sábado, 3 de dezembro de 2022

A boca da solidão

 O pai

E a mãe

E as árvores sombreadas da manhã,

 

As mãos

Que pegam a minha mão

A mão que segura a faca nocturna do desejo

E durante a noite

Espeta a faca no meu peito,

 

O tecto da aldeia

Em lágrimas

E do sol

As primeiras horas da solidão,

 

Os livros

Todos os meus livros

Escritos por mim

Lidos por mim

Todos eles

Morrem sobre a minha secretária vaiada pela insónia,

 

E o sobretudo que visto

Em fina madeira prensada

Despede-se,

 

E percebo que sou apenas um cadáver de sono,

 

Como são tristes as noites de Dezembro,

 

O pai

E a mãe

E as árvores sombreadas da manhã,

 

Quando a manhã é um pincelado beijo na boca da solidão.

 

 

 

 

Alijó, 03/12/2022

Francisco Luís Fontinha

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