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domingo, 29 de novembro de 2015

Desfocada imagem do teu olhar entre os parêntesis da saudade


Estou só

Neste labirinto de lágrimas salgadas

Sento-me e espero o regresso do teu olhar

Que vem do outro lado do Oceano

Trazes-me o sonho e a saudade dos musseques sombreados

Trazes-me a voz e o desejo

E eu sentado nas asas em papel que inventaste apenas para mim

Olho-as e vejo nelas a desfocada imagem do teu olhar entre os parêntesis da saudade

Uma criança entre baloiços e sobejantes sorrisos prateados

Espera-te junto a um portão imaginário

Entras

Ela abraça-te e afogas o cansaço do dia na minha face

 

Não tenhas medo do mar

Nem dos barcos invisíveis

Não tenhas medo das árvores

Nem dos pássaros amestrados que brincam nas mangueiras

Desenha na terra húmida os círculos os quadrados e os triângulos da alegria

Depois vais conhecer o amor

E a paixão de amar

E a solidão do amanhecer

Estou só

Neste labirinto de lágrimas salgadas

E pareço um marinheiro aportado em Cais do Sodré…

Vendendo insónia e coisas enigmáticas de chocolate.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

domingo, 29 de Novembro de 2015

sábado, 31 de outubro de 2015

Um dia nos meus lábios


Diz que disse sem o dizer

Dizendo que eu era um monstruoso esqueleto com asas

Que voava enquanto todos dormiam

E que tinha uma cidade só minha

Diz que disse sem o dizer

Dizendo

Mas disse-o

Esquecendo

Que eu voava nas noites de insónia

Que era monstruoso

Que tinha alergia aos rochedos da solidão

Não o dizendo

Disse-o

Um dia

Nos meus lábios

Emagrecidos

Pobres

Descarnados pelo veneno da madrugada

Que só o Inverno consegue abraçar

Diz que disse sem o dizer

Dizendo

Que um dia

Qualquer dia

Eu

O esqueleto monstruoso com asas

Ia morrer

Sem o saber

Dizia-o

Que disse

Sem o dizer

Inventando-me sonhos que eu não queria

Nem dormia

Com medo das suas garras de chocolate…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 31 de Outubro de 2015

sábado, 22 de agosto de 2015

O mendigo das palavras


Pedido nesta avenida

Recheada de cacos e velharias,

Mendigando palavras,

Fumando cigarros imaginários,

Perdido,

Achado,

Escrevendo no teu rosto poemas envergonhados

Que só tu

Consegues perceber…

A vida parece um carrossel enferrujado,

O teu corpo fundeado no meu peito

Como se fosse uma serpente de tristeza,

Perdido,

Achado,

Na algibeira alguns sorrisos de riqueza…

Mas tu sabes que nunca quis ser rico,

Mas tu sabes que nunca quis ser nada…

Apenas me apete estar qui,

Sentado,

À tua espera…

Como um barco que regressa do Ultramar

Trazendo gaivotas

Caixotes poucos…

E recordações em pedaços de papel,

Perdido nesta avenida

Recheada de insónia

E sonhos inventados por uma criança,

Hoje, hoje aqui sentado…

Espero-te sem saber se vens

Ou se pertences às lápides da madrugada,

Não me importo com as fotografias rasgadas

E deixadas nos braços do vento…

Perdido,

Achado,

Aqui… como um rochedo sem coração.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 22 de Agosto de 2015

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Cidades geométricas


Não tenhas medo, meu querido,

Do túnel das amoreiras,

Da paixão da noite,

Dos pássaros da alvorada,

Das madrugadas sem janela,

Amo-te como amam todos os rios as pontes invisíveis,

Como amei a montanha do corpo sem destino,

Ao entardecer,

A insónia mergulhada nos teus ossos,

Desapareces das velhas fotografias,

Como o vento desaparece na solidão…

E os veleiros sem nome… dormem no profundo sono das cidades geométricas.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

24/07/2015

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Assim…


Saberei quem és

Meu amor hipnotizado?

 

As flechas de desejo

Que arremessaste contra o meu peito,

Os dias e as noites e as noites e os dias…

Esperando que acordasses da insónia,

Sem jeito de me amar,

Deitava-me no mar

E dançava na sombra do teu olhar,

Castanho engano,

As tuas mãos desfocadas no meu rosto,

 

Saberei quem és

Meu amor hipnotizado?

 

Pára de me escutar

E me de lançares pedras de nada

Contra o meu coração infinito,

Perdão meu amor…

Faminto,

Delirante cansaço nos teus beijos desnorteados,

A janela sangrando os beijos do cais da solidão,

Abutres mentes,

Abruptos momentos sobre o teu corpo de papel,

Meu amor…

 

Saberei quem és

Meu amor hipnotizado?

 

A inocência,

Em ti,

De ti,

 

Dormes em mim,

 

Assim…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó


Quarta-feira, 10 de Junho de 2015

sábado, 4 de abril de 2015

O último beijo


A barca desgraçada

Recusa-se a regressar

Inventa palavras

Desenha gemidos nas pedras

Vãs

E cansadas

A barca

Não

Sabe

O horário da morte

Finge dormir debaixo de uma lápide

De espuma

Canta a cidade

Os húmidos sorrisos da madrugada

A barca

Desgraçada

Recusa-se

Regressar

Aos teus braços

Ao teu corpo

Noite

Cama

A janela enclausurada nas tuas mãos

Mão

De veludo

As cabeças dos ventrículos de vidro

Nas fretas da insónia

Há sonhos

Há… há um esconderijo no teu peito

Os olhos te prendem

E não consegues liberta o sofrimento

Adeus

Ontem

A mão

De veludo

Recusa-se

A beijar-me

O vício curvilíneo dos telhados de zinco

As crianças lançando bolas de farrapos

Em chamas

Balas

A espingarda do silêncio

PUM…

Nas camufladas salas de jantar

O cadeirão sem pressa para descansar

Cerra os prateados ombros

Deita-se

Deita-se nas linhas transversais do infinito

Não

Espero

Nada

Teu

Olhos

Mãos

Mão

Não


Suicídio nas tuas coxas

A claridade dilui-se docemente na tua boca

Finas

Cores

Da tela em supérfluas marés de medo

O sono

E a alma de não ter alma

Desamadas

As flores do jardim do último beijo

A última carícia do teu perfume

As calças de ganga

Sentadas no cadeirão em fuga

E depois de terminarem os cigarros

Nada

Hoje

Finjo e fujo

Saltando o muro dos teus lábios…

E nos teus lábios

STOP

O vermelho semáforo envenenado na tua pele

Os pregos

Os sítios obscuros do teu corpo

Dançam e cantam

Hoje

Não

Mão

Mãos…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 4 de Abril de 2015

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Jeans

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Sentia que as quatro paredes do silêncio
brincavam nas cinco esferas da insónia
com a mãozinha...
tocava nas quatro sombras da solidão
e dormia
sonhando que sentia
as quatros paredes do silêncio
dentro do meu peito
havia rock na algibeira dos jeans
e a febra abraçava-se a mim
como um poema
não para ti... mas... mas para noite que me ilumina.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 5 de Fevereiro de 2015


sábado, 10 de janeiro de 2015

O enforcado barco da insónia


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Habito nesta cáfila cúbica de palavras envenenadas pela insónia
oiço o cheiro das sílabas camufladas pelos rochedos da madrugada
não me perguntes porquê...
quando deixo de sentir o sorriso nocturno dos candeeiros em flor
há neste jardim pássaros ferozes
incendiados pelo incenso
que gritam
guerreiam... e sonham
e sonham como se estivessem esquecidos numa ilha sem nome
um barco desnorteado
enforcado
nos lábios da cidade de vidro...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 10 de Janeiro de 2015

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Poemas vencidos

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

Os poemas vencidos
as palavras despedidas pelo patronato
quando a cidade ainda não acordou
os livros carcomidos pelos velhos planetas do teu olhar
o luar em constante destruição depois do adeus
os poemas vencidos
gritando na esplanada desventrada
a cidade é nossa... a cidade é... n o s s a...
e a cidade é apenas um espelho com asas de papel
e lábios de paixão
os poemas não vêem...
nem caminham junto à praia da insónia.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 1 de Janeiro de 2015

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Sou um estranho… no teu peito


Sou um estranho teclado
dentro do teu peito,
sou a manhã na boca da insónia...
e perco-me nas tuas mãos
como um pássaro em sofrimento,
surpreendo-me com o teu olhar entranhado na escuridão,
pareces um cortinado invisível,
uma espingarda de papel...

sou um estranho teclado
dentro do teu peito,
sou os rochedos incinerados
que escondem as tuas palavras,
e nunca tenho tempo para abrir a janela
do teu coração,
sou um emaranhado de estrelas
sem passado nem canseiras,

Sou um estranho...
… no teu peito,
visto-em de negro
e confundem-me com a noite,
sou o silêncio dos teus cabelos
e a cartilha dos teus medos...
sou a clarabóia do teu sorriso
quando lá fora...

gritam o meu nome em vão,
e eu, e eu nunca tive um nome,
uma pátria,
uma bandeira,

nem... nem paixão...

gritam o meu nome em vão,
e o teclado estranho
que habita no teu peito...
chora... chora como a bala de um canhão.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 10 de Dezembro de 2014

domingo, 30 de novembro de 2014

Candeias da saudade


Sinto as tuas mãos
meu marinheiro iletrado
ensanguentadas
poisadas nos meus ombros de xisto
o rio se entranha nas minhas veias
no meu peito socalcos se embriagam
e sentem
o peso da despedida,

a lentidão da esperança
mergulhada no lixo poético do meu cansaço
e há mulheres tão lindas... esperando um abraço,

e há mulheres tão lindas... esperando um beijo
e sinto
as tuas mãos meu marinheiro iletrado
quando as candeias da saudade acordam
e fingem
que hoje é dia dos tentáculos de sal
das palavras enxertadas de insónia
e meu querido...
as minhas palavras são a febre que alimentam as hélices do corpo em cio
e do clitóris da estória...
sinto as tuas mãos...
meu querido!




Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 30 de Novembro de 2014

sábado, 22 de novembro de 2014

Sem sentido - “A merda de um poema”


Queima o filme negro da tua vida,
ensina aos teus ossos as boas práticas de comer,
sem nunca mencionares o nome da despedida,
nem na rua invisível do teu corpo,
imagina o vento fatiado abraçando-se aos teus seios,
escrevendo neles...
Amo-te...
sem gaguejares,
sem medo de chorar,
os abutres cardumes da insónia
que se alicerçam aos teus cabelos de luar,
queima o filme negro da tua vida... como quem pronuncia pela última vez a palavra amar!



Francisco Luís Fontinha
Alijó, 22 de Novembro de 2014

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Cinco vidas perdidas


Cinco vidas perdidas
uma sombra sobejante
e esquecida
uma noite de tempestade
e eu, e eu... palmilhando a cidade
comendo sandes de insónia
e algemas de liberdade
cinco vidas perdidas
uma lua brilhante...
e falta-me uma cama decente
colorida...
como os poemas embrulhados em silêncios pincelados de saudade...
colorida
a vaidade
a ousadia...
viva... viva a poesia!



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 19 de Novembro de 2014

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Corpo flutuante


Um corpo flutuante nas arcadas nocturnas do medo
o fumo negro da saudade
que sobeja de um cigarro embriagado
tu
tu não vês... que há pássaros poemas
e poetas pássaros
tu
tu não vês... que há palavras disparadas de uma espingarda
um soldado que tomba
e sonha
e flutua...
o corpo flutuante sobe ao cimo da montanha,

grita
chora...
e ausenta-se da neblina cinzenta,

são horas de adormecer
o cansaço espera o corpo flutuante que aos poucos se solta das cordas do silêncio...
parece sofrer
mas... mas o medo permanece impávido
na parada da insónia
são horas do corpo flutuante renascer
brincar
e... e... e deambular sem correntes calçada abaixo
em direcção ao mar
grita
chora...
e ausenta-se da neblina cinzenta.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 18 de Novembro de 2014

sábado, 8 de novembro de 2014

Naftalina madrugada


O teu corpo radiografado por um louco poema
os teus ossos catalogados e encaixotados em pequenos cubos de vidro
a gaivota amar que voa nos teus seios
e não dorme
e...
e o teu corpo radiografado passeando na seara morta
as tuas coxas pinceladas pela mão do louco poema
e... e os teus ossos descendo a calçada do Adeus
pedindo esmola na rua dos muros amarelos
um vulto faz-se à vida
parte o invisível vidro do carro abandonado
e rouba o louco poema sem pronunciar a palavra “obrigado”,

O teu corpo que mergulha na minha mão
em fatiados abutres de madeira prensada
gritam
gritam e não fazem nada...

Há uma estória não terminada
uma canção escrita e guardada nas prateleiras da insónia
o teu corpo que chora
e sonha
e habita na minha memória
morta
como a seara deambulando no silêncio enfeitiçado
os ossos em pó
puro pó virgem...
sofrendo nos canos de uma espingarda
sofrendo...
o cansaço da naftalina madrugada.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 8 de Novembro de 2014

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Piano amar...


Dos espinhos melancólicos da insónia,
oiço-os,
como se eles tivessem um corpo,
ou... ou vestissem-se de palavras ainda não escritas,
entranhadas no papel amarrotado da madrugada,
oiço-os...
os sons melódicos do piano amar...
domesticado,
livre...
dos espinhos melancólicos, as ditas canções anónimas com sorriso de alecrim,
o cansado beijo suspenso nos lábios da pianista...
livre... até que desaparece no seio das linhas paralelas da solidão.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 1 de Outubro de 2014

domingo, 31 de agosto de 2014

O suicidado poeta

Ele suicidou-se nas palavras,
transportava no peito uma ardósia de silêncio,
caminhava sobre o inventado mar das terras assustadas,
e acreditava nas palavras...
tinha um saco de pano onde tudo guardava,
cartas,
rosas embalsamadas...
e livros amachucados,
trazia na pistola uma bala de prata,
um coração de vidro...
e um beijo de lata,
apontou-a à caneta de tinta permanente,
e...
e suicidou-se nas palavras,
lá ficou ele entranhado nas terras assustadas,
como um cão raivoso,
como um pássaro sem asas,
o amor do poeta suicidado vestia-se de papel,
trazia nos lábios um poema amaldiçoado,
com palavras assassinas...
descia a montanha,
sentava-se junto à ribeira,
e na algibeira quase sempre uma caneta apontada,
a pistola com corpo de mulher,
nua, percebia-se na areia as curvas lunares,
e nuvens de insónia...
ele suicidou-se nas palavras,
quando a tarde ainda brincava nas terras assassinas.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 31 de Agosto de 2014

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

O beijo poético…


Meu amor,
Existes?
Perturbo o teu sono,
Visto-me de abelha e brinco na colmeia da tua insónia,
Sorris, brilham nos teus olhos as minhas palavras,
Habitam nos teus seios os meus desejos, os meus versos…
O rio que corre nas minhas veias,
Há dentro de mim uma África perdida,
Socalcos, vinhedos…
Barcos coloridos que atracam nas tuas mãos,
Meu amor,
Existes?

Perturbar o teu sono é poesia,
São canções inventadas por estórias, são searas de trigo dançando ao som do vento…
Perturbar os teus sonhos, deitar-me no teu corpo… como se eu fosse a tua pele de alecrim em flor,

A montanha que nunca dorme,
O luar que jamais cessa de brilhar,
Meu amor,
Existes?
Nas frívolas manhãs de Primavera, e… e absorver os teus lábios de livro em construção,
Percorrer o silêncio de uma ponta à outra, sem me cansar de te olhar,
Sorris…
Olhas-me…
Existes?
Estrela-do-mar,
Que me ilumina ao deitar,
E sem pressa… e sem pressa ofereço-te o beijo poético…



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 7 de Agosto de 2014

sexta-feira, 25 de julho de 2014

O tambor do desassossego


Quando o tambor do desassossego entoa no coração da sanzala,
há uma palavra reescrita na pele húmida do amanhecer...
leio... leio SAUDADE...

Sento-me junto ao pequeno charco acabado de nascer,
puxo de um cigarro,
e finjo ver o mar a regressar da sombra das mangueiras,
as pequeníssimas películas de cacimbo alicerçam-se aos meus dedos,
ao longe, mulheres... e fogueiras,
e missangas de medos,
saltitando nos braços cansados de um esqueleto de papel,
oiço o bater fulgurante do zinco conta a solidão de um menino chorando,

Um dia a guerra o levará,
sua mãe morta rezará no altar da areia branca do faroleiro de pedra,
os meus dedos minguam quando um cadáver de insónia poisa no meu cigarro...
e espero... e não regressa o mar,
desce um corpo de prata dos coqueiros envelhecidos,
há uma palavra reescrita na pele húmida do amanhecer...
leio... leio SAUDADE...
e adormeço sem me apetecer,

Em criança brincava com silêncios e um velho triciclo em madeira,
acreditava nas flores,
acreditava que um dia..., que um dia voava como os pássaros,
envelheci, e o meu cigarro terminou quando um paquete de rebuçados atracou em mim,
transeuntes com pesadíssimos caixotes em madeira,
choravam...
e círculos de espuma saltavam à corda no cais dos caixotes em madeira...
perdi-me, e hoje... e hoje sento-me junto ao pequeno charco acabado de nascer,

O mar não regressará nunca,

E,

Quando o tambor do desassossego entoa no coração da sanzala,
há uma palavra reescrita na pele húmida do amanhecer...
leio... leio SAUDADE...

E leio sofrer!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 25 de Julho de 2014

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Inventa-me


Inventa-me,
desenha no meu corpo as línguas de fogo que os teus lábios libertam,
escreve-me, escreve em mim as palavras proibidas, as palavras falseadas,
invade-me,
faz de mim uma equação trigonométrica,
soma-me, divide-me… e multiplica-me,
mas… inventa-me,
no pecado mais secreto do teu olhar,

Inventa-me,
no silêncio das madrugadas,
inventa-me no espelho onde escondes o teu rosto…
quando poisa a noite sobre ti,

Inventa-me nas catacumbas da insónia,
faz de mim a sombra mais bela do amanhecer,
inventa-me,
como flor,
como abelha…
inventa-me e acolhe-me na tua colmeia,
que eu seja o mel dos teus sonhos,
que eu seja… a tua invenção,

Inventa-me,
faz de mim pássaro, barco… ou… ou avião,
não tenhas medo de me inventar,
não, não tenhas medo de me amar,
inventando-me,
escrevendo em mim os números primos, ímpares… ou… ou pares,
inventa-me,
inventa-me sem chorares!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 21 de Julho de 2014