foto de: A&M ART and Photos
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não precisaria da noite para
reescrever-te e reinventar-te das neblinas marés do inferno
não precisaria de ver-te
acariciar-te
tocar-te como o faço sempre que te
observo nas sombras dos cansados telhados de suor
não precisaria
mas também não fazia sentido
sentir-te
sentindo-me agachado junto aos rochedos
da miséria
indefinidamente
só
sem pontuação
nem um simples ponto final... e
despedir-me
de ti
(sem precisar
não precisaria de despedir-me das
pegadas em flor
ou
dos candeeiros verdes das janelas em
plátanos solitários)
não precisaria de imaginar-me nas
ravinas doentes das montanhas com reumatismo
obesas caminhando abraçadas aos três
carris que o Inverno tece nas mãos da geada
não precisaria
e preciso
olhar-te
imaginar-te deitada no meu desajeitado
colo
porque os meus joelhos parecem
dobradiças enferrujadas
barcos encalhados nos finíssimos
bancos de jardim
à madeira empobrecida
no caruncho bicho das palavras
derretidas nos talheres do açúcar em pedra...
o mar alimenta-me a saudade
de precisar quando eu não
precisaria... dos teus beijos amanhecer
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
quarta-feira, 30 de Outubro de 2013