sábado, 28 de maio de 2016
sexta-feira, 27 de maio de 2016
Gaivota junto ao Tejo
Imagino-te
arrastando os suspensórios do cansaço,
O
cigarro suspenso na boca,
E
nas mãos as minhas mãos,
Trémulas
como a tempestade…
Apareces,
Desapareces,
E
ausentas-te durante o sono,
Entras
nos meus sonhos,
Escreves
no meu corpo com a caneta da saudade,
O
rebelde menino,
Sentado
à janela a olhar o mar…
Sinto-te
dentro de mim,
Alimentas-te
do meu sofrimento,
E
pertences às flores do meu jardim,
Imagino-te
arrastando os suspensórios do cansaço…
Enquanto
lá fora alguém chora a tua partida,
Apátrida
memória que se alicerça aos meus braços,
E
tens no olhar um triciclo, um velho triciclo moribundo,
Doente,
Sem
nome…
Imagino-te,
meu amor,
Deambulando
pela casa embriagada de dor,
Os
cinzeiros cessam o sorriso dos teus lábios,
Há
no teu corpo uma barcaça desnorteada,
E
que se afunda no meu Oceano…
Fico
com medo de perder-te…
E
perdi-te sem o saber…
Foste,
foste sem dizer Adeus,
E
nem coragem tiveste de escrever-me…
Abraçar-me,
Dizer-me
que partias e um dia aparecias no meu peito,
Como
se fosses uma gaivota junto ao Tejo.
Francisco
Luís Fontinha
sexta-feira,
27 de Maio de 2016
terça-feira, 24 de maio de 2016
rabiscos de prazer
todos
as noites me sento nesta cadeira sem dono
enquanto
não regressa o sono
vou
rabiscando qualquer coisa na mão
uma
leve brisa guia os barcos até aos meus sonhos
onde
poisam lentamente noite adentro
hoje
sei que não vou sair daqui
hoje…
hoje vou dançar ao som das tormentas
e
dos castiçais de prata
que
brincam dentro deste velho casebre
iluminado
pela paixão
incendiado
pelo teu perfume invisível
que
a madrugada há-de comer
o
derradeiro pequeno-almoço do amanhecer
até
que vem o sono
me
deito sobre a cama
e
invento apitos
e
invento gaivotas em papel…
aos
gritos
Francisco
Luís Fontinha
terça-feira,
24 de Maio de 2016
domingo, 22 de maio de 2016
estrelas da manhã
caem
sobre ti as estrelas da manhã
o
sonífero desejo dos meus braços
encalhado
no teu olhar
como
a pérola adormecida da paixão
rompendo
a montanha do Adeus…
subindo
lentamente as escadas do mar
até
ao sótão do coração…
a
esfinge aventura do terno menino
sobrevoando
os cadeados de prata
que
aprisionam os barcos de madeira
caem
sobre ti as estrelas da manhã
nas
sofridas avenidas do prazer
que
as cidades imaginadas
comem
ao pequeno-almoço
sem
o saber…
o
mendigo das vestes negras
tropeçando
na tristeza
senta-se
no almoço sem riqueza…
e
reza…
e
chora…
porque
caem sobre ti as estrelas da manhã.
Francisco
Luís Fontinha
domingo,
22 de Maio de 2016
sábado, 21 de maio de 2016
Estátuas sonâmbulas
imagina
que as cidades são estátuas sonâmbulas
sons
íngremes voando sobre o mar
que
a alma absorve na escuridão
imagina
que o amor é a floresta virgem
perdida
nas mãos de uma criança
no
seu sorriso uma bandeira
sem
esperança
imagina
que há na saudade um esqueleto de vidro
com
cortinados de paixão…
perdido…
agachado
no chão ténue do sofrido
imagina…
meu amor
imagina
as gaivotas poisadas no teu olhar
esperando
o meu regresso
sempre
sempre
ao madrugar…
imagina…
imagina
o meu coração deixado numa loja de penhores
numa
tarde de inferno
imagina…
imagina
o cansaço da abelha no final do dia
embriagada
de pólen
e
de barriga vazia…
imagina…
meu amor
esta
carta sem remetente
esta
carta sem destinatário…
imagina
imagina
meu
amor
imagina
que as cidades são palavras a arder
nos
lábios do operário
sempre
meu
amor
sempre
sem vontade de escrever…
Francisco
Luís Fontinha
sábado,
21 de Maio de 2016
sexta-feira, 20 de maio de 2016
Ausência
Cessou
a saudade. Sinto o peso da noite sobre os ombros,
Uma
coisa inexplicável,
Sofrível,
Cessou
a saudade repentinamente,
Como
o calafrio do desejo…
Na
incandescente manhã desassossegada,
O
término.
Segundo
as previsões astrológicas…
Nunca
deveria ter nascido,
Mas
quis um Domingo que eu olhasse pela primeira vez o mar…
Distante,
mas enraizado nos meus braços,
Como
a barcaça do sofrimento,
Anos
mais tarde,
Encalhada
nos rochedos da montanha,
E
sentia no corpo a ausência,
Tão
pobre este destino…
De
ser criança…
De
ser menino.
Francisco
Luís Fontinha
sexta-feira,
20 de Maio de 2016
quinta-feira, 19 de maio de 2016
Lençol nocturno do medo
Não
tenho pressa de caminhar,
Sento-me
ao teu lado,
Pinto
nos teus lábios o mar,
Escrevo
no teu corpo o poema envenenado…
Acabei
de desligar a luz da paixão,
Com
a crise não há dinheiro para nada…
Precisava
de novos cortinados,
Um
par de calças ou uma camisa,
Talvez
um novo coração,
Porque
este, meu amor, já pertence à madrugada,
Onde
habitam os braços apaixonados,
E
silenciam a benigna brisa,
Nunca
disse a ninguém que os teus abraços morreram junto ao rio das gaivotas,
Quando
pintávamos barcos ao pôr-do-sol… e descia a noite vagabunda,
Marés
de cio invadiam o teu olhar,
E
eu forçosamente escondia-me num qualquer Cacilheiro…
Pétalas
mortas,
O
amor desfeito em lágrimas de amar,
Porque
não tenho pressa, meu amor,
Não
tenho pressa de caminhar…
Nem
flor para de presentear,
Sento-me
ao teu lado,
Pinto
nos teus lábios o mar,
Que
hoje é o meu lençol nocturno do medo…
Francisco
Luís Fontinha
quinta-feira,
19 de Maio de 2016
quarta-feira, 18 de maio de 2016
A melancolia da saudade
O
cansaço absorve-me entre parêntesis de silêncio
E
vírgulas de tristeza,
Por
mais que eu queira…
Não
consigo colocar o ponto final na escuridão nocturna,
Olho-te
e vejo-te disfarçada de ponto de exclamação…
Ponto
e vírgula quando acorda o dia,
E
lá longe, muito longe daqui… oiço os apitos do ponto de interrogação,
Confundo-me
com as palavras,
Disfarço
e dou por terminado o texto…
Ponto
final,
Paragrafo,
E
o dia enrola-se na melancolia da saudade.
Francisco
Luís Fontinha
quarta-feira,
18 de Maio de 2016
terça-feira, 17 de maio de 2016
Paisagens do sono
A
paisagem despede-se de mim.
Sinto
as estrelas poisarem em cada gotícula de suor do teu corpo,
Deito
sobre ele a minha desnorteada cabeça,
E
regressa o sono do Oriente…
Sonho
com pássaros,
Sonho
com barcos,
Ínfimas
imagens travestidas de loucura absorvem-me,
E
sou forçado a fugir para outras paragens sem escuridão.
Francisco
Luís Fontinha
terça-feira,
17 de Maio de 2016
domingo, 15 de maio de 2016
Lábios sonâmbulos
Hei-de
construir um barco que voe…
Sobre
os sobreiros da minha alma,
Hei-de
desenhar um pássaro que navegue…
Nas
ténues águas do meu corpo,
Como
eu adoro habitar no silêncio…!
Arrancar
todas as amarras da tarde
Que
um louco relógio de pulso alicerçou ao meu peito,
A
espuma do teu olhar enfeitado de amêndoas e flores,
O
remorso da paixão absorvida pela solidão
Dos
quintais de areia…
Hei-de
construir um coração
Com
as lâminas dos teus beijos,
Abraçar-te
na escuridão depois de partir a noite,
E
dizer-te baixinho… e dizer-te baixinho que amanhã há sonhos,
Palavras,
Livros
com sabor a medo,
E
na confusão do dia…
Hei-de
construir um barco…
Um
barco com lábios sonâmbulos.
Francisco
Luís Fontinha
domingo,
15 de Maio de 2016
sábado, 14 de maio de 2016
A sombra da saudade
Sei
que nas tuas mãos existe a paisagem do amanhecer,
As
plantas e as árvores do meu jardim brincam no teu olhar
Como
se o teu olhar fosse um parque infantil,
Um
momento de lazer…
Tenho
dúvidas se a Primavera já acordou,
Sinto
uma enorme tristeza no meu peito,
Um
sufoco, o medo de me perder nos teus braços.
Lá
fora o ruído do costume,
O
vizinho conversando com os cães,
Os
cães latindo em minha direcção,
E
eu incapaz de os silenciar…
Nada
deve ser silenciado,
Nem
os meus sonhos,
Nem
a noite que me ilumina
E
transporta para a cidade do rio imaginário…
O
dia despede-se de mim,
Aos
poucos, eu, eu despeço-me de ti,
Até
que nunca mais haja dia, noite, ou tu…
Ou
tu te disfarces de poeira…
E
poises nos meus ombros sombreados de saudade.
Francisco
Luís Fontinha
sábado,
14 de Maio de 2016
sexta-feira, 13 de maio de 2016
Os dias travestidos de saudade
Os
meus dias desiguais,
Penosas
manhãs de incenso
Suspensas
na umbreira do silêncio,
A
ânsia de estar só,
Quando
um intruso aparece dentro de mim
E
me transporta para o desejo,
Fico
triste,
Levito
na insignificante toalha de vidro que poisa sobre a noite,
Os
meus dias travestidos de saudade,
O
vício infestado de insectos
Que
deambulam nos meus ossos,
A
idade surpreende-me,
Ausenta-se
do meu corpo,
Alimento
as roldanas do cansaço
Com
as palavras que não escrevo,
Porque
tenho medo das palavras,
Porque
tenho medo de escrever…
Sentir
em meu redor os barcos da infância
Em
pequenos passeios no lago,
Sentir
na minha mão a ferrugem do sonho
Que
habita o meu corpo,
Sentir
na minha mão os fragmentos do sono
Que
habitam o meu olhar,
Dizer
que te amo é pura falsidade,
Não
amo,
Não
quero ser amado…
Apenas
quero dormir descansado.
Francisco
Luís Fontinha
sexta-feira,
13 de Maio de 2016
quarta-feira, 11 de maio de 2016
Retalhos
A
vida é construída de pequenos retalhos,
Corpos
em geada
E
orvalhos,
Farrapos
entre velharias
E
trapos,
A
vida pertence ao luar,
Quando
de um suspiro
Grita
em mim o mar,
E
num sorriso
Tu
sentias
O
sabor do madrugar,
Que
a vida, construída de pequenos retalhos… consegue abraçar,
Cansado,
não respiro,
E
insisto na vida sem despertar,
Os
livros,
As
palavras esmagadas no silêncio da alvorada,
O
corpo cessa de respirar,
Levita
Madruga
E
inventa barcos de brincar,
A
vida é construída de pequenos retalhos,
Corpos
em geada
E
orvalhos,
Gente
simples dormindo na calçada,
Meninos
de sombra que desenham na mão o sol,
Aldeias
sós, homens confundidos com aldeias sós…
A
vida atrapalha,
Esmaga
a penumbra madrugada,
E
a canalha
Toca
com os lábios
O
rio entre rochedos
E
brinquedos,
Cansado,
não respiro,
E
insisto na vida sem despertar…
Francisco
Luís Fontinha
quarta-feira,
11 de Maio de 2016
terça-feira, 10 de maio de 2016
Chorar nas mãos a amargura de viver
Não
tenho fome,
Mas
comia todas as palavras
Se
a noite me deixasse…
Este
terraço sem nome
Que
as estrelas absorvem,
E
levitam como se fosse um pássaro desnorteado,
Confuso,
não, não tenho fome,
Nem
me ausento do teu amar.
Não
tenho fome nem sinto o madrugar,
Tenho
sobre os ombros o silêncio deste telhado
Com
vista para o mar,
Tenho
no olhar o sangue de chorar,
Nas
mãos a amargura de viver…
Não,
não tenho fome,
Nem
vaidade
Ou
vontade de escrever.
Francisco
Luís Fontinha
terça-feira,
10 de Maio de 2016
segunda-feira, 9 de maio de 2016
A embriaguez nocturna das sementes
O
desgosto da vida.
Sinto
a chuva explorando o meu débil corpo,
Que
a noite alimenta
Como
a morte se alimenta dos corpos,
Há
uma película de sémen alicerçada às tuas mãos
De
pergaminho,
As
palavras fogem-me e sinto-me um inútil desgovernado…
Um
barco sem comandante.
O
deserto de ser eu,
A
areia fina das tuas lágrimas entrelaçadas nos meus dedos,
O
silêncio, meu amor,
O
silêncio que confunde o horário do meu pulso,
E
mais logo se inverte na escuridão,
Sei
que estou aqui de passagem,
Ando
de rua em rua para te recolher e agasalhar no meu peito…
Mas
é-me difícil encontrar-te,
A
embriaguez nocturna das sementes nas profundezas da terra,
Tão
fundas, meu amor, e tão belas, meu amor,
Estremeço
se te encontrar,
Morro
de aflição pela tua ausência…
No
suicídio do poema.
O
desgosto da vida, o corpo despovoado de ossos e pequenos répteis…
Tenho
uma cobra abraçada ao meu pescoço,
Um
ténue letreiro onde alguém escreveu… FIM.
Não
tenho amigos, amigas,
Tenho
livros assassinados por mim,
De
noite olho todo este amontoado de cadáveres envenenados pela paixão,
E
tu, meu amor, e tu sempre ausente deste cemitério de palavras e desenhos,
Apenas
eu, meu amor, apenas eu olho para eles…
E
vejo o meu rosto sofrido.
O
desgosto da vida,
A
vida nas pedras húmidas da manhã
Quando
a chuva se estende até ao mar,
A
penumbra madrugada
No
esconderijo do sono,
As
minhas mãos, meu amor, abstractas, e não dou conta da vida se escoar em
direcção ao Luar,
O
segredo que faz com que eu não te encontre,
Percorro
esta rua,
Percorro
aquela rua,
Com
saída,
Sem
saída…
E
tu, meu amor, sempre no desgosto da vida.
Francisco
Luís Fontinha
segunda-feira,
9 de Maio de 2016
domingo, 8 de maio de 2016
Confissões de um louco apito
Os
comboios só apitam durante a noite para assustarem as estrelas,
As
rectas paralelas em aço estendem-se até ao infinito, chegando lá, o comboio
desaparece, entranha-se na noite e morre.
Encurvado
nos socalcos levo comigo as curvas do Douro, lanço-me à água… estou farto das palavras
que escrevo, estou fartos dos meus desenhos, como a vida que gira e não se
cansa de cessar, parar sobre a ponte e suicidar-se sobre os rochedos da
insónia.
Oiço
o grito da aranha no cansaço da madrugada,
Sei
que habita um rosto no espelho do meu quarto e certamente que não é o meu,
porque nunca o vi, apenas em pequenos tragos de saliva ao pôr-do-sol,
Quero
expulsá-lo de lá…, mas não tenho força para tal; parto o espelho?
Quebro-o
até que o rosto se transforme em mim? Ou este será o meu rosto depois da minha
morte?
Os
comboios só apitam durante a noite, fiz muitas viagens, muitas noites sem
dormir, entre apitos e soluços, entre estações e apeadeiros desconhecidos,
entre gritos e gemidos, até desaguar em Santa Apolónia pelas sete horas da
manhã, as ruas acabavam de acordar, os sem-abrigo levantavam-se para o
invisível pequeno-almoço, e eu, e eu fumando cigarros para não adormecer,
Mas
acabava sempre por cerrar os olhos e passar o dia entre os cortinados da
escuridão e os sons melódicos do trânsito, a loucura, cruzava os braços e
punha-me a contar os automóveis que passavam por mim, depois separava os que
eram homens e os que eram mulheres, as crianças à parte… e assim passava o dia.
Regressava
a noite e eu tinha vendido o sono ao Diabo, saía na companhia de desconhecidos,
entrava em todos os bares até adormecer sobre qualquer banco de jardim, e
enquanto dormia, sentia, sentia os apitos do comboio…
Tudo
isto está escrito e sepultado em três caixotes de cartão,
Confesso
que nunca mais os abri, não tenho coragem para os abrir…
Papeis,
fotografias, poemas, e fantasias…, mas para quê remexer o passado e este está
morto, e enterrado no meu peito.
Os
perfumes intactos, uma velha rosa dentro de um livro, intacta, e a minha vida
pedaços de farrapos em construção, hoje uma pequena vitória, amanhã uma grande
derrota…
Amanhã
faz vinte e dois anos que deixei a heroína…
Uma
grande vitória.
Francisco
Luís Fontinha
domingo,
8 de Maio de 2016
Labels:
Belém,
calçada da ajuda,
comboios,
Lisboa,
livros,
morte,
palavras,
passado,
poema,
Poesia,
saudades,
vida
Location:
5070 Alijó, Portugal
sábado, 7 de maio de 2016
Ausento-me de ti na noite
Era
forçado pela pressa das coisas. O silêncio imaginário da manhã quando pegavas
na minha mão ao desaparecer no meio dos transeuntes da cidade perdida,
Escondia-me
das sombras dos aciprestes,
Porque
assim, pensava eu, estaria mais protegido das estrelas, mas não estava.
A
noite era uma aventura,
Eu
preferia ler, e tu, e tu preferias passear, que confesso, que confesso não me
apetece nada caminhar apenas por caminhar,
Se
ao menos caminhasse em direcção ao Luar… era forçado pela pressa das coisas,
Tens
de fazer isto, amanhã tens de fazer aquilo…
Chega.
Detesto receber ordens de arbustos e munto menos de ti.
Sou
feliz assim, confesso.
Não
dou nem recebo ordens,
Sou
livre, voo na companhia das gaivotas ao final da tarde junto ao Tejo,
Depois
poiso em Belém,
Acorrento-me
às amarras invisíveis da maré,
Olho
os veleiros em atropelos sem que ninguém lhes valha…
Como
a mim,
Nem
palavras nem poesia,
Nem
os livros me deixam adormecer quando tu, depois de caminhares em círculos,
cansada, dormes, eu olho-te e finjo não te ouvir, prefiro ausentar-me na noite,
e regressar quando já o dia bate na janela do nosso quarto,
Descerro
a lápide do desassossego, não encontro nela o meu nome…
Deixei
de pertencer aos humanos visíveis das avenidas laminadas pela escuridão,
Tenho
no peito um fantasma, um falso coração que em vez de amar…
Bate,
bate sem parar…
E
um dia vai parar,
E
nesse instante serei o homem mais feliz do Universo,
A
minha morte; as coisas cessam, e deixam de ter pressa,
E
deixam de ter graça.
E
eu, e eu serei apenas eu…
Uma
carcaça.
Francisco
Luís Fontinha
sábado,
7 de Maio de 2016
sexta-feira, 6 de maio de 2016
Transatlântica manhã de Inverno
Os
cigarros no atropelo da noite
Sem
ninguém junto ao luar,
Os
viciados poemas cansados de lutar
Na
ânsia da alvorada,
O
preguiçoso mosquito… sobre a mesa-de-cabeceira,
Entre
círculos e quadrados,
Entre
geringonças e roldanas falsas,
E
de cabeça lapidada…
Vou-me
a eles,
Aos
cigarros,
Fumo-os
e escrevo no teu ventre a poesia anónima do destino,
Corro
sobre o arvoredo,
Salto
a montanha,
E
sento-me nos rochedos da miséria,
Vagabundo
vegetariano do mundo indefeso,
Sinfonia
dos morcegos
Nas
tardes junto ao rio,
Ao
longe o teu olhar cor de pérola amargurada
Difuso,
Distante
dos meus olhos vidrados pela geada,
Os
cigarros em transe,
A
madrugada sitiada
No
meu coração…
E
sinto-me um prisioneiro do amanhecer,
E
sinto-me um cardume indefinido pelo sexo, idade ou religião…
Perco-me
em ti,
Como
se fosses uma transatlântica manhã de Inverno
Sobre
os carris da insónia,
Grito,
Grito
enquanto dormes sobre o meu peito,
E
se me ouves…
Diz-me…
Como
se chamam as pedras do teu sorrir
Que
me acordam ao entardecer.
Francisco
Luís Fontinha
sexta-feira,
6 de Maio de 2016
Subscrever:
Mensagens (Atom)