foto de: A&M ART and Photos
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O que é desejar, se não querer e não o ter,
desejar um corpo suspenso na madrugada que espera o regresso da
barcaça abandonada em alto-mar, a maré eleva-o, a maré come-o, e o
navio da sede submerge nas rochas negras da noite, o que é desejar,
se não querer e não o ter, suspenso, absorto, iluminado pela mão
de quem o acaricia... e ouvem-se os gemidos sons da tempestade do
silêncio,
O corpo transforma-se em fantasma, o corpo
transcreve os invisíveis carris da solidão e desaparece entre os
moinhos de vento espalhados pela montanha dos sonhos,
O medo,
A tristeza de um corpo deitado na penumbra descendo
das árvores envenenadas pelo desejo, desejar um o corpo proibido, o
corpo prisioneiro das mãos do moribundo cambaleante mendigo das
trevas, hoje
O que é desejar, se não querer e não o ter,
desejar um corpo suspenso na madrugada que espera o regresso da
barcaça abandonada em alto-mar, o marinheiro engana-se no navio e
quando acorda está fundeado em Cais do Sodré, um cavalo de areia
corre junto ao rio, saltita de banco de jardim em banco de jardim, a
chuva molha-te e do desejar-te não desejo, a sede esconde-se nas
clandestinas janelas com cortinados de chita, e a mão de quem o
acaricia... covardemente troca o teu corpo por meia dúzia de
cigarros, enrolas-te no Inverno cobertor que cobre o teu cabelo,
pareces uma cobra recheada com chocolate e torrões de açúcar,
amanhã não o sei, mas hoje, hoje queria ser o dito fantasma vestido
de chuva, todo molhado, húmido como o teu, e ao longe, ao longe
sentirmos os apitos com doirados sons de fim de tarde,
Não sei quem sou...
Desisto de desejar o que não pode ser desejado,
(dizer que te amo sabendo que o medo transverso do
esforço alimenta-se de mim, faz-me fraco, covardemente troco o teu
corpo por meia dúzia de cigarros... e quando dou a ordem definitiva
ao interruptor para acender o candeeiro da mesa-de-cabeceira... não
estás... e diluíste-te com a chuva)
Não sei quem sou...
Desisto de desejar o que não pode ser desejado, os
trapos, os farrapos de nós como livros molhados, sujos e imundos, o
corpo em imagens tridimensionais... que esperam o meu regresso e
curiosamente ainda não sei onde me encontro, preciso de descobrir o
caminho para regressar, e se regressar... que seja de noite, que
esteja a chover... e que o teu corpo permaneça sobre o divã do
desejo
Desejo?
O que é desejar, se não querer e não o ter,
desejar um corpo suspenso... desejar um corpo sem nome.
(ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 26 de Dezembro de 2013
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