ausento-me
deliberadamente das sombras envergonhadas
que habitam os
socalcos da saudade
sou um ninho de
cacos
e pequenas películas
de silêncio
pela madrugada
oiço a tua voz
aprisionada nas frestas deste cubículo
há entre nós um
espelho cansado
e triste
ausento-me dos teus
lábios
e perco-me nas
palavras sem nome
como as ruas da tua
cidade
ou da tua aldeia
o musseque
fervilha
transpira poesia
e o teu cabelo
suspenso numa fotografia
tão distante
o mar
e as marés de sono
que me embrulhavam
hoje
não mar
não sono
nada
amar
amar
amar as flores e os
desenhos embalsamados
correr montanha
abaixo
deitar-me sobre ti
apenas
o peso das nuvens
pinceladas de alfazema
a aceleração
acorrentada a uma
equação
a física
a matemática
e... e amar
nada
os separa
os fios de sémen
perdidos no cacimbo
o cachimbo em brasa
lúcido
de braços abertos
e abraça-me
e beija-me
como se beijam todos
os livros
folheados
e no entanto
ausento-me
deliberadamente das sombras envergonhadas...
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 12 de
Março de 2015
Sem comentários:
Enviar um comentário