foto de: A&M ART and Photos
|
Vinte e uma horas e as ratazanas azuis
deambulam no corredor da insónia
sou invadido por um sonho em tons de
branco
e um tecido opaco ofusca-me o olhar
a cegueira entranha-se na minha mão
passo-a pelo teu rosto e verifico que
não tens rosto...
… vinte e uma horas e tu não existes
e tu
tu pareces uma rosa desgovernada na
paisagem sem moldura
uma tela em branco
uma janela...
janela sem caixilho... quando sinto o
vento entrar e nada posso fazer
e nada me apetece fazer...
Deixo a caneta sobre a secretária
deixo um dos livros em pausa perto da
mesa-de-cabeceira
desligo o interruptor da saudade
dos sonhos
e percebo que a lâmpada do desejo
nunca mais se acenderá na minha vida...
anticongelante corre-me nas veias
tristes e sonolentas
agrestes
precoces como os primeiros passos em
sandálias de couro
os calções voavam sobre as mangueiras
sem bandeira
e a apátrida criança nunca mais quis
olhar o mar...
desistiu
desistiu dos sonhos com bonecos de
peluche
Desistiu dos velhos pinheiros de
Carvalhais
da eira
do espigueiro...
vinte e uma horas em Portugal
Continental
e um miúdo perde-se na imensidão das
ruas com os espelhos das velhas secretárias
com velhos papeis
em velhos edifícios atulhados em
reumatismo e bicos de papagaio...
o tempo acabou
e os calões hoje são gaivotas com
sandálias de couro
que brincam no Baleizão
ou...
ou... ou talvez... não.
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 26 de Dezembro de2013
Sem comentários:
Enviar um comentário