Não a encontro,
a frase suspensa nos
teus lábios,
escrevo-a, e
reescrevo-a, e nem um beijo de poesia consigo obter,
Há pigmentos
solitários que a tua boca absorve,
olhas-me, e segues
como uma bala disparada por um desejo escondido na montanha,
há uma cabana
deserta, abandonada, esquecida como eu...
teimosa como eu,
há uma gaivota nos
teus cabelos que me aprisionam ao cais dos mendigos,
não a encontro,
escrevo-a, e
reescrevo-a...
sentindo nas tuas
pálpebras a repetição de sons inaudíveis,
caminhas, e corres,
e voas,
há pigmentos
solitários, não a encontro,
a frase suspensa nos
teus lábios,
e no entanto,
procuro-te, de noite, de dia, enquanto sonho e sou filho da insónia,
Um muro de livros
escondem-te, um muro de livros... um muro de livros comem-te,
e eu sentado no sofá
da escuridão, pergunto-me se existes, pergunto-me se és poesia,
em formato de beijo,
Não a encontro,
centenas de frases
acabadas de morrer,
palavras sem nome,
palavras sem corpo
que a minha mão quer escrever,
sorris, sorris... e
escondes-te sob o Plátano de braços cinzentos,
caminhas, corres,
e... e voas,
sobes a escadaria de
nylon em direcção à nuvem mais afastada de mim,
procuro-te,
procuro-te quando
chove, procuro-te quando leio os livros do muro que te escondem,
e apenas uma réstia
do teu olhar dispara para mim um cubo de silêncio,
sorriso, o teu,
lindo quando caminhas e, e voas sobre as palmeiras da minha infância,
e espero, e espero o
teu beijo de poesia...
(Não a encontro,
a frase suspensa nos
teus lábios,
escrevo-a, e
reescrevo-a, e nem um beijo de poesia consigo obter).
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Domingo, 1 de Junho
de 2014