sexta-feira, 6 de maio de 2016

Transatlântica manhã de Inverno


Os cigarros no atropelo da noite

Sem ninguém junto ao luar,

Os viciados poemas cansados de lutar

Na ânsia da alvorada,

O preguiçoso mosquito… sobre a mesa-de-cabeceira,

Entre círculos e quadrados,

Entre geringonças e roldanas falsas,

E de cabeça lapidada…

Vou-me a eles,

Aos cigarros,

Fumo-os e escrevo no teu ventre a poesia anónima do destino,

Corro sobre o arvoredo,

Salto a montanha,

E sento-me nos rochedos da miséria,

Vagabundo vegetariano do mundo indefeso,

Sinfonia dos morcegos

Nas tardes junto ao rio,

Ao longe o teu olhar cor de pérola amargurada

Difuso,

Distante dos meus olhos vidrados pela geada,

Os cigarros em transe,

A madrugada sitiada

No meu coração…

E sinto-me um prisioneiro do amanhecer,

E sinto-me um cardume indefinido pelo sexo, idade ou religião…

Perco-me em ti,

Como se fosses uma transatlântica manhã de Inverno

Sobre os carris da insónia,

Grito,

Grito enquanto dormes sobre o meu peito,

E se me ouves…

Diz-me…

Como se chamam as pedras do teu sorrir

Que me acordam ao entardecer.

 

Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 6 de Maio de 2016

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