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domingo, 12 de dezembro de 2021

Um dia

 

Um dia

Regressará o sono,

A luz,

E todos seremos apenas imagens,

Poeira,

E pequenos nadas.

 

Um dia

As palavras serão sombras,

E das imagens que eramos,

Seremos novamente, nadas;

Pequenas migalhas de pão,

 

Pedras,

Calçadas de espuma,

Em guerra na cidade,

Um dia seremos apenas chuva,

E pedacinhos de lágrima.

 

Um dia seremos nadas,

Ou outra coisa semelhante,

Um dia seremos geada,

Luz…

Ou fogueira ardente.

 

Um dia seremos nadas,

No outro dia,

Gente.

Um dia seremos pó,

No outro dia, dor, corpo ausente.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 12/12/2021

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

As paredes de xisto


A fragilidade do corpo embrulhada no sono,
O cansaço das palavras, inertes, mortas,
Nas páginas sonâmbulas da tristeza,
O vento chora,
Traz a chuva,
Vai embora.

Todo o silêncio é pouco,
Quando os farrapos da saudade,
Envelhecem na escuridão,

A metáfora,
O sorriso das plantas,
Junto ao mar,

E inventam-se rosas em papel,
Comestíveis, às vezes, quando a fome é invisível,
Descendo o rio,
Saltando a ponte metálica,
Em direcção ao Sol,
Em direcção ao abismo.

Não quero pertencer a este conflito de interesses,
Caixas em cartão,
Revoltadas contra a geada,
A chuva, miudinha, perde-se na calçada.
E, no entanto,
Estou aqui,
Esperando o regresso das lâminas lágrimas,
Como se fossem balas de raiva, contra as paredes de xisto.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
16/01/2020

sábado, 13 de abril de 2019

Menina do meu saber


Menina do meu saber,

Endiabrada e a correr,

Menina do Douro encurvado,

Que chora sem querer…

Menina mimada, menina das tardes a chover,

Menina cansada,

A chorar,

Neste rio deitada,

A correr para o mar.

Menina da ribeira,

Dançando sobre o amor,

Palavras escritas no vento,

Deste corpo suicidado,

Menina das flores e do amar…

No pensamento,

A mão lançando a espada,

Dos livros, de nada…

Menina em flor,

Meninada apaixonada.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

13/04/2019

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Beijos de uma caligrafia triste


Um fino lençol de areia embrulhava a triste caligrafia,
nas minhas pálpebras de papel um poema crescia,
e sentia-me absorvido pelo silêncio do algodão vestido de chuva,
uma vezes sentia o cansaço disfarçado de melodia,
outras... outras eu sofria,
cantava,
chorava,
inventava beijos de alegria,
e de alegria não tinha nada,
a caligrafia derramava-se nas encostas íngremes da montanha adormecida,
e o papel onde eu escrevia...
amarrotava-se... e... e ardia...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 3 de Julho de 2014

segunda-feira, 24 de março de 2014

Viagem ao centro dos teus olhos


Verdes pergaminhos do amanhecer amargurado,
cintilantes madrugadas com sabor a desejo,
vagabundas manhãs infestadas de corações de mel,
viajo dentro de ti como os pássaros quando regressa a chuva miudinha,
verdes cansados beijos,
verdes lábios,
… boca dispersa na Primavera das flores campestres,
verdes olhos, verdes... verdes pergaminhos do amanhecer amargurado,
viajante solitário procurando abrigo, e um abraço se levanta do chão,
e dou-me conta que é noite,
cortinados cerrados...
e da tua janela... e da tua janela apenas uma sombra de silêncio.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 24 de Março de 2014

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

às palavras poucas

foto de: A&M ART and Photos

a chuva de mim às palavras poucas
entranhado eu nos cinzentos cobertores da solidão
desenho nos lábios da paixão
o beijo
escrevo nas paredes da insónia o eterno desejado prometido abraço...
… e em vão... permaneço obcecado pelas bolas de naftalina do teu olhar
em vão... adormeço pensando nas ranhuras castanhas dos holofotes de cianeto...
as derradeiras gavetas depois do sexo nuas mãos embrulhadas em toalhas de saudade
a chuva de mim às palavras poucas
deambulando loucamente nos pulmões da velha cidade
sem idade
o corpo submerge de um quarto de pensão,

há carícias
há amor...
há... gemidos confundidos com uma triste/alegre canção...
e Adeus
Adeus a ti de mim às palavras poucas...
das palavras sem coração.


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 21 de Janeiro de 2014

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Sem nome... desejar um

foto de: A&M ART and Photos

O que é desejar, se não querer e não o ter, desejar um corpo suspenso na madrugada que espera o regresso da barcaça abandonada em alto-mar, a maré eleva-o, a maré come-o, e o navio da sede submerge nas rochas negras da noite, o que é desejar, se não querer e não o ter, suspenso, absorto, iluminado pela mão de quem o acaricia... e ouvem-se os gemidos sons da tempestade do silêncio,
O corpo transforma-se em fantasma, o corpo transcreve os invisíveis carris da solidão e desaparece entre os moinhos de vento espalhados pela montanha dos sonhos,
O medo,
A tristeza de um corpo deitado na penumbra descendo das árvores envenenadas pelo desejo, desejar um o corpo proibido, o corpo prisioneiro das mãos do moribundo cambaleante mendigo das trevas, hoje
O que é desejar, se não querer e não o ter, desejar um corpo suspenso na madrugada que espera o regresso da barcaça abandonada em alto-mar, o marinheiro engana-se no navio e quando acorda está fundeado em Cais do Sodré, um cavalo de areia corre junto ao rio, saltita de banco de jardim em banco de jardim, a chuva molha-te e do desejar-te não desejo, a sede esconde-se nas clandestinas janelas com cortinados de chita, e a mão de quem o acaricia... covardemente troca o teu corpo por meia dúzia de cigarros, enrolas-te no Inverno cobertor que cobre o teu cabelo, pareces uma cobra recheada com chocolate e torrões de açúcar, amanhã não o sei, mas hoje, hoje queria ser o dito fantasma vestido de chuva, todo molhado, húmido como o teu, e ao longe, ao longe sentirmos os apitos com doirados sons de fim de tarde,
Não sei quem sou...
Desisto de desejar o que não pode ser desejado,
(dizer que te amo sabendo que o medo transverso do esforço alimenta-se de mim, faz-me fraco, covardemente troco o teu corpo por meia dúzia de cigarros... e quando dou a ordem definitiva ao interruptor para acender o candeeiro da mesa-de-cabeceira... não estás... e diluíste-te com a chuva)
Não sei quem sou...
Desisto de desejar o que não pode ser desejado, os trapos, os farrapos de nós como livros molhados, sujos e imundos, o corpo em imagens tridimensionais... que esperam o meu regresso e curiosamente ainda não sei onde me encontro, preciso de descobrir o caminho para regressar, e se regressar... que seja de noite, que esteja a chover... e que o teu corpo permaneça sobre o divã do desejo
Desejo?
O que é desejar, se não querer e não o ter, desejar um corpo suspenso... desejar um corpo sem nome.


(ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 26 de Dezembro de 2013

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Esqueletos de silêncio

foto de: A&M ART and Photos

Um pequeno charco cobria-lhe o rosto desorganizado como um texto escrito com palavras tontas, a chuva cambaleava sobre o olhar dele, ele provavelmente dormia, não dormia, sonhava... ou... talvez nem conseguisse sonhar, os sonhos são caros e raros, o preço é elevado para o comum dos mortais como ele, talvez sentisse o peso das estrelas, talvez adivinhasse que hoje,
Ontem viajava até ao dilúvio sentido da esperança, tinha na algibeira vinte euros e pouco mais do que isso, tinha perdido a caneta de tinta permanente, tinha-me perdido na penumbra melancolia dos versos de AL Berto, e na mão direita um pedaço de lama enterrada até ao mais profundo dos ossos engasgados como vómitos cintilantes das pálpebras encobertas pelo murmurado ronco da nuvem de papel, choravas, o corpo ia aos poucos minguando até evaporar-se na adrenalina folha de papel que me cobria, pensei que estava morto, acreditei ser um imbecil esqueleto que esperava o ressonar da madrugada, o relógio iluminava-me e marcava três horas, e eu ouvia solenemente os rosnar dos ponteiros contra as roseiras,
Talvez adivinhasse que hoje um pequeno versos se escrevesse no pequeno charco de lama onde tinha escondido os meus sonhos, havia-os de todas as cores, tamanhos e feitios, mas um deles pertencia aos arbustos suicidados dos ventos de Belém, dormia e sentia no rosto os medos de uma Lisboa a entranhar-se-me como uma lâmina
As roseiras brincavam sobre o meu peito,
Uma lâmina fina e escura de saudade descia dos cobertores do céu, um homem poisou a mão no meu rosto e beijou-me, eu sinceramente não me apetecia levantar da miudinha chuva, sentia-os e imaginava-me sentado numa esplanada de granito
Aquela onde me sentava a fumar junto ao Padrão dos Descobrimentos e inventava barcos em papel,
O granito era frio, o homem tinha nos lábios o bravio musgo do Presépio de porcelana e eu sentia-lhe a mão rodopiando sobre os meus olhos, queria acordar, não acordava, sonhava e não sonhava, lia e não lia..., deixei de escrever nos teus seios quando a tempestade entrou dentro de mim, o homem beijava-me como um louco e eu, eu como um louco também... escrevia no corpo dela, sentia-a percebendo que ela morreu há mais de vinte e cinco anos, o homem parou de beijar-me, a chuva abrandou... a mulher dos seios despidos... fugiu, também ela morta, também ela em esqueleto de vaidade numa qualquer montra da cidade,
As roseiras brincavam sobre o meu peito,
O relógio silenciou-se, perdi-me no tempo, perdi-me no corpo dele, e pedi ao Outono que regressasse com as sonâmbulas palavras que um pequeno charco cobria-lhe o rosto desorganizado como um texto escrito, a chuva cambaleava sobre o olhar dele, ele provavelmente dormia, não dormia, sonhava... ou... talvez nem conseguisse sonhar, os sonhos são caros e raros, o preço é elevado para o comum dos mortais como ele, talvez sentisse o peso das estrelas, talvez adivinhasse que hoje, que hoje... que hoje
As roseiras brincavam sobre o meu peito,
E lá fora um Oceano espera-me, tal como me espera a guilhotina das paixões não correspondidas, vadias até, sofrer, viver, sentir-lhe dos lábios o odor dos cigarros incinerados, e a poeira de ti sobre mim... e que hoje
As roseiras brincavam sobre o meu peito,
E... e acordei.


(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 25 de Dezembro de 2013

A colegial sem nome

foto de: A&M ART and Photos

A colegial sem nome que esconde os lábios na madrugada
o livro da colegial dorme como uma criança cansada
o cansaço inventa sorrisos nas mãos do desejo
e este
às vezes como um poço sem fundo
também como a colegial
sem nome
voa sobre as praças com candeeiros de prata,

Os lábios foram-me oferecidos pela madrugada
e a noite constrói-se nas lágrimas da chuva
dos orgasmos fingidos
que a colegial também esconde
não na madrugada
não no corredor da morte...
mas... mas esconde-os na alma do Diabo
como pétalas de insecto mergulhadas nas manhãs de Inverno,

A colegial é transparente
é imóvel
saboreia-se nas candeias que o destino lhe roubou
ela desconhece que a lareira existe apenas para a aquecer
despe-se para o espelho...
a colegial sem nome diz que quando for grande quer ser uma fotografia a preto-e-branco
perplexa
descobre o veneno dos zincos telhados que acordam a criança cansada...


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 25 de Dezembro de 2013

domingo, 15 de dezembro de 2013

Rua dos Prazeres

Foto de: A&M ART and Photos

Desprendem-se das nuvens os pregos negros da cidade dos cães, tinham-me dito que na rua dos Prazeres habitava uma janela com cortinados de areia, havia uma menina de cabelo doirado e no pulso..., sentíamos o vento dançar sobre a neblina madrugada,
No pulso as pulseiras das feridas cansadas,
A madrugada entretinha-se com um baralho de cartas, meia dúzia de azeitonas e algumas rodelas de linguiça..., havia chouriço assado e pão de centeio, música desgovernada que a menina com pulseiras das feridas cansadas deliciava-se a ouvir, encerrava os olhos e
Voava...
Sobre os plátanos maternos dos dias nublados o mar da saudade entrava-nos dentro da cabana com telhado de colmo, nunca vi a chuva dentro do corpo dela quando a roupa desaparecia do estendal e um emagrecido esqueleto de desejo deambulava em cima do cobertor de lã que alguém nos tinha oferecido, ainda muito antes de ela ser ela, ainda mesmo quando não tínhamos, ainda mesmo quando não usávamos...
Beijos, e margaridas nas jarras em porcelana,
E
Voava o cretino calendário com a fotografia do espantalho de palha, junto à eira uma pequena fogueira alimentava a canção dos grilos aflitos dentro da cratera terra onde brincavam espigas de milho, feijão e aqui e além...
O centeio vivia sufocado com as auroras boreais das latidas palavras caninas, o burro culminava a exuberante letra do poema abandonado, fotografias infinitas zurravam nas labaredas da fogueira que a eira gritava
São minhas, são minhas... são minhas as tontas palavras,
Ninguém se mexia, ninguém acreditava em fogueiras, círios e desenhos inscritos na docas árvores com espelhos de prata
Eu + Tu,
Dois parvos,
Amor de...
Outra parvoíce... amo-te... nunca mais...
(desprendem-se das nuvens os pregos negros da cidade dos cães, tinham-me dito que na rua dos Prazeres habitava uma janela com cortinados de areia, havia uma menina de cabelo doirado e no pulso)
Eu + Ele,
E
voava, e são minhas, são minhas... são minhas as tontas palavras, aquelas que escrevia no corpo dele enquanto o tempo morno
Morno?
Não, não morno...
Morto, matávamos o tempo escrevendo versos no corpo um do outro, ela dizia que as árvores estavam agoniadas com tantas
Tontas?
Não, não tontas, com tantas velhas inscrições...
Eu + Tu,
Será, não será, e uma seta aproveitava a esplanada da paixão e alojava-se no coração desenhado do velho tronco, a navalha entrava corpo adentro, a navalha recheava os telhados amaldiçoados das ruas com janelas...
E
Os cortinados
Da cidade
Da cidade dos cães, latidos, uivos, suspiros...
A paixão?
O amor morto depois de assassinado pela canção da menina com pulseiras... no pulso as pulseiras das feridas cansadas, e cansadas elas percebiam que éramos sombras à espera do desarrumado relógio de pulso, o mesmo que esteve presente na noite de núpcias, o mesmo que presenciou o primeiro “charro”, aquele que assistiu à primeira “chinesa”... aquele que acreditava na menina com pulseiras
Parvas,
Monas,
Tolices em palavras depois de mortas.


(não revisto - ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 15 de Dezembro de 2013

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

vivo inventando rosas

foto de: A&M ART and Photos

odeio-me por existirem dentro do meu peito as palavras das encarnadas flores
vivo inventando rosas
amores
e chuva miudinha sobre as íngremes rochas do mar da tristeza
sou um barco em fuga das conversas loucas que iluminam os teus lábios de papagaio em papel
e sobes entre o Céu nocturno do desejo
e desces às catacumbas do silêncio
há em ti uma palavra prometida numa tarde de Outono
e éramos crianças vestidas de negro
dançando sobre a mesa de um velho café
esquecendo as amarras Luas dos sótãos clandestinos como divãs de areia
na mala de couro adormecido que a tua mão saboreava

me levavas encarcerado até encontrares os beijos das garças quando rompem o cacimbo embriagado pelo capim dos poemas encalhados
distantes
doentes
húmidos
… teu corpo e teu vestido
sós simples abandonados... molhados como saliva de sémen na clarabóia da insónia
o texto reflecte-se no espelho da agonia
dorme
vomita
sangra das veias suicidadas as ardósias com sabor a chocolate
e baunilha

terminas a noite voando sobre a cidade dos anjos
entranhas-te em mim
és minha
como todos os livros que vivem na minha algibeira,,,
imagino-te sentada no Rossio
vendando folhas de cartolina com caracteres inanimados
mortos
imagino-te brincando em Cais do Sodré correndo sobre os carris da paixão
escrevem-me e esqueço-me que deixaste de pertencer aos meus sonhos
que deixaste de fabricar sorrisos nos fósforos das manhãs embaciadas
ruas infinitas à volta de uma fogueira de casas abandonadas
e... odeio-me por existirem dentro do meu peito as palavras das encarnadas flores


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 2 de Outubro de 2013

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Hoje perco-me de ti nos teus braços de hoje, e ontem...


As palavras, os sons... porque hoje o silêncio mistura-se nas palavras por dizer e em trocados olhares, porque hoje, hoje tudo parece adormecer como uma doce boneca de trapos nas mãos de uma criança, e o céu, e o mar, e os sons... mergulham nas esplanadas do abismo, comem poemas não escritos, e, e escondidos nas clarabóias do nocturno beijo que as árvores de papel crepe deixam cair sobre as tuas mãos de acrílico sobre tela
Há uma tempestade dentro do meu coração,
Cair sobre os charcos que vivem nos musseques de ontem, e de hoje, e talvez amanhã, um sofrimento de capim grite sobre os telhados de zinco
Há uma,
Sobre tela, o acrílico desejo em sons uivos dos alicerces amaldiçoados pelos mabecos revoltados, embondeiros dormem de pé esperando a chegada do silêncio e este mistura-se nas palavras por dizer e em trocados olhares, porque hoje, hoje tudo parece adormecer como uma boneca de trapos nos ramos feridos das folhas mortas que vão caindo sobre o paralelepípedo castanho que as sílabas de prata escrevem no caderno em pequenas despedidas,
Perco-me de ti nos teus braços de hoje, e ontem...
Havia uma tempestade dentro do meu coração, e ontem
Eu era um cadáver em movimento curvilíneo, suspenso por um cordel ao tecto das amendoeiras preguiçosas, sem flor, caindo em pedaços apodrecidos sobre as paredes do amor impossível, indesejado... do amor não vivido, do amor proibido, às palavras, às linhas transversais das marés de Inverno...
(o cosseno de trinta graus é raiz de três sobre dois)
Havia uma tempestade dentro do meu coração, e ontem Havia uma tempestade dentro do meu coração, e ontem Havia uma tempestade dentro do meu coração, e ontem Havia uma tempestade dentro do meu coração, e ontem Havia uma tempestade dentro do meu coração, e ontem Havia uma tempestade dentro do meu coração, e ontem Havia uma tempestade dentro do meu coração, e ontem Havia uma tempestade dentro do meu coração, e ontem,
Há uma,
Havia muitas...
As palavras, os sons... porque hoje o silêncio mistura-se nas palavras por dizer e em trocados olhares, porque hoje,
Hoje perco-me de ti nos teus braços de hoje, e ontem...
(o cosseno de trinta graus é raiz de três sobre dois).

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 1 de Outubro de 2013

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Viver como um pássaro e voar como um barco cambaleando sobre as ondas sonoras dos poemas de AL Berto

foto de: A&M ART and Photos

Acredito que o Sol voltará a brilhar nas íngremes encostas mergulhadas nos seios mendigos do rio mais belo do Universo, acredito que a chuva das vindimas transformar-se-á em pequenos balões de hélio sobrevoando as lâmpadas do silêncio como xistos em revolta, acredito que todas as grades em aço que cercam as prisões brevemente acordarão vestidas de botão de rosa, de muitas cores, e em pétalas poeira cintilando nas mãos tuas madrugada
Liberdade?
Liberdade...
Viver como um pássaro e voar como um barco cambaleando sobre as ondas sonoras dos poemas de AL Berto, do cimo da montanha e em pétalas poeira cintilando nas mãos tuas madrugada, ele revestido a prata, ele sorrindo, poisando o desejo sobre a mão dela,
Acredito que as nuvens vão ser de algodão, leves, leves como os círios da Igreja onde me esperas quando eu morrer, e sem lágrimas, e sem demandas... acreditarás que eu vou voar e que mais tarde... mais tarde nos encontraremos junto a uma mangueira, e sobre nós sombras de cacimbo e o latejo dos mabecos felizes por
Acreditares,
No futuro, na liberdade, nas grades em aço que transformar-se-ão em rosas, rosas, rosas com lábios encarnados,
Perfumadas pois então,
Nós
Felizes
E viveremos nas encastradas encostas da chuva em vindimas de pergaminho, ouvem-se os pais beijarem os filhos, vêem-se as mães acreditarem nas alegrias dos filhos, ouvem-se os arbustos despedirem-se do ferrugento barco em suspiros profundos
Fundeando há vinte anos..., afundam-se e gritam
Os outros,
Liberdade, acredito que as flores vão ser de papel, e que dos meus livros, e que dos meus livros acordarão todas as personagens que vivem em mim, estas há mais de vinte anos, e no entanto, não tão ferozes como as outras,
Tudo servia para comer,
O quê?
Tudo, tudo... e até as pedras acreditavam no medo...
O medo?
Em capa dura, do amarelo sobressai o peso de um corpo em ziguezague, sonolento, o título é em oiro futuro, e ele
Embrulhado em plumas de cetim
Acreditava que “O medo” não tinha medo,
Acredito que com a trovoada vêm as sílabas palavras com pele sedosa, e das caricias de uma gaivota, ele
Acredita,
Acredita que o mar é de todos, que o Sol iá nascer para todos
(enquanto hoje, apenas alguns dementes têm o prazer de o ver)
Nunca vi o Sol, não sei como é o Sol...
Mas acredito que existe, que vive, sorri...
(Perfumadas pois então,
Nós
Felizes
E viveremos nas encastradas encostas da chuva em vindimas de pergaminho, ouvem-se os pais beijarem os filhos, vêem-se as mães acreditarem nas alegrias dos filhos, ouvem-se os arbustos despedirem-se do ferrugento barco em suspiros profundos
Fundeando há vinte anos..., afundam-se e gritam
Os outros),
Não sabem que a chuva das vindimas é uma mulher nua abraçada a cachos de uva, em seu redor, um louco grita,
Acreditar,
E eu, que apaixonei-me pela chuva...
Acredito.

(Não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 27 de Setembro de 2013

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

As jangadas de silêncio caminhando junto ao mar

foto de: A&M ART and Photos

O teu fogo extingue-se no meu corpo, e as cinzas, essas, voam em direcção ao mar... há marinheiros em cio deitados sobre os braços de outros marinheiros, como barcos, em aço, soldados uns nos outros, rebitados, até que a morte os separe, novamente em fogo, derretem-se e novamente são barcos, e novamente abraçados, agora não a outros barcos, mas
As flores, as jangadas de silêncio caminhando junto ao mar,
Mas, os teus braços, meu amor, rebitados no meu peito, também ele em aço, também ele sofrível, mendigo, vagabundo, e como eu, também tu, aos poucos, deixaste de olhar o mar, e também tu, aos poucos, deixaste de olhar os lábios encarnados do luar,
Amo-te, oiço-te,
Despir você... acariciar seu corpo entranhado em finas bolhas de champanhe, oiço-te na escuridão nocturna da insónia, desejar-te cansa. e ao mesmo tempo, alimenta-me os volantes e êmbolos que trago dentro de mim... e fazer amor com você até deixar de haver dia, noite, luzes, ventos, mar, chuva...
Depois, a noite trouxe os três navegantes de olhos verdes, e as flores, a jangada de silêncio junto ao mar, vive neste momento nos seus seios de capim, oiço-a gemer e sussurrar...
Amo-te, meu querido,
E no entanto, há vento, e no entanto, há tempestades, neve, granizo, ossos cerâmicos... vidros, olhos de vidro, lâmpadas incandescentes, e sinto-a dentro de mim, em fogo, como se o meu corpo fosse uma janela aberta na montanha branca, excitada... quase húmida... como a chuva, devagarinho a entranhar-se na terra
E
E oiço-a, amo-o meu querido, amo-o...
E
E oiço-o, amo-te meu querido, amo-o...
E a terra infestada de minhocas com asas, e a terra , na terra, devagarinho a entranhar-se-lhe... e as árvores, as mais frágeis, tombaram sobre o sobrado do cacimbo, eu, eu sempre a ouvi-la
Amo-o,
Eu
Eu sempre a ouvi-lo
eu
Amo-o,
Como amo as borboletas e as abelhas,
Na terra, curvas de nylon suspendem o céu, e as tuas mãos agoniam-se de encontro aos rochedos, tenho a leva sensação, que, que uma das tuas mãos, acabou de suicidar-se,
E agora, meu amor?
Oiço-a
Oiço-o
E a vida é um carrossel de mentiras embebidas em vodka, palavras... e sexo.

(não revisto – Ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 19 de Agosto de 2013

O encontro – A chuva e o nu corpo dela

foto de: A&M ART and Photos

Eu deixo a conversa fluir... como a água da chuva a cair sobre o teu nu corpo, saboreando as partículas de desejo que descem das nuvens..., ouvem-se as bolhas de sabão a cair nas tuas costas, ouvem-se as sílabas mergulhadas nos teus lábios coloridos, e aos poucos desces pelas minhas mãos como sandálias envenenadas por uma calçada íngreme, e ao fundo, o rio, o Tejo, ele que te espera, e te acaricia entre as medusas de olhos castanhos, sinto-te dentro de mim, e sei, sei que amanhã não estarás na minha cama...
Vamos juntos... enrolados como duas serpentes envenenadas pelo sémen do amanhecer... e lá fora uma maçã acaba de tombar sobre os teus seios, afago-os e mordo-os com os meus finos dedos, e sabes que penetrarei em ti como se fosses um livro de poemas dentro da algibeira do espelho encarnado que acorda antes de acordar o teu orgasmo, é tarde, o relógio da sala cansou-se de ouvir-nos em latidos estranhos que atravessam as paredes de gesso e ripa, o tecto olha-nos, e inveja-te, porque permanecerás eternamente nas suas mãos, como um candeeiro suspenso e que ilumina a noite derretida em pura seda como lençóis sobre o teu corpo de areia, é tarde, lá fora dormem os homens e as mulheres, nós, nós permanecemos eternamente acordados, e procuramos entre os estilhaços dos líquidos sobejantes e adormecidos sobre a cama a saudade, e os beijos,
É tarde, para ti, quase que dormes, olho-te como se fosse o tecto, e vista de cima, tu, pareces um jardim com flores em papel... que voam quando tocas no meu peito, e fincas os lábios ficando entre eles... uma pétala de orvalho,
Estás loucos, oiço-te,
Louco porque a poesia derrete-se como a manteiga sobre os teus seios, louco porque mergulhas na chuva diluída em pequenas lâminas de fogo, tu, tu ardes como um livro depois de lido, folheado, manuseado cuidadosamente, e o papel da tua pele cola-se-me como uma borboleta desesperada depois da tempestade, oiço-te
Estás louco,
Louco porque inventaram o amor, louco porque inventaram o desejo e os jardins junto ao Tejo, e louco, louco porque oiço os uivos teus beijos de encontro à prateleira onde moram os livros de António Lobo Antunes, e louco
Estás louco,
E loucos, loucos barcos em gaivotas saciando o cio nas noites que atravessam o Tejo, e do outro lado, os edifícios em esqueletos vadios, que correm e comem,
Meninos, meninas,
Debaixo da tenda do circo que aportou por aquelas bandas, o vento dá-lhes força nas velas e começam em corridas vagarosas como palhaços velhos, e de bengala, e sorrisos nos seus rostos
Meninos, meninas,
Procurando a fome nos vultos zumbis da avenida adormecida, debaixo da tenda do circo, e todos os sonhos realizáveis... O encontro – A chuva e o nu corpo dela.

(não revisto - Ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 18 de Agosto de 2013 / Segunda-feira, 19 de Agosto de 2013

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Fingindo crescer brincando não brincar

foto de: A&M ART and Photos

Uma tímida mão de porcelana
entranha-se no teu olhar vigilante como as nuvens sem nome
finge-se tudo
até a vida de viver quando se deixou de amar...
finge-se a riqueza
e os silêncios em alto-mar
uma tímida mão
de dedos longos
extintos como a fogueira do teu corpo
fingindo o amor
construindo mentiras sem alicerces
ou sepulturas
uma tímida mão de porcelana
entranha-se
e fingi-se tudo
do orgasmo
à chuva miudinha...
aos barcos que se dizem cansados
apodrecidos
enferrujados...
tudo
mesmo tudo
fingido como o miúdo...
fingindo crescer brincando não brincar.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó

quinta-feira, 3 de maio de 2012

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

A chuva das palmas

A chuva das palmas ilumina o casebre, Marilu, travesti e puta ao domicílio, Marilu dança como se fosse um orgasmo fictício engasgado na penumbra da noite, do teto cordas de sémen descem até ao pavimento lamacento do casebre, e
- A chuva das palmas,
E desaparece dentro da abóboda celeste,
Marilu começa a voar sobre as cabeças iluminadas pela chuva das palmas e no pénis amarrotado uma frase que faz questão de mostrar ao respeitado público A terra é de quem a trabalha e o meu querido pai que não é parvalhão nenhum Sussurra,
- Mas o fruto é que quem o come,
Muito bem Muito bem Camarada Presidente,
Ele encostado à porta de entrada com a respetiva chave e quando tenta introduzir a chave no buraco da Marilu
- Peço desculpa,
No buraco da fechadura o seu escudeiro mor segreda-lhe Camarada Presidente os dentes para cima,
E ele levanta a cabecinha e arreganha a dentadura e a porta nem se mexeu, o escudeiro percebe que o Camarada Presidente,
- Fuzilem imediatamente este homem,
A chuva das palmas quando a centímetros o Anjo marreco desejoso de saltar para cima da Marilu mas Mas o fruto é de quem o come e a Marilu é de todos e o Anjo marreco candidato à isenção de taxa moderadora, um orgasmo fictício engasgado na penumbra da noite, do teto cordas de sémen descem até ao pavimento lamacento do casebre,
- Muito bem Muito bem Camarada Presidente E desaparece dentro da abóboda celeste,
Peço desculpa mas não aguento mais estes malditos bombos e estas malditas cordas de sémen e a puta da Marilu travesti e homem,
Com o pénis amarrotado e uma inscrição a tinta doirada A terra é de quem a trabalha e claro que sim Muito bem Camarada Presidente Muito bem mas Mas o fruto é de quem o come,
Uma chuva de palmas fictícias ilumina o casebre
- Peço desculpa,
A chuva das palmas ilumina o casebre e um orgasmo fictício engasgado na penumbra da noite escorre pelo cantinho da boca do Camarada Presidente,
- Fuzilem imediatamente este homem, e a ordem de serviço rigorosamente cumprida,
Marilu que já se encontrava nos braços do Anjo marreco foi espancado foi torturado e por fim cortado em filetes de fantochada,
- Mas o fruto é que quem o come,
Termina a chuva das palmas.

(texto de ficção)