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segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

Flores do meu jardim

 Enquanto a manhã está em despedida

E o meu esqueleto envidraçado

(já em poeira)

Oiço o som da saudade

Aquele que ouvi durante a partida

E poisa docemente no meu passado,

 

E da manhã se vai o sono

O sono das tristes flores do meu jardim

Onde me sento

Onde me deito,

 

E esta manhã enervada

Abraça-se ao meu pescoço

Sufoca-me,

 

E depois de a manhã partir

Fico a olhar os pássaros

E as árvores,

 

E depois…

Depois vem a noite.

 

 

Alijó, 09/01/2023

Francisco Luís Fontinha

sábado, 31 de dezembro de 2022

A Atlântida perdida

 Encontro a Atlântida perdida

No teu ventre

Quando o uivo grito do silêncio

Poisa em ti

Corpo desnudo das manhãs de Inverno,

 

Da tua mão

O trigo pão

Que sacia a minha boca

Quando das palavras infinitas

Vêm a mim os primeiros quadrados de luar

E dos meus olhos

Soltam-se as lágrimas do oiro envenenado

Que o teu corpo seduz,

 

E desta Atlântida perdida

Acordam as líquidas sílabas de prazer

E oiço o cheiro nauseabundo da tua pele

Onde brincam as pequenas lâminas de sémen

Que o frio deixa em ti,

 

Ai minha querida Atlântida

Atlântida ilha perdida no teu coração

Palavra em construção

Que o poema come

Como quem come as espadas da madrugada

Que o soldado poisa nos teus lábios,

 

E o soldado que tens nos teus braços

Poeta homem das calças da ganga azul

Que na algibeira esconde um beijo

Um beijo…

Meu amor da Atlântida perdida

Apaga as luzes desta cidade

E fica nos meus braços

Nos meus braços

Onde um dia

Qualquer dia

Acordará a Atlântida perdida.

 

 

 

Alijó, 31/12/2022

Francisco Luís Fontinha

quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

A pequena selva das palavras

 Oiço as estrelas que dormem

As estrelas que rumam em direcção ao mar

Oiço-as enquanto sentado nesta pequena pedra de silêncio

Te escrevo

Enquanto a noite não vem

Enquanto as oiço

E peço perdão às palavras

Enquanto estou vivo

E sentado

Deixo-me ir com o vento

 

Deixo-me ir

Por aí

E por aqui

 

Tanto faz onde estou

 

Apenas preciso de estar vivo

De fumar

E de beber coisas

Ou até mesmo de fumar coisas

E beber pequenos pedacinhos de nada

Fumar palavras

Fumar… fumar as madrugadas

 

O importante é viver

Estar vivo nesta selva de palavras

Nesta selva de invejosos

 

Oiço as estrelas que dormem

As estrelas que rumam em direcção ao mar

E também oiço as estrelas que nunca dormem

E que nunca comem

Tão pouco fumam e bebem coisas… coisas estranhas

 

Estrelas da manhã que oiço nas tardes do dia seguinte

Das tardes junto ao rio

Junto ao rio das estrelas que bebem e fumam coisas

Coisas estranhas

Estranhas noites das estrelas que dormem

E termina o dia nas mãos de uma criança.

 

 

 

 

Alijó, 29/12/2022

Francisco Luís Fontinha

domingo, 18 de dezembro de 2022

Rio sem nome

 Deixa que as tuas mãos morram

E que o corpo se extinga nas páginas de um livro,

 

Deixa que a noite invente nas estrelas

O sorriso daqueles que partiram.

- O regresso das árvores quando tudo se extinguiu,

Deixa que as tuas mãos

Invadam este caixão de prata

Com duzentos e seis ossos de sono.

 

Deixa que as tuas mãos morram

Na lareira da noite

Enquanto o meu caixão

Dorme nos lábios deste rio sem nome.

 

 

 

 

Alijó, 18/12/2022

Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

O teu olhar

 

Desenho um pedacinho do teu olhar

Na tela triste da manhã

Porque todas as manhãs…

Todas as manhãs são tristes

Sem um pedacinho do teu olhar.

 

E se apenas um pedacinho do teu olhar

Alegra a manhã

Imagina se desenhasse todo o teu olhar…

 

Imagina se eu tivesse a manhã

Só minha

A manhã e o teu olhar!

 

 

Alijó, 12/12/2022

Francisco Luís Fontinha

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

Trago-o no peito – o teu olhar

 Às sete e trinta horas da manhã

Num lindo e belo Domingo

De sol e calor

Em Janeiro

Acordaram-me;

Olho-a

Ela olha-me

Ela beija-me loucamente (era a primeira vez que me beijava)

Toca-me docemente

Depois

Pego-lhe no olhar (de quem acaba de dar à luz)

E guardo-o no peito.

 

Trago-o no peito.

 

Sou pastor de um lindo rebanho de palavras

Quase sempre

Ao final da tarde

Levo-as para o pasto

Uma fina e branca folha em papel

Depois

Tenho o final da tarde

E toda a noite

Depois

Regressamos

Ficamos exaustos

Cansados,

 

Dormimos; eu e o meu rebanho de palavras.

 

Às sete e trinta horas da manhã

Num lindo e belo Domingo

De sol e calor

Em Janeiro

Acordaram-me…

 

Acordaram-me para a vida.

 

Pastor de um belo rebanho de palavras

Desde as sete e trinta horas da manhã

Num lindo e belo Domingo,

 

E enquanto as palavras

O meu rebanho

Olham os rabiscos de uma tela minha

Pego na fotografia dela;

E percebo o quão ela me amava!

 

Pego-lhe no olhar (de quem acaba de dar à luz)

E guardo-o no peito,

 

E no peito construo uma escultura de saudade.

 

 

 

 

 

Alijó, 08/12/2022

Francisco Luís Fontinha

(à minha mãe)

sábado, 3 de dezembro de 2022

A boca da solidão

 O pai

E a mãe

E as árvores sombreadas da manhã,

 

As mãos

Que pegam a minha mão

A mão que segura a faca nocturna do desejo

E durante a noite

Espeta a faca no meu peito,

 

O tecto da aldeia

Em lágrimas

E do sol

As primeiras horas da solidão,

 

Os livros

Todos os meus livros

Escritos por mim

Lidos por mim

Todos eles

Morrem sobre a minha secretária vaiada pela insónia,

 

E o sobretudo que visto

Em fina madeira prensada

Despede-se,

 

E percebo que sou apenas um cadáver de sono,

 

Como são tristes as noites de Dezembro,

 

O pai

E a mãe

E as árvores sombreadas da manhã,

 

Quando a manhã é um pincelado beijo na boca da solidão.

 

 

 

 

Alijó, 03/12/2022

Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Conversa com Deus

 Nunca vi o mar.

Se eu pudesse, desenhava o mar nos teus olhos, se eu pudesse, escrevia o poema nos teus lábios quando nasce o Sol, depois, subia à montanha mais alta do planeta terra e conversava com Deus; se eu pudesse conversar com ele, não lhe diria nada, como nada digo com quem converso.

Mas reconheço que tenho uma certa inquietação e digamos que…

Um desejo?

Não, minha querida, não.

Mas se eu pudesse, perguntava-lhe onde estão todos os papagaios em papel que lancei, e hoje, brincam juntamente com ele, no céu.

Mas reconheço que tenho uma certa inquietação e digamos que…

Medo?

Não, minha querida, não,

Sabes, nunca tive medo.

Pela manhã pedíamos uísque, torradas e cigarros, depois, levantávamos voo sobre a cidade e só voltávamos quando sabíamos que todos os barcos que dormiam no Tejo já tinham zarpado em direcção ao terceiro esquerdo da rua nas floreiras adormecidas; subíamos as escadas, cambaleando no sono invisível da madrugada, abríamos a porta de entrada, com acesso a uma pequena divisão onde adormeciam livros, discos e sombras e fotografias, depois abríamos a janela e da rua chegavam a nós todos os nomes que tinham passado pelos corpos que às vezes deixávamos junto à esplanada, o Tejo, cansado da noite, deitava a cabeça nas minhas pernas, declamava-lhe um poema e ficávamos assim, invisíveis, até que a noite descia sobre nós – na algibeira, cinco cêntimos de euro.

As palavras que lançávamos contra a parede que dava acesso à varanda, e sempre que acreditávamos que tínhamos o Sol escondido no peito, depois de bateram contra a janela, acabavam por regressar a nós.

E se podíamos deitar fora todas as coisas possíveis e imaginárias, às palavras, nunca o conseguimos, até que um dia, eu e o mar, começamos a lançar da varanda, papeis escritos e rasurados, desenhos, riscos, diversa mobília e um par de calças; e não sabíamos que a paixão tinha tomado conta das nossas mãos, e uma noite, percebi que tinha a minha mão entrelaçada com a mão do mar.

Medo?

Não, minha querida, não,

Sabes, nunca tive medo.

Fiquei tão feliz, olhei-o e pela primeira vez, beijei o mar.

Um desejo? E o Tejo?

Não, minha querida, não.

A alvorada trazia a nós todas as canções que a noite semeava num qualquer bar, numa qualquer rua, junto ao rio. Do meu mar, aquele que nunca tive a oportunidade de olhar, escrever ou pintar, chegavam a mim todos os silêncios que um poeta medíocre como eu, poderia ter.

E mesmo assim, quando me faltavam as palavras, tocava-lhe nos seios, e já com as minhas mãos nas suas coxas poéticas que apenas a noite consegue descrever (eu nunca serei capaz de o fazer), deixava sobre a sua pele o mais belo poema de amor.

Acusaram de homem louco. Acusaram o poeta de medíocre, e hoje vende versos ao domicílio com a promoção de leve dois e pague um. E não é preciso adivinhar o resultado, quando ninguém consome poesia nos dias de hoje; a fome.

O desejo invadia-nos naquele apartamento e no terceiro esquerdo da rua nas floreiras adormecidas, eu e o mar, escrevíamos no pôr-do-sol as lágrimas das manhãs que teimavam em regressar sempre ao teu púbis, como se este, ao contrário das ruas e de todos os esconderijos da cidade, fosse o único lugar do planeta terra onde poderia encontrar Deus; e ele, nunca me quis ouvir.

Um desejo?

Não, minha querida, não.

E a paixão habita neles como habitam em mim os papagaios que fazem companhia a Deus, nos céus de Luanda.

 

 

 

 

 

Alijó, 28/11/2022

Francisco Luís Fontinha

(ficção)

sábado, 19 de novembro de 2022

As labaredas do sono

 Junto ao mar

Este cemitério de pássaros

Onde se escondem as palavras da manhã

Incendiada pela tua doce mão,

 

A cidade perde-me

E das ruas sem transeuntes

Oiço as labaredas do sono

Que todas as noites poisam em mim,

 

Há sempre uma janela que me olha

Há sempre um espelho que me desenha nos teus olhos

Mas das nossas bocas

O grito; o doce grito que a saudade ergueu sobre ti.

 

 

 

 

Alijó, 19/11/2022

Francisco

domingo, 13 de novembro de 2022

Este mar salgado

 Visitas-me enquanto ardem na lareira os pequenos pedaços de sono, na parede da sala, as minhas mãos envenenadas pelo mar salgado da infância, olham-te, e percebo que me morres a cada mínimo cansaço da manhã,

Curiosamente,

O vento leva-te de mim à velocidade de um simples olhar,

E olho-me no espelho silenciado das palavras que sobejam das janelas entreabertas e que nos transportam para as noites de paixão.

Define-me paixão.

Uma pedra preciosa nas mãos de Deus.

Não percebi, mas acredito que o mar começa a correr para as montanhas e que os pássaros que poisam sobre as árvores são apenas sombras em papel.

Um olho de vidro, come-nos, como nos comeu a serpente que todas as manhãs de Primavera entrava em nós e nos libertava da escuridão,

A escuridão dos teus lindos olhos de pequenino incenso,

Abro-te e beijo-te, enquanto me aprisiono às cortinas de espuma que o mar trouxe e que voaram sobre o teu cabelo,

Sou omnipotente,

Enquanto me mato desta janela de vidro,

Oiço-te,

E beijas-me.

Então, sabendo que sou um crucifixo de medo, que transporto nos braços as algemas da timidez, beijo-te, e dos meus olhos pincelados de mar, transformo-me num barco que beija, transformo-me num barco que ama, transformo-me num barco que arde nos teus lábios,

Como assim, barco?

Um barco que foge da multidão,

Sentindo o medo de que esta lareira em paixão se extinga, e que sendo um barco, a luz diáfana da madrugada me embriague e me leve para ti, como esse pedaço de só que suspendes na parede nua de uma sala nua de uma madrugada nua de um corpo nu,

O teu corpo, mergulhado nos meus dedos.

Beijo-te.

Beijas-me e foges,

Enquanto tenho na algibeira a pobreza e a melhor das riquezas,

Os meus olhos, meu querido?

E pergunto-me,

O que têm os teus olhos que os meus olhos não têm?

A paixão,

E que Deus nos perdoe,

Como dizem que perdoou,

Enquanto os meus lábios mapearam cada milímetro quadrado do teu corpo travestido de seda púrpura e lantejoulas envergonhadas,

Em que pensas, meu adorado barco de insónia?

Nas metades da laranja dos primeiros dias da semana,

E o fogo inventa em ti as pobres migalhas que o pão deixou sobre a mesa, a mesma mesa onde descobriste que as minhas mãos eram apenas poemas incendiados numa qualquer lareira que traziam os teus braços ao meu pescoço, e

Como assim, barcos de ninguém?

Sem nome, sem identidade, sem palavras e sem destino

O sonho?

Porque são frias as manhãs dos teus lábios, meu amor?

E porque choram, sim, e porque choram as nuvens do teu cabelo?

Uma avenida engalanada sempre que chove e sempre que chove,

Sem destino,

Este pobre menino de porcelana falsificada pelas mãos do artesão que traz no peito os cigarros da noite anterior e que tal como o barco

Arderam em ti como camuflados cinzentos que o orvalho deixa nas escadas de acesso ao sótão.

Visitas-me enquanto ardem na lareira os pequenos pedaços de sono, na parede da sala, as minhas mãos envenenadas pelo mar salgado da infância, olham-te, e percebo que me morres a cada mínimo cansaço da manhã,

Curiosamente,

Olho-me nessa parede de sono,

E acredito,

E sei;

Sou apenas eu, o tímido e envergonhado marinheiro de uma Lisboa mergulhada no falso oiro, nas falsas palavras, nos falsos apitos em triste tesão

Como um cacilheiro de cigarro na boca à procura de engate,

Entre os parêntesis dos teus seios,

As minhas mãos erguidas para Deus.

Oiço-te.

Porquê?

 

 

 

 

 

Alijó, 13/11/2022

Francisco Luís Fontinha

(ficção)

sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Lareira em desejo

 Invento esta lareira em desejo

Quando a sombra do teu cabelo

Dorme na minha mão

Porque lá fora a noite brinca

E a lua poisa nos teus lábios

 

Porque esta lareira em desejo

Traz o beijo desenhado

Pelas nortadas do silêncio

E este beijo desenhado

É a planície da saudade

 

É a planície de um simples abraço

Invento esta lareira

Nas tuas finas mãos

Que ergues para o céu

Enquanto a tarde voa sobre o mar

 

E de um barco aprisionado à triste manhã

Restam apenas as minhas palavras

Que fui escrevendo no teu corpo invisível

E nestes pobres livros que folheio

Recebo o teu olhar de luz

 

Que habita no teu castelo

E percebo que nos teus olhos

Crescem as searas de trigo

Que um dia foram o esconderijo

De duas crianças ensonadas

 

 

 

Alijó, 11/11/2022

Francisco Luís Fontinha

quinta-feira, 10 de novembro de 2022

Palavras entre marés

 Estávamos no Inverno

E das tuas mãos finas longas e frias

Vinham a mim as palavras entre marés adormecidas

Sobre a frágil melancolia dos teus olhos

Um pedacinho de sorriso meu

 

Caía sobre o mar de insónia

Como crianças em brincadeira

À volta de uma fogueira invisível

E percebia-se das nuvens que nos abraçavam

As gloriosas flores em combustão

 

Todas as manhãs

Abro a janela para o mar

Limpo a poeira nocturna que sobre os meus livros dorme

E numa carícia

Invento o sono nos teus olhos de poesia

 

Guardo as tuas lágrimas de luz

Desço as escadas que me levam durante a noite

Às esplanadas dos grandes rochedos

Saltamos o muro da infância

E na tua mão acordam as madrugadas simples sem sótãos

 

O poema que trazes no corpo

Aos poucos

Puxa a minha triste mão

E de um cigarro anónimo

Regressam a mim as lareiras das tardes sem literatura

 

 

 

 

Alijó, 10/11/2022

Francisco Luís Fontinha

domingo, 6 de novembro de 2022

Menina doce mel

 Inventa-me

E adormece-me dentro de ti.

Inventa-me

Como inventas o sono,

Quando da janela virada para o mar

 

Um barco de sémen poisa no teu peito.

Inventa-me quando me desenhas

Nas paredes finas e frias do teu silêncio,

Ou quando escreves no meu sorriso

As palavras de amar.

 

Inventa-me enquanto a insónia

Dorme sobre esta pedra de saudade,

Inventa-me neste jardim esgrouviado

Onde as minhas flores

São pequenas lâminas de papel em solidão,

 

Inventa-me enquanto existe manhã

E a luz dos teus lábios

São as estrela felizes da madrugada,

Inventa-me nas tristes ruas desta cidade

Sem tardes de poesia,

 

Nas tardes de poesia.

Inventa-me menina doce mel

Nos círculos de luz com olhos verdes…

E eu te banho de palavras

Que transporto nas minhas trémulas mãos de espuma.

 

 

 

 

Alijó, 06/11/2022

Francisco Luís Fontinha

sábado, 29 de outubro de 2022

Círculos de luz

 

Habita-me sombra da manhã

Que jorra o veneno sobre o mar

Habita-me e escreve em mim

Os piores desejos da madrugada

Depois… senta-te na minha mão

 

E desenha no teu sorriso

Os pequenos círculos da paixão

Habita-me como se eu fosse o espantalho

Esquecido no campo

À procura do luar

 

 

Alijó, 29/10/2022

(palavras e quadro de Francisco Luís Fontinha)

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Pedras cinzentas


 

Olho-te na claridade nocturna da paixão

E este corpo que transporto

Agacha-se junto às pedras cinzentas

Que iluminam o teu sorriso

Pareço o vento

Sou o vento

Quando dorme no teu cabelo

E te abraça como um louco poema

Louco só

Quando as palavras

Se alicerçam aos teus olhos de manhã ensonada

Olho-te sem perceber porque morrem as crianças

Porque choram as crianças no Inverno

Que trazem nas veias o derradeiro veneno

E perdem-se nos corredores da dor

Olho-te na claridade nocturna da paixão

Que neste pobre desenho habita

E depois da morte

Vêm os braços da fé

Quando rezas

Quando te ajoelhas junto ao altar da maré dos silenciados luares

Uma lareira incendeia as tuas mãos

Que ergues a Deus

E no desenho

Acordas para a reencarnação

 

 

Alijó, 28/10/2022

Francisco Luís Fontinha