Sou o comandante
Deste navio fundeado
No poço da morte
E enquanto escrevo e
pinto
Este velho navio
Sem rumo
Olha as estrelas que
brincam no fundo do mar
A manhã incendeia-se nos
teus olhos
E mesmo assim
A tristeza ergue-se
contra a montanha
Onde habitam as palavras
do poeta morto
Coitado do poeta morto
Nu
E deambula pelas ruas da
cidade
Sem saber como receber cartas
Sem saber se amanhã
escreverá um novo poema
Ou se um novo poema o
escreverá a ele
E a Terra não parará de
girar
Como as árvores que
crescem em direcção ao Sol
Sou o comandante
Deste navio fundeado
No poço da morte
Quando este vosso poeta
Voa sobre os cubos de
vidro
Que aprisionam a paixão
das almas mortas
E mortas que estão
Não sonham.
Alijó, 04/12/2022
Francisco Luís Fontinha
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