segunda-feira, 16 de março de 2015

Apaixonado, os búfalos alicerçados ao poema, o eterno perdido, navegando pelas linhas transversais da paixão, a guerra
Nunca conheci o meu pai,
Fotografias, uma velha espingarda... e
A guerra dentro do meu sangue, o meu irmão clandestinamente afogado no medo de não acordar, e todos os dias
Pai?
Em combate, os dias espelhados numa pequena folha em papel, ouviam-me os espirros das espingardas, ao longe, distante, o capim dormindo, cigarros incendiando os sonhos da adolescência, os textos confusos, as ditas fotocópias das fotografias... assassinadas,
Por um louco,
Miguel?
Margarida acredita no amor depois da morte,
Ele
“Foda-se”,
Ele sentado numa cadeira de praia, lia o jornal, olhava-me
Um dia
Regressarmos?
Nunca, pensava eu, ele sabia que um dia
Morto em combate,
“Filho da puta”...
Amor de mãe.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 16 de Março de 2015

Esteios


A melodia nocturna da aventura
os esteios do silêncio abraçados ao cansaço
desespero
e espero
que acorde o dia
sem amargura
sem... sem cortinados de penumbra
baloiçando no pescoço da saudade
os cigarros entre as estrelas
os dedos mergulhados nos teus seios
acesos
em espuma
palavras
números
portas
e ruas
despidas
nuas
e sinto do outro lado do rio
os guindastes da solidão
voando como gaivotas
livres
como os barcos
sem marinheiros
sem...
acesos
os ossos em papel
das migalhas invisíveis do voo
o infinito
destino
das mãos
quando alguém desiste do luar
e sem... acesos
os ossos
o infinito destino
das mãos no leito do sono...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 16 de Março de 2015

domingo, 15 de março de 2015


A guerra,
Perdemos tudo, o meu pai morto em combate,
Amor de mãe,
Pai,
Não o conheci, apenas algumas fotografias de espingarda na mão, António sabia que seria a sua última noite, e mesmo assim, escreveu o seu último poema,
Dedicado a “Deus”,
Um Ateu, Pai?
Perdemos tudo, a fala, as palavras e os abraços do cacimbo, os cacilheiros em cio redopiando como cobras amestradas, o circo, a aldeia colorida de sapatos e sandálias de couro, os calções e o triciclo, ele
Dedicado a “Deus”,
Não guardo rancor, o ditador morto, felizmente cessaram as espingardas do ciume, vagamente oiço o teu respirar, ele
Pai,
Não o conheci, e ele embrulhado em quatro pedras de espuma, o cachimbo da solidão, partilhávamos todas as carícias do abismo, e ele
Louco,
Apaixonado.



(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 15 de Março de 2015

farrapos de vidro...


o engate suspenso nos anzóis da tarde
à mão
regressa a caneta da solidão
e há nuvens de papel nos olhos do poema
és livre
de voar
sobre os corações de xisto
que habitam as imagens a preto e branco
do Douro
navegar
subir ao luar
e,

e abraçar-se aos vulcões de areia
dos homens
e das mulheres
de sombra,

imaginar
desenhar nas entranhas pálpebras de amar
o silêncio do beijo
à janela
o mar avança e nos leva
somos dois
talvez...
três
o engate
à mão
suspenso nos anzóis da tarde
a tarde... a tarde dos farrapos de vidro...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 15 de Março de 2015

Árvore


Árvore
que cai no lamacento pavimento do sorriso
se deita
e fica
imóvel
tranquila
na árvore
a conquista não conquistada
o fervoroso sono da alquimia
o centro
o ponto imaginado pela mão do regresso
e fica

árvore
caída na circunferência do amor
e a paixão
imóvel
corre
corre...
porque a terra é um poço invisível
porque há nas palavras pequenos silêncios
a humidade
dos corpos
no chão
o cheiro

que parte
e não volta
o teu perfume secreto
nas pálpebras da manhã
e fica
árvore
sofrida
perdida nas pedras da calçada
desce e sobe
e senta-se...
no chão
dos narcisos em putrefacto esqueleto da escuridão nocturna...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 15 de Março de 2015
“Fodes comigo ou não...” o poeta para o poema, embrulhado nas sílabas da ira, o medo, a fome construída em cartão, um sonho de luz abrigado nos teus olhos, e ele
Pai, o que é “foder”?
E ele, pincelado de mendigo
Filho,
Sim, pai,
As palavras...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 15 de Março de 2015

sábado, 14 de março de 2015

África


África inventada nas minhas veias
um rio infinito de cheiros
sensações
sentidas lágrimas esquecidas numa qualquer sombra
o capim em silêncio
o musseque dorme nos braços do luar
gritam as almas dos muros invisíveis
como uísque voando sobre a planície dos sonhos
as gaivotas escritas nos livros da saudade
as cavernas secretas da paixão das pedras
em destaque
o orgasmo embriagado na penumbra madrugada
ouvem-se as migalhas do sofrimento
caindo no zinco empobrecido
que só os homens sabem construir...
as palavras de uma espingarda disparada pelo poeta
corações de chocolate em decadência
como princesas sem nome
sem Pátria...
os barcos comestíveis
nas mãos de uma criança
e sem o perceber
ela
África
um rio infinito de cheiros
sons
e beijos em lábios de serpente.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 14 de Março de 2015

Livros em viagem


O suicídio embrulhou-o na almofada do sono
como quem semeia numa fogueira
palavras
e desenhos
e corpos
e beijos
o desejo
meu amor
a saudade dos tentáculos teus braços
quando olhávamos petroleiros brincando no Tejo
o vento
levava o teu cabelo até à outra margem...
alguns minutos
poisava na minha mão
estrelas
os teus olhos
Belém fervilhava
como um campo de centeio
nos corredores da cidade
os livros em viagem
atravessavam a ponte
sem autorização
sós
o café
e a água
a esplanada em cio
quando ouvia o uivar de uma gaivota
em todos os finais de tarde
sós
o café
e a água
estrelas
nos teus olhos de rosa embalsamada
o jardim nos esperava
e abraçava
com corrente de aço pinceladas de silêncio...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 14 de Março de 2015

sexta-feira, 13 de março de 2015

Nascia, afogava-se nos soluços da madrugada, lá fora, as palmeira da Baía, os barcos abraçados às cancelas da solidão,
Pai?
Filho?
Solidão, nascia, em cada minuto de esperança as cinco cintilações da estátua de sombra, o sal, o pôr-do-sol perdido na claridade inventada por Miguel
Narcisos enganchados no desassossego, literalmente
Filho?
E Miguel imaginava barcos na parede do quarto, alguns risco, palavras desconexas, mortas, assassinadas pela loucura,
Filho?
Solidão, pai...
O que é?
Pois, filho, olha um vez li um texto onde uma mulher era amada por três poetas e um pintor, o pintor esquecia-se da flor, e a tela sempre vazia, branca, dia
Solidão, pai...
Dia da Poesia Nacional, 14 de Janeiro, homenagem a AL Berto e aos seus sonhos,
(Telegrama)
Odeia-me, eu sei pai,
Mas... a solidão, a morte, o camuflado desejo de Morrer
Miguel?
Sim, pai... quero,
O dia mais “fodido” da minha vida,
à tua morte... e das abelhas decalcadas no xisto, a pele da beleza...



(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 13 de Março de 2015

Bilhete na alvorada


No trajecto da insónia
um ponto embrulhado nas coordenadas do silêncio
percebe-se pelo movimento lento
que a parábola incendeia o pequeno quadrado
lá dentro o medo
viver ele
enquanto desenho na ardósia tarde
o significado das imagens nocturnas do prazer
o corpo é um pesadelo sem porto onde aportar
viver ele
no mar
e cansa-se do rasurado veneno que o vento semeou

a carta regressa
endereço insuficiente
ausente
talvez morto
talvez contente...
no mar
o luar pincelado de andorinhas marés
e ele
sempre ele
viver ele
e cansa-se
não o devia fazer

fugir
sem...
sem deixar um bilhete sobre a secretária
ou
ou apenas um traço no espelho embaciado da casa de banho
eu percebia
ausentou-se
foi-se
nunca mais voltará aos livros...
nunca mais acordarão as vozes das sílabas embriagadas
nos sonhos
da alvorada.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 13 de Março de 2015

quinta-feira, 12 de março de 2015

Não sei, António, não sei
Regressar, porquê?
Hoje acordei cedo, Margarida embrulhada nos lençóis do Pôr-do-Sol, e lá longe
Cintilações dos minguados beijos nos teus lábios, os seios de cera desenhados nas eternas mesas-de-cabeceira
Louco, ele?
E lá longe, murmúrios e incorrigíveis uísques brincando dentro de um livro, Margarida
Amor?
Amar...
Os homens tinham regressado da faina, olhava-me um barco, tive medo, confesso,
Eu confesso
Tu confessas
Ele confessa,
E confesso que fiquei perplexo, tão triste, tão triste como as flores de Inverno,
A faina, peixe... nenhum, nada, nada ao quadrado vezes seis a raiz quadrada de mil noventos e sessenta e seis, o pequeno-almoço, as torradas,
Para niguém, devolvida
Endereço desconhecido,
Ele confessa,
Um galão, escuro,
António?
Sim, amor,
Hoje,
Hoje o quê, meu amor?
Hoje não vou escrever palavras de chocolate...



(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 12 de Março de 2015

os livros


ausento-me deliberadamente das sombras envergonhadas
que habitam os socalcos da saudade
sou um ninho de cacos
e pequenas películas de silêncio
pela madrugada
oiço a tua voz aprisionada nas frestas deste cubículo
há entre nós um espelho cansado
e triste
ausento-me dos teus lábios
e perco-me nas palavras sem nome
como as ruas da tua cidade
ou da tua aldeia

o musseque
fervilha
transpira poesia
e o teu cabelo suspenso numa fotografia
tão distante
o mar
e as marés de sono
que me embrulhavam
hoje
não mar
não sono
nada

amar
amar
amar as flores e os desenhos embalsamados
correr montanha abaixo
deitar-me sobre ti
apenas
o peso das nuvens pinceladas de alfazema
a aceleração
acorrentada a uma equação
a física
a matemática
e... e amar

nada
os separa
os fios de sémen perdidos no cacimbo
o cachimbo em brasa
lúcido
de braços abertos
e abraça-me
e beija-me
como se beijam todos os livros
folheados
e no entanto
ausento-me deliberadamente das sombras envergonhadas...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 12 de Março de 2015
O falso rico esquecido no asilo do dinheiro, porque incha o corpo do rico e míngua o corpo do pobre?
As palavras,
Só. eu?
E..., e sim, o cemitério engasgado nos ossos de António, o meu melhor amigo, companheiro, e... e nem me avisou que ia viajar, de veleiro ao ombro, meia dúzia de bicuatas... e nunca
A fome dentro de um subscrito, lembrava-se das tardes de infância inventando barcos em esferovite e sonhos, ele
As palavras?
Ele sorria, percebia-se no seu rosto o esqueleto e a alma da alegria, e no entanto, morreu...
E nunca, e nunca mais conversou comigo...
António... António amava-o...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 12 de Março de 2015

quarta-feira, 11 de março de 2015

O carrossel


Este sítio encalhado nos muros da solidão
que acorda dentro de mim
todos os dias
e dorme
comigo
todas as noites
este sítio embarcado
como sinfonias voando numa seara negra
junto à eira
olhando o silêncio luar
do corpo as desassossegadas imagens
entre parênteses

curvos
rectos
uniformes
disformes
molhados
às vezes
outras
sangrando lágrimas de nada
e tudo
ou...
o amor envenenado pelas ervas daninhas
ou...

imaginando flores em papel aprisionadas numa esquina
da cidade
a abarrotar de sombras
e sombras
e tudo
e nada
como as simples fotografias do prazer
na cama
sentado
ouvindo o pulsar do mar
brincando no corredor da saudade...
o carrossel infinito da infância.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 11 de Março de 2015

terça-feira, 10 de março de 2015

As três ciganas do deserto, os homens buscam a sina do silêncio, imaginam-se uma criança de prata, frágil, brincando nas palavras rochosas da poesia, João perde-se nas cartas,
O jogo,
A mentira
Fugir para outros continentes, outras galáxias... os homens, apaixonados pelos berros, da menopausa, o sal brincando nas encostas do abutre negro, sobre ela o beijo desenhado na areia, colorido, embrulhava-a numa estrofe envergonhada, levava-a para as cabanas dos sonhos adormecidos, cerrou os olhos
Foi bom, amor,
Só?
As pálpebras de solidão gritando pela liberdade, amanhã vou recomeçar a viver, a sonhar, a... a escrever nos teus olhos,
Como são os teus olhos, meu amor!
Perdi-me,
Só?
Deus, cambaleando pelas ruas do sofrimento, olha-me e pergunta-me
Meu filho!
Sim, pai...
O corpo, meu filho, o corpo...
Três ciganas abraçadas à ardósia da tarde, os homens, conversas, e...
Palavras...
E, sim pai, não percebo as tuas palavras e não percebo os teus poemas,
Desculpa-me... meu filho,
Palavras...
Só?


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 10 de Março de 2015

Em farrapos... as palavras


Em farrapos
as palavras desenhadas no teu corpo
entranham-se na tua pele
os cubos e os círculos do desejo
tens no olhar o espelho da saudade
saudade de...
em farrapos
as palavras
e a cidade
que morrem na clandestinidade
as ruas dormem docemente nas tuas pálpebras cinzentas
como pássaros embriagados pela madrugada

não oiço o sino da Igreja
porque o teu sorriso
deixa-me surdo
cego...
sem... sem palavras... cansado
em farrapos
de ninguém
ao acordar
o pequeno-almoço dispensa-me
fui despedido pela boca do sono
e alimento-me de cigarros
e palavras... em farrapos... a arder...

as migalhas inventadas por um livro de poesia
o livro de poesia poisa sobre a secretária
e o teu corpo nos meus braços
baloiça
dança
e sinto
a Primavera e a esperança
e a esperança
esperança...
esperança...
nos lábios das andorinhas
em flor... em cio... antes de partir o dia.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 10 de Março de 2015

segunda-feira, 9 de março de 2015

Amanhã, cor-de-rosa, húmidas canções de Primavera nas ilhargas do silêncio, habito, tu habitas e ele apaixonado, pelos pássaros, hoje
As primeiras andorinhas, falei com elas, conversamos sobre poesia
Acreditas, meu amor?
Poesia...
Hoje centenas de iões dentro de um quarto escuro, sem janelas, sem porta
Cadeia?
A cárcere, da palavra, sem porta, sem... vida, mesmo assim sou feliz naquele local, chamar-lhe-ás... cemitério, jazigo, mas não, meu amor, a cárcere da palavra, como?
A cárcere, da palavra, ou, A cárcere da palavra?
Narcisos, viajantes bagagem, imponderáveis poetas, nos beijos, nas bocas sideradas pela saliva, em pequeno, ele, imaginava a escola um grande navio, o porão
Tão fundo, mãe,
Meu amor, as palavras cinza das minhas mãos, ter-te e não te ter, nos meus braços, as imagens a preto-e-branco dos teus olhos, existes?
Tão fundo, mãe...
A paixão e o amor, o centeio correndo em redor do pôr-do-sol, e ele
Coitado, imaginar uma escola um grande barco...
Louco, e ele, mãe, dizia-me que os sonhos são desenhos de um qualquer pintor em desespero, a renda de casa, luz, pouco mais do que isso
Pobres homens e mulheres...!
Tão fundo, mãe... a paixão e o amor, o centeio correndo em redor do pôr-do-sol, e ele... e ele embrulhado em sonhos, sonhos, mãe...


(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 9 de Março de 2015

Vultos nocturnos


Sinto as tuas lágrimas no espelho da manhã
como campânulas de luz embriagadas pelo silêncio
roubaram-me a esplanada e as cadeiras onde me sentava
e...
percebia quando passavas apressadamente
que o dia não tinha acordado
pálpebras cerradas
corredores escuros onde te escondias
quando regressava a noite
e...
percebia...
as vozes da saudade dentro de um cubo de vidro

os vultos nocturnos embrulhados na morte
como flores em decomposição
perdem o perfume
e a pele começa a envelhecer
transformam-se em cinza
cigarros a arder
cigarros procurando avenidas de voo
enquanto o fumo se distrai a observar o rio
transatlânticos
marinheiros de homens
engatados pelas árvores de um qualquer jardim
de uma cidade em construção...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 9 de Março de 2015

domingo, 8 de março de 2015

(para a minha mãe)


Anoitecia sobre os teus ombros, sombras de sal voavam no teu olhar, como serpentes de papel a brincar numa árvore, eu brinco, tu brincas...
Amanhã?
A luz, os anzóis da tristeza suspensos nos desejos de cristal, não durmo, os sonhos, morrem os sonhos, morrerem as amendoeiras em flor,
E eu,
E eu?
Amanhã, cor-de-rosa, húmidas canções de Primavera nas ilhargas do silêncio, habito, tu habitas e ele
Habita?
Onde, onde?
Ele perdido numa tragédia serrana, a montanha crescia, e ele
Habita,
Anoitecia, e ele caminhava ribanceira abaixo, entra nos picos da alegria... e todo o corpo desenhado, círculos de sangue vagueando nos seus braços, tive medo, mãe, amanhã, mãe, amanhã saberás porque existem os cavalos de areia, aqueles
Como os do Mussulo»
Sim, mãe, sim... como os do Mussulo...


(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 8 de Março de 2015

O salivar ciúme da solidão


Não consigo encontrar os alicerces do dia
das crateras da tua voz oiço o salivar ciúme da solidão
viver dentro de uma caixa em cartão
e a noite desaparece na carlinga do beijo
descem sobre os teus ombros os rochedos da paixão
as palavras emigram como sementes de vento
contra as ruínas do teu peito
ausente
as pessoas
os dias
as viagens sem regresso
na ponte metálica das marés de vidro

há na tua voz um círculo de luz
que vagueia entre o luar
e a sofrida canção da madrugada
o xisto poisa na tua mão
como se ele fosse uma rosa embalsamada
folhear os joelhos dos livros enganados
o rio em suicídio contra a montra do sofrimento
e dos teus seios
oiço...
o salivar ciúme da solidão
na cárcere
doido

perdi-me neste emaranhado complexo de equações
sem solução
o quadriculado papel em chamas
ardente dos lábios em fuga
e não suporto as lâminas de aço do medo
perdi-me
doido
na cárcere das ardósias clandestinas e vaidosas da tarde
a tarde...
é tarde meu amor
é tarde
quando adormeço nos teus braços.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 8 de Março de 2015