domingo, 1 de junho de 2014

Beijo de poesia


Não a encontro,
a frase suspensa nos teus lábios,
escrevo-a, e reescrevo-a, e nem um beijo de poesia consigo obter,

Há pigmentos solitários que a tua boca absorve,
olhas-me, e segues como uma bala disparada por um desejo escondido na montanha,
há uma cabana deserta, abandonada, esquecida como eu...
teimosa como eu,
há uma gaivota nos teus cabelos que me aprisionam ao cais dos mendigos,
não a encontro,
escrevo-a, e reescrevo-a...
sentindo nas tuas pálpebras a repetição de sons inaudíveis,
caminhas, e corres, e voas,
há pigmentos solitários, não a encontro,
a frase suspensa nos teus lábios,
e no entanto, procuro-te, de noite, de dia, enquanto sonho e sou filho da insónia,

Um muro de livros escondem-te, um muro de livros... um muro de livros comem-te,
e eu sentado no sofá da escuridão, pergunto-me se existes, pergunto-me se és poesia,
em formato de beijo,

Não a encontro,
centenas de frases acabadas de morrer,
palavras sem nome,
palavras sem corpo que a minha mão quer escrever,
sorris, sorris... e escondes-te sob o Plátano de braços cinzentos,
caminhas, corres, e... e voas,
sobes a escadaria de nylon em direcção à nuvem mais afastada de mim,
procuro-te,
procuro-te quando chove, procuro-te quando leio os livros do muro que te escondem,
e apenas uma réstia do teu olhar dispara para mim um cubo de silêncio,
sorriso, o teu, lindo quando caminhas e, e voas sobre as palmeiras da minha infância,
e espero, e espero o teu beijo de poesia...

(Não a encontro,
a frase suspensa nos teus lábios,
escrevo-a, e reescrevo-a, e nem um beijo de poesia consigo obter).


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 1 de Junho de 2014

sábado, 31 de maio de 2014

O poeta dos rochedos anónimos


Este poeta que vive no meu corpo,
este poeta que escreve nos meus seios, acaricia-me nos sonhos com tentáculos de insónia,
sussurra-me ao ouvido melodias intemporais, desenha em mim os silêncios da noite,
embriaga-se no meu corpo, e escreve, e sonha, e deseja-me...

Nunca fui desejada!

Olhava-me no espelho e via uma sombra gélida, com olhar de geada adormecida,
tinha nos meus braços o teu sorriso,
a tua boca,

Nunca fui penetrada!

Este poeta que vive no meu corpo,
habita num cubículo de areia,
chora,
e grita,
sorri, às vezes, não sorri... quando tem na mão a caneta da poesia,
veste-se de gaivota e poisa nos mastros mais secretos do rio da revolta,
chora,
e grita,
grita em mim as garras da paixão,
sou eu, sou eu... meu amor!
Seu eu que te ama,
sou eu... o poeta sem gravata, o poeta apaixonado, o poeta dos rochedos anónimos.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 31 de Maio de 2014

O abstracto


O abstracto,
quando o sorriso se transforma em chuva,
o abstracto silêncio das tuas palavras,
desfasadas,
misturadas nas pálpebras de um fio de luz,

O abstracto meu corpo, laminado pelas garras do amor,
o sítio negro do teu peito,
o cofre das tuas flores de papel,
o abstracto mar que corre no teu abdómen,
como neblina sobre o rio da saudade,

O abstracto...
o dia morre,
o relógio nocturno das tuas coxas..., abstractas, mergulham em mim como a âncora de madeira cansada,
e tudo parece adormecer em nós...
a cidade, a rua onde existe um quiosque de algodão e arde,

O abstracto facalhão que traveste a solidão em paixão,
a ressaca do esqueleto em módicas trinta e seis prestações,
o abstracto corpo sem alicerces,
dançando na copa da árvore das tuas tristes lágrimas...
e um barco entra em ti,

Vives no abstracto espelho,
suspenso nas gaivotas cinzentas das searas envenenadas,
uma fotografia diz-me que tu deixaste de ser menina,
hoje és uma pedra, abstracta e sem nome,
que desce a montanha do meu olhar...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 31 de Maio de 2014

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Silêncio vulcânico


Do teu silêncio vulcânico,
pequenos milímetros de saudade,
pedacinhos de beijos suspensos nas andorinhas,
estrelas há, mas um cortinado opaco ofuscam o teu olhar...
sereno,
uma sentinela fuma vagarosamente o seu cigarro de sombras alcalinas,
e tu, tu pertencente ao círculo trigonométrico, embrulhas-te no cosseno do desejo,
havendo sobre ti alguns sobejantes sorrisos de Luar,

Ou...
talvez, ou talvez não pertenças tu às noites sonolentas das camas de veludo,
do teu silêncio...
as gargalhadas dos telhados cabelos que voam sobre a cidade,

A musicalidade das tuas pálpebras quando se escancara uma janela de acesso ao mar,
o barco do sémen encalhado nas tuas coxas de vidro,
uma jarra de hortênsias envergonhada, suicida-se,
e no pavimento da inocências alguns pingos de espuma do colorido amanhecer,
do teu...
… o silêncio vulcânico insemina-se e cresce sobre os teus seios de Primavera,
louca,
a sanzala saltita entre charcos e os desnudos pássaros com sabor a viagem...

Ou...
talvez, ou talvez pertenças tu a um sonho impossível,
semeada no jardim da solidão...
ou... ou do teu silêncio vulcânico... acordem as cinzas da madrugada.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 30 de Maio de 2014

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Texto de Francisco Luís Fontinha - CONCURSO – EU TENHO UM SONHO... - PAPEL D`ARROZ


Braços de Luar...


Dizem-me que o teu corpo era de porcelana,
um amontoado de cacos, pedaços sem coração,
procuro..., procuro, procuro...
não os encontro na cama,
não os encontro nos telhados de zinco da sanzala envenenada,
e no entanto,
amo-os,
amo-os como se fossem uma jarra com dois braços de Luar...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 29 de Maio de 2014

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Hei-de encontrar-te...


Hei-de encontrar-te
nas masmorras cinzentas do sonho
esquecer-me das noites em solidão
e voar sobre os cadáveres desgovernados das tuas mãos de pano
hei-te encontrar-te
no círculo mais secreto do teu corpo
disfarçada de nuvem
ou... ou vestida de neblina
hei-de encontrar-te
no rio da insónia com cabelos de nenúfar
na cama clandestina da madrugada
ou no sofá com lençóis de pergaminho desejo,

Sentir que há vida na tua boca
perceber que há flores nos teus seios doirados
sentir a água louca
descendo as tuas coxas que alicerçam soldados
sentir o beijo efeminado com perfume de menina
saltar as giestas cansadas da montanha assassina...

Hei-de... hei-de encontrar-te
nas masmorras cinzentas do sonho
galgar as sombras escadas dos edifícios amarelos
ou
ou esperar... esperar que tenhas vida
que sejas a manhã em construção
a estrela do amanhecer
hei-de encontrar-te
no vão do medo
como se fosses a mulher planeta da constelação do amor
encontrar-te
hei-de... hei-de encontrar-te no silêncio do teu orgasmo.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 28 de Maio de 2014

terça-feira, 27 de maio de 2014

A luta solitária


(para ti...
que estás a lutar)

Pega na tua arma
só tu o poderás vencer
não tenhas medo da dor
de partir
não tenhas medo de morrer
pega na tua arma
só tu o poderás vencer...
… e no final... e no final sorrir.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 27 de Maio de 2014

segunda-feira, 26 de maio de 2014

marinheiro naufragado


acordar sobre o titânio amanhecer
pegar nas tuas mãos de andorinha selvagem
agarrar o mar
se possível
esconder o mar na tua algibeira de cartão

sentir os teus braços no rio que corre dentro de mim
acariciar todas as rosas das tuas pálpebras de marinheiro naufragado
descansar sobre o teu peito
beijar-te
simplesmente beijar-te... gaivota adormecer.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 26 de Maio de 2014

domingo, 25 de maio de 2014

Noite de tempestade


Dentro de ti, as palavras que oiço,
as frases incompreendidas depois de poisarem nas tuas ténues mãos de areia,
os sítios proibidos,
a montanha escondida nas tuas pálpebras,
dentro de ti, o silêncio,
a ansiedade de partires...
o rio que desce pelo teu corpo até se entranhar nos alicerces da cidade,
a mesma cidade que te absorveu numa noite de tempestade...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 25 de Maio de 2014

sábado, 24 de maio de 2014

Folha esquecida


Sentia-me aconchegado nos teus braços,
regressava a noite ao teu olhar,
e percebia que no meu corpo habitavam beijos de insónia,
lençóis de porcelana entranhavam-se nas tuas pálpebras de luar,
sentia-me envergonhado,
triste...
sentia-me aconchegado,
como se tu fosses um cobertor recheado de poesia,

Um livro não lido,
uma folha esquecida sob a mesa-de-cabeceira,
uma ribeira,

Sentia-me aconchegado nos teus braços,
adormecia,
e... e sonhava,
ouvia,
ouvia os pássaros,
escrevia,
escrevia nas tuas coxas as palavras proibidas,
as palavras... sentidas,

Um livro não lido,
uma folha esquecida sob a mesa-de-cabeceira,
uma ribeira,

O mar,
o mar quando se escondia nos teus seios de Primavera,
acordava o marinheiro sem pátria,
havia uma bandeira,
uma... uma casa que voava,
sentia-me aconchegado... nos teus braços,
os alicerces de uma cidade inventada,
em papel, uma casa do tamanho dos teus lábios...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 24 de Maio de 2014

poemas de morrer


morte
viagem sem regresso
destino
bilhete
desamarrar as cordas da saudade
voar
e partir...
a morte das palavras
escritas numa lápide de lágrimas
morte
quando o corpo cessa de escrever
e nos olhos de quem parte... nascem poemas com nome de “morrer”.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 24 de Maio de 2014

sexta-feira, 23 de maio de 2014

há um dia apelidado de “FIM”

foto de: A&M ART and Photos

há um dia apelidado de “FIM”
um dia sem esqueleto
um dia esquecido nas esplanadas da cidade sem nome
há um dia com silêncios disfarçados de melodia
um dia poético
um dia procurando palavras
no teu resgatado olhar
há um dia apelidado...
com medo e cansado
há um dia laminado
que nas tuas mãos inventa baloiços
e meninos sorridentes,

há um dia
um dia “filho da puta”
um dia que te levará sem destino
um dia... um dia apelidado de “FIM”,

há um dia eternamente recordado
um dia feio
um dia desamado
há um dia que o teu corpo vai vacilar
desistir
um dia com janelas e pálpebras de mar
há um dia que será a noite
há as lágrimas do sofrimento
que nesse dia
o dia cessa de caminhar
pára
STOP...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 23 de Maio de 2014

quinta-feira, 22 de maio de 2014

triste borboleta

foto de: A&M ART and Photos

sou uma triste borboleta
cansada de voar
um rio que deixou de correr para o mar
o barco
uma pedra a chorar
sou uma triste borboleta
com olhos de insónia
com asas de papel
com mãos de amónia
uma triste borboleta
eu sou
como as madrugadas de mel...

sou uma triste borboleta
em busca do Inverno
e desce a noite aos teus cabelos
e acorda o maldito Inferno
e deixo de viver
e deixo de habitar
os teus olhos sem palavras de escrever
sem as palavras de sofrer...
uma triste borboleta
cansada de voar
cansada de amar...
nas manhãs da manhã ensonada.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 22 de Maio de 2014

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Os teus olhos

foto de: A&M ART and Photos

Os teus olhos no espelho que poisa no meu rosto,
do cansaço adormecido das palavras anónimas,
tu, meu amor, sussurras-me baixinho que serei eternamente tua,
acredito,
acredito que há no teu jardim rosas envergonhadas,
acredito,
acredito que os olhos que habitam no meu espelho,
um dia serão as minhas estrelas vadias,

Os teus olhos que dormem nos meus lençóis,
sós,
a aldeia escapa-se entre os dedos da tristeza...
e acredito...

Ofereço-te o meu corpo embrulhado em poemas de miséria,
eternamente tua, eternamente... ausente de ti,
regresso ao espelho e descubro os teus braços na sombra dos meus seios,
afago os teus cabelos enquanto a noite se veste de menina desajeitada,
de menina... de menina de uma outra cidade,
ofereço-te o meu corpo como se eu fosse a tua flor preferida,
a árvore sob a qual te deitavas quando se inventavam em ti os sargaços da manhã,
e partiam os barcos para o luar como pássaros em busca dos filhos em voos infinitos,

Os teus olhos que dormem e sonham nos meus lençóis,
tão distante, tu, homem sem local para aportares...
ofereci-te os meus abraços,
e tu,
e tu fingiste não ouvir,
disseste-me que o cais serve apenas para a partida,
e partiste,
sem regressar nunca,

Como as palavras,
depois de extinta a fogueira da paixão,
ouvia o silêncio dos teus livros...
e nada mais tenho a acrescentar a ti e de ti,

Os teus olhos que nunca me pertenceram,
os teus olhos que brincavam nas minhas coxas antes de eu levitar em direcção aos sonhos,
cerravas-os e partias como uma tempestade de areia...
a ti e de ti,
as conversas inacabadas,
as palavras não escritas, e não ditas,
os teus olhos, os teus malditos olhos que iluminavam um cubículo de papel...
e tinham tentáculos que conseguiam beijar o mar.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 21 de Maio de 2014

Texto de Francisco Luís Fontinha – Divulga Escritor


terça-feira, 20 de maio de 2014

Quem és, pergaminho abandonado no meu corpo?

foto de: A&M ART and Photos

Quem és, pergaminho abandonado no meu corpo?
Enrolas-te em mim disfarçado de cobra, alicerças-te aos meus frágeis braços,
e,
navegas no meu ventre como uma caravela sem destino...
entranhas-te em mim e dizes-me que o teu nome é Primavera...
Primavera... finjo nem perceber,
cerro os olhos e sinto as tuas mãos de desejo laminado nos meus seios,
pergunto-te porquê... pergunto-te porquê eu, pergaminho de olhos verdes?

E a cada momento meu o teu corpo descongela,
ficamos apenas uma finíssima pedra de amor...
descendo a montanha da paixão,

Quem és?
Eterno nocturno com sabor a escuridão,
marinheiro perfumado que te enfaixas nas minhas coxas de areia,
e sinto... e sinto os meus gemidos no espelho dos teus olhos,

Ai... meu querido amor!
A paciência minha depois dos teus gritos de prazer,
depois de adormecerem as gaivotas no Tejo,
e tu,
tu sais de mim,
e tu...
e tu desapareces na neblina que engole a escadaria do prédio onde habitamos,
foges,

sem destino,
e eu, e eu como uma folha amarrotada nos dedos de um cinzeiro de prata,

Quem és, pergaminho abandonado no meu corpo?
Que oiço os teus cabelos no peitoril enquanto saboreias o teu último cigarro,
que oiço o bater do teu coração enquanto poisas a tua cabeça no meu peito...
e pareces-me uma rua sem janelas numa cidade sem telhado,
uma casa sem varanda,
uma casa... uma casa enfeitada com sombras e pássaros,
uma casa como tu,
uma casa onde me abraças e me dou conta que apenas te pertenço...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 20 de Maio de 2014

segunda-feira, 19 de maio de 2014

A manhã antes de acordar


Tínhamos dentro de nós
uma finíssima película de espuma
éramos dois espantalhos semeados no centro do trigo
sentados
olhávamos o espigueiro da preguiça
cansado
ao sol
deitado entre as ripas da solidão,

Tínhamos um punhado de desejo
e sentíamos as faces do vento nas nossas mãos de esmeralda
os diamantes iluminavam os teus olhos de sereia madrugada,

Tão louca
a noite
quando adormece no teu ventre,

Colocava os meus dedos nos teus cabelos
voavam como um colorido papagaio em papel doirado
ouvíamos as lágrimas do rio
que depois do luar... acorrentava barcos e marinheiros famintos
e tínhamos
e sentíamos...
o quê?
beijos transversais nas vidraças do poema,

Tínhamos...
… e era tão louca
a manhã antes de acordar.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 19 de Maio de 2014

domingo, 18 de maio de 2014

A menina das palavras


Das palavras que me obrigas a escrever
oiço-as em teu dedos pincelados nos pérfidos desejos
reescrevo-as
e desenho-as no teu corpo mergulhado na amarrotada pele de seda
das palavras que me obrigas...
escrevo-as
dito-as
e finjo estar acordado,

Sei que as tuas tristes sílabas vagueiam no meu peito
como sementes esquecidas no vento
sei que nos teus lábios habitam agulhas de algodão
que servem para afugentarem as minhas palavras,

Das palavras que me obrigas a escrever
elas se acorrentam aos meus braços
fazes de mim um prisioneiro vadio
ou uma árvore sem coração
correndo sob a neblina do teu olhar
delas
apenas o perfume do néon que a cidade engole,

Mulher prisão
mulher inseminada das minhas tristes palavras
mulher de negro
mulher... mulher paixão,

Das palavras minhas que que obrigas a escrever
faço-o apenas porque os meus dedos deambulam no nocturno Oceano
escrevo-as
apago-as
afogo-as como mágoas
as palavras
as palavras que me obrigas a escrever
eu as escrevo para te silenciar...

Há mendigos palavras
homens enlatados descendo a avenida
há as minhas malditas palavras...
delas e elas... as palavras sem comida,

Uma duas três tristes palavras
uma duas três quatro... quatro vogais descendo as tuas coxas de iodo
uma janela peneirenta
e uma porta de entra roxa
e há uma varanda onde tu lês as minhas tristes palavras
aquelas que me obrigas a escrever
a vomitar sobre as páginas de um rosto em sofrimento
das palavras que me obrigas a escrever,

Há palavras obrigadas a viver
dentro de mim
e por ti...
por ti menina das palavras...

Há palavras que eu não quero escrever
há escrever sem palavras que recuso ler
há a menina das palavras
com correntes em aço
palavras prisioneiras
palavras amaldiçoadas
palavras que o púbis da caligrafia
semeia no corpo da menina das palavras.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 18 de Maio de 2014

Os círculos do desejo


Redefino-te entre os círculos do desejo
percebo das pálpebras do Oceano que o teu corpo flui na equação da recta
há nos teus seios de oiro uma velha parábola
que voa
e dorme
nas tuas mãos embrulhadas na curva de Agnesi,

És matemática que o homem acaricia
docemente
e resolve as equações de ti,

Redefino-te e sinto na tua boca o regresso do amor
sento-me em frente ao mar
e espero que cresça a noite
desenho na areia do prazer os lençóis onde adormeces
e absorvo-te na peugada estrelar das camélias em flor
e sei que habitam em ti todos os esconderijos da montanha...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 18 de Maio de 2014