Foto de: A&M ART and Photos
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Desprendem-se das nuvens os pregos negros da cidade
dos cães, tinham-me dito que na rua dos Prazeres habitava uma janela
com cortinados de areia, havia uma menina de cabelo doirado e no
pulso..., sentíamos o vento dançar sobre a neblina madrugada,
No pulso as pulseiras das feridas cansadas,
A madrugada entretinha-se com um baralho de cartas,
meia dúzia de azeitonas e algumas rodelas de linguiça..., havia
chouriço assado e pão de centeio, música desgovernada que a menina
com pulseiras das feridas cansadas deliciava-se a ouvir, encerrava os
olhos e
Voava...
Sobre os plátanos maternos dos dias nublados o mar
da saudade entrava-nos dentro da cabana com telhado de colmo, nunca
vi a chuva dentro do corpo dela quando a roupa desaparecia do
estendal e um emagrecido esqueleto de desejo deambulava em cima do
cobertor de lã que alguém nos tinha oferecido, ainda muito antes de
ela ser ela, ainda mesmo quando não tínhamos, ainda mesmo quando
não usávamos...
Beijos, e margaridas nas jarras em porcelana,
E
Voava o cretino calendário com a fotografia do
espantalho de palha, junto à eira uma pequena fogueira alimentava a
canção dos grilos aflitos dentro da cratera terra onde brincavam
espigas de milho, feijão e aqui e além...
O centeio vivia sufocado com as auroras boreais das
latidas palavras caninas, o burro culminava a exuberante letra do
poema abandonado, fotografias infinitas zurravam nas labaredas da
fogueira que a eira gritava
São minhas, são minhas... são minhas as tontas
palavras,
Ninguém se mexia, ninguém acreditava em fogueiras,
círios e desenhos inscritos na docas árvores com espelhos de prata
Eu + Tu,
Dois parvos,
Amor de...
Outra parvoíce... amo-te... nunca mais...
(desprendem-se das nuvens os pregos negros da cidade
dos cães, tinham-me dito que na rua dos Prazeres habitava uma janela
com cortinados de areia, havia uma menina de cabelo doirado e no
pulso)
Eu + Ele,
E
voava, e são minhas, são minhas... são minhas as
tontas palavras, aquelas que escrevia no corpo dele enquanto o tempo
morno
Morno?
Não, não morno...
Morto, matávamos o tempo escrevendo versos no corpo
um do outro, ela dizia que as árvores estavam agoniadas com tantas
Tontas?
Não, não tontas, com tantas velhas inscrições...
Eu + Tu,
Será, não será, e uma seta aproveitava a
esplanada da paixão e alojava-se no coração desenhado do velho
tronco, a navalha entrava corpo adentro, a navalha recheava os
telhados amaldiçoados das ruas com janelas...
E
Os cortinados
Da cidade
Da cidade dos cães, latidos, uivos, suspiros...
A paixão?
O amor morto depois de assassinado pela canção da
menina com pulseiras... no pulso as pulseiras das feridas cansadas, e
cansadas elas percebiam que éramos sombras à espera do desarrumado
relógio de pulso, o mesmo que esteve presente na noite de núpcias,
o mesmo que presenciou o primeiro “charro”, aquele que assistiu à
primeira “chinesa”... aquele que acreditava na menina com
pulseiras
Parvas,
Monas,
Tolices em palavras depois de mortas.
(não revisto - ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 15 de Dezembro de 2013