domingo, 15 de março de 2015


A guerra,
Perdemos tudo, o meu pai morto em combate,
Amor de mãe,
Pai,
Não o conheci, apenas algumas fotografias de espingarda na mão, António sabia que seria a sua última noite, e mesmo assim, escreveu o seu último poema,
Dedicado a “Deus”,
Um Ateu, Pai?
Perdemos tudo, a fala, as palavras e os abraços do cacimbo, os cacilheiros em cio redopiando como cobras amestradas, o circo, a aldeia colorida de sapatos e sandálias de couro, os calções e o triciclo, ele
Dedicado a “Deus”,
Não guardo rancor, o ditador morto, felizmente cessaram as espingardas do ciume, vagamente oiço o teu respirar, ele
Pai,
Não o conheci, e ele embrulhado em quatro pedras de espuma, o cachimbo da solidão, partilhávamos todas as carícias do abismo, e ele
Louco,
Apaixonado.



(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 15 de Março de 2015

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