar só)

porque tenho uma mão de perfume que não me pertence
e que nunca me pertenceu
porque tenho um jardim com árvores e arbustos
bancos em madeiras e rapazes traquinas
saltitando
e nos anzóis que a tarde alicerça nas cancelas da maré
acreditava
e não estou só... porque tenho uma mão que não me pertence


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
quarta-feira, 23 de Outubro de 2013

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Janela vaidosa a tua mão quando se entranha em mim

foto de: A&M ART and Photos

Outono, os ossos tombados no pavimento, os braços alicerçados às árvores em movimento, havia cadeiras revestidas a couro, havia uma casa com uma sala de jantar, dentro dessa sala vivia uma mesa e seis cadeiras, e sobre a mesa uma paixão de crochet rendado ainda do tempo da avó Valentina, sentava-me no sofá, sobre os joelhos os dois velhíssimos álbuns fotográficos do pai Fernando, abria-o e
Mergulhavas nas imagens a preto-e-branco das paisagens Africanas, centenas de imagens rodopiando sobre a mesa da sala de jantar, ouvia-se o entrelaçar de dedos entre o capim e o cacimbo, ouviam-se os uivos dos mabecos rasgando sanzalas e musseques, ouvíamos as crateras dos rochedos nos alicerces da montanha, e tínhamos o feitiço da chuva miudinha, que lentamente, suavemente...
Alimentava o teu corpo de roseira, sentíamos
À noite,
Sentíamos as feridas dos sonhos desfeitos quando o mar nos entrava em casa, e tudo cá dentro
Fugia,
A casa ficou vazia, a sala de jantar viu-se rodeada de silvados e arbustos que muito mais tarde e junto ao Tejo, assistiram à despedida da Primavera, os sofás transformaram-se em pedaços de mola rolando como pedras depois das tempestades, e os álbuns fotográficos
Hoje solitáriamente sobre a mesa na sala de estar, poisados como cadáveres sem esqueleto, completamente sós, abandonadas as imagens... apenas o negro da noite que habita os teus pequenos seios cerâmicos que mostravas-me nas noites de incerteza e Inverno, a lareira acesa, apenas havia a luz dos pedaços de madeira em combustão, e o teu silêncio, nada mais
Os livros,
Sentia a tua respiração abraçada às imagens a preto-e-branco dos álbuns fotográficos do avô Fernando, tínhamos sede, tínhamos fome, e tínhamos vergonha
Os livros,
Diziam que eu era uma bandido escondido debaixo da sombra das bananeiras, e tínhamos mentiras que ainda hoje
Mentiras,
Os livros,
Sentíamos as lâmpadas em dias de ventania baterem nas faces rosadas dos calendários nocturnos das tuas mãos em melancolia, e os livros
Sentíamos as palavras entre os nossos corpos e sobre a mesa da sala de jantar
Arbustos em despedida,
Folhas de papel vegetal e malgas de marmelada,
E sobre a mesa da sala de jantar
Livros?
Folhas caducas, folhas velhas e folhas novas, malcriadas, folhas e folhas e folhas
Livros
Mandioca e papel de parede com flores encarnadas,
Víamos o Sol em pequenos quadrados, víamos a Lua em grandes triângulos, e livros e cinzeiros com o bafiento cheiro a morte, má sorte, a dor, e
Sofrimento,
Ouvíamos as lágrimas do Senhor Doutor quando descia a noite e um cortinado com círculos em pequenos milímetros caminhava direcção ao rio, a ponte via-nos abraçados como dois arbustos
A despedida,
O cheiro a a despedida,
O cansaço depois de uma triste mísera malga de marmelada, um pedaço de pão com pelo menos três dias de antecedência, e o requerimento indeferido
Os livros e as borboletas,
“Por falta de mendicidade o seu caso foi indeferido”
(filhos da puta)
Os livros e as borboletas, as bailarinas e os palhaços, o circo chegou à cidade, meninos, meninas, donzelas e belas
Os livros?
“Por falta de mendicidade o seu caso foi indeferido”
(filhos da puta)
Os livros hoje, imagens a preto-e-branco, sós, imagens estáticas, mortas, melódicas, saudades da saudade quando o medo habitava a nossa sala de jantar...


(texto de ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – (Alijó?)
Terça-feira, 22 de Outubro de 2013

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Oceanos de cartão

foto de: A&M ART and Photos

a água dilacera-se nos caminhos da minha mão teimosa
agreste
triste
defeituosa
a água entranha-se nos meus ossos apodrecidos
findas as crateras dos vulcões da tua insónia
agreste
triste
sinto-os mergulhar nos Oceanos de cartão
como peixes plastificados como livros esfomeados
sinto-os gritar enquanto uma manhã acorda e me atormenta como um sôfrego mármore
sobre a lápide da inocência

a água é apaixonada pela terra despovoada
e chapas em zinco dormem como cogumelos debaixo das árvores com boca em porcelana
a água é um transeunte de sobretudo e sapato bicudo
caminha junto ao rio
não tem no rosto sorrisos
é carrancuda
e padece de juízo
como janelas com gradeamento em palavras nauseabundas
a água chora
a água é obrigada pelo homem com olhos de solidão
a brincar com bolhas de sabão
e a inventar madrugadas sem pão


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 21 de Outubro de 2013

domingo, 20 de outubro de 2013

Aqui Há Poetas – Poesia Sem Gavetas II. Participação de Francisco Luís Fontinha – Alijó

Bonitas, moças donzelas, meninas e meninos...

foto de: A&M ART and Photos

Preciso dos teus beijos,
Dizes-me tu,
E não percebes, e não entendes, e
Nunca tive beijos para dar, que nunca tive beijos para oferecer, vender... que sou um imbecil desgovernado caminhando sobre os carris da solidão, não percebo, não entendo, como tu
Para que precisamos de beijos?
Tudo à minha volta estremece, a imagem do meu portátil enlouqueceu, treme... treme como varas verdes depois do vento entrar pela janela, treme como tu, quando ouves, ou ouvias, ou sei lá o quê
A minha voz?
A tua voz parece um esconderijo em papel, as vogais mal pronunciadas, as sílabas amedrontadas com os meus olhos escondem-se nas clandestinas palavras que um muro da cidade acolhe como quem acolhe o mendigo do rés-do-chão
Oiço-os
(Nunca tivemos sorte nenhuma)
Oiço-os balançar como esqueletos de vidro pendurados nas árvores com cavernas de granito e as vozes que se entranham nas algibeiras da ganga gasta e desgasta nas Primaveras em construção são-o e talvez não o pareçam
(Orgasmos sonolentos de velhos recheados com artroses e reumático)
Preciso dos teus beijos,
Dizes-me tu,
E não percebes, e não entendes, e desconheces que em mim nada de bom existe, sou uma nuvem pintada com tinta acrílica negra, esponjoso o meu coro absorve todas as lágrimas dos jardins sem capitão, ao leme um vulto que todos apelidam de O Senhor Das Montanhas Do Sol Adormecido, e assim vamos correndo entre o aço paralelo, e assim vamos
Vivendo?
Diz-me tu, se isto é vida? Os veados encurralados nas ardósias da tarde, começam a voar e daqui a nada estão novamente junto dos alegres dias com chuva e uma lareira na sala de estar a derreter livros, palavras e afins...
Vivendo, como?
Diz-me tu como é o outro lado da muralha, se há árvores, pássaros, se há rios e gaivotas e barcos e ilhas e mulheres bonitas
Gajas?
Diz-me tu porque tombaram os versos das crateras de centeio nos campos de Carvalhais? E oiço-os como se eles estivem à minha frente
Quem são eles?
Voilá... POP DEL ARTE... e voláteis pasteis de Belém nas catacumbas da solidão adormecem como cadáveres de silicone,
(o rabo, as mamas, a cabeça... a massa encefálica... tudo é em silicone... e coitadas)
Dançam como ventoinhas na pinta de dança, as meninas não pagam...
Mas... Também não bebem,
Voilá... Le POP DEL ARTE, e La Maisom quiçá, também ela em
Silicone?
Não aguento mais estes carris em aço, sempre paralelos, sempre abraçados, sempre...
Diz-me tu como é o outro lado da muralha, se há árvores, pássaros, se há rios e gaivotas e barcos e ilhas e mulheres bonitas
Gajas?
Bonitas, moças donzelas, meninas e meninos... O CIRCO TERMINOU...

(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 20 de Outubro de 2013

sonolências

foto de: A&M ART and Photos

oiço em ti a sonolência da tarde
ocorre-me desistir de sonhar
olhar-me ao espelho da incerteza
viajar pelos destinos caminhos que vão ter ao mar...
oiço em ti
sonolentos mergulhos das andorinhas repatriadas pela incensa escuridão

oiço em ti a sonolência da tarde
que baloiça nos teus lábios como xisto pregado ao cansaço da noite
oiço
e não entendo os sinais perfumados das sílabas embainhadas que deixamos na cidade dos nus...
pareço um pedestal à espera de uma estátua
e sei que nunca mais haverá madrugadas em flor

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 20 de Outubro de 2013

Este cigarro pertence aos habitantes carrancudos das aldeias em flor

foto de:A&M ART and Photos

Este cigarro de melancolia nunca me pertenceu, no entanto habita em mim há quarenta e sete anos, fuma-se, desgasta-se, depois fica como novo, pronto a acender-se, pronto a iluminar-me como se em mim existisse uma janela virada para a montanha e da minha cama os lençóis de vidro em gemidos constantes, vibratórios, oscilações melódicas e poéticas nas mãos do Outono, são quase horas de adormecer e percebo que lá fora ainda brincam as neblinas pálpebras da tarde, mesmo assim, oiço-a, olho-a com uma criança pela mão, elas brincam, elas parecem felizes, e
Este cigarro sempre a desprender-se, sempre a extinguir-se como uma sepultura de carvão mergulhada no cimento névoa dos andaimes murmúrios que os lábios exageram quando tu
Eu?
Ela saltita entre mãos e cabelos de vento, soltam-se os primeiros beijos nas asas do anjo solitário, ele é assim,
Assim?
Eu, eu pertenço às neblinas lágrimas de insónia que acompanham a noite,
Pensava que ela era minha filha, poderia sê-lo se não fosse o raio do...
Não o é,
Nunca o será,
Este cigarro pertence aos habitantes carrancudos das aldeias em flor e lá fora oiço-os, em longos gritos de sabão
(ACABOU-SE A DITADURA E A ESCUMALHA PRETORIANA)
Este cigarro e estes gajos, nojentos vermes como línguas de azoto nos cornos da Lua, podia ser o seu filho, podia ser o seu cigarro, e podia ser a sua noite, mas tudo, mesmo tudo, perdeu quando de um velho cortinado apareceu uma rosa sombreada com bolinhas encarnadas, podia ser o seu filho
Meu filho? Impossível...
A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E...
(ACABOU-SE A DITADURA E A ESCUMALHA PRETORIANA)
A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E... A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E... A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E...
Este filho que poderia
Mas não o é,
Poderia ser o teu filho, uma menina que brinca com uma Primavera de olhos castanhos e braços loiros, uma menina que saltita de cadeira em cadeira no café, saboreio-o e lembro-me de quando era como ela, e lembro-me de quando ele poderia ser,
Mas...
Claro que não o é porque se o fosse eu saberia, eu perceberia, eu, eu, eu, eu...
A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E...
Claro que não o é porque se o fosse eu saberia, eu perceberia, eu, eu, eu, eu..., eu teria o prazer de abraçá-la como se fosse minha, e não o é, e este cigarro parece louco, feliz, contente, arde docemente nas tuas mãos e pertence aos tubarões de limalha que deixamos ficar sobre a mesa-de-cabeceira num hotel em Lisboa, parecíamos filhos de Belém, e não o éramos, parecíamos filhos de um rio
E nunca o fomos,
Parecíamos um corpo decadente e nunca o fomos porque estávamos sempre em ebulição, éramos água dentro de uma panela de pressão, ouvíamos o apito do comboio quando da janela apenas sentíamos as vertigens da noite anterior, poderia ser o teu
O meu?
Sim, o dele, e no entanto...
Claro que não o é porque se o fosse eu saberia, eu perceberia, eu, eu, eu, eu...Claro que não o é porque se o fosse eu saberia, eu perceberia, eu, eu, eu, eu...Claro que não o é porque se o fosse eu saberia, eu perceberia, eu, eu, eu, eu...
E no entanto somos apenas duas locomotivas descarriladas, duas vozes... duas vozes quase roucas, quase, quase...
A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E... A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E... A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E...
Quase mas não o é, e sinto-a e vejo-a a brincar com a mãe como se ela fosse a minha mãe e a outra ela, eu
Uma feliz madrugada em flor.
(A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E... A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E... A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E A C A B O U – S E...)

(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 20 de Outubro de 2013

sábado, 19 de outubro de 2013

tracejadas mãos de areia nos seios sombreados da madrugada

foto de: A&M ART and Photos

se mergulho em ti é porque na constelação do teu olhar habita uma abelha
desenlaça-se e abraça-se aos beijos teus
se mergulho em ti
porque não o sei ou porque me esqueci
como pertenceram os teus lábios às sombras esqueléticas da noite
tracejadas
como lâminas disparadas por uma velha espingarda de cartão canelado
se mergulho no teu corpo
percebo que deixaste de o ser
ou...
talvez nunca o tenhas sido
… ou
talvez
tracejadas lâmpadas de luz esbranquiçada rosnando sobre as pedras da calçada
voando contra as montras sonolentas que os pilares mendigos
dormem no pavimento alimentado pela solidão
risos sinceros
vergonha de dizer-te
escrever-te
amo-te ou não te amo
a questão pertence às velhas teias de aranha
que brincavam nas frestas tuas mãos
se mergulho em ti é porque és o mar
ou um rio recheado de paixão...


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 19 de Outubro de 2013

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

os lençóis da tristeza

foto de: A&M ART and Photos

dos lençóis da tristeza oiço os murmúrios que o cansaço deixa em mim
como conchas de sono pregadas na parede do desejo
o espelho que absorve os teus olhos é duplicado em migalhas de prata
e submergem
e suicidam-se
e não percebes que as entradas no silêncio o são proibidas
… inacessíveis
tristes
as nuvens castanhas com sabor a solução de luminol...
tangencias rectas crucificadas em ângulos trigonometricamente invisíveis
absortas
húmidas

queria ser uma sombra em granito
rompendo os soluços da noite
queria ser volátil
flor artificial junto à tua lápide
queria ser o túnel de vento
o buraco de minhoca
a teoria do caos...
a borboleta batendo as asas
e lá longe
os teus seios cintilando como avelãs
nozes
e fotografias envenenadas pelas lâmpadas de mármore

(não não tenho sorte nenhuma)

os triângulos da tua voz
são como grãos de areia mergulhados em sílabas melódicas
há conversas parvas entre copos de cerveja e perfume de vodka que um marinheiro Russo esqueceu na algibeira de um cargueiro com contentores de insónia
tenho medo de te encontrar e não entender o amanhecer que vive em ti
tenho medo do medo
medo de te amar e não saber que te amo
se é apenas amizade
vergonha de viver
ou... palavras apenas palavras sobejadas sobre a mesa da cozinha
dos lençóis da tristeza oiço os murmúrios que o cansaço deixa em mim
como conchas de sono pregadas na parede do desejo


(P.S. Amo os Pop Del Arte... como se eu fosse uma munição de areia e me entranhasse nos cobertores frios do teu corpo de solstício louco, lá fora chove, e eu quase que quero desaparecer sobre as árvores inconstantes da tua garganta, grito o teu nome, não percebem que existe um vagabundo igual a mim, que sofre, que ama, que vive fingindo viver... )


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 18 de Outubro de 2013